Coluna Vitor Vogas
Com vaga reservada para o PP, Pazolini exonera secretário de Cultura
Substituto de Luciano Gagno será indicado pelo partido de Da Vitória, em ato que selará o ingresso do PP na gestão e no projeto eleitoral do prefeito

Erick Musso, Evair de Melo, Josias da Vitória e Lorenzo Pazolini
Em novo “chamamento público” ao Progressistas (PP), o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), exonerou o advogado Luciano Picoli Gagno do cargo de secretário municipal de Cultura. O ato de exoneração foi publicado nesta terça-feira (1º) no Diário Oficial de Vitória. A vaga de Gagno está reservada para o PP e será preenchida por um nome indicado ao prefeito pelo partido de centro-direita, presidido no Espírito Santo desde abril pelo deputado federal Josias da Vitória. A expectativa é que o novo secretário de Cultura seja anunciado até a semana que vem.
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Gagno permanece na equipe de Pazolini, agora como assessor especial da Secretaria Municipal de Governo, comandada por Aridelmo Teixeira (Novo). O subsecretário de Cultura, Tiago Benezoli, foi designado pelo prefeito para responder interinamente pela pasta, até a nomeação do quadro a ser indicado pelo PP e aprovado por Pazolini.
O anúncio do substituto de Gagno marcará o ingresso oficial do PP na istração de Pazolini e, o que é mais importante, representará um o decisivo na evolução de um movimento que vem sendo articulado desde antes da chegada oficial de Da Vitória ao comando do partido no Estado, no dia 1º de abril: a construção de uma aliança político-eleitoral do PP com o Republicanos visando à reeleição de Pazolini em 2024.
Da Vitória mantém excelente relação política com Pazolini e com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso. Ao trio se soma o deputado federal Evair de Melo, que apoia abertamente a reeleição de Pazolini e também trabalha pessoalmente pelo ingresso do PP na base e na coligação do prefeito. Os quatro estão diretamente envolvidos nessa articulação.
Pazolini e Erick (representantes do Republicanos) têm sido vistos frequentemente com Da Vitória e Evair (líderes do PP) em eventos públicos e postagens nas redes sociais. No último dia 15, Pazolini fez questão de prestigiar a convenção estadual do PP, na qual Da Vitória foi efetivado na presidência estadual da sigla.

Evair de Melo, Lorenzo Pazolini e Josias da Vitória em show de Roberto Carlos (21/04/2023). Crédito: Reprodução Instagram
Erick já foi do PP. Pelo partido, elegeu-se vereador de Aracruz em 2012, deputado estadual em 2014 e foi vice-líder do último governo Paulo Hartung na Assembleia Legislativa. No ano ado, o então deputado estadual foi apoiado por Da Vitória na eleição ao Senado, na qual chegou em 3º lugar.
A iminente confirmação da entrada do PP na gestão e no movimento eleitoral de Pazolini é tida como prioritária para o Republicanos. Pelos cálculos de dirigentes partidários, devido ao tamanho da bancada eleita em 2022 na Câmara dos Deputados, o PP terá direito a mais de 40 segundos de tempo de TV por bloco de 10 minutos da propaganda eleitoral gratuita, na próxima eleição municipal.
Com o Republicanos, o tempo da coligação de Pazolini ará de 1 minuto, com sobras. Esse ativo é considerado fundamental em uma eleição que, ninguém duvida, tende a ser decidida em dois turnos.
Além do Republicanos, Pazolini – que ainda não se declara candidato – já conta com sinalização de apoio do Novo, legenda de Aridelmo Teixeira. O PP, porém, seria o primeiro partido de grande porte a se juntar à coalizão liderada pelo prefeito. No Republicanos, o anúncio é tratado como “ponto de virada” rumo à campanha eleitoral. “O anúncio do PP como primeiro partido robusto será um marco inaugural dessa virada para o início de um novo ciclo”, avalia uma fonte com trânsito na Prefeitura de Vitória.
Até o fim de semana, o PP deve indicar um ou dois nomes para Pazolini avaliar. O nome terá a marca da indicação partidária, mas não necessariamente pertencerá aos quadros do PP. O anúncio deve ser feito até semana que vem.
Uma das dificuldades do PP é justamente a falta de correligionários com perfil técnico adequado para preencher a vaga de secretário municipal de Cultura.
Segundo um interlocutor de Pazolini, o plano é fazer dois anúncios em separado: primeiro, o novo secretário municipal de Cultura e a entrada oficial do PP no governo Pazolini; mais adiante, em meados de setembro, o apoio do PP à reeleição do prefeito.
Contudo, já no primeiro anúncio, em se confirmando a entrada do PP na gestão do republicano, o apoio eleitoral ficará implícito. Poderá ser considerado um desdobramento natural.
Flerte público e jogo duro: o “não” ao primeiro pedido de namoro
Essa é, na verdade, a segunda tentativa de Pazolini em atrair o PP para sua gestão e sacramentar o apoio do partido. A primeira delas foi frustrante, não foi conduzida com tato e resultou em curto-circuito.
No dia 12 de maio, o prefeito convidou o vereador Anderson Goggi, único representante do PP na Câmara de Vitória, para assumir a Secretaria de Cultura no lugar de Luciano Gagno. O convite foi feito na presença de Aridelmo Teixeira e do presidente do PP em Vitória, Marcos Delmaestro. Porém, treze dias depois, Goggi recusou o convite. Oficialmente, alegou que teria muito pouco tempo para conduzir a pasta: só cerca de dez meses, até se desligar do cargo para poder disputar a reeleição no próximo ano.
Mas houve outras razões. No fim de junho, a Comissão de Cultura da Câmara aprovou a convocação de Luciano Gagno para prestar esclarecimentos sobre denúncias de supostas irregularidades cometidas à frente da pasta na contratação de shows musicais e outras atrações culturais na cidade.
A convocação foi proposta pelo próprio Goggi. A denúncia foi protocolada na Comissão de Cultura pelo vereador André Moreira (PSol), um dos três oposicionistas declarados de Pazolini na Câmara. A acusação versava sobre suposto direcionamento em contratações de pequena monta (R$ 5 mil), para favorecimento das mesmas empresas e, no limite, do mesmo empresário.
Em seu depoimento no dia 3 de julho, Gagno negou as acusações, afirmou que a Secretaria de Cultura na verdade está economizando dinheiro e fazendo mais com menos. Disse, ainda, que a atual istração promove muito mais eventos culturais nas comunidades de Vitória que a anterior (de Luciano Rezende) e aumentou consideravelmente os investimentos na Secretaria de Cultura.
Na tomada do depoimento, assim como André Moreira, Goggi fez questionamentos incisivos ao então secretário, sinalizando ter se aproximado muito da oposição em plenário. A convocação, por si, já havia indicado isso. Porém, segundo fontes envolvidas na substituição de Gagno, a situação com Goggi foi contornada, e o vereador voltou a fazer parte da base.

