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Coluna Vitor Vogas

Marcelo Santos em busca de um partido para chamar de seu

Presidente da Assembleia ite querer ir para uma sigla que ele possa liderar e construir no ES, montando chapas para as próximas eleições municipais

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Marcelo Santos com Casagrande em inauguração de pavimentação da Rodovia Castelo x Muniz Freire (29/07/2023). Crédito: Hélio Filho/Secom

Não propriamente com estas palavras, Marcelo Santos ite: está em busca de um partido para chamar de seu no Espírito Santo. Filiado ao Podemos desde 2020, o decano da Assembleia Legislativa reelegeu-se deputado estadual no ano ado pelo partido de centro-direita, presidido no Estado pelo deputado federal Gilson Daniel. Em fevereiro deste ano, realizou seu antigo sonho de chegar à presidência da Assembleia Legislativa, acumulando mais poder desde então não só na Casa mas na geopolítica estadual.

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Agora, Marcelo procura uma legenda que comporte suas elevadas aspirações: conforme ele mesmo sustenta desde sua reeleição em outubro, chegar à Câmara dos Deputados em 2026 é a próxima meta definida no planejamento de sua carreira política. Para conseguir subir mais esse degrau em sua ascendente trajetória, é importante para ele, desde já, migrar para um partido de médio para grande porte que ele possa controlar no Espírito Santo.

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“Na minha avaliação, que fiz inclusive com o presidente Gilson, não há nenhum problema pessoal na relação entre o Gilson e o Marcelo. O que estou discutindo são os convites e as possibilidades. Eu posso sair do Podemos porque tenho um projeto que não é mais disputar a eleição de deputado estadual. Mas também não deixei de discutir a condição de permanecer no Podemos.”

Apesar do ótimo relacionamento reiterado por Marcelo, o fato é que o Podemos é o partido de Gilson no Espírito Santo, a concorrência interna é dura, e não há tanto espaço para ele crescer ali dentro. Como só disputará a próxima eleição daqui a três anos, o presidente da Assembleia a princípio não tem por que se apressar para trocar de sigla. Mas, visando ao próprio fortalecimento no trajeto até 2026, seria importante para ele exercer influência irrestrita sobre a própria sigla desde já, para poder responder pela montagem das chapas de prefeito, vice-prefeito e vereadores nos mais diversos municípios em 2024. O próprio Marcelo confirma que é por aí:

“Gostaria de construir um partido, por mais que eu tenha uma relação com o Podemos, do qual faço parte. Mas a ideia era liderar e construir. Isso eu deixei muito claro para o Gilson. Tem uma eleição municipal agora. Talvez não dê tempo para isso, mas é importante ter uma base. A base é o que faz o resultado. Ter vereadores, prefeitos, ter uma bancada de deputados estaduais, e naturalmente fazer a entrega que o partido quer, que é deputado federal, e poder participar efetivamente da discussão sobre a sucessão do Governo Estadual em 2026.”

Se Marcelo migrar, não migrará sozinho – e o ponto é exatamente esse. Levará consigo uma legião de seguidores políticos. O partido para o qual ele for receberá, de imediato, o reforço de dezenas de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores com mandato, além de outros pré-candidatos nas próximas eleições municipais, os quais se encontram sob sua liderança e o acompanharão aonde ele for.

Nos últimos anos, fazendo aquele trabalho de formiga – levar emendas, atender a pleitos locais, colar nas entregas do governo Casagrande –, Marcelo logrou construir uma invejável rede de conexões e de influência política de norte a sul do Espírito Santo. Os frutos desse trabalho já foram colhidos por ele em outubro ado: da eleição de 2018 para a de 2022, sua votação para estadual cresceu 112%, saltando de 19.595 para 41.627 votos.

Mais importante: o filho de Aloízio Santos plantou e colheu votos em todas as microrregiões, deixando de ser um político metropolitano para se tornar um líder de alcance estadual. Após perder três eleições seguidas para prefeito de Cariacica (2008, 2012 e 2016), Marcelo virou de vez a chave. Faz tempo que transcendeu as divisas do próprio município e ou a ser votado em todo o Estado.

Para eleger-se deputado federal em 2026, a mesma estratégia precisa ser maximizada. Com a enorme concorrência pelas dez vagas em disputa, o candidato a deputado federal precisa ser conhecido e votado em todo o território estadual – a menos que tenha um voto muito partidário e ideológico (Gilvan, Helder e Jack Rocha na eleição ada) ou uma máquina municipal pesada trabalhando unicamente a seu favor (Messias Donato e Victor Linhalis em 2022). Nenhum dos dois casos se aplica a Marcelo Santos.

Ciente disso, o presidente da Assembleia tem intensificado seu esforço de “colagem” nas benfeitorias do governo estadual: infalivelmente com o punho erguido, é visto ao lado de Casagrande em tudo quanto é palanque de tudo quanto é de tudo quanto é evento no interior e na Grande Vitória.

Marcelo cumprimenta Casagrande em entrega de reabilitação de rodovia estadual em Conceição do Castelo no último sábado (05/08/2023). Crédito: Hélio Filho/Secom

Porém o mais importante é mesmo 2024: naquela mesma lógica do “plantar numa eleição para colher na seguinte”, Marcelo pretende eleger – de preferência, pelo próprio partido – o maior número de prefeitos e vereadores de ponta a ponta no Estado. Se conseguir, o retorno para ele virá dois anos depois, revertendo-se em apoio e votos: esse pelotão de prefeitos e vereadores que Marcelo espera eleger vai trabalhar exclusivamente por ele, para ajudá-lo a chegar à Câmara em 2026, constituindo uma rede de cabos eleitorais com inestimável influência nas respectivas comunidades.

