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Coluna Vitor Vogas

O movimento de centro-direita para isolar Casagrande e bater o PT

Jogo eleitoral começou: Da Vitória e Evair estão coordenando um movimento de bastidores com três objetivos estratégicos mirando 2024 e 26. Saiba quais

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Erick Musso, Evair de Melo, Josias da Vitória e Lorenzo Pazolini

“Puxou uma pena, saiu uma galinha”. A atração do Progressistas (PP) para o governo de Pazolini em Vitória causou um rebuliço danado no mercado político estadual, mas é só uma pincelada em um quadro bem maior. Coordenado pelos deputados federais do PP Evair de Melo e sobretudo Josias da Vitória – ambos possíveis candidatos ao Governo do Estado em 2026 –, está em plena construção no Espírito Santo um movimento que visa unir forças de centro-direita com três objetivos estratégicos:

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1. Formar um bloco partidário amplo que agregue siglas de direita e que se estabeleça como frente alternativa ao movimento liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo;

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2. Isolar politicamente Casagrande, deixando-o apenas com o PSB e outros partidos de esquerda, nas próximas eleições estaduais;

3. Fazer frente ao crescimento do PT e, com os candidatos oriundos dessa frente de direita, derrotar o partido de Lula nas disputas majoritárias ao Senado e, principalmente, ao Governo do Estado daqui a três anos.

Embora ainda embrionário, esse movimento tende a ganhar força – e já tem dado mostras disso. O foco é 2026, no horizonte de Evair, Da Vitória e companhia, mas o sucesso do projeto depende de uma escala decisiva nas eleições municipais do ano que vem.

O objetivo dos cabeças do grupo é reunir, no Espírito Santo, numa mesma frente político-eleitoral, partidos que vão da centro-direita (PP, Podemos, União Brasil, PSD) à extrema direita bolsonarista (PL), ando pela direita conservadora (Republicanos).

A ideia é agregar não apenas partidos de direita que já estão naturalmente fora da órbita casagrandista, como o PL e o Republicanos, mas também o “espólio” do movimento do governador, isto é, partidos e líderes políticos que ainda são oficialmente aliados do governo Casagrande, que estiveram com ele em sua reeleição, mas que hoje se consideram preteridos por ele.

Nessa última categoria, está incluído sem dúvida o PP, até porque o movimento é capitaneado por Evair e Da Vitória. Mas também podem se somar futuramente o Podemos (a depender de Gilson Daniel) e o União Brasil (se a presidência estadual for tirada de Felipe Rigoni).

Hoje, as conversas estão mais avançadas e a “liga” está mais forte entre PP (Da Vitória e Evair), Republicanos (Erick Musso) e PL (Magno Malta). No tabuleiro político estadual, esses três partidos já estão fechadinhos e tendem a caminhar juntos nas eleições municipais de 2024, intercambiando apoios e alianças nas principais cidades capixabas. É, sem tirar nem pôr, uma fotocópia da coligação de Jair Bolsonaro (PL) na eleição para a Presidência em 2022.

Porém, como já mencionado, outras siglas podem se juntar, principalmente aquelas que reúnem representantes do “bloco dos descontentes” com Renato Casagrande após a sua vitória eleitoral em 2022 – o qual hoje não é pequeno.

O bloco dos potenciais dissidentes

Esse, por sinal, é um dos elementos fundamentais para se compreender na plenitude o movimento em plena marcha: hoje, entre aliados de centro-direita de Casagrande, existe um grande “bloco dos descontentes” que não precisa de muito para se converter em um “bloco dos dissidentes”.

Muitos deles – abrigados no PP, no Podemos e em outras siglas – avaliam que, após terem suado a camisa para ajudar Casagrande a impor uma sofrida vitória sobre Manato (PL) em outubro, não obtiveram do governador a devida valorização e o devido reconhecimento no início do novo governo.