Luciano Gagno durante depoimento à Comissão de Cultura da Câmara de Vitória. Crédito: Reprodução TV Câmara
O desgaste sofrido por Gagno pode ter sido um ingrediente a mais e contribuído para sua queda? Sim, sem sombra de dúvida. O secretário já se equilibrava na corda bamba há algum tempo. Mas é preciso ter em mente que, no primeiro convite de Pazolini, feito a Anderson Goggi, as denúncias contra Gagno relacionadas a contratos ainda não tinham adquirido ressonância. O fator preponderante é, de fato, a vontade de Pazolini e de seus articuladores políticos em atrair o PP para seu governo.
I wanna hold your hand… and yours too!
A vontade é mútua. Sob a batuta de Da Vitória, o PP também quer ingressar na gestão de Pazolini. Esse é o desejo do próprio Da Vitória. O deputado federal é outro que se equilibra numa corda bamba, mas em outro sentido: aquela que separa o grupo político de Pazolini do grupo do governador Renato Casagrande (PSB).
Desde o governo ado, o PP faz parte da istração de Casagrande no Estado, com direito a cadeira cativa no secretariado: o ex-presidente estadual do PP, Marcus Vicente – desbancado justamente por Da Vitória –, é o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano desde o início de 2019. Já o presidente do PP em Vitória, Marcos Delmaestro, é assessor especial da Casa Civil no Governo Estadual.
Em maio, quando veio a lume o convite de Pazolini a Goggi (isto é, o flerte em público), Casagrande, como namorado traído, não escondeu a insatisfação. No dia 23 daquele mês, falando à coluna, chegou a dizer que eventual entrada do PP na gestão de Pazolini influenciaria a relação com seu governo e que o PP, nesse caso, teria de escolher o seu rumo: “O PP escolheu seu caminho. E nós vamos escolher o nosso”. Não daria para o partido querer ear de mãos dadas com os dois parceiros.
Como explicado acima, o convite a Goggi não vingou e o flerte, então, não deu em namoro. Àquela altura, Da Vitória e Casagrande estavam muito afastados. De lá para cá, os dois se reaproximaram, Da Vitória declarou à coluna que a relação com o PP permanecia a mesma, Casagrande idem e, até por inércia, a situação se manteve inalterada.
Ocorre que, por baixo da mesa, Da Vitória nunca chegou a soltar a mão de Pazolini, nem o prefeito a do PP. No dia 30 de maio, Arildelmo Teixeira insistiu aqui: “Queremos ter o PP na nossa istração”.
E agora, como está posto, o PP e o grupo do prefeito – adversário do governador – estão em pleno novo encontro a céu aberto, o qual desta vez, ao que tudo indica, vai mesmo evoluir para um relacionamento político-eleitoral.
No Republicanos, o discurso é o de que o movimento de atração do PP não é de modo algum contra o Palácio Anchieta, mas tão somente um movimento legítimo de fortalecimento eleitoral de Pazolini. Resta saber se Casagrande concordará com isso e se aceitará tão bem assim esse triângulo.
É bem provável que a confirmação do PP na gestão de Pazolini gere novo estremecimento na relação do partido com Casagrande, mas a dimensão desse abalo é incalculável no momento. De todo modo, o PP de Da Vitória está ambicionando um equilíbrio extremamente complicado.
Enquanto isso, parafraseando um hit dos Beatles, os representantes do PP nesta história poderiam muito bem cantarolar: I wanna hold your hand (“Quero segurar a sua mão”)... and yours too! (“… e a sua também!”).
