fbpx

Coluna Vitor Vogas

Entrevista com Renato Casagrande: os 100 primeiros dias de governo

Governador apresenta as quatro áreas prioritárias para os seus quatro anos de mandato, lista os projetos mais importantes e dá prazos para entregas

Publicado

em

Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom

Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom

Nesta segunda-feira (10), o governador Renato Casagrande (PSB) completa os 100 primeiros dias da sua terceira agem pelo Palácio Anchieta. Na entrevista a seguir, ele discorre sobre a marca – ou a ausência de uma marca específica – destes 100 primeiros dias de trabalho, responde o que esse novo governo tem de “novo”, apresenta as quatro áreas prioritárias para os seus quatro anos de mandato e projetos importantes dentro de cada uma delas.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Casagrande também fixa prazos para entregas bastante aguardadas pelo povo capixaba, comenta as mudanças em sua equipe e define seu novo governo e a si mesmo do ponto de vista ideológico. Ele ainda aponta o que mudou no relacionamento do Espírito Santo com o Governo Federal desde a sucessão de Bolsonaro por Lula (com palavras bem mais polidas, dá a entender que o primeiro simplesmente não governava).

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Além de questões istrativas, Casagrande destaca a “operação em defesa da democracia” realizada por ele os outros governadores logo após a depredação das sedes dos Três Poderes da República por terroristas inconformados com a derrota de Bolsonaro nas urnas. “Após o fracasso do 8 de janeiro, a democracia venceu e saiu ainda mais forte.”

E ainda dá tempo de ele explicar como pretende participar das eleições municipais de 2024.

> Amaro Neto pode ser candidato a prefeito de Vitória ou da Serra

Confira a entrevista na íntegra:

Qual é a marca dos seus 100 primeiros dias de terceiro governo?

Eu não tenho naturalmente o desejo de ter uma marca nestes 100 primeiros dias. O que posso marcar neste momento é a intensidade destes 100 dias. Foram dias de muito trabalho. O ano começou com muita intensidade. Já fizemos o planejamento estratégico para os próximos quatro anos. E fizemos o fortalecimento das instituições democráticas…

Como o seu governo ajudou a “fortalecer as instituições democráticas”?

Com a nossa presença, com a nossa palavra e com o nosso exemplo aqui no Estado. O Espírito Santo tem estabilidade institucional e diálogo institucional. Ajudamos construindo uma relação cada vez mais forte entre as instituições democráticas no Espírito Santo e, ao mesmo tempo, fazendo a defesa das instituições da República, que sofreram ataques nestes últimos meses, especialmente no dia 8 de janeiro. Estivemos presentes nos momentos mais importantes da vida pública brasileira, principalmente nas horas que exigiram a presença dos capixabas para fazer a defesa das instituições.

Como todos os governadores do país, o senhor esteve em Brasília, a convite do presidente Lula, e visitou os escombros deixados pelos terroristas logo após a depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro. Vocês marcaram posição contra tudo aquilo. Qual foi a importância desse gesto?

Aquela foi a última tentativa de pessoas que queriam uma ruptura institucional. E essa última tentativa fracassou no dia 8. Então, para consolidar o fracasso desses grupos minoritários da sociedade e mostrar que não há outro caminho fora da democracia, todos nós, governadores, nos juntamos para transmitir essa mensagem e fizemos uma operação em defesa da democracia. A democracia foi muito tensionada nos últimos meses e nos últimos anos. Mas é como tenho dito: a envergaram, mas não a quebraram…

Renato Casagrande em encontro com Lula. Foto: Cadu Gomes/VPR

Renato Casagrande e outros governadores em encontro com Lula e Alckmin. Foto: Cadu Gomes/VPR

O senhor usou essa expressão em seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro…

Sim. E, após o fracasso do 8 de janeiro, a democracia venceu e saiu ainda mais forte. As instituições democráticas brasileiras saíram mais fortes de todo esse tensionamento. Quando você enfrenta uma luta dura e sai vitorioso, você sai mais forte.

O senhor disse que os primeiros 100 dias não têm uma marca propriamente dita. Mas o seu governo realizou o Seminário de Planejamento Estratégico no fim de fevereiro. Qual será, então, a marca do seu terceiro governo?

