Coluna Vitor Vogas
Com a perda de Peixoto, poderá o Podemos preservar sua chapa?
Mudança do médico para o União Brasil neste sábado aumenta a tensão no partido de Gilson Daniel e Ramalho. Mas o próprio Peixoto acredita que a chapa se sustenta

Gilson Daniel – à esquerda – com Arnaldinho Borgo e Victor Linhalis ao fundo. Foto: Gilson Daniel
Um dos líderes do movimento Vem pra Rua no Espírito Santo, o médico Gustavo Peixoto era uma das maiores apostas do Podemos para fortalecer a chapa de candidatos a deputado federal do partido no Espírito Santo. Era. Neste sábado (2), último dia para a filiação de pré-candidatos, ele trocou o Podemos pelo União Brasil – decisão confirmada pelo próprio Peixoto à coluna e tomada, segundo ele, com o objetivo de acompanhar a migração feita pelo ex-juiz Sergio Moro na última quinta-feira (31).
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A baixa a poucas horas do fim do prazo de filiações aumenta a nuvem de tensão que já pairava sobre os líderes e outros pré-candidatos do Podemos no Estado, pondo em negrito a interrogação sobre a viabilidade da chapa federal do partido (que pode ter até 11 candidatos).
Entre outros nomes, como o vice-prefeito de Vila Velha, Victor Linhalis, a chapa do Podemos tem dois renomados pré-candidatos a deputado federal: o ex-prefeito de Viana Gilson Daniel (presidente estadual da sigla) e o coronel da PMES Alexandre Ramalho. Os dois são aliados do governo Renato Casagrande (PSB) e, respectivamente, ex-secretários de Planejamento e de Segurança Pública no governo do socialista.
A questão é que, com a evasão de Peixoto, especuladores do mercado político cogitam que, talvez, a chapa do Podemos e a ter dificuldades para atingir o quociente eleitoral, estimado em cerca de 180 mil votos no Espírito Santo, e assim eleger um deputado federal. Eleger dois, então, já ficaria bastante improvável. Mais ainda se o deslocamento de Peixoto for acompanhado por outros pré-candidatos do Podemos neste sábado.
Naturalmente, o raciocínio acima não leva em conta a possibilidade de “o jogo se inverter”, ou pelo menos ficar no “zero a zero” para o Podemos, com o partido encerrando o dia como começou. Para isso, seria necessário o remanejamento para a chapa do Podemos de pré-candidatos de outros partidos da base de Casagrande, ou ainda não filiados, de modo a fortalecer a chapa e, no mínimo, compensar a perda de Gustavo Peixoto para o União Brasil.
Nos bastidores, o Podemos trabalha com a expectativa de que Gilson Daniel obtenha, no mínimo, de 60 mil a 70 mil votos, com possibilidades de superar tal projeção. Quanto a Ramalho, sua densidade eleitoral é uma incógnita, já que o oficial da PMES nunca foi testado nas urnas. E ainda tem, é claro, os votos dos outros nove candidatos da chapa. A questão é quem serão esses outros nove que vão completar a escalação de 11.
Por isso não há tempo a perder. Os dois principais líderes do Podemos no Estado, Gilson Daniel e o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, estão à frente dessa operação urgente para levar mais gente para a chapa federal do partido. Para isso, contam com a ajuda do governador. Casagrande está pessoalmente envolvido no trabalho de engenharia eleitoral para reforçar (quiçá “segurar”) a chapa de um dos partidos mais importantes de sua extensa coalizão e de dois dos seus maiores aliados políticos: Gilson e Ramalho.
Responsável direto por esse acréscimo de alguns graus na já elevada temperatura política deste sábado, o próprio Gustavo Peixoto opina que a chapa de federais do Podemos se manterá de pé, sim, mesmo com a sua mudança de partido:
“Não acredito [que a chapa esteja em risco]. O Gilson Daniel tem uma liderança muito forte dentro do Podemos. Tem vários parceiros que podem suprir a minha saída ainda hoje. E acho que o grupo do Gilson no Podemos está muito consolidado para a chapa ter um desempenho expressivo e garantir a eleição de um deputado federal. O Arnaldinho e o Gilson estão cuidando pessoalmente disso.”
No rastro de Moro
Como fiel eleitor de Sergio Moro, Peixoto acompanha o movimento do ex-juiz da Lava Jato, que na última quinta-feira (31) migrou do Podemos, onde tinha candidatura certa a presidente da República, para o União Brasil, onde a candidatura à Presidência não é nada garantida. A princípio, Moro chega com a legenda assegurada somente para postular uma vaga de deputado federal por São Paulo.
Mas muitos apoiadores de Moro acreditam que ainda há muito tempo para reverter o cenário dentro do União Brasil e convencer a direção nacional a dar legenda ao ex-juiz para a disputa à Presidência. Um deles é o próprio Peixoto. E é por isso, explica o médico, que ele decidiu também entrar no União Brasil:
“Queremos construir uma terceira via que seja possível. No Brasil inteiro, hoje, houve esse movimento de migração para o União Brasil. Não tive problema nenhum no Podemos. Apenas fiz um reposicionamento pessoal de acordo com a mudança no cenário nacional. Meu candidato à Presidência com certeza é Sergio Moro, acredito que ele possa ser o candidato pelo União Brasil, e é exatamente por isso que estou entrando agora no partido: acreditamos que podemos influenciar essa decisão internamente.”
Peixoto já foi candidato a deputado federal. Em 2018, pelo PTB, obteve cerca de 37 mil votos e não chegou lá. Após agem pelo Pros, sigla que ele chegou a presidir na Serra, entrou no Podemos. Agora, será candidato a federal pelo partido de Felipe Rigoni no Estado.
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