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Coluna Vitor Vogas

Camila pode ser para Coser o que Contarato quase foi para Casagrande

Se antes o PT ameaçava com candidatura própria a vitória de outro candidato da esquerda, agora vê suas próprias chances de vitória ameaçadas por outra candidata de esquerda

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CCCC: Camila, Coser, Contarato e Casagrande

Em entrevista a esta coluna, a deputada estadual Camila Valadão (PSol) afirmou que ela e seu partido estudam dois caminhos na próxima eleição à Prefeitura de Vitória: ou o PSol a lançará candidata ao cargo hoje exercido por Lorenzo Pazolini ou apoiará a candidatura do também deputado estadual João Coser (PT) contra o prefeito do Republicanos, em uma frente de partidos de esquerda.

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É um belo dilema, que nos remonta a um fato bem marcante, talvez o mais determinante, no período anterior à campanha do ano ado, para o resultado que se veria nas urnas do Espírito Santo ao término do 2º turno, no dia 30 de outubro: o recuo tático de Fabiano Contarato (PT) na eleição ao Palácio Anchieta.

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São situações diferentes, é claro, a começar pelo marco temporal (uma é ado, a outra é futuro), mas que, em alguns aspectos, podem ser consideradas análogas.

A retirada estratégica da pré-candidatura de Contarato em julho de 2022 provou-se imprescindível para Renato Casagrande (PSB) – e para as forças de esquerda e centro-esquerda no Espírito Santo em geral, incluindo o próprio PT – na última eleição ao Governo do Estado.

Num cenário extremamente polarizado, com um adversário bolsonarista empedernido como foi Carlos Manato (PL), a presença do senador petista no páreo teria tirado muitos votos de Casagrande à esquerda, talvez até ameaçando a ida do governador para o 2º turno.

Todavia, em eventual 2º turno entre Manato e Contarato, o petista provavelmente teria muito menos chances de derrotar “o candidato de Bolsonaro”, pois, ao contrário de Casagrande, não tem trânsito algum entre eleitores de centro-direita e menos ainda entre aqueles de direita (muitos dos quais inclusive se sentem “traídos” pelo senador após terem votado nele em 2018).

Resumindo: uma candidatura Contarato tinha enormes chances de se provar um tiro no pé e poderia, no fim das contas, ter servido muito mais a Manato, colaborando involuntariamente com a vitória do adversário em comum. O PT simplesmente poderia ter marcado um gol contra e ajudado o bolsonarista a ganhar o jogo.

Não por acaso, o próprio Manato verbalizava isso: em diversas entrevistas dadas antes do período de campanha, a este espaço inclusive, declarou com todas as letras que torcia pela confirmação da candidatura Contarato, por entender que ele mesmo seria diretamente beneficiado com a pulverização dos votos de eleitores do centro para a esquerda.

Por que resgato tudo isso? É que agora, por uma dessas ironias políticas, Camila pode ser para o PT, na próxima eleição em Vitória, o que o PT poderia ter sido para Casagrande na última disputa estadual.

A psolista está agora para Coser como Contarato esteve para Casagrande no ano ado. Reparem, portanto, que a posição do PT no raciocínio estratégico se inverteu: se antes representava uma ameaça de fogo amigo à esquerda de Casagrande, agora se vê ameaçado por fogo amigo à esquerda de Coser. Se antes era um potencial complicador para um aliado de esquerda, agora pode ter os planos eleitorais complicados por uma aliada do mesmo campo progressista.

Se no ano ado o PT ameaçava a vitória de Casagrande (e, portanto, da esquerda) com uma pré-candidatura própria à esquerda do governador, agora vê suas próprias chances de sucesso eleitoral em Vitória ameaçadas por outra pré-candidatura ainda mais à esquerda.

Pode-se argumentar, com propriedade, que colocar PT e PSol no mesmo balaio, numa grande e genérica categoria denominada “esquerda”, não a de uma simplificação grosseira, que desconsidera as profundas diferenças existentes entre os vários partidos integrantes desse campo. Por um lado, isso é inteiramente certo: coloque psolistas e petistas ao redor da mesma mesa de reunião e rapidamente vão aflorar as discordâncias sobre inúmeras questões. Aliás, isso é igualmente verdadeiro entre membros e correntes dos mesmos partidos.

Ocorre que, num plano mais prático e pragmático, a política brasileira nos últimos anos não está muito para nuances e refinamentos. De 2014 para cá, caminha cada vez mais para uma polarização simplista que subsome tudo a dois grandes campos: direita, esquerda e nada além, limitando todas as escolhas a um desses dois lados; é um ou outro, sem nuances nem alternativas.

A próxima eleição municipal tende a ser ainda regida por essa mesma polarização/simplificação. Logo, a priori, nada mais razoável do que a união de forças de partidos posicionados no mesmo hemisfério do mapa político-ideológico, se eles compartilham o objetivo maior de derrotar quem está do “outro lado”.

Soa certamente mais sensato que uma divisão de forças dentro do mesmo lado, a qual, em última análise, tende a beneficiar precisamente quem se pretende derrotar.

Isso, é claro, aprioristicamente. “Cada eleição é diferente” etc., e a realidade da campanha pode provar que estou completamente errado nesta avaliação feita a uma distância relativamente grande do pleito… Mas “a lição de Contarato” está aí para ser considerada, compreendida e estudada pelas forças de esquerda envolvidas. Talvez tenham algo a tirar dela.

Os Coser: pai e filha em ações casadas

Falando em PT e em Vitória, nesta semana os Coser (pai e filha) deram uma demonstração gritante de que estão bem afinados no exercício dos respectivos mandatos parlamentares, atuando de maneira integrada a fim de criticar e pressionar a istração do prefeito Pazolini.

Na quarta-feira da semana ada (7), o deputado João Coser subiu à tribuna da Assembleia Legislativa para cobrar de Pazolini a construção de uma nova unidade de Pronto Atendimento no bairro Jardim Camburi. Na última segunda-feira (12), voltou à carga.

No dia seguinte, quem também subiu à tribuna, mas da Câmara de Vitória, foi a vereadora petista Karla Coser, filha do deputado e ex-prefeito, para bater na mesma cobrança, mas com ainda maior intensidade. A vereadora publicou em suas redes sociais seu discurso, no qual informou que o pai fora a Brasília para levantar diretamente, junto ao governo Lula, recursos federais para a Prefeitura de Vitória construir a nova unidade de saúde.

Nésio Fernandes recebe João Coser no Ministério da Saúde, em Brasília. Crédito: Assessoria de João Coser

Na quinta-feira (15), o pai de Karla matou a cobra e mostrou o pau. E, por “diretamente junto ao governo Lula”, entenda-se Nésio Fernandes. Agora secretário nacional de Atenção Primária à Saúde, no segundo escalão do Ministério da Saúde, o ex-secretário estadual da mesma área é aliado de João Coser e, como filiado ao PCdoB, faz parte da mesma federação que o PT – também integrada pelo PV.

Nas últimas eleições municipais, em 2020, como secretário estadual de Saúde, Nésio apoiou às escâncaras o retorno de Coser à Prefeitura. O petista foi derrotado por Pazolini no 2º turno.

A assessoria de Coser divulgou foto e texto sobre o encontro, com a informação de que o petista “apresentou aos deputados [federais] capixabas e ao Ministério da Saúde o pedido de destinação de ree de recursos para a construção de uma nova Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas em Vitória, para atender a população da região continental da cidade”.