Vou de novo falar: eu não gosto da ideia de “uma marca”. Meu governo nunca terá uma marca única, porque a intensidade do que fazemos é tamanha e tudo o que fazemos é tão diverso e tão volumoso que não é possível destacar uma marca. Mas é possível destacar nossas prioridades, divididas em quatro áreas.

A primeira é a educação. Estaremos com um trabalho intenso nessa área, preparando as nossas escolas para que nossos professores e alunos estejam em sintonia com o presente e com o futuro. Vamos inaugurar mais 100 escolas em tempo integral, chegando a um total de 232. Nos últimos quatro anos, construímos 100 creches. Vamos fazer mais 100. Vamos continuar ajudando os municípios a também implantar suas escolas em tempo integral. E acabamos de lançar em fevereiro, com o início do ano letivo, o projeto Escola do Futuro.

Ao lado do secretário de Planejamento, Álvaro Duboc, Casagrande divulga o planejamento estratégico até 2026. Foto: Divulgação/Secom

Qual é o objetivo desse projeto?

Promover um ambiente digital, de muita tecnologia, nas escolas estaduais. Já abrimos seis Escolas do Futuro. Nelas, os alunos têm aulas de robótica, de programação de computadores, fazem uso de tecnologia em sala de aula, com computadores para cada aluno. O design da escola também será diferente. E estamos buscando parcerias com empresas nessa área de tecnologia. Enfim, vamos jogar peso nessa área de educação.

Qual é a segunda área prioritária?

Queremos avançar de forma muito objetiva na prestação de serviços na área de saúde. Ainda temos um grande desafio que é a fila de consultas, exames e cirurgias eletivas para a população. Isso ainda não está adequado e queremos resolver o mais rápido possível. Queremos adotar um método que dê celeridade à prestação desses serviços.

Como?

Queremos introduzir um sistema de fila unificada. Um dos problemas que identificamos é a existência de muitas filas concorrentes no SUS. Tem a fila do consórcio dos municípios, tem a do próprio município, tem a do Estado… Então às vezes você tem a mesma pessoa em muitas filas em busca do mesmo serviço, porque ela está desesperada, então vai aonde consegue mais rápido. No governo ado, contratamos um sistema de inteligência artificial, uma plataforma que já foi implantada em outras secretarias e agora estamos implantando na Secretaria da Saúde. Com esse software, em parceria com os municípios, quando a pessoa ar uma fila do SUS, o sistema vai dizer se ela já está em outra fila. Esse sistema garimpa e mineraliza as informações. Com isso teremos o controle das filas do SUS.

E a terceira área? Segurança pública?

Já era prioridade e continua sendo. Isso envolve continuidade de investimentos em infraestrutura, em contratação de policiais e em tecnologia, como o Cerco Inteligente e o microcomparador balístico, que permite aos peritos descobrir a arma de origem de um disparo. Com o sistema de identificação civil e criminal que instalamos no Estado, teremos todos os capixabas identificados, teremos leitura facial e vamos avançar no monitoramento de pessoas que precisam ser monitoradas. E é lógico que nosso programa Estado Presente envolve também o social.

Nessa área, uma das medidas tomadas nestes 100 dias foi a portaria publicada pelo senhor em fevereiro para iniciar experimentalmente a utilização de câmeras corporais em agentes de segurança do Estado. Nesta primeira fase, são 70 equipamentos que serão utilizados por policiais penais. Isso gerou intensa discussão e resistência por parte de deputados de oposição na Assembleia. O governo vai avançar nesse processo, incluindo policiais militares?

Vamos avançar paulatinamente. Já estamos experimentando nos policiais penais e já estamos na fase de elaboração do termo de referência para comprar as primeiras câmeras que serão utilizadas por policiais militares e civis, especialmente os militares. Ainda não sei a quantidade. O termo de referência é a fase anterior à publicação do edital para aquisição, pois define as características do equipamento.

Quando vocês pretendem começar a testar as câmeras em policiais militares?

Ainda este ano, assim que as câmeras forem compradas. Essas primeiras 70 câmeras, usadas pelos policiais penais, são apenas câmeras. No próximo edital, a câmera que queremos comprar não é só uma câmera, mas ao mesmo tempo um celular. Estamos avançando experimentalmente para que eles aprendam a usar a câmera e para que tenhamos um protocolo de uso, para sermos eficientes no uso desse equipamento. Mas vamos avançar.

