Olhar 360º
Infotoxicação: bombardeio de conteúdo pode causar transtorno à saúde mental
Se por um lado é desejável se manter informado, por outro a abundância dessas informações pode configurar um fator de desestabilização emocional

Informação; home office; trabalho. Foto: FreePik
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Você já se sentiu bombardeado pelo fluxo ininterrupto de informações no dia a dia? Ou perdido e confuso, sem saber em qual versão dos fatos acreditar, em meio a tantos pontos de vista e discursos? Mais que isso: já se sentiu pressionado a emitir sua opinião e entrou em conflito por conta disso? Isso vem se tornando um sintoma cada vez mais comum dentro do quadro de infotoxicação, um mal que atinge a todos, e acaba se acentuando em períodos em que ficamos muito tempo em frente às telas de smartphones e notebooks.
Esse fenômeno da infotoxicação é algo que já nos rondava antes mesmo da pandemia do novo coronavírus vir à tona. Já fazia parte da nossa realidade, essa sensação de estar sendo bombardeada por informações de todos os lados. A infotoxicação é uma condição na qual ficamos sobrecarregados com os conteúdos disponíveis no mundo digital. Com essa sobrecarga, perde-se a capacidade de assimilar as informações de maneira saudável.
Principalmente no período de quarentena, constatou-se um crescimento nos transtornos causados pela avalanche de informações. Pessoas que sofrem de problemas como ansiedade e outros distúrbios emocionais ficam mais fragilizadas durante uma crise como a que vivemos. E com a quantidade de notícias difíceis e a falta de previsibilidade sobre o futuro, essas informações podem servir de gatilho para crises emocionais profundas.
O Antony Moreira, professor de neurociência aplicada da Emescam e FGV., explica que o processo de consumo excessivo de informação provoca um ideal de ser bem informado, porém, o que a pessoa constrói são contextos voláteis. “Essa pessoa consome informes e não os transforma em algo palpável. Ela não pratica o que absorveu e acaba intoxicada com informações. Não é necessariamente um conhecimento, afinal, não agregou na vida pessoal ou no trabalho. Isso gera um hábito generalista que pode acarretar em uma ansiedade”, detalha.
O excesso de conteúdo que recebemos diariamente e não conseguimos absorver, acabam causando ansiedade, desconcentração, dispersão e hiperconectividade. Nesse quadro, o professor de neuromarketing orienta que é necessário encontrar um equilíbrio e aprender a dosar essa busca por informação. Na contramão da infotoxicação está o detox de informação, onde a pessoa busca por conteúdos que sejam relevantes na sua vida pessoal ou profissional.
“O detox de informação é o tratamento para a infotoxicação. A pessoa deve construir uma percepção consciente para entender o que será útil para seu crescimento profissional e pessoal. Caso não consiga ter essa autoconsciência e autorresponsabilidade do que está consumindo, é necessário o acompanhamento do psicoterapeuta para externar as insatisfações desse momento e conseguir construir um modelo específico para se informar, sem se infotoxicar”, explicou o Moreira.
Segundo Moreira, o ideal é que as pessoas reconheçam (troque seus limites) seus reais interesses de conteúdo, e consigam praticar um consumo seletivo de conteúdo. Em alguns casos, temporariamente abrir mão de algumas fontes mais genéricas para reduzir os excessos. Assim terão um fluxo reduzido de impactos, reduzindo também as interrupções que contribuirão com a sua melhor produtividade diária redução da ansiedade, que é atualmente grande causadora dos diagnósticos de transtornos mentais da atualidade.
O professor destaca que o ser humano é monotarefa. O fato de parar uma ação para dar atenção a outra já o desconcentra. “Um exemplo são as pessoas que permitem a visualização de notificação no smartphone. Ao se deparar com várias notificações, nesse momento gera uma ansiedade para ver tudo ao mesmo tempo, ela interrompe o que estava fazendo, se desconcentrando da tarefa anterior”, ressalta.
Ou seja, a infotoxicação é uma condição na qual ficamos sobrecarregados com os conteúdos disponíveis principalmente no mundo digital. Para Moreira, o caminho é selecionar e filtrar as informações relevantes para o crescimento pessoal e profissional. O ideal é que as pessoas reconheçam seus limites e usem seus recursos para que não sejam bombardeados pelo fluxo ininterrupto de informações cotidianas e isso não gere transtornos mentais.
