fbpx

Coluna Vitor Vogas

Análise: por que Casagrande vai levar Philipe Lemos para o governo?

Ou, antes de tudo, por que Vidigal fez questão de puxar o secretário estadual de Turismo, Weverson Meireles, de volta para sua equipe na Serra agora?

Publicado

em

Renato Casagrande, Weverson Meireles, Philipe Lemos e Sérgio Vidigal

O governador Renato Casagrande (PSB) anunciou, na última sexta-feira (10), sua surpreendente decisão de substituir Weverson Meireles por Philipe Lemos, ambos do PDT, no comando da Secretaria de Estado do Turismo (Setur), a partir de 1º de dezembro. A coluna de hoje explica as razões e as consequências da troca de guarda na pasta, não apenas inesperada como, de certo modo, contrária à vontade e aos planos do próprio governador – o que surpreende ainda mais.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Secretário estadual do Turismo desde janeiro, Weverson voltará em dezembro para o cargo de secretário-chefe do Gabinete de Sérgio Vidigal (PDT) na Serra, exercido por ele na primeira metade do atual mandato do prefeito, de 2021 a 2022. Já Philipe Lemos deixará o cargo de secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Serra, ocupado por ele desde março, para assumir o lugar de Weverson como secretário estadual de Turismo.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Weverson “desce” do Governo do Estado para a Prefeitura da Serra, enquanto Philipe “sobe” da Prefeitura da Serra para o Governo do Estado. Em primeira análise, o que é uma “promoção” para este é um “rebaixamento” para aquele. Mas o trabalho de Weverson é muito bem avaliado internamente, inclusive pelo governador. Por que essa troca, então? Mais importante: por que essa troca agora?

Por vontade de Sérgio Vidigal, verdadeira mente política por trás de todo esse movimento. A nossa apuração não deixa dúvida: não foi Casagrande quem decidiu demitir Weverson e puxar Philipe para a sua equipe no Governo do Estado. Foi Vidigal quem decidiu puxar Weverson de volta para a sua equipe na Serra – e assim a inesperada “promoção” caiu no colo de Philipe, como um prêmio por estar no lugar certo na hora certa.

O movimento partiu do prefeito, que pediu a Casagrande a liberação de Weverson. A princípio, se dependesse do governador, o atual secretário seguiria à frente da Setur. Mas, zelando pela preservação da relação política com Vidigal e da aliança com o PDT, Casagrande atendeu de imediato ao pedido do aliado. Na verdade, o governador nem teve muita escolha, pois Vidigal levou a ele a decisão já tomada, após combinar tudo com Weverson, seu afilhado político.

O pupilo do prefeito também ficou sem opção, mas, se pudesse escolher, teria permanecido na Setur – estava muito entusiasmado com o trabalho na pasta. Falou mais alto, porém, sua lealdade inviolável a Vidigal e seu senso de dever para com o PDT e com o projeto do seu grupo político, cuja prioridade máxima é manter a Prefeitura da Serra em 2024. E assim, já nessa primeira e definitiva conversa, há cerca de 15 dias, prefeito e governador concordaram com a saída de Weverson… e com o nome de Philipe Lemos para repor a baixa na Setur.

Desse modo, a pergunta mais importante para entendermos a dança das cadeiras não é propriamente a do título da coluna (“Por que Casagrande vai levar Philipe Lemos para o governo?”), mas por que Vidigal faz questão de ter Weverson de volta ao seu lado agora, logo agora, a menos de um ano da eleição municipal, em um cargo tão estratégico, como seu braço direito político. É aqui que está o cerne da questão.

As duas respostas, complementares, têm motivações eleitorais e fazem parte de uma mesma estratégia arquitetada pelo prefeito da Serra.

Vidigal mais candidato que nunca… e Weverson vira o “plano B”

Por um lado, a volta de Weverson para o gabinete de Vidigal reforça a convicção de que o prefeito será candidato à reeleição – por mais que o desminta e despiste.

Por outro, complementarmente, um velho novo aliado emerge como possível alternativa ao nome de Vidigal na eleição à Prefeitura da Serra pelo grupo do prefeito e com o apoio deste: o próprio Weverson a a ser trabalhado por Vidigal como seu plano B, sua carta na manga, seu potencial candidato à sucessão caso ele decida realmente não concorrer a um quinto mandato.