Para que os militares também usem, o senhor precisa mandar projeto de lei para a Assembleia?

Posso fazer por portaria também, pois é uma decisão istrativa. A portaria é mais para definir o protocolo de uso da câmera.

Ainda sobre militares, o projeto mais importante enviado pelo senhor até agora para a Assembleia foi o que mudou as regras para bombeiros e policiais militares do Espírito Santo se aposentarem. Aprovado em 27 de fevereiro, o projeto possibilitou a antecipação da aposentadoria, acelerando a mobilidade nas tropas. Na semana ada, o governo já promoveu 26 militares ao posto de coronel. Por que o senhor decidiu fazer isso?

Fizemos para adequar os militares do Espírito Santo à lei federal e ao sistema de Previdência dos militares do governo federal. O Espírito Santo era o único estado que não tinha aprovado esse ato para compatibilizar a lei estadual com a federal.

Foi promessa de campanha? O senhor assumiu esse compromisso com a categoria no 2º turno?

Isso foi debatido em campanha, mas é um assunto que eu já ia fazer independentemente de qualquer coisa, porque precisava fazer. Na reunião com representantes dos militares durante a campanha, eles de fato pleitearam.

E a quarta área prioritária?

Infraestrutura. O Espírito Santo depende de uma boa infraestrutura para se tornar competitivo nos mercados nacional e internacional e também por ter uma tradição de comércio exterior. O Estado quer ser cada vez mais porta do Brasil para o mundo e do mundo para o Brasil. Precisamos cada vez mais de bons investimentos e de boa articulação com o governo federal para que ele cumpra suas obrigações conosco, principalmente rodovias, aeroportos, ferrovia, a área portuária. E o Estado tem que fazer sua parte, que é se manter financeiramente equilibrado.

No dia 14 de abril, vamos inaugurar o Aeroporto de Linhares, com a presença do ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB). Em maio ou junho, vamos publicar o edital do aeroporto de Cachoeiro. Temos também a ampliação da Terceira Ponte, o viaduto de Carapina, a Darly Santos em Vila Velha, a ES-388 ligando Vila Velha a Guarapari, o Contorno de Jacaraípe… E, na macrodrenagem, estamos fazendo um investimento histórico.

Não posso contornar a pergunta, até porque o prazo de inauguração já foi prorrogado algumas vezes: quando o governo vai entregar a Terceira Ponte ampliada e o aquaviário funcionando?

Ambos estão previstos para serem entregues em maio. O aquaviário nós vamos inaugurar com as linhas entre os terminais de Cariacica, de Vila Velha e de Vitória na Praça do Papa. Vai faltar só o da Rodoviária de Vitória.

Ao lado dos prefeitos de Vitória, Lorenzo Pazolini, e de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, Casagrande faz eio inaugural do primeiro barco do aquaviário. Foto: Divulgação/Secom

E quanto à BR-101? Em que pé está esse imbróglio?

Do mesmo tamanho. O que teve de novidade nestes 100 primeiros dias é que o Ministério dos Transportes publicou o edital para contratar os estudos para uma nova concessão da BR-101. Dissemos ao ministro que o Governo do Estado tem disposição de assumir a rodovia e até de colocar dinheiro próprio, R$ 1 bilhão, nas obras de duplicação.

Renan Filho e Renato Casagrande. Foto: Divulgação/Secom-ES

Casagrande reúne-se em Brasília com o ministro dos Transportes, Renan Filho. Foto: Divulgação/Secom-ES

Foi um bordão do senhor no 2º turno da campanha: se reeleito, dizia, o seu terceiro governo seria “um novo governo”. Na sua própria avaliação, até agora está sendo “novo” ou diferente em quê?

O que há de novo é a disposição para o trabalho, a amplitude do governo, a capacidade de realizarmos mais ainda nestes quatro anos. Queremos avançar em algumas áreas fundamentais em relação ao governo anterior: a inovação, o turismo e a sustentabilidade são temas em que avançaremos bem nestes próximos quatro anos. E é um novo governo porque precisamos avançar com ainda mais velocidade. Na minha palavra à equipe no planejamento estratégico, falei que precisamos reconhecer que, no governo ado, enfrentamos uma pandemia e fizemos R$ 8 bilhões em investimentos. Mas agora precisamos ter energia para fazer ainda mais.

