Coluna Vitor Vogas
Hospital Materno Infantil: o que Vidigal tem a dizer sobre esse parto?
Entenda o parto dessa maternidade desde sua concepção em 2011, na versão do prefeito. Ime maior no momento é entre prefeitura e governo Casagrande

Sérgio Vidigal é eleito prefeito da Serra. Foto: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados
Concebido ainda durante a gestão anterior de Sérgio Vidigal (PDT) na Serra, de 2009 a 2012, o Hospital Materno Infantil tem sido, desde o início, um verdadeiro parto – normal e daqueles bem sofridos. Ao longo desse tempo, nasceram ali muitas polêmicas e embates entre a situação e a oposição na Serra.
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Mais recentemente, o suntuoso hospital erguido no bairro Laranjeiras, que até hoje não opera no limite de sua capacidade, tem sido nascedouro de críticas de opositores e potenciais concorrentes de Vidigal e seu grupo na eleição de 2024, como o deputado estadual Pablo Muribeca (Patriota) e agora até o ex-prefeito Audifax Barcelos (sem partido). Eles criticam a istração de Vidigal por supostamente não “botar o hospital para funcionar”, pelo menos não em sua plenitude.
Vidigal rebate detalhadamente as críticas. Para isso, conta todo o longo parto do hospital. O imbróglio vindo à luz em 2011 inclui questões como discordâncias e mudanças quanto à concepção do projeto e ao uso das duas torres do hospital, como o equipamento deve ser gerido, quem deve responder pela gestão e, mais recentemente, quem é responsável por bancar os serviços do Materno Infantil.
O prefeito rebate opositores, mas, com base em sua explicação, podemos concluir que a culpa pelo ime atual, na visão do próprio Vidigal, é na verdade do governo estadual, comandado por Renato Casagrande (PSB), por acaso grande aliado dele.
A concepção original
Fazendo uma retrospectiva, Vidigal explica que, na concepção original do projeto para construção do hospital, aprovado pelo Ministério da Saúde em 2011, em seu terceiro mandato como prefeito, a primeira torre seria utilizada para aquilo que de fato existe ali hoje: uma maternidade para risco habitual.
Já a segunda torre seria destinada para um pronto atendimento pediátrico e 60 leitos pediátricos (sendo 50 de enfermaria e 10 de UTI), além de três centros cirúrgicos para oferecimento de cirurgias pediátricas.
Governo anuncia outros planos
Em setembro de 2020, relata Vidigal, o então prefeito Audifax Barcelos anunciou a inauguração do Hospital Materno Infantil e, ato contínuo, doou o equipamento para o Governo do Estado. Isso em plena campanha municipal, quando Audifax tentava eleger seu sucessor, o então vereador Fábio Duarte, derrotado por Vidigal nas urnas dois meses depois.
O Governo Casagrande, então, anunciou para o hospital uma utilização diferente da concepção original: no lugar de uma maternidade de risco habitual (na primeira torre) e de um centro pediátrico (na segunda), o governo pretendia instalar ali uma maternidade de alto risco, que hoje funciona no Hospital Estadual Jayme dos Santos Neves, não especificamente para o município da Serra.
“O Estado divulgou que ia fazer isso, mas não chegou a fazer”, pontua Vidigal.
Vidigal volta à prefeitura
Quando reassumiu a prefeitura, em janeiro de 2021, o pedetista decidiu rever e rediscutir esse acordo – até porque, segundo ele, não encontrou nada funcionando no hospital. Conversou com o então secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes (PCdoB). Segundo Vidigal, ficou combinado o seguinte:
Na primeira torre, a prefeitura abriria a maternidade de risco habitual, como previsto no projeto original de 2011, e ficaria inteiramente responsável por bancar os serviços. Já na segunda torre, o Governo do Estado implantaria a sua maternidade de alto risco. A gestão dos serviços seria da prefeitura, mas o custeio seria do Estado, que rearia os recursos ao município.
“Eu concordei com isso”, afirma Vidigal.
O acordo, porém, precisou esperar um pouco. No início de 2021, o Brasil viveu uma nova onda de contaminação da Covid-19. Por isso, o Governo do Estado pediu à prefeitura para usar as duas torres do Materno Infantil temporariamente para internação e tratamento de pacientes Covid. “É claro que não me opus a isso”, diz Vidigal. E assim foi feito.