Em outras palavras:

Após o susto que tomaram com a ida da eleição para o 2º turno, Casagrande e seu núcleo político tiveram de calçar as sandálias da humildade e dependeram mais que nunca da ajuda de todos os aliados de sua ampla coalizão eleitoral, da esquerda (PT, PCdoB, PV) à direita (PP, Podemos, entre outros).

De fato, muitos aliados de Casagrande à direita dele tiveram participação muito importante em seu suado triunfo contra o candidato bolsonarista – mesmo que, para isso, tenham precisado contrariar seus próprios eleitores bolsonaristas. Foi o chamado voto “Casanaro”, pregado por Da Vitória, Gilson Daniel e tantos outros…

Aí o governo Casagrande 3 foi montado e iniciado. Inusitadamente, por esse muito singular arranjo eleitoral reproduzido na formação da equipe, o governador precisou acomodar, à mesma mesa, forças ideologicamente tão díspares como o “reabilitado” PT e as já citadas forças de centro-direita.

Ocorre que, para algumas destas últimas, a partilha do bolo ficou muito desequilibrada. Para alguns desses “órfãos de Casagrande” postados à sua direita, o governador não teria cumprido acordos eleitorais – ou seja, não os teria contemplado com os cargos e secretarias almejadas – e pior: viria valorizando muito mais o PT e priorizando o partido de Lula em detrimento dos aliados de centro-direita… que agora já não disfarçam a insatisfação.

Alguns estão se sentindo “abandonados” por Casagrande, desprestigiados, decepcionados, mas, acima de tudo, incomodados com o que enxergam como “movimento forte” do governador com o PT e “preferência” dele em compor com o partido de Lula e outras forças de centro-esquerda (campo em que, registre-se, está o próprio PSB). “Você quer estar junto, mas você é empurrado pra fora… Uma hora você diz tchau”, externa um dos ainda aliados do governo.

Não é nenhuma coincidência, portanto, que esse movimento alternativo de centro-direita em plena formação seja capitaneado por ninguém menos que Da Vitória, possivelmente o melhor exemplo de um “descontente não declarado” transmutado em “dissidente não assumido”.

O próprio deputado não o ite, mantém o discurso de que está tudo normal e muito bem na relação com o governo Casagrande, mas todas as fontes ouvidas por esta coluna, inclusive no Palácio Anchieta, confirmam sob anonimato que os dois hoje estão brigados e afastados.

Por que Da Vitória rompeu com o governador?

O rompimento velado de Da Vitória foi o transbordamento de um tacho que começou a ferver lá em meados de julho do ano ado, quando Casagrande preteriu o deputado em favor de Rose de Freitas (MDB), escolhida por ele como sua candidata ao Senado. A Da Vitória, restou renovar o mandato na Câmara, o que conseguiu com folga. Rose, por sua vez – e, com ela, Casagrande –, perdeu para Magno Malta (PL) a única vaga no Senado.

O caldo ferveu ainda mais no tacho durante a transição. Novamente, Da Vitória sentiu-se preterido por Casagrande. Nada é confirmado oficialmente, mas comenta-se que ele gostaria de ter ocupado a Secretaria de Estado de Agricultura e que teria chegado muito perto disso…

Acontece que o Palácio se deu conta de um “veto” de ordem política: puxando Da Vitória para o governo, Casagrande permitiria a permanência na Câmara de Neucimar Fraga (PP), 1º suplente do PP e apoiador de Manato no 2º turno após um rompimento estrondoso com Casagrande… que jamais daria esse mole para o agora ex-deputado.

Somando todos os ingredientes, o fato é que o caldo entornou. Cada vez mais unha e carne com Evair – adversário e crítico áspero do governo Casagrande –, Da Vitória decidiu dissidir…

Pensando grande e mirando em 2026, o deputado “tomou o PP” das mãos de Marcus Vicente, em linha direta com a cúpula nacional da sigla em Brasília (Arthur Lira e Ciro Nogueira). Não tomou conhecimento de Casagrande, movimentando-se por cima da cabeça do governador e do agora ex-presidente estadual do PP, Marcus Vicente (leal a Casagrande).

