Coluna Vitor Vogas
Crise: Casagrande está irritadíssimo com o PP no governo Pazolini
“Influencia na relação. O PP escolheu seu caminho. E nós vamos escolher o nosso”, afirma governador, sobre aproximação de Da Vitória com o prefeito

Josias da Vitória e Renato Casagrande estão afastados
O governador Renato Casagrande (PSB) está irritadíssimo com a aproximação do Progressistas (PP) com o grupo político de Lorenzo Pazolini (Republicanos) e com a iminente entrada do partido na istração do prefeito de Vitória. E não faz questão alguma de disfarçar sua contrariedade. Segundo Casagrande, as decisões do PP têm o seu respeito, mas essa em particular com certeza afetará a relação do partido com ele e seu governo:
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
“Essa é uma decisão do PP. O PP escolheu o seu caminho. E nós vamos escolher o nosso. O PP toma as suas decisões, e têm todo o nosso respeito as decisões tomadas. Ainda não sei isso influencia na participação no governo. Mas influencia na relação.”
Hoje consolidado como um dos maiores partidos do país, o PP é (ainda) um aliado muito importante de Casagrande na geopolítica estadual. Presidido ao longo da última década pelo ex-deputado federal Marcus Vicente no Espírito Santo, o partido esteve com Casagrande nas eleições estaduais de 2014 (perdida para Paulo Hartung), 2018 e 2022 (vencidas pelo socialista). Desde 2019, o próprio Vicente representa o PP no governo, como secretário de Desenvolvimento Urbano, pasta com elevado orçamento.
No entanto, há menos de dois meses, o deputado federal Josias da Vitória “tomou o partido”, como se diz no jargão político. Reeleito para o segundo mandato na Câmara e em franca ascensão no cenário político estadual, o coordenador da bancada do Espírito Santo no Congresso tornou-se o novo presidente do PP-ES, no dia 1º de abril (é verdade), no lugar de Vicente, por determinação de Ciro Nogueira e da direção nacional.
Com grandes e legítimas ambições eleitorais – fala-se em candidatura ao Senado ou ao Governo do Estado em 2026 –, Da Vitória tem inclinações muito diferentes daquelas de Vicente e, desde que assumiu o comando da nave, tem tratado de dar ao PP um novo rumo, deslocando o partido do campo de atração de Casagrande e levando-o para um movimento político-eleitoral alternativo, muito mais compatível com seus planos.
A prova maior dessa guinada é a aproximação explícita de Da Vitória com o grupo de Pazolini, um notório desafeto de Casagrande e adversário do grupo do governador. De março para cá, antes mesmo de tomar posse como novo presidente do PP-ES, Da Vitória tem se encontrado constantemente com o próprio Pazolini e com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, principal articulador político do prefeito.
Essa aproximação é aberta mesmo. Nas redes sociais de Pazolini e Erick, encontram-se vários registros recentes dos dois com Da Vitória, inclusive em contextos informais, e com outro personagem hoje fechadíssimo com o colega de bancada, o deputado federal Evair de Melo (PP), opositor contumaz de Casagrande – em outro forte sinal do movimento de Da Vitória para afastar o PP do raio de influência do governador.
É fato que, desde o último processo eleitoral, Da Vitória e Casagrande estão afastados. A palavra correta é “brigados” mesmo, se não rompidos.
Agora, a gota d’água para Casagrande é o ensaio de ingresso do PP na gestão de Pazolini. No último dia 12, na presença do presidente do partido em Vitória, Maquinhos Delmaestro, o prefeito convidou o único vereador da sigla em Vitória, Anderson Goggi, para assumir a Secretaria Municipal de Cultura. Tudo foi articulado previamente por Pazolini, Erick e Da Vitória.
Goggi ainda não se decidiu. No momento, avalia os prós e contras e deve responder a Pazolini até sexta-feira (26). A esta altura, seu “sim” ou “não” virou um fator menor. O movimento do PP-ES, sob nova direção, já foi explicitado, o mal-estar no Palácio Anchieta já foi gerado e o abalo na relação também, como não deixa dúvida a declaração do próprio Casagrande à coluna. Se será só um grande arranhão ou “perda total” na parceria, os próximos dias dirão.
Mas não será surpreendente, por exemplo, se Marcus Vicente decidir sair do PP e se, no o seguinte, decorrente do primeiro, o PP desembarcar oficialmente do governo Casagrande.