Minha leitura inicial recai sobre a primeira opção: se ainda cabia alguma dúvida de que o real projeto de Vidigal é disputar a reeleição, esta é derrubada pelo fato de o prefeito fazer questão de puxar para o seu lado, num momento crítico do calendário eleitoral, ninguém menos que seu principal articulador político.

Na prática, o ano eleitoral está prestes a começar. Agora é preciso montar chapas de vereadores e preparar as alianças eleitorais visando à construção das coligações majoritárias. Vidigal precisa entrar no “modo reeleição”, e já. Para isso, nada melhor que poder voltar a contar com o seu braço direito político, “emprestado” por ele, nos últimos 11 meses, a Casagrande.

Como secretário de Estado, Weverson até podia se desdobrar para auxiliar Vidigal, até por ser o presidente estadual do PDT. Mas era extremamente complicado, por ser demandado o tempo todo pelo chefe (e pelas obrigações inerentes ao cargo). A partir de dezembro, ele poderá concentrar seu foco na Serra.

Para Vidigal, o retorno de Weverson para reassumir a chefia de gabinete é vital neste momento crítico. Hoje, o prefeito carece sobremaneira de alguém capaz de cumprir esse papel em seu nome: alguém que seja visto e reconhecido pelos demais agentes da Serra como sua cara e seu porta-voz para assuntos político-eleitorais.

O atual secretário-chefe de Gabinete, Alessandro Comper (PDT), não teria esse perfil – ao menos não de maneira tão marcada. Continuará no gabinete, em um cargo de assessor especial, cuidando mais das questões internas, enquanto Weverson ará a responder pela coordenação política “para fora da gestão”.

“Ele volta para preparar a eleição para Vidigal”, resume fonte de alto gabarito. Em última hipótese, Weverson ficará ali perto, como aquele plano B do prefeito.

Quem é Weverson Meireles e o que ele representa para Vidigal

Aqui é preciso termos absoluta clareza de quem é esse personagem central nesta análise. Weverson Meireles é “cria política” de Vidigal. Há alguns anos, é o presidente estadual do PDT, sempre representando os interesses políticos do prefeito e falando em nome do verdadeiro cacique estadual da sigla.

Ao longo do tempo, Weverson firmou-se como principal articulador político do PDT e de Vidigal no cenário estadual, para além das fronteiras da Serra. É sinônimo de Vidigal, seu homem de confiança e de uma lealdade a toda prova.

Mesmo a chegada do jovem colaborador ao cargo de secretário de Estado só se deu por influência do prefeito. Foi Vidigal quem o indicou a Casagrande, na montagem da nova equipe de governo em dezembro do ano ado. Desde então, Weverson preenche a cota do PDT (especificamente, a do prefeito) no secretariado estadual. E, do mesmo jeito que Vidigal “cedeu” seu pupilo (ou foi quem o “nomeou”), agora ele o reclama de volta e põe fim ao “contrato de cessão”.

Casagrande, assim, atendeu ao pedido de Vidigal para socorrer um aliado vital em um momento de urgente necessidade política.

Candidatura de Philipe na Serra torna-se praticamente impossível

Com a iminente ida de Philipe Lemos para a Setur, uma hipotética candidatura majoritária dele na Serra, a prefeito ou até a vice-prefeito, praticamente sobe no telhado.

Em dado momento deste ano, esse balão de ensaio chegou a ser lançado e testado pelo grupo de Vidigal. Mas não ou mesmo de um balão de ensaio, não foi nada mais que um exercício. Se as chances de essa hipótese se confirmar já eram remotas, agora podemos carimbar: não vai mesmo acontecer.

Uma segunda hipótese – esta até bem mais plausível – era a de que Philipe se filiasse ao Podemos para compor chapa com Vidigal, concorrendo a vice-prefeito da Serra e dando um ar de frescor à campanha, além de levar outro partido para a coligação do prefeito. Mas tal alternativa também se torna praticamente impossível.

Para qualquer uma das duas se concretizar, Philipe teria de assumir a Setur em dezembro para se desligar do cargo no começo de abril, devido ao prazo de desincompatibilização imposto pelo calendário eleitoral, comandando a secretaria por cerca de quatro meses.

