fbpx

Solidariedade

Doar e contar? Eis a questão!

Compartilhar um ato de solidariedade pode incentivar e reforçar a prática. Mas a ação não é bem vista por todos

Publicado

em

Distribuição de alimentos entre a população em situação de rua. Foto: Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória

Distribuição de alimentos entre a população em situação de rua. Foto: Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória

Provavelmente você já se deparou com algum vídeo ou foto nas redes sociais em que as pessoas compartilham registros de solidariedade, como doações de roupas ou alimentos entre a população em situação de rua. Mas a sensação de bem estar dura pouco. Basta ar os comentários dessas publicações para encontrar um usuário questionando a legitimidade da ação.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Expressões como “fulano quer biscoito” ou afirmações do tipo “é para se promover” ganham destaque, ofuscando a divulgação dos bons exemplos. Flávia da Veiga, criadora da metodologia da Publicidade Positiva — estratégia que visa criar impactos positivos na sociedade — diz que a crítica é algo natural e que sim, existem pessoas que buscam na solidariedade, formas de se promover. Mas que isso não deve interferir no comportamento de quem acredita nas boas ações.

“Se olharmos pela ótica do marketing, grandes marcas e modelos de negócios já se posicionam sobre os problemas da sociedade, como causas sociais e ambientais, para gerar valor. Isso é uma tendência sem volta. E está tudo bem você divulgar algo e não agradar a todos. O mais importante nesse processo é que você mantenha seu posicionamento, independentemente do que disserem. Fato é que quando compartilhamos ações positivas, isso tende a contagiar outras pessoas e isso cria uma onda de bons exemplos”, explica Flávia.

Boas ações não precisam de autorização

Marmitas preparadas por grupos de apoio aos moradores em situação de rua antes de serem distribuídas. Foto: Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória

Marmitas preparadas por grupos de apoio aos moradores em situação de rua antes de serem distribuídas. Foto: Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória

E não é apenas no meio digital que as críticas vêm. Na vida real, as pessoas menos acanhadas não perdem tempo em se posicionar contra algo. Em fevereiro, após sair de um restaurante, o repórter que aqui escreve decidiu compartilhar com um morador de rua em Jardim da Penha, na capital, a refeição que levava para casa. Imediatamente ele foi abordado por um morador que criticou a ação, dizendo que existiam regras para esse tipo de solidariedade na região.

Procurada, a Associação de Moradores de Jardim da Penha disse que não interfere nas ações individuais ou coletivas que ocorrem no bairro para benefício da população em situação de rua e que não cabe à entidade deliberar sobre o assunto. As prefeituras da Grande Vitória também se manifestaram. A secretária de Assistência Social de Vila Velha, Letícia Goldener, resumiu bem a opinião do poder público.

“Não podemos tirar a bondade do coração das pessoas ou então o que será do mundo? Essas ações são muito boas, mas ainda assim elas podem favorecer a permanência das pessoas nas ruas, prejudicando um trabalho maior. Daí a importância de fortalecer os serviços já existentes, reforçando nossas políticas publicas”, explicou a secretária.

Pastoral da Arquidiocese de Vitória defende a solidariedade

População em situação de rua recebendo doação de alimentos na Grande Vitória. Foto: Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória

População em situação de rua recebendo doação de alimentos na Grande Vitória. Foto: Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória

Um dos principais grupos de atendimento à população em situação de rua é o da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Vitória. Segundo Júlio César Pagotto, coordenador do programa, o trabalho não tem a ver apenas com a doação de roupas ou alimentos, mas sim o combate ao preconceito e a defesa dos direitos das pessoas menos favorecidas.

“Um dos maiores valores da Igreja Católica é a caridade. Ela nos diz que é preciso cuidar e praticar a solidariedade. E mais do que comida, as pessoas atendidas querem ser ouvidas. Elas precisam de apoio emocional e nós tentamos amenizar essa dor”, disse Pagotto.

Questionado sobre a opinião da Pastoral quanto à publicidade dada às ações nas redes sociais, o coordenador da entidade defende a prática. “A divulgação tem como objetivo fazer com mais pessoas se juntem a uma determinada causa. Além disso, serve também como prestação de contas para um serviço ou campanha realizada. Claro que alguém pode fazer por outros interesse, mas não podemos fazer juízo de valores. A caridade e solidariedade devem sempre prevalecer”.