Coluna Vitor Vogas
Denninho rompe com Pazolini: “Eu e o União não o apoiamos mais”
Falando em “falta de diálogo”, “desrespeito” e “desconsideração”, único aliado do prefeito da Assembleia chuta o balde e dá por encerrada a parceria

Pazolini cumprimenta Denninho Silva em ação da PMV na Praia do Canto, em agosto. Foto: reprodução Instagram
O deputado estadual Denninho Silva (União Brasil) foi um dos pouquíssimos candidatos a qualquer cargo a exibir uma fala de apoio do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) no horário eleitoral gratuito, no pleito de 2022. Dos 30 deputados estaduais eleitos, era o único que poderia ser considerado um parceiro político de Pazolini em Vitória. Desde o início do mandato na Assembleia, consolidou-se como um dos maiores aliados do prefeito, onipresente, ao lado de Pazolini, em entregas e anúncios da Prefeitura nas ruas e no gabinete. Agora, a parceria acabou.
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Em conversa com a coluna na manhã desta sexta-feira (27), usando palavras contundentes, o deputado da Grande Goiabeiras declarou que não apoia mais o governo Pazolini nem a reeleição do prefeito em 2024. O mesmo, segundo ele, vale para o União Brasil, partido presidido por Denninho em Vitória e pelo secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni, no Estado.
Denninho acusa “falta de diálogo”, “desrespeito” e “desconsideração” por parte de Pazolini, além de “retaliação” do prefeito, com a exoneração de servidores ligados a ele.
“É fato: não apoio mais a reeleição do Pazolini. E não vou voltar atrás nessa decisão. O União Brasil também terá posição contrária à candidatura do Republicanos em Vitória. Vou seguir meu trabalho como deputado. Vou analisar 2024 e os grupos que vão se formar. Eu vou seguir o meu caminho, e o Pazolini segue o caminho dele”, afirmou o deputado, que, antes de chegar à Assembleia, foi líder comunitário da Grande Goiabeiras e vereador de Vitória.
Segundo Denninho, o motivo do rompimento é a iminente inauguração de um Centro de Referência para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop) pela gestão de Pazolini na Grande Goiabeiras, reduto do deputado.
Conforme a versão de Denninho, o equipamento foi construído e será inaugurado sem nenhum diálogo nem com ele nem com a comunidade. Ele diz que foi pego de surpresa ao saber sobre o Centro Pop em um grupo no Whatsapp e que nenhum líder comunitário da Grande Goiabeiras estava ciente do projeto.
“Pazolini dizia ser meu amigo e parceiro, mas não houve diálogo comigo, com os líderes comunitários, com os líderes religiosos, com os comerciantes da região… Ninguém estava sabendo! Eu represento a Grande Goiabeiras. Na campanha, eu preguei e ele pregou que as coisas têm que ser dialogadas com a sociedade. Aí fico sabendo, por um grupo de Whatsapp, da inauguração de um Centro Pop na região, um local que acolhe os moradores de rua durante o dia e à noite eles vão para a rua. É lógico que não sou contra os moradores de rua. Sou contra a falta de diálogo! Ele seguiu uma linha de que a obra já está concluída e já será inaugurada. Mas nem o líder comunitário estava sabendo dessa obra”, conta o deputado.
Denninho diz ter ligado então, nesta ordem, para a secretária municipal de Assistência Social, Cintya Schulz – que lhe teria confirmado a decisão – e para o próprio prefeito – que lhe teria dito o mesmo. Diante da confirmação, o deputado se desentendeu com Pazolini, dizendo que, nesse caso, dada a falta de diálogo, o prefeito perderia o seu apoio pessoal e a sua base na Grande Goiabeiras.
“Peguei meu telefone e pensei: ‘Ele não ia fazer isso, eu sou parceiro do cara…’. Liguei pra Cintya e ela me disse: ‘Vamos inaugurar’. ‘Mas sem comunicar antes aos líderes comunitários?’, perguntei. Ela disse que já estava decidido. E aí liguei pro Pazolini, e ele confirmou. Eu disse: ‘Com todo o respeito, prefeito, se isso acontecer, o senhor vai perder toda a sua base em Goiabeiras, inclusive a mim, porque estou me sentindo desrespeitado porque o senhor não comunicou a mim nem à comunidade’. Acima de tudo, é preciso ter o diálogo. Então ele está indo ao contrário do que preguei na campanha e do que ele mesmo pregou. Deixou claro e notório que não tem consideração por nós. Se não há diálogo, respeito e consideração, não há por que eu continuar dialogando com um cara como esse. Então tenho que seguir o meu caminho”, dispara o agora ex-aliado do prefeito.