Seria um “mandato-tampão” ridiculamente curto – além de irresponsável e afrontoso à sociedade capixaba – e cujo único resultado seria a desaceleração ou até eventual interrupção de políticas públicas no turismo, em um momento crucial para o setor.

Não cabe esse tipo de aventura no Governo do Estado. E o próprio governador já externou a interlocutores que nem sequer cogita essa hipótese.

“A nova aposta de Vidigal”, no improvável caso de o prefeito desistir da reeleição, será outra.

Mas por que Philipe?!?

Então ok, Vidigal precisava voltar a contar urgentemente com seu homem de confiança em sua cozinha política, e assim desfalcou Casagrande de seu secretário de Turismo. Era preciso substituir Weverson – de preferência, por outro pedetista, mantendo a cota do partido e de Vidigal no governo. A questão é, aí sim, a do título desta coluna: por que Philipe Lemos?

A priori, isso não seria necessário, pois não se trata de uma inversão de posições. Weverson não está indo para o lugar de Philipe, que poderia tranquilamente continuar como secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Serra. Casagrande poderia ter escolhido qualquer outro nome. O de Philipe, como dito acima, não foi indicado diretamente por Vidigal e Weverson, mas sugerido no meio da conversa e prontamente acolhido por Casagrande.

Agentes políticos ouvidos pela coluna têm diferentes respostas para o “por que Philipe?”.

Uma primeira resposta, positiva para o ex-apresentador da Rede Gazeta, é que expor o aliado pedetista na vitrine de uma loja maior é bastante interessante para o PDT. Assim, além de preservar sua cota no secretariado de Casagrande, o partido consegue proporcionar maior projeção política à sua jovem aposta tendo em vista eleições futuras, ao o que Vidigal resolve o seu problema doméstico com o “resgate” de Weverson.

A grande aspiração de Philipe seria chegar à Câmara dos Deputados em 2026, e um bom trabalho na Setur poderia ajudá-lo muito nessa direção.

Neste caso, o prefeito conseguiria unir o útil ao agradável, matando duas bolas com uma só tacada.

A segunda resposta, bem mais negativa para Philipe, também seria uma forma de Vidigal resolver dois problemas de uma vez. Por este ângulo de análise, mantido por alguns atores políticos da Serra, Philipe teria se tornado um pequeno problema para Vidigal, do qual o prefeito estaria aproveitando a oportunidade para se livrar.

Além de não vir entregando os resultados esperados, frustrando as enormes expectativas depositadas nele pelo prefeito, o secretário teria acumulado arestas com vereadores da base na Câmara, notadamente com o presidente da Casa, Saulinho da Academia, também filiado ao PDT. Em pelo menos uma ocasião, o presidente criticou de forma pública e direta a atuação de Philipe como secretário, em pronunciamento realizado no plenário.

Foi caso típico de fogo amigo – e também pode ter influído nisso certa concorrência interna do vereador com o secretário por lugar na chapa majoritária do PDT no ano que vem. Fato é que, a nove meses da campanha, Vidigal não pode se dar ao luxo de perder o apoio do presidente do Poder Legislativo Municipal, numa Casa onde já não conta com maioria tão folgada.

“Philipe flopou totalmente. Não disse a que veio, não tocou os principais projetos e não aumentou em nada a audiência do turismo na cidade. Me espantei em ver que o governador vai levá-lo para o Estado”, dispara um parlamentar não alinhado com Vidigal. Mas ressalvas quanto ao desempenho do secretário na Serra também são manifestadas por colaboradores do governo Casagrande, acompanhadas por forte receio, preocupação com a escolha… e incompreensão.

A terceira resposta é que escalar Philipe para a vaga de Weverson foi para Casagrande, simplesmente, a solução imediata ao seu alcance: o jornalista é filiado ao PDT, está integrado ao grupo político de Vidigal e, mal ou bem, vem atuando à frente da secretaria equivalente na Serra. Entende-se que já esteja familiarizado com a área.

Para o governador e seu governo, a fim de cultivar a excelente relação com o partido de Vidigal, é importante que o PDT mantenha sua representação no secretariado estadual. Além de parceiro histórico do PSB, o PDT será fundamental para o bom êxito das estratégias eleitorais do Palácio Anchieta e do partido de Casagrande nas urnas em 2024.

