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Com carrinho decorado de pelúcia, reciclador chama atenção em VV

“Quando era criança, meus pais não podiam dar presentes. Eu dizia: agora não tenho, mas um dia vou ter”

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Alessandro Ferreira é catador de materiais recicláveis. Foto: Dani Kunsch

Alessandro Ferreira é catador de materiais recicláveis. Foto: Dani Kunsch

“Na época que eu era criança, meus pais não tinham condições de nos dar presentes. Lá em casa o dinheiro era para comida ou aluguel. Nunca tivemos dessas coisas. Brinquedo nenhum. A gente via os meninos que tinham, mas nossos pais sequer deixavam a gente chegar perto. Se quebrasse, eles teriam que pagar e seria mais uma despesa. Naquela época eu dizia: ‘agora eu não tenho, mas um dia vou ter’. A gente cresce e o sonho não morre”.

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E Alessandro Ferreira Meirelles deu forma ao seu sonho de menino. Aos 43 anos, o catador de material reciclado circula diariamente cerca de 20 quilômetros em Vila Velha empurrando com muito amor seu carrinho todo decorado ursinhos de pelúcia. E se engana quem pensa que os brinquedos são doações. Ele se enche orgulho ao dizer que cada um deles foi comprado com o dinheiro do seu suor nos bazares.

O carrinho chama atenção por onde a. Seja criança ou adulto. A magia contagia e desperta a curiosidade saber a história desse homem que carrega consigo os desejos do menino que foi um dia. Mineiro de nascimento, capixaba de coração. Alessandra conta que há mais de 20 anos deixou Governador Valadares (MG) em busca de oportunidades no Espírito Santo. Ainda em 1994 encontrou no material reciclado sua fonte de renda.

Nesse meio tempo, Alessandro deixou de lado o carrinho de catador para se aventurar na construção civil. A crise veio e ele se viu desempregado. O carrinho para coleta material reciclado voltou a ser sua fonte de renda. O catador conta que para pagar as contas percorre diariamente cerca de 20 quilômetros em Vila Velha. Às 18 horas, ele retira o carrinho do depósito e torce para a noite ser boa.

“Durante o dia eu descanso para trabalhar à noite. Minha rota costuma ser sempre a mesma. Retorno para a casa por volta das 3 horas. Já teve vez de eu chegar às 5 horas, aí é quando a noite é boa. Recolho plástico, papelão, latinha, ferro.. cobre nem vou falar porque é ‘ouro’. O que eles compram a gente pega. A carga varia muito. Já cheguei a rodar com carga de 250 a 300kg, fora o peso do carrinho que nunca pesei. Mas em média dá para tirar R$ 70 por dia. Quando o dia é bom mesmo dá para chegar em R$ 95”, conta Alessandro.

Para o catador, não há motivos para reclamar. O dinheiro é curto, mas consegue pagar as contas. Aluguel, água, energia estão em dia. O gás? Ainda está nos planos deste mês, que se a noite for boa, pode ser comprado no dia seguinte. “Aperta hoje, folga amanhã”, diz ele que tem na dispensa de casa 3kg de farinha, 5kg de arroz e meio quilo de açúcar. E no peito a vontade de trabalhar!

Carrinho de catador de material reciclado chama atenção em Vila Velha. Foto: Dani Kunsch

Carrinho de catador de material reciclado chama atenção em Vila Velha. Foto: Dani Kunsch

Ele deu leveza à rotina dura de trabalho. O carrinho repleto de ursinhos de pelúcia lembra ao trabalhador que sonhos são possíveis. Segundo Alessandro, demorou mais de 4 meses para montar todo o carrinho. “Comecei com uma boneca, toda peladinha. Eu coloquei cabelo, mandei fazer roupa. Pouco depois já havia várias penduradas. Até que elas foram ficando escuras e eu comecei a trocar por pelúcia. Tirava uma boneca e colocava uma pelúcia. Demorei quatro meses montando o carrinho. Ainda nem está pronto, faltam os detalhes”, frisa.

Por onde a, atrai olhares e atenção. Tem pedidos de fotos e até mesmo interessados em comprar as pelúcias, mas o ciúme de cada ursinho fala mais alto. E não são só brinquedos que Alessandro coleciona. O catador já tem nove bicicletas em sua casa. A primeira ele deixa claro que foi comprada, mas as demais, foram montadas e pintadas pelas próprias mãos desse homem sonhador.