No Palácio Anchieta, o golpe foi sentido, acima de tudo, por se tratar de Pazolini.
Apesar da reaproximação institucional e das aparências ditadas ultimamente por civilidade e cordialidade, Casagrande não superou as graves acusações públicas, nunca provadas, feitas contra ele pelo prefeito no ano ado.
Para se ter uma ideia do grau de rancor e animosidade, nos corredores e gabinetes do Palácio, o prefeito da Capital é definido como um “agressor”.
Em 2024, Casagrande fará o que estiver ao seu alcance para derrotar o desafeto nas urnas. Impedindo a reeleição de Pazolini em Vitória, o governador também corta pela raiz as possibilidades de crescimento ainda maior do atual prefeito na política estadual, isto é, a possibilidade de o desafeto chegar ao Palácio Anchieta, sucedendo-o em 2026.
Nesse contexto, quem estiver com Casagrande em 2024 estará contra Pazolini na Capital.
O PP, assim, tem uma decisão a tomar. Ao que parece, na avaliação de Casagrande, essa decisão já foi tomada pelo partido (leia-se por Da Vitória), como ele indica ao dizer: “O PP escolheu o seu caminho”.
E esse caminho, ao lado de Pazolini, é inconciliável com o projeto de Casagrande, como o próprio afirma em seu complemento: “E nós vamos escolher o nosso”.
Da Vitória versus Marcus Vicente: divisão e crise interna no PP
Além da crise aberta com o governador e seu governo, o movimento de Da Vitória na direção de Pazolini deflagrou uma crise interna no PP do Espírito Santo. A sensação é a de que hoje existem dois Progressistas no Estado: um é o de Da Vitória e Evair de Melo, que procuram puxar o partido para fora da órbita de Casagrande; o outro é o de Marcus Vicente e Delmaestro, que, mesmo com menos força que os primeiros, buscam segurar o partido onde está. Um cabo de guerra.
Visivelmente, o partido a hoje por uma transição de identidade política no Espírito Santo – algo como uma mudança de gênero.
Procurado pela coluna, Marcus Vicente preferiu não comentar essa divisão interna, o convite de Pazolini a Anderson Goggi, os movimentos de Da Vitória e a aproximação com o prefeito da Capital.
Já Delmaestro falou. E suas falas não dão margem a dúvida quanto ao seu atual desconforto – até porque ele, além de aliado de Casagrande, é assessor especial na Casa Civil do Governo do Estado.
Delmaestro dá a entender que, como presidente municipal do PP, acabou “arrastado” para esse movimento e espremido entre a base (a predisposição do vereador Anderson Goggi em entrar no governo Pazolini) e a cúpula estadual do partido (o desejo do novo comando estadual em levar o PP para o grupo do prefeito de Vitória).
Mas ele é categórico em afirmar que só entrou nessa por causa de Goggi e que seu compromisso é tão somente com o vereador de seu partido:
“Se Goggi decidir que não quer ser secretário [de Pazolini], ele declina do convite e acabou. Se ele não aceitar o convite, morre aí. O PP de Vitória não vai indicar outro nome. Agora, se Evair e Da Vitória quiserem fazer esse movimento por cima, eles podem fazer. Aí vão conversar por cima e vão fazer, mas não vai ar pela base do partido. Se fizerem esse movimento sem a aquiescência da direção municipal e do vereador do partido em Vitória, Pazolini leva o tempo de TV do PP, mas não leva o recheio do partido”, afirma.
“Só estou fazendo esse movimento por causa do meu vereador em Vitória. Tenho que respeitar minha base. Se ele falar que quer ser secretário, estou com ele; se disser que não quer ser, estou fora. Estou acompanhando o movimento do meu vereador. Então estou esperando a decisão do Anderson [Goggi], e a decisão é do coração dele. Se ele decidir entrar, eu vou entrar com ele.”
Sobre a irritação de Casagrande com essa articulação, o dirigente responde assim: “O PP, com seu novo presidente [Da Vitória], está conversando com todos os atores da Grande Vitória. Esse novo presidente está alinhando um movimento. O PP é parceiro do governador, está na base dele e no mesmo projeto que ele”, minimiza.
Talvez não por muito tempo, se o ingresso da sigla na istração de Pazolini se concretizar.
