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É precipitado rebaixar pandemia para endemia, alerta especialista do ES
A avaliação do Brasil surge após o Reino Unido anunciar o fim de todas as restrições sanitárias contra o coronavírus

Coronavírus. Foto: Pixabay
O Ministério da Saúde estuda deixar de classificar a covid-19 como uma pandemia para tratá-la como endemia. Os critérios para esse rebaixamento, no entanto, ainda não estão fechados. Por isso, não há previsão de data até o momento para a medida entrar em vigor. As declarações foram dadas pelo ministro Marcelo Queiroga e o presidente Jair Bolsonaro.
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A avaliação vem após o Reino Unido anunciar o fim de todas as restrições sanitárias contra o coronavírus. Apesar disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) continua a considerar a covid-19 uma doença pandêmica. Em entrevista à BandNews FM Espírito Santo, a epidemiologista e professora doutora da UFES, Ethel Maciel, ressalta que o cenário no Brasil é muito diferente do Reino Unido.
Com mais de 650 mil mortos, a média móvel de óbitos no Brasil, nos últimos 14 dias, é de 509 diárias e a média móvel de casos, nas duas últimas semanas, está acima de 50 mil. Além disso, o enfrentamento da doença exige uma alta taxa de vacinação e, mais do que isso, doses de reforço. No país, 40,06% da população alvo havia recebido a terceira dose até a última quarta-feira (2).
A especialista avalia que a mudança de pandemia para endemia é uma decisão complexa e que qualquer mudança diante do atual cenário seria “precipitada”. “Ainda estão sendo discutidos os parâmetros que devem ser levados em consideração para serem considerado normal a covid-19. Esses parâmetros são definidos pela agências internacionais e Organização Mundial da Saúde (OMS)”, disse Ethel.
A epidemiologista esclarece que, no Brasil, a dengue é uma endemia, onde há uma média de 600 a 1 mil mortes por ano, que foi estabelecida como um parâmetro estacionário da doença, quando se tem o aumento desse número, é decretada a epidemia. Esse parâmetro é definido pelas agências de saúde internacionais.
“Essa fala do presidente não faz sentido no cenário que vivemos. Nós não temos a pandemia controlada. Ainda observamos números muito altos de mortes. Não podemos dizer que uma média móvel que chega a 600 vidas perdidas por dia pode ser normalizada. Como é uma doença nova, não temos parâmetros ainda. Há grupos estudando para definir qual é a normalidade dentro desse cenário”, explica a epidemiologista.
Para Ethel, o Reino Unido vive um cenário da doença muito diferente do Brasil. Onde o país tem alta cobertura vacinal e vive uma estabilidade nas estatísticas. Mais de 70% da população alvo já recebeu a dose de reforço. Uma vez que o Brasil está muito aquém na aplicação, com 40%. Mesmo durante a expansão da ômicron, o Reino Unido registrou um número muito menor de óbitos.
“Nós sabemos que a grande diferença no controle da variante ômicron foram os países que apresentavam uma cobertura maior da dose de reforço. Quando a variante ômicron entrou no Reino Unido, pouco mais de 50% da população estava com a cobertura da dose de reforço. Eles enfrentaram muito bem essa onda. Nossos números em fevereiro de internação e óbitos foram muito altos. Uma vez que nossa cobertura era 15% da população. A evolução da doença foi mais percebida no Brasil”, explicou a epidemiologista.
A preocupação é que se o rebaixamento de fato ocorrer, a doença provocada pelo coronavírus deixará de ser vista como uma emergência de saúde e muitas das restrições, como a proibição de aglomerações e a exigência do aporte vacinal, deixarão de ser aplicadas.
Ouça na íntegra
Pandemia, endemia, epidemia ou surto: entenda a diferença
Desde o início de 2020, a palavra “pandemia” se tornou comum no nosso dia a dia. Mas você sabe o que ela significa? E o que a diferencia de surto, epidemia e endemia?
Um surto de uma doença acontece quando há um repentino e inesperado aumento de casos, em uma determinada região, comunidade ou estação do ano. O número de casos pode variar de acordo com o agente que causa a doença. Além disso, também é avaliado o tamanho e tipo de exposição anterior quando se trata de uma doença conhecida.
Já a epidemia de uma doença acontece quando existem surtos em várias regiões. Ou seja, quando há muitos casos de uma doença em determinados locais geográficos ou comunidades, e que vão se espalhando para outros lugares além daquele em que foram identificados inicialmente.
A endemia é uma doença de causa e atuação local. Ela se manifesta com frequência em determinada região, mas tem um número de casos esperado – um padrão relativamente estável que prevalece. Se houver alta incidência e persistência de doença, pode ainda ser chamada de hiperendêmica.
Uma pandemia é a disseminação mundial de uma doença (epidemia). Ela pode surgir quando um agente infeccioso se espalha ao redor do mundo e a maior parte das pessoas não são imunes a ele.
Em uma escala de gravidade, a pandemia é o pior dos cenários porque ela se estende para várias regiões do planeta. Quando uma doença é classificada como pandemia, não significa, porém, que a situação é irreversível ou que o agente da doença, seja vírus ou qualquer outro patógeno, tenha aumentado seu poder de ameaça.
O que muda são as medidas adotadas pelas autoridades no combate à doença. No caso de uma pandemia, o protocolo de ação deve ser respeitado não só pelos países afetados mas também pelos que ainda não registraram casos do vírus. A abordagem, nessas situações, deve ser um conjunto de ações integradas, em que governo em parceria com a sociedade trabalham juntos na contenção da doença.
