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Coluna Vitor Vogas

O dilema de Camila: apoiar Coser ou ser candidata em Vitória?

Em entrevista à coluna, deputada do PSol ite cogitar candidatura a prefeita da Capital, mas avalia benefícios de uma aliança estratégica com o PT

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Camila Valadão e João Coser. Crédito: Ellen Campagnaro/Ales

Principal referência política do Partido Socialismo e Liberdade (PSol) no Espírito Santo, a deputada estadual Camila Valadão ite: pode ser candidata a prefeita de Vitória na próxima eleição municipal. Ao mesmo tempo, não exclui uma aliança do PSol com o PT em torno da muito provável candidatura do ex-prefeito João Coser, seu colega na bancada da esquerda e na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

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O fundamental, avalia a deputada, independentemente do número de candidaturas no 1º turno, é que as forças de esquerda dialoguem e se mantenham unidas em prol daquele que ela considera o objetivo estratégico maior: derrotar o projeto de direita representado por Lorenzo Pazolini (Republicano), impedindo o atual prefeito de renovar o mandato por mais quatro anos.

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A resolução do dilema do PSol (lançar Camila ou apoiar Coser desde o 1º turno?) está condicionada justamente a uma avaliação de cenários e dependerá de uma resposta que ninguém ainda tem e só pesquisas com dados refinados poderão indicar: do ponto de vista tático, o que é mais inteligente para a esquerda atingir seu objetivo? Somar forças desde o início da campanha em um palanque unificado a fim de garantir a chegada de um candidato progressista ao 2º turno (todos com João Coser desde o tiro de partida)? Ou dividir forças no 1º turno exatamente para assegurar que um deles avance à 2ª fase, na qual certamente estarão juntos?

Pode ser reformulado assim: eventual candidatura de Camila pode mais ajudar ou atrapalhar a própria esquerda? Terá mais a favorecer ou a dificultar o cumprimento do objetivo em comum de derrotar Pazolini? Se ela entrar no páreo, tirará votos de outros candidatos que já não iriam mesmo para Coser ou “trombará” com o petista no interior do mesmo campo, dividindo com ele os votos do eleitorado de esquerda e reduzindo assim as chances de ambos arem de fase?

A princípio, Camila entende que eventual candidatura sua não necessariamente “briga” com a de Coser, porque ambos, embora situados no mesmo campo progressista, possuem diferenças importantes, assim como os respectivos partidos, as quais se refletem no perfil dos eleitores de cada um. “Esse debate é difícil. Acho que tenho um perfil de eleitorado bem diferente do perfil de eleitorado do João.”

Ao mesmo tempo, a deputada do PSol tem consciência de como pode ser arriscada uma divisão de forças entre candidatos de esquerda em Vitória, estratégia que pode resultar em divisão dos mesmos votos e fazer com que os dois morram abraçados no processo.

Um exemplo recente e muito vivo na memória dos capixabas é o quanto a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato (PT) no ano ado, se houvesse se concretizado, poderia ter prejudicado acima de tudo (e de todos) o governador Renato Casagrande (PSB), favorecendo involuntariamente adversários em comum à direita – Manato (PL) em particular – e, em última análise, ameaçando as chances de vitória da esquerda naquela eleição ao Governo do Estado, em benefício do bolsonarismo.

“Essa é uma preocupação que nós temos, obviamente, porque a esquerda precisa ter uma candidatura viável em Vitória”, reconhece Camila.

De todo modo, enquanto trabalha com cenários ainda muito incipientes, a deputada vende otimismo quanto às chances de a esquerda voltar a governar a Capital. É uma esperança calçada nos bons resultados colhidos por candidatos de esquerda nas últimas eleições gerais no Espírito Santo, notadamente em Vitória, incluindo o próprio Coser e ela mesma.

No geral, os dois foram, respectivamente, 3º e 4º candidatos mais votados para a Assembleia Legislativa. Em Vitória, a ex-vereadora foi a campeã de votos para deputada estadual. Dali vieram 16.541 dos seus 52.221 sufrágios (31,6% da sua votação total). Já o ex-prefeito recebeu um total de 58.279 votos no Estado, sendo 15.114 deles confiados por eleitores da cidade que ele istrou de 2005 a 2012 (o equivalente a 25,9% da sua votação).