Em uma movimentação não declarada, mas não tão discreta assim – vide as muitas fotos postadas por ele com Erick Musso, Pazolini e Evair nas últimas semanas –, o agora cacique do PP no Espírito Santo tratou logo de amarrar a parceria, eleitoralmente promissora, com o PL e, destacadamente, com o Republicanos, consubstanciada no recente convite de Pazolini (Republicanos) para o PP compor a sua equipe na Prefeitura Vitória.

No atual cenário político capixaba, ninguém desperta mais a bile no fígado de Casagrande que Lorenzo Pazolini. O movimento de Da Vitória com ele, mediado por Erick, foi um tapa de luva (de boxe) em Casagrande, que aliás acusou o golpe. Mesmo que o PP não venha de fato a ocupar secretaria em Vitória, o gesto político fala por si.

E o recado foi dado a Casagrande, em uma carta não assinada, mas cujo remetente é Da Vitória.

O cabo da reserva da PMES está em cabo de guerra com o governo (uma guerra tácita e não declarada). E acaba de dar um puxão forte na corda.

É a mesma corda com que ele está tratando de amarrar opositores e potenciais dissidentes da base do governo num movimento coeso mirando as eleições de 2024 e, sobretudo, 26. Corda que hoje está muito tesa, na relação do PP com Casagrande, e que pode se romper a qualquer momento.

As viúvas da última eleição”

Enquanto amarra dissidentes e opositores de Casagrande nesse movimento convergente, Da Vitória também trabalha para atrair as “viúvas da última eleição”. Neste bloco podemos incluir, por exemplo, o já citado Neucimar Fraga (PP), hoje sem mandato, alçado por Da Vitória a um cargo na Executiva Estadual provisória formada de cima para baixo em 1º de abril.

O ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos, hoje presidente estadual do robusto Partido Social Democrático (PSD), é outro na alça de mira – e com ele, obviamente, seu partido de centro-direita. Não por acaso, Renzo foi convidado por Erick Musso e Lorenzo Pazolini para compor ou indicar pessoalmente um secretário na gestão do prefeito de Vitória. A informação é confirmada por Renzo, que, no momento, avalia as opções.

E que ninguém se surpreenda se, após seu período sabático, Manato (PL) chegar para participar da brincadeira.

O movimento de Marcelo em direção ao MDB

Também foi zero coincidência o movimento do presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos), parceiro de Da Vitória, para ensaiar uma volta por cima ao MDB, como dirigente estadual da sigla. No fim de abril, Marcelo encontrou-se em Brasília com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi. A conversa foi mediada por (adivinhem) ninguém menos que Da Vitória. Com Marcelo eventualmente no comando do partido, o MDB se tornaria potencialmente mais uma sigla para essa composição.

Ao menos por ora, isso não evoluiu. Mas já há quem comente que outra sigla grande pode cair no colo de Marcelo.

A meta maior: derrotar o PT a todo custo

Dois mil e vinte e seis é logo ali, mas a por 2024… Retomando o tópico 3 do início da nossa análise, esse incipiente projeto de união de forças de direita também atende ao objetivo estratégico de evitar vitórias eleitorais do PT em 2026. Acima de tudo, impedir a possível chegada do partido de Lula ao Palácio Anchieta.

Por impedimento legal, Casagrande não será candidato a um terceiro mandato em 2026. Seu caminho natural é concorrer ao Senado naquele ano.

Ora, a ausência do socialista na corrida ao Palácio Anchieta, pela primeira vez desde 2006, marcará o fim da era de revezamento dele com Hartung no poder, após 24 anos, abrindo um vácuo de poder que não se via no Estado desde o início deste século. Por isso, como é natural, já existe uma fila imensa de aspirantes à sucessão do governador, inclusive dentro do seu atual campo gravitacional, à direita e à esquerda.