Quando analisamos as mudanças no secretariado, concluímos que numericamente não mudou tanto assim…

Mudei um terço dos secretários.

Foto oficial do secretariado escalado para o início do terceiro governo de Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom

Exato. Não é muito, proporcionalmente. Mas, quando olhamos com lupa as mudanças realizadas, a conclusão é interessante: o senhor trouxe para dentro do governo, de um lado, o PT; do outro, políticos liberais de direita, como Ricardo Ferraço e Felipe Rigoni; trouxe de volta Alexandre Ramalho, eleitor de Bolsonaro… Ideologicamente, também é um novo governo?

Não. O governo se adaptou a essa realidade que estamos vivendo. E a minha campanha foi com base política ampla. Então, o meu governo é de base política ampla. Tem gente do PP, do PSDB, do PT, do PCdoB… É um governo que representa a campanha que eu fiz. E é um governo que eu busco apresentar como um governo moderno. Veja que agora fiz a privatização da ES Gás. Não tenho problema algum em privatizar um serviço se for para melhorá-lo. E, nessa área, acho que a iniciativa privada pode avançar mais que a istração pública. Ao mesmo tempo, é um governo que se preocupa com temas caros para os progressistas, como a questão ambiental, as mudanças climáticas, a distribuição de renda, a melhoria e a universalização da prestação de serviços de saúde e educação, por exemplo. Então é um governo que toma medidas mais liberais para que a economia tenha maior pujança e para que tenhamos mais emprego e mais renda, mas é um governo que quer usar isso para prestar serviço pelo Estado à população que mais precisa.

E como o senhor situa esse novo governo no espectro político-ideológico? É de centro? De centro-esquerda? Liberal? Progressista?

É um governo moderno e progressista. Um governo com base ampla, que busca eficiência e justiça e que demonstra saber conviver com as diferenças.

E o senhor? Ainda se classifica como um líder político de centro-esquerda?

Sim. Sempre fui e sigo sendo um progressista de centro-esquerda. Agora, o meu governo é um governo que tem que se equilibrar com essas forças políticas todas. É importante mostrar que é possível conciliar, como a gente concilia, equilíbrio e responsabilidade fiscal (tema que não deve ser de ideologia, mas caro a qualquer um que governa), parcerias com o setor produtivo capixaba, mas quero que este Estado esteja a serviço da população capixaba, especialmente os mais vulneráveis. Governo existe para isso.

O senhor tem ido muito a Brasília e conversado pessoalmente com o presidente Lula, inclusive na última quarta-feira (5). Muitos ministros têm vindo aqui. Em termos de relacionamento com o governo federal, o que mudou para o senhor e para o Espírito Santo?

Mudou o estilo. O presidente Bolsonaro não tinha, como presidente da República, um estilo istrativo. Delegava todas as tarefas istrativas para os seus ministros. O presidente Lula já se envolve com os temas, quer saber como está o Espírito Santo, quais são os projetos e os investimentos prioritários. Para quem gerencia, como eu gerencio, essa retomada do pacto federativo tem sido fundamental. O presidente Bolsonaro fazia cotidianamente um enfrentamento com os governadores. Já o presidente Lula está buscando uma ação cotidiana de diálogo com os governadores, o que é muito bom. Não tenho nada a reclamar dos ministros do Bolsonaro, que sempre me atenderam muito bem. Mas ter o envolvimento pessoal do presidente da República é muito bom para que ele tenha sensibilidade em relação ao que a gente discute com a União.

Ministro Márcio França em reunião no gabinete do governador Renato Casagrande (13/02/2023). Foto: Hélio Filho/Secom

O senhor já está pensando em preparar um sucessor? A fila é grande…

Não. Não estou focado nem na eleição municipal.

Mas o senhor vai entrar pessoalmente na campanha de aliados em 2024?

Onde não tiver disputa entre aliados, eu pretendo entrar. Onde tiver mais de um, não devo. Mas vou participar da eleição.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.