“O que posso te dizer é: a esquerda saiu muito bem das urnas em Vitória em 2022. João e eu fomos muito bem votados. E há espaço para um projeto político da esquerda em Vitória”, assevera Camila.

Leia abaixo a entrevista completa da deputada:

A senhora cogita ser candidata a prefeita de Vitória em 2024?

Esse não é um tema individual. A gente vem debatendo esse tema no PSol enquanto partido político. Uma candidatura à Prefeitura de Vitória seguramente será resultado de um processo de debate do nosso partido na Capital. Hoje estou com este mandato na Assembleia, fazendo todos os esforços para corresponder às expectativas dos eleitores, principalmente os da Capital, onde saí como a candidata a deputada estadual mais votada, o que me dá uma responsabilidade enorme. Hoje uma candidatura à Prefeitura de Vitória não está descartada, mas é um tema que estamos discutindo a partir de uma avaliação de tática eleitoral do partido. E o meu nome está à disposição.

O PSol também avalia firmar aliança com o PT e com outros partidos de esquerda para unir forças nesse campo em prol de um objetivo em comum?

Sim, sem dúvida a gente quer fazer esse debate. Estamos avaliando qual é a melhor tática. Não está descartado também um processo de diálogo com o PT e com partidos mais à esquerda. E é bom lembrar que, desde o ano ado, o PSol está em uma federação com a Rede Sustentabilidade. Entendemos que temos uma tarefa principal para as eleições de 2024: derrotar o projeto político que ocupa a cadeira de prefeito hoje, o projeto do Pazolini, que para nós representa retrocesso para a cidade. Então, dentro desse objetivo, precisamos entender onde e como a gente contribui melhor. É apresentando uma candidatura própria para a cidade? É fazendo alianças? Então também faremos esse debate. O PSol sempre fez sua política de alianças analisando muito criteriosamente o perfil programático dos partidos. Isso continua para nós como critério fundamental. Sabemos que nosso resultado na eleição ada nos credenciou para disputar as eleições municipais. Foi um credenciamento do nosso partido para disputar as eleições da Capital. Mas entendemos que esse debate precisa ser mais amplo e nos colocamos à disposição para fazer esse debate com os nossos pares.

Mais objetivamente, o PSol avalia apoiar João Coser?

Especificamente esse tema ainda não apareceu, porque o próprio João ainda não se colocou como candidato. Sabemos que ele já foi prefeito e tem uma representatividade muito forte no imaginário da cidade. Hoje o debate não vai se dar só em um nome, mas nos acordos programáticos possíveis. Se o PT escolher o nome do João, vamos fazer esse debate com ele. É um nome que tem todo o nosso respeito. Isso também não está descartado, mas também não está fechado, porque temos todo esse debate para fazer. A certeza que temos é: a esquerda precisa ter alternativa viável para Vitória.

Coser já a procurou para tratar disso?

Ele já mencionou que precisamos conversar, que nossos partidos precisam conversar. Eu disse que sim, é verdade, os nossos partidos precisam conversar, para pensar o contexto eleitoral da cidade de Vitória.

Haverá outros candidatos além do atual prefeito… Duas candidaturas da esquerda não podem “brigar entre si” e representar um tiro no pé? A senhora receia que eventual candidatura sua possa representar para Coser o que Contarato poderia ter representado para Casagrande no ano ado, dividindo os votos da esquerda, favorecendo o próprio Pazolini e ajudando a levá-lo para o 2º turno, ao mesmo tempo em que pode reduzir as chances de Coser ar do 1º turno?

Esse debate é difícil. Acho que tenho um perfil de eleitorado bem diferente do perfil de eleitorado do João. A questão é: qual é a melhor tática para a esquerda? É ter mais de uma candidatura contribuindo para que a esquerda vá para o 2º turno e aí sim ter uma candidatura conjunta? Será que uma polarização com uma só candidatura de esquerda no 1º turno não dificultaria mais para a esquerda chegar ao 2º turno? São cenários muito incipientes para os quais, a esta distância do pleito, ainda não temos respostas. Mas essa é uma preocupação que nós temos, obviamente, porque a esquerda precisa ter uma candidatura viável em Vitória. O que posso te dizer é: a esquerda saiu muito bem das urnas em Vitória em 2022. João e eu fomos muito bem votados. E há espaço para um projeto político da esquerda em Vitória.