Nesse “à direita e à esquerda”, encontra-se o xis da questão. Já nas eleições municipais, essas forças de esquerda e de direita que hoje disputam espaço no governo Casagrande vão se separar e se enfrentar nas urnas em cidades estratégicas. O melhor exemplo é Vitória, onde o PT lançará João Coser contra Pazolini.

Por isso, sob a condução de Da Vitória, o PP agora ensaia apoiar Pazolini, numa eleição que, alguns apostam, pode ser mais uma vez polarizada entre o atual prefeito e João Coser. Eventual vitória do petista seria ruinosa para as aspirações desse grupo formado por Da Vitória, Evair, PL, Republicanos e companhia…

Ora, com eventual retorno do PT ao governo da Capital e dependendo do maior ou menor êxito de Lula na Presidência, o PT pode chegar fortíssimo para a sucessão de Casagrande em 2026. Hoje, os cotados no partido para isso são o senador Fabiano Contarato e, um o à frente, o deputado federal Helder Salomão.

Isso não interessa nem um pouco a essas forças de direita – dentro e fora do arco de Casagrande –, até então dispersas. Assim, ao buscar unir essas forças em um movimento coeso, Da Vitória e companhia também querem lançar uma frente que faça frente ao PT e ao próprio Casagrande em 2026.

“Se conseguirmos atrair mais partidos e nos manter unidos até lá, podemos eleger nossos próprios candidatos nesse movimento de centro-direita para o Palácio Anchieta e o Senado. A eleição do próprio Casagrande ao Senado fica ameaçada, mesmo havendo duas vagas. Em 2026, ao contrário do ano ado, ele não poderá contar com as forças de centro-direita fundamentais para a vitória dele contra o Manato”, projeta uma fonte desse campo.

Dirigente do PP ite: Da Vitória e Evair querem disputar o Governo do Estado

Ele não o itirá tão cedo – faz parte do jogo –, mas o próprio Da Vitória é apontado como pretendente ao Palácio Anchieta por fontes do governo Casagrande, da bancada capixaba no Congresso e do próprio PP. O secretário-geral do partido no Estado, Marquinhos Delmaestro, verbaliza isso:

“Sim. O partido cresceu, e a Executiva Nacional está cobrando isso. Pediu para fazermos um movimento de 2026. Da Vitória quer ser candidato a governador. E o PP quer lançar um candidato a governador do Espírito Santo em 2026. Pode ser Da Vitória ou Evair.”

Portanto, Evair também está no jogo sucessório de Casagrande, mas com uma diferença forte de perfil e estratégia em relação a Da Vitória. Hoje, por suas votações e posicionamentos no Congresso, Evair está mais fundo na direita bolsonarista que deputados do PL. Está à direita até de Gilvan da Federal (PL).

Se for o candidato do PP ao Governo do Estado contra o PT, Evair deve partir para aquela linha de enfrentamento mais ideológico. Já Da Vitória mantém uma linha mais de centro-direita moderada.

A engenharia política necessária: vai faltar espaço…

Com Da Vitória, Evair e Pazolini, essa tríade PP-Republicanos-PL já avançada tem pelo menos três possíveis candidatos ao Palácio Anchieta em 2026. Se atraírem o Podemos, mais dois: Arnaldinho Borgo e Gilson Daniel. Se agregarem o União Brasil, mais um: Euclério Sampaio.

Portanto, se esse movimento realmente vingar e quiser se manter unido até 2026, terá de operar uma engenharia dificílima para produzir candidatos de consenso na disputa majoritária. Muita gente para pouco espaço, e muita gente que teria de ceder.

É importante frisar que tudo isso dependerá sumamente do resultado das urnas em 2024. O pleito municipal ditará quem sai mais forte ou mais fraco para 2026, podendo reconfigurar bastante o atual tabuleiro. E logicamente, até lá, os personagens citados neste texto podem muito bem trocar de partido, mudar de lado, de planos etc. E podem surgir novos pretendentes.

De todo modo, este é atual cenário e estes são os atuais atores.