Coluna Vitor Vogas
Cordel Politico: A Incrível História do Jabuti Encantado da Assembleia
Uma mágica história / cheia de encantamento / que ocorreu no Parlamento / do nosso Espírito Santo! / Com a ajuda de um bicho, / deputados, no cochicho, / aprovaram um vale-rango

Deputados estaduais comemoram a eleição de Marcelo Santos para a presidência da Assembleia (01/02/2023). Crédito: Lucas S. Costa/Ales
Atenção, pois, desta vez,
meu senhor e minha senhora,
vou contar para vocês
uma mágica história
cheia de encantamento
que ocorreu no Parlamento
do nosso Espírito Santo!
Com a ajuda de um bicho,
deputados, no cochicho,
aprovaram um vale-rango…
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Esse auxílio, há um tempão,
já existia na Assembleia,
mas era pago, até então,
tão-somente à patuleia:
mil e oitocentos paus
todo mês pro pessoal.
Deputados, no entanto,
queriam o mesmo valor
e se fizeram o favor
de aprová-lo por encanto!
A gestão Marcelo Santos
assumiu o compromisso
de estender para os manos
esse gordo benefício.
Mas a concessão do bônus
não viria sem um ônus,
pois não pegaria bem
criarem pra si o apanágio
abertamente, em plenário,
dado tudo o que já têm.
Mais de 30 mil recebe
um nobre parlamentar.
Remuneração tamanha
já deveria bastar
pra pagar comes e bebes,
muito bem se alimentar.
Mas eles lograram a façanha
de estender a regalia
a si mesmos, por magia,
usando uma velha artimanha…
Pra se darem o benefício,
os astutos deputados
recorreram aos serviços
do Jabuti Encantado.
Ele existe, não é lenda!
Para que você me entenda:
Sozinho, o jabuti
numa árvore não sobe,
mas, com o feitiço dos nobres
deputados, surge ali.
Foi o que se realizou
na votação em questão.
Marcelo apresentou
projeto de resolução.
Na ementa do projeto,
um bem diverso objeto:
implantar a Comissão
do Bem-Estar Animal.
Na redação, nem sinal
de auxílio-alimentação.
Eis que Hoffmann, Tyago,
o relator nas Finanças,
disse: “Uma emenda eu trago!”
Foi a emenda “auxílio-pança”.
E foi este o jabuti
que trataram de embutir.
O autor leu a emenda
que lhes criou o favor.
Mas o seu real teor?
Só audiência muito atenta…
Ele leu a lei mudada,
mas, de “alimentação”,
não houve sequer menção,
e ninguém discutiu nada.
Com urgência, sem alarde
e por unanimidade,
estenderam-se a benesse
graças ao bicho cascudo;
seu conteúdo, contudo,
não houve quem entendesse…
E, depois da aprovação,
fizeram-se surdos-mudos:
ninguém deu declaração
sobre o amiguinho cascudo,
e, acerca da emenda,
colocaram-se uma venda.
Nos bastidores, porém,
paira o seguinte argumento:
“Se outros Poderes têm,
por que também não podemos?”
Não dá pra entender, por exemplo,
que um membro do MP
precise de três e quatrocentos
como “auxílio pra comer”,
além dos trinta ou mais
que já recebe, mensais.
Em outros Poderes, de fato,
maior ainda é a gastança,
absurda exorbitância:
mais de cem reais por prato!
Mas este é outro debate:
dois erros não fazem um acerto;
não é porque um tem vantagem
que vantagem ter eu devo;
se o outro tem regalia,
isso não explica a minha.
Até porque, quando nada,
deputados batem ponto?
alguns “somem” sem desconto,
não têm fixa jornada.
Por meio do velho artifício,
do reptilzinho ancião,
em seu próprio benefício
mudaram a legislação.
Mesmo com tão boa renda,
regalaram-se a prenda
(“autogenerosidade”).
E não há quem compreenda
o porquê dessa emenda
nem sua necessidade.
Quem vai pedir? Me atrevo:
ora, quase todo mundo!
Graças ao bicho longevo,
ao animalzinho cascudo,
com a cara e a casca dura,
aumentaram a sua fartura,
legislando em causa própria.
E não há quem entenda a emenda!
Antes fosse só uma lenda,
mas é verdadeira esta história…