Exonerações
Em “retaliação”, completa Denninho, Pazolini exonerou, no Diário Oficial de ontem (26), servidores ligados a ele que ocupavam cargos comissionados na Prefeitura Municipal.
A publicação oficial trouxe a exoneração de 12 servidores. Entre eles estava Alessandro Magno Rocha Dos Santos, o Casé, jogador de basquete e dirigente de projetos sociais. Citado por Denninho como exemplo de pessoa ligada a ele, o atleta perdeu o cargo de assessor técnico da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer.

Casé com Denninho Silva. Ao centro, o secretário estadual de Esportes, José Carlos Nunes (PT). Foto: reprodução Instagram
“O Casé estava lá há muitos anos. Foi homenageado pelo próprio Pazolini outro dia. E aí, para poder me atingir, o prefeito mandou embora ele e outras pessoas, não indicadas por mim, mas ligadas a mim. Ele pegou e simplesmente mandou embora, inclusive algumas pessoas que trabalham para a Prefeitura há muito tempo. Com certeza foi retaliação. E aí não tem mais o que dialogar”, relata Denninho.
Apesar de tudo, o deputado evita a palavra “rompimento”. “É um afastamento.” Segundo ele, porém, é um afastamento definitivo… o que equivale a rompimento.
Análise: o que pode estar por trás do rompimento
É preciso observar que, além de grande aliado de Pazolini – pelo menos até anteontem – em nível municipal, Denninho é um notório apoiador do governo de Renato Casagrande (PSB) no Estado. Prefeito e governador são adversários políticos.
A bem da verdade, no ecossistema político capixaba, Denninho era um raríssimo exemplar de uma espécie igualmente rara: alguém que conseguia apoiar Casagrande e Pazolini ao mesmo tempo. Até agora, vinha se equilibrando numa corda bamba…
Mas, como chegamos a avaliar aqui, conforme se aproximasse a próxima eleição municipal, chegaria fatalmente o momento em que ele teria de tomar partido, escolher um lado na disputa. Com o avançar irrefreável do calendário eleitoral, já não seria possível seguir rezando para os dois santos.
Em meados do primeiro semestre, logo após assumir a presidência do União Brasil em Vitória – por decisão de Felipe Rigoni –, Denninho chegou e nos dizer que trabalharia para que o partido apoiasse Pazolini em Vitória.
Acontece que essa predeterminação esbarrava num óbvio fator: o União Brasil na verdade faz parte da base de apoio do governo Casagrande, com direito a assento no secretariado, ocupado por Rigoni, ninguém menos que o presidente estadual da sigla.
O grupo político de Casagrande, com toda a força da máquina estadual, na certa fará o possível para tirar Pazolini do cargo em 2024. Dentro desse grupo, não faltam possíveis desafiantes: Tyago Hoffmann (PSB), João Coser (PT), Luiz Paulo (PSDB), Luciano Rezende (Cidadania), Fabrício Gandini (possivelmente, pelo PSD)…
Após um período de intensas turbulências políticas e uma disputa judicial que se arrastou desde a convenção estadual do fim de abril, Rigoni parece enfim ter conseguido se estabilizar em novo mandato na presidência estadual do União.
Na semana ada, a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado (TJES) validou os efeitos da convenção, na qual ele foi reeleito presidente. No 1º grau, a Justiça Estadual também reviu decisão anterior, seguindo agora o mesmo entendimento prevalente no TJES.
A questão partidária e a posição ocupada pelo União no tabuleiro político-eleitoral capixaba provavelmente também pesaram nesse impactante rompimento dos laços entre Denninho e Pazolini. Ou, se preferirem, nesse “afastamento”.
A resposta oficial da Prefeitura
A Prefeitura de Vitória foi procurada pela coluna para se manifestar sobre as declarações de Denninho Silva e para que o prefeito pudesse dar a sua própria versão dos fatos.
O prefeito não se manifestou. A assessoria da Prefeitura não confirmou a inauguração de um Centro Pop na Grande Goiabeiras. Informou, entretanto, que “a Prefeitura vem realizando estudos visando à ampliação do serviço de assistência a pessoas em situação de rua na região continental do município”.
A assessoria da PMV também mandou à coluna uma nota destacando diálogo permanente com as comunidades e relacionando, detalhadamente, aumento de investimentos da Secretaria de Assistência Social e uma série de ações desenvolvidas pela pasta desde o início da atual istração, em 2021.
Segue a nota na íntegra:
A Prefeitura de Vitória destaca e reconhece o incansável compromisso do Deputado Estadual Denninho Silva em defesa da população e seu notável histórico de trabalho visando à melhoria da qualidade de vida na capital.