A despedida pública de Weverson

Em evento realizado nessa segunda-feira (13) no Salão São Tiago, Palácio Anchieta, relacionado precisamente ao desenvolvimento do turismo no Espírito Santo, Weverson Meireles aproveitou para se despedir, falando a uma plateia formada por servidores da Setur, políticos e empresários do setor:

“Eu dei certa contribuição nestes 11 meses. E Philipe continuará e dará enorme contribuição. Independentemente de quem esteja no cargo, o mais importante é que tudo é feito sob a condução do governador. E as entregas continuarão sendo realizadas pelo meu colega de partido, Philipe Lemos, que também vai contribuir muito na promoção do turismo, porque ele tem os canais e com certeza vai colocar o Espírito Santo no patamar mais alto.”

A elegia de Casagrande ao secretário

Em seu discurso, o governador elogiou bastante o secretário: “Está concluindo um trabalho bem-sucedido. Vai estar na sSerra, mas vai estar nos ajudando. Philipe Lemos está chegando, e você vai fazer esse entrosamento com ele”, pediu, sob aplausos.

Em entrevista após o evento, novos elogios: “Tenho certeza que o Philipe dará sequência àquilo que o Weverson está fazendo. E o Philipe é também uma pessoa dinâmica e atuante, com um caráter muito bom. Do mesmo jeito que o Weverson desenvolveu esse trabalho com muita competência, o Philipe também vai desenvolver. Sai o Weverson, que é um competente jovem, e entra o Philipe, que também é um competente jovem e com certeza vai continuar dando dinamismo à atividade do turismo no Estado.”

Weverson: “Philipe está no nosso grupo mais que nunca”

Em entrevista à coluna, Weverson deu a sua explicação para a troca: “Estou retornando à prefeitura da minha cidade para, ao lado do nosso prefeito, coordenar istrativa e politicamente as ações da secretaria de Gabinete”.

Lembrando que o maior projeto eleitoral do PDT no Espírito Santo é manter a Prefeitura da Serra, o presidente estadual do partido reiterou o posicionamento de Vidigal. Publicamente, o prefeito repete que não pleiteará o quinto mandato. “Mas o PDT dialoga com ele para continuar a liderar a gestão desenvolvimentista e humana que ele conduz.”

De todo modo, afirma, o PDT terá candidato a prefeito da Serra. “E precisamos nos organizar.” Esse candidato, diz Weverson, não será ele: “Eu não”. Mas Philipe ainda pode concorrer, como candidato a prefeito ou vice: “Pode compor nossa chapa majoritária”.

Weverson completa que ele, Vidigal e o PDT estão em sintonia total com Philipe: “Ele continua em nosso grupo, mais que nunca”.

E a possível ida de Philipe para o Podemos?

Mesmo não sendo candidato a nada em 2024, Philipe em tese ainda pode ir para o Podemos. Não tem mandato, nada o impede. Mas, com a ida dele para a Setur, também essa hipótese deixa de fazer sentido, pelo menos no curto prazo.

Ora, um dos fatores da escolha de Philipe como substituto de Weverson é o fato de ele ser pedetista e a manutenção da cota do PDT no primeiro escalão. Aí meses depois ele troca de sigla?!? Não teria lógica.

E outra: o Podemos hoje já tem dois secretários no governo Casagrande: Emanuela Pedroso (Governo) e Alexandre Ramalho (Segurança), o que já gera ciumeira geral. Se ar de repente a somar três, ter-se-á explodido a regra do equilíbrio que o governador mal ou bem busca manter entre as múltiplas forças de sua coalização.

Naturalmente, essa conta, em abril do ano que vem, vai depender muito do que Ramalho decidir fazer eleitoralmente.

Quem assumirá o lugar de Philipe?

Uma dúvida remanescente: Weverson ainda não sabe quem assumirá o lugar de Philipe Lemos à frente da Secretaria de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer da Serra.

Muito prazer…

O governador já o anunciou, mas ainda não conversou pessoalmente com Philipe Lemos desde que o escolheu para a Setur. Só por telefone. Philipe estava viajando. Seu retorno era esperado para essa segunda.

E tome isso!

Há quem aposte que, para viabilizar Weverson, Vidigal também lhe dará a Secretaria Municipal de Serviços para ele acumular nos próximos meses, aumentando sua visibilidade.