fbpx

Coluna Vitor Vogas

Os planos eleitorais de Guerino Balestrassi em Colatina, agora no MDB

As movimentações do candidato à reeleição no cenário eleitoral da cidade e o que muda (ou não) com sua troca do Podemos pelo “novo MDB” de Ricardo

Publicado

em

GUERINO BALESTRASSI

Guerino Balestrassi buscará a reeleição em Colatina em 2024, pelo MDB

“Guerino” é um nome raro de origem italiana (para alguns, germânica), assim como de origem italiana é a maior parte da população da cidade de Colatina. Segundo algumas definições, significa “pequeno guerreiro”. De fato, na língua de Dante, ino é o sufixo que marca o diminutivo masculino, e guerra se diz guerra mesmo – mas pronunciando-se a letra U.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Começo este texto divagando sobre a Itália e seu idioma porque a coluna é sobre o prefeito de Colatina, GUerino Balestrassi, sobre os seus planos eleitorais e sobre a sua recentíssima mudança de partido, trocando o Podemos pelo “novo MDB”, movimento que nos remete à célebre citação extraída do romance O Leopardo, de outro escritor italiano, Tomasi di Lampedusa: “É preciso que tudo mude se quisermos que tudo continue como está”.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Explico.

Primeiro ponto: Guerino é candidatíssimo à reeleição à Prefeitura de Colatina em 2024. Está determinado a ir em busca do seu quarto mandato à frente do Executivo da maior cidade da Região Noroeste do Estado, já governada por ele de 2001 a 2008 e agora, desde 2021.

Ele não faz a menor questão de dissimular essa resolução. Em conversa comigo no dia 27 de julho, o prefeito abriu o jogo e confirmou que vai concorrer de novo, até porque considera ter uma istração bem avaliada, com muitas obras e melhorias na cidade: “Colatina hoje é um canteiro de obras”.

Segundo ponto (e aí a “mudança relativa” remetendo ao fragmento de O Leopardo): Guerino acaba de sair do partido Podemos, presidido no Espírito Santo pelo deputado federal Gilson Daniel, para entrar nas fileiras do bom e velho MDB, cuja direção estadual acaba de ser assumida por ninguém menos que o vice-governador Ricardo Ferraço (ex-PSDB). E é pelo MDB que Guerino agora vai buscar o seu quarto mandato.

Em meados do primeiro semestre, o prefeito colatinense já havia sido convidado a ingressar no MDB pela então presidente do partido no Espírito Santo, a ex-senadora Rose de Freitas – com quem ele cultiva excelente e antiga relação. Guerino não aceitou de pronto. Na verdade, relutou bastante.

Naquela nossa já citada conversa de 27 de julho, o prefeito de Colatina me disse que, àquela altura, estava muito mais propenso na verdade a permanecer no Podemos.

Por quê?

Porque o MDB àquela altura, fins de julho, ainda estava mergulhado em profunda crise interna. O horizonte do partido no Estado era nublado. Você olhava e não tinha a menor ideia do que sairia dali. Quem comandaria o partido e o conduziria nos preparativos eleitorais para o pleito de 2024? Ninguém sabia dizer.

O horizonte instável do MDB

Para ser ter uma ideia, no mesmo dia da minha conversa com Guerino, publiquei aqui a entrevista concedida por mim na véspera pelo ex-deputado federal Lelo Coimbra, anunciando textualmente: “O MDB no Espírito Santo terá disputa [pela presidência estadual]”.

E teve mesmo disputa, no voto dos delegados, entre a chapa encabeçada pelo próprio Lelo (o desafiante) e a chapa liderada por Rose (a então presidente estadual), no dia 21 de setembro. Só que a votação empatou (27 x 27), aprofundando o ime e o imbroglio (palavra italiana) no MDB estadual.

Àquela altura, meados de julho, Guerino até enxergava vantagens políticas em migrar para o MDB e disputar a reeleição pela sigla. Uma delas, revelada então por ele: como o prefeito acreditava que o MDB não teria muitos candidatos a prefeito em 2024, a sua candidatura seria na certa tratada como uma das prioridades do partido em nível estadual, se não como a prioridade absoluta.