É importante salientar que as nomeações e exonerações são atos de discricionariedade da istração pública, sempre em consonância com as demandas relacionadas às atividades e funções necessárias.
Com a premissa de cuidar de quem mais precisa, a atual gestão investe na segurança alimentar e nutricional e na assistência social de uma forma geral a todas as pessoas em situação de vulnerabilidade social em Vitória.
O programa Vix + Cidadania está mudando a realidade de 5.524 famílias em situação de extrema pobreza na capital. Cada membro de família ou pessoa em situação de vulnerabilidade social recebe o valor de R$114,44 per capta. O benefício é creditado em cartão no padrão tíquete alimentação. Com isso, o VIx + Cidadania confere mais autonomia para a escolha dos alimentos de acordo com o perfil de cada família e maior segurança alimentar e nutricional.
Para garantir a segurança alimentar e nutricional a todos os moradores da cidade, o Banco de Alimentos Herbert de Souza distribuiu aproximadamente 10 mil kits de alimentos às famílias mais vulneráveis atendidas pelos serviços da Assistência Social.
A Prefeitura de Vitória criou, também, um benefício no valor de um salário mínimo, por mês, para crianças e adolescentes que ficaram órfãos em virtude de violência doméstica (feminicídio). O programa “Vix + Acolhedora” prevê o pagamento do benefício aos filhos de mulheres vítimas de feminicídio, com o intuito de auxiliar nas inúmeras e sérias dificuldades que encontram ao reconstruir suas vidas. O auxílio é pago até que o beneficiário complete 18 anos de idade. Em casos específicos, o mesmo pode se estender até os 24 anos.
O Atendimento Domiciliar para Pessoas com Deficiência ganhou reforço em janeiro de 2023 quando foi implantado o Serviço de Atendimento Domiciliar para Pessoas com Deficiência (PCDs) e Idosas de Vitória (SAD), que acaba de completar 8 meses com 175 famílias atendidas.
O orçamento destinado à Assistência Social também reflete a prioridade na política pública e nas pessoas. Entre os anos de 2020 e 2023 o orçamento da Secretaria Municipal de Assistência Social foi ampliado em 60,74% ando de R$48.242.815,00 para R$77.546.645,00, incluindo nestes valores as Unidades Orçamentárias Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS) e Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas).
Os recursos próprios do Fundo Municipal da Assistência Social aram de R$29.596.488,00 em 2020 para R$49.098.162,00 em 2023, representando uma ampliação de 65,89%.
O município inaugurou, em plena pandemia da Covid-19, um abrigo para população em situação de rua, com funcionamento 24 horas. As portas do espaço foram abertas no dia 13 de julho de 2021, para acolher e contribuir para mudança de vida de muitas pessoas.
Em 24 meses de funcionamento mais de 840 pessoas já aram pelo espaço, onde tiveram o a direitos: atendimento inicial; acolhimento, que proporciona kit completo de higiene, cama, comida e roupa lavada; elaboração do plano individualizado de atendimento (PIA); atividades esportivas; socioeducativas; escolarização (EJA) e encaminhamentos para rede e serviços do município de Vitória.
Nesses dois anos, foram realizados 28,8 mil atendimentos, desde psicossociais, encaminhamento à rede, consultas em pronto atendimento, o à documentação, à Unidade de saúde, ao Centro de Atendimento Psicossocial (Caps), encaminhamento para retirada de documentos e mercado de trabalho.
A parceria entre as secretarias de Assistência Social e Educação, por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA) proporcionou a 14 pessoas em situação de rua serem aprovadas no Ifes.
O Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias segue sendo ampliado, sempre com amorenasses de garantir a cidadania e a igualdade de oportunidades.
A garantia do o a direitos é uma premissa básica que alcança a todos os moradores de Vitória. Por meio do projeto Vitória com você, um mutirão de cidadania que leva serviços essenciais às regionais da capital, os munícipes conseguem o a serviços como emissão de RG, encaminhamento ao mercado de trabalho, orientações jurídicas, vacinação, além de muita diversão e orientações para as crianças e adultos.
A proximidade com as comunidades garante um melhor entendimento de suas necessidades e ações pautadas na empatia e entendimento do que realmente é necessário para tornar a vida dos munícipes melhor.
Por isso, uma série de encontros são realizados semanalmente como parte da iniciativa da gestão de promover um atendimento mais próximo para os 80 bairros da capital.
Nas reuniões, os líderes comunitários relatam as necessidades de seus bairros e as demandas da população, que são acolhidas e tratativas são apresentadas de forma a atender a quem realmente vive a realidade dos bairros.