Sobretudo em cidades do interior, a indicação por parte do “meu vereador” ou do “meu prefeito” é fator preponderante na definição do voto do eleitor para deputado federal.

Precisa combinar com Gilson

Existe a priori um obstáculo de ordem legal para esse plano de Marcelo: para sair agora sem perigar perder o mandato na Assembleia, ele precisa fazer um acordo com a direção do Podemos (leia-se Gilson Daniel), convencendo o presidente estadual e aliado a lhe autorizar a saída antecipada. Do contrário, só poderá fazê-lo na próxima janela partidária para deputados com mandato, a ser aberta somente em março de 2026. Está longe.

Como não disputará nada em 2024, Marcelo não tem urgência desatada. Mas o ideal para ele, de fato, seria migrar nos próximos meses, a tempo de começar a construir o seu partido já para as eleições municipais.

“Estou com muita tranquilidade para discutir isso porque não tem nenhum pleito que eu vá disputar agora. Não tenho pressa. Mas é importante dialogar para que, ao tomar minha decisão, eu tome uma decisão assertiva, de permanecer ou não no Podemos”, declara o próprio.

A questão é: qual partido?!?

A cláusula de barreira criada na reforma eleitoral de 2017 começou a dizer a que veio. O efeito positivo que ela se propôs já começou a se fazer sentir na eleição geral do ano ado. Diversos partidos nanicos que não aram da cláusula de desempenho estão sendo incorporados por outros maiores, enquanto outros têm buscado fusões. Com esse quadro mais enxuto, não estão sobrando partidos na praça, nem aqui nem em lugar algum, com vácuo de poder a ser preenchido por alguém de fora.

No Espírito Santo, naquela faixa de 10 a 15 siglas verdadeiramente relevantes, quase todas hoje já têm dono (um cacique local inamovível) ou um diretório estadual muito bem estabelecido. Quais opções restariam a Marcelo?

Ele diz ter recebido convites do PSB de Casagrande e do PP de Josias da Vitória. Não vejo perspectiva para ele crescer e “construir partido” em nenhum dos dois. Em ambos, seria só mais um coadjuvante, sem ascendência nem voz de comando.

O MDB de Rose

Como noticiei aqui em abril, naquele mês Marcelo chegou a ensaiar um movimento de retorno “por cima” ao MDB. Além de ter conversado com a atual presidente estadual, a ex-senadora Rose de Freitas – que me disse tê-lo convidado –, Marcelo foi levado pelo deputado federal Josias da Vitória, um grande aliado, ao encontro do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), presidente nacional da sigla.

Os três conversaram na Câmara dos Deputados, e a direção do MDB chegou mesmo a considerar Marcelo como uma opção real para o comando local. Mas o plano não foi à frente, e o MDB hoje se vê às voltas com o novo capítulo da saga da disputa interna entre Rose e o ex-deputado federal Lelo Coimbra. Os dois podem se enfrentar na iminente convenção estadual – que precisa ser realizada até o fim do mês. E ainda há Ricardo Ferraço (PSDB) correndo por fora.

Pelos motivos expostos acima, o MDB hoje se encaixaria perfeitamente às aspirações de Marcelo: partido de grande porte, com enorme número de filiados, capilaridade no interior, ando por momento de transição e reconstrução no Espírito Santo. O timing também seria perfeito.

Para ele, porém, pelo raciocínio já exposto, só valeria a pena percorrer esse caminho de volta se fosse para voltar mandando, ditando os rumos do MDB.

O PSD de Renzo

Outra opção para Marcelo, esta muito mais quente, é o Partido Social Democrático (PSD), presidido desde o início do ano no Estado pelo ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos. Informações de bastidores dão conta de que, nos primeiros meses do ano, Marcelo também chegou a fazer gestões em direção ao PSD.

Marcelo tem dialogado com Renzo. À coluna, afirmou que pode chegar ao PSD sem a menor necessidade de se acotovelar com ele. Como o projeto do ex-deputado é ser candidato a prefeito de Colatina no ano que vem, os interesses dos dois não conflitam, e eles podem conviver em harmonia sob a mesma legenda. Como afirma Marcelo:

“Depende da posição em que você quer jogar no partido. Tem partido cujo líder não vai disputar, por exemplo, a eleição de 2026. Vai disputar a de 2024. Então esse é um partido também que é muito interessante. É o partido do Renzo Vasconcelos, por exemplo. Não vejo problema algum num acordo com Renzo. Ele já me convidou para ir para o PSD.”

Marcelo Santos e Zé Carlinhos na sede da Ibá, em São Paulo (25/07/2023). Crédito: Reprodução Instagram

No dia 25 de julho, o presidente da Assembleia esteve em São Paulo visitando ninguém menos que José Carlos da Fonseca Junior, no escritório do atual diretor executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), presidida pelo ex-governador Paulo Hartung (sem partido).

Zé Carlinhos, como é mais conhecido, foi presidente estadual do PSD de 2015 a 2016 e vice-presidente estadual de 2017 a 2022. E está lá em São Paulo, bem perto de Gilberto Kassab. Mas a conversa, segundo Marcelo, não ou pelo PSD. “Foi um encontro incidental.”