Pós-Covid e pós-eleição: Vidigal quer centro pediátrico
Em setembro de 2022, o Materno Infantil enfim foi “devolvido” à Prefeitura da Serra. Estávamos em pleno processo eleitoral. Em outubro, Nésio foi colocado de férias por Casagrande e substituído interinamente por Tadeu Marino (PSB).
Vidigal, então, foi conversar com Marino. E apresentou ao secretário a ideia de retomada do projeto original de 2011 para o Materno Infantil. Primeira torre: maternidade de risco habitual (100% custeada pela Prefeitura da Serra). Segunda torre: centro de referência em pediatria (com gestão compartilhada entre município e Estado), no lugar da maternidade de alto risco que Nésio queria pôr ali.
Para Vidigal, é importante colocar para funcionar o centro de pediatria na segunda torre, pois seria um meio de desafogar as UPAs da cidade. Existem três, e de fato vivem lotadas devido à altíssima procura, inclusive por atendimento pediátrico.
“Após o processo eleitoral, chamei o Tadeu Marino e disse que queria voltar à concepção original do projeto para a segunda torre. As três UPAs da Serra (Castelândia, Carapina e Serra Sede) têm serviços de pediatria e estão tendo uma procura muito grande por vagas de pediatria, inclusive de mães do interior. Se eu levar o pronto atendimento pediátrico para essa segunda torre do Materno Infantil, consigo desativar o atendimento pediátrico em duas das três UPAs (Castelândia e Carapina), ampliando em ambas o atendimento de adultos. Isso sem falar que é muito melhor ter um pronto atendimento pediátrico com um hospital na retaguarda”, explica Vidigal, por acaso médico psiquiatra.
Novo governo Casagrande: ime sobre gestão compartilhada
Foi o plano que o prefeito levou a Marino. Em janeiro, porém, houve uma troca de guarda: Miguel Paulo Duarte Neto assumiu o cargo de secretário estadual da Saúde.
Há cerca de um mês, conta Vidigal, ele, o novo secretário e o governador Renato Casagrande (PSB) tiveram uma reunião para tratar do tema. No principal, segundo o prefeito, eles chegaram a um consenso e avançaram: a primeira torre (maternidade de risco habitual) fica 100% a cargo da prefeitura, enquanto na segunda eles vão mesmo abrir um centro de atendimento pediátrico, com gestão compartilhada entre Estado e município.
O ime está exatamente nesse último ponto. Os dois entes não chegaram a um acordo quanto ao tamanho da participação do Estado na gestão compartilhada da segunda torre, ou seja, qual será o percentual de ajuda do Estado no financiamento do centro pediátrico. Vidigal entende que deve ser uma boa ajuda, pois serviços pediátricos, argumenta, são de competência do Estado e não do município.
Enquanto Estado e município não chegam a um consenso, a parte que compete exclusivamente à prefeitura, segundo o prefeito, está em pleno funcionamento. Como explicado no início, é a primeira torre, onde está funcionando a maternidade de risco habitual.
Segundo Vidigal, nessa primeira torre, já estão sendo realizados 420 partos (sem metáfora) e 80 cirurgias ginecológicas todo mês, além dos serviços de um banco de leite, ambulatórios de ginecologia e uma ala especial para atendimento a vítimas de violência sexual.
“O que quero de parceria no hospital é só na segunda torre, na parte de leitos de enfermaria e UTI pediátrica e de cirurgias pediátricas. A gestão compartilhada hoje ainda não está formalizada por parte do Governo do Estado”, afirma o prefeito.
Rebatida ao eterno rival
Por tudo isso, Vidigal rebate as críticas de Audifax:
“O que eu posso falar sobre a crítica do Audifax é que, primeiro, eu não concordei com a doação do hospital ao Estado e retomei o hospital. Achei um ato político e eleitoral fazer aquela doação ao Estado em setembro de 2020, para fazer discurso de campanha. O que compete à prefeitura, que é a primeira torre, está funcionando na plenitude. Quanto à segunda torre, primeiro teve a Covid-19. Depois o Estado falou que ia colocar a maternidade de alto risco lá e acabou não colocando. Agora, estamos dependendo do fechamento do acordo de gestão compartilhada com o Estado, retomando a concepção original para uso da segunda torre, conforme projeto aprovado pelo Ministério da Saúde em 2011: abrir um centro de pediatria ali.”
Em tempo: se o Governo do Estado não assumir sua participação na gestão compartilhada da segunda torre, a istração de Vidigal fará isso sozinha, ou seja, assumirá plenamente a gestão e o custeio do centro pediátrico, com recursos próprios.
Mas vai ter que tirar (e muito) de outras áreas no orçamento.