Com poucos candidatos a prefeito em cidades importantes, seria mais fácil para ele, em tese, receber apoios de outros partidos em Colatina em troca da adesão do MDB aos candidatos desses outros partidos em diversos outros municípios: quid pro quo (aí é latim, mas tem bem perto do italiano…).

Esse seria um ponto favorável para o prefeito de Colatina migrar para o MDB. Àquela altura, contudo, ainda lhe falavam mais alto os receios inspirados pela instabilidade política que rondava o MDB no Espírito Santo. Se Lelo tivesse derrotado Rose, por exemplo, o prefeito não teria ido para lá. Simples assim. O plano mais seguro para ele, então, era de fato ficar no Podemos, e ele estava efetivamente bem inclinado a fazer isso.

Naquele dia 27 de julho, Guerino me disse que, para bater o martelo quanto a ficar no Podemos, só precisava mesmo de algumas “garantias” por parte das direções estadual e nacional da agremiação. Por “garantias”, entenda-se o de sempre: recursos financeiros para a campanha e apoio político ir para a atração de aliados e o fortalecimento de sua coligação.

Gilson Daniel lhe garantia tudo isso. Dias depois do meu papo com o prefeito de Colatina, o presidente nacional do Podemos me asseverou: a reeleição de Guerino seria tratada no Podemos com a mesma importância das renovações dos mandatos de Arnaldinho Borgo em Vila Velha e de seu afilhado político, Wanderson Bueno, em Viana: prioridade total.

A conveniência ideológica do Podemos

Ficar no Podemos ainda conferia a Guerino um certo benefício não encontrado por ele no MDB (apoiador do governo Lula), em termos ideológicos: não que o Podemos seja o maior partido de direita do Brasil, mas é, para todos os efeitos, um partido de centro-direita.

Em que medida isso pode fazer alguma diferença numa disputa local em Colatina em 2024? Não sabemos ao certo. Talvez pouca, talvez bastante. O que sabemos com segurança é que (I), nos últimos anos, Colatina firmou-se como um dos maiores bolsões conservadores e bolsonaristas do Espírito Santo; (II) candidatos de esquerda, incluindo Renato Casagrande (PSB) em 2022, têm tido muitas dificuldades de penetração ali. No ano ado, Guerino coordenou a campanha de Casagrande no 2º turno na cidade e sentiu isso na pele.

Dois anos antes, em 2020, por pouco esse fator ideológico não lhe custou a vitória eleitoral e o retorno à Prefeitura de Colatina. Naquele pleito, Guerino concorreu e elegeu-se pelo Partido Social Cristão (PSC), que ainda tinha aquela “pegada” de sigla conservadora e evangélica de direita, ajudando, de certo modo, a quebrar maiores resistências. A sigla, porém, não atingiu a cláusula de barreira em 2022 e acabou incorporada pelo Podemos.

Guerino, assim, foi parar no partido de Gilson Daniel, de maneira circunstancial. Mas até que estava cômodo ali para ele. Também pela “questão ideológica”, convinha-lhe ficar no partido de centro-direita. Se os mais radicalizados lhe apontassem o dedo e o tachassem de “candidato de esquerda” ou “do governador socialista” (Guerino é ex-PSB), ele poderia retrucar apontando o dedo para sua legenda: “Mas meu partido é o Podemos, ué!”.

Eis que surge o “fator Ricardo Ferraço”

Tudo somado, a coisa toda ia muito bem encaminhada para a permanência de Guerino no Podemos. No dia 6 deste mês, ele chegou a participar de um encontro estadual do partido, realizado num hotel na Reta da Penha, em Vitória, e conduzido por Gilson Daniel.

Segundo informações de bastidores, a propensão do prefeito a permanecer na sigla era tamanha que ele chegou a gravar uma inserção partidária do Podemos que seria rodada no Estado daqui a poucos dias (agora, certamente, arquivada).

Eis que surge no horizonte, de repente, o fator Ricardo Ferraço, alterando a rota que o prefeito havia pré-definido. Guerino é aliado de Rose, já tinha ouvido o convite da ex-senadora, mas o que pesou de verdade para ele decidir ar para o MDB foi a articulação das últimas semanas que culminou com o retorno de Ricardo ao partido e a ascensão do vice-governador à presidência estadual.

Em primeiro lugar, Ricardo aporta ao MDB justamente aquilo que faltava e que tanto preocupava Guerino e tantos outros como ele: estabilidade política, unidade e coesão interna. Organização e um norte em comum.

Em segundo lugar, se Guerino é aliado de Rose, é ainda mais aliado de Ricardo Ferraço. Em meados de 2017, quando este era senador da República e relatava o projeto de reforma trabalhista patrocinado pelo governo Temer (MDB), Guerino chegou a ser assessor de Ricardo em seu gabinete de representação parlamentar em Vitória. Depois foi trabalhar como secretário de Desenvolvimento de Aracruz e, em 2020, voltou a se eleger prefeito de Colatina.

Com a súbita chegada de Ricardo à presidência estadual, Guerino cedeu aos apelos de Rose e, principalmente, do próprio vice-governador. No último sábado (14), em telefonema, o prefeito me disse que “estava caminhando para o MDB” e que faltava apenas ajustar os pormenores finais.

Não por acaso, a de sua ficha de filiação ao MDB se deu junto com a de Ricardo, em evento realizado em Cariacica na última segunda-feira (16), dividindo o palco com Rose e, vejam só, com ninguém menos que Gilson Daniel – em evidência de que a troca de partido na verdade foi muito bem negociada e dialogada entre ele e o dirigente do Podemos: “saiu de boas”.

A aliança de Guerino e as chapas sob sua influência

“De boas” e com o Podemos ainda em sua aliança rumo à reeleição em Colatina. Eis aqui o ponto-chave do que quis dizer, na abertura, com “mudar tudo para que tudo continue como está”.

Em termos práticos, independentemente da legenda (se agora pelo MDB ou, antes, pelo Podemos), o mais importante para Guerino é (I) garantir para si mesmo uma coligação majoritária muito forte, com um bom leque de partidos, e (II) ter certeza de manter esse bom leque de partidos sob a sua influência pessoal na eleição proporcional.

Vale dizer: na disputa de vereadores, Guerino faz questão de manter sob sua asa pelo menos quatro partidos (se possível, cinco), para que possa ele mesmo montar as respectivas chapas de candidatos a vereador e distribuir entre tais chapas os seus muitos aliados políticos na cidade governada por ele. Tais candidatos, ao mesmo tempo que pedirão votos para si, lhe servirão como uma tropa de cabos eleitorais nas ruas de Colatina.

O plano já está bem encaminhado. A chapa do MDB, por óbvio, será montada pelo próprio Guerino. Mas a costura da chapa do Podemos também terá a sua linha de qualquer maneira – com provável participação do deputado federal Victor Linhalis (Podemos), também natural do município –, donde a minha conclusão de que “muda, mas não tanto assim”…

Além dessas duas siglas, Guerino afirma com convicção ter sob sua influência o PSDB em Colatina. É o terceiro partido, a terceira chapa de vereadores “guerinistas”.

A quarta legenda buscada pelo prefeito pode ser o Progressistas (PP), presidido no Espírito Santo pelo deputado federal Josias da Vitória, também colatinense. Guerino afirma vir mantendo um bom diálogo com o partido (outro de centro-direita).

Até pouco tempo atrás, na alça de mira do prefeito, estava também o conservador de direita Republicanos, sigla do secretário municipal de Desenvolvimento de Guerino. Mas agora o partido, em Colatina, está sob a gestão do pai do ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos (PSD), por sua vez pré-candidato a prefeito, logo potencial adversário de Guerino e, em tese, um concorrente de respeito.

Sob a presidência estadual de Erick Musso, o Republicanos, hoje, tende mesmo a rumar com Renzo. Mas não custa lembrar que é o partido do deputado federal e ex-prefeito Sérgio Meneguelli.

Como Colatina tem 15 vereadores, uma chapa proporcional completa pode ter até 16 candidatos (15 + 1, conforme a normatização eleitoral). Quatro partidos sob sua alçada significam, para o prefeito, até 64 cabos eleitorais pedindo votos para si mesmos e para ele nas ruas colatinenses a partir de agosto do ano que vem. Nada mau para um município não tão grande.

Com essa tropa, o “pequeno guerreiro” estará pronto para afrontar o combate eleitoral.