Coluna Vitor Vogas
Bastidores: personagens e momentos mais marcantes da convenção do MDB
As cenas políticas, os momentos mais divertidos, gozações, provocações, aparições surpreendentes e o protagonismo de Marcelino Fraga em favor de Rose

Rose e Lelo dão-se as mãos
Ele está de volta. Ou, pelo menos, está a fim de voltar. Presidente estadual do MDB até 2006 e protagonista da luta interna com Lelo Coimbra entre 2019 e 2021, o ex-deputado federal Marcelino Fraga não só pretende voltar a se filiar ao partido como teve um papel destacado na convenção estadual realizada nessa quinta-feira (21), na qual Lelo Coimbra e Rose de Freitas mediram forças.
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Mais precisamente, Marcelino foi fundamental para que Rose conseguisse formar sua chapa e inscrevê-la em tempo hábil para disputar o Diretório Estadual. Quem o revela é o próprio Marcelino.
Mesmo não estando filiado, Marcelino mantém considerável influência sobre o MDB em Colatina, sua cidade. Segundo ele, dos 71 filiados que subscreveram a chapa de Rose como membros titulares, nada menos que 40 são de Colatina e foram arregimentados por ele próprio, atendendo a um chamado urgente da ex-senadora.
O Estatuto do MDB exige que a convenção estadual seja convocada com, pelo menos, oito dias de antecedência. Como o mandato de Rose à frente da Comissão Provisória no Estado vencia nessa quinta-feira (21), o edital precisava ser publicado até o dia 13.
Na véspera (12), Rose e Lelo conversaram longamente. Ela buscou uma composição política com ele. Lelo recusou e bateu o pé: queria disputa. Cobrou de Rose a convocação da convenção.
Na manhã do dia seguinte (13), data limite para isso, o próprio Lelo e os presidentes de 16 Executivas Municipais publicaram o edital em A Tribuna e no Diário Oficial do Estado, convocando a convenção para o dia 21. À tarde, Lelo inscreveu a sua chapa, “União e Ação”.
Rose, então, correu para montar e registrar a própria chapa no mesmo dia, disparando alguns telefonemas, inclusive para Marcelino, como relata o próprio.
Marcelino, então, reuniu dezenas de emedebistas (segundo ele, 40) para prover a chapa de Rose, efetivamente registrada no início da noite do dia 13. Em nome da Comissão Provisória, Rose também publicou um edital em A Gazeta.
Em março de 2021, após longo embate político e jurídico com o grupo de Lelo, Marcelino Fraga foi expulso do MDB por decisão da Executiva Nacional da sigla, presidida por Baleia Rossi. Segundo Marcelino, ele brigou pessoalmente com Baleia. O ex-deputado afirma, porém, que isso já está superado e que ele já voltou a se entender com o presidente nacional da legenda.
Seu retorno depende, contudo, do desfecho da disputa entre Lelo e Rose. Após o incrível empate na convenção (27 votos para cada chapa), a decisão deverá ser arbitrada pela Executiva Nacional nos próximos dias, enquanto Lelo e Rose buscam um entendimento.
Luzia quer ser vereadora
Já pelo lado de Lelo, o apoio mais surpreendente de todos partiu também de uma ex-emedebista. Amicíssima de Rose há décadas, a ex-deputada estadual Luzia Toledo não está no MDB desde o ano ado. Porém, insatisfeita com a gestão de Rose, decidiu dar uma força para Lelo nos bastidores e fez questão de comparecer à convenção, realizada no cerimonial Oásis, em Vitória.
Luzia disputou, sem sucesso, uma vaga de deputada estadual pelo Republicanos, em 2022. Agora está sem partido. Cogita muito seriamente voltar às trincheiras do MDB para concorrer a vereadora de Vitória no ano que vem. Mas isso se a presidência estadual ficar com Lelo.
A “invasão” do Novo
A convenção era do MDB, mas por um momento pareceu que era do Novo. Em brevíssima agem pelo auditório, durante o processo de votação, o presidente estadual da sigla, Iuri Aguiar, e o secretário de Governo de Vitória, Aridelmo Teixeira, foram prestigiar o evento e cumprimentaram Lelo e Rose.
Os dois chegaram “uniformizados”, com camisas sociais idênticas, levando o símbolo do Novo no peito.
O resultado da disputa interna no MDB interessa diretamente ao Novo com vistas à eleição do ano que vem, sobretudo em Vitória. Se a direção do MDB permanecer com Rose, aliada do governador Renato Casagrande (PSB), há chance zero de o partido apoiar a reeleição do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos). Se voltar para as mãos de Lelo, abre-se uma janela de oportunidade para isso.
“É importante que o MDB esteja de pé nesse processo”, disse Aridelmo à coluna.
Leonil também quer voltar
Por falar em Vitória, quem também ou por lá, como apoiador de Rose, foi o ex-vereador Leonil Dias. Ainda filiado ao Cidadania, ele planeja voltar a concorrer à Câmara Municipal, pelo MDB ou pelo Podemos.
“Destruição” x “Reconstrução”
Embora represente a situação, o nome da chapa de Rose é “Reconstrução”. Durante a convenção, falando à imprensa e à militância, a ex-senadora salientou mais de uma vez: “Não é verdade que o MDB está destruído”.
Ouvindo isso, um gaiato gritou da plateia: “Mas o nome da chapa da Rose é ‘Reconstrução’…”. E depois, em voz mais baixa: “Tem, no mínimo, um problema de português aí…”. Era apoiador de Lelo.
O flyer de Lelo
Por falar nisso, a equipe de Lelo preparou e levou para a convenção um panfleto distribuído aos correligionários, com uma lista de 15 propostas para o MDB-ES e uma pequena mensagem, no fim da qual escolheu palavras duras: “Contamos com vocês, delegados e demais filiados, para, através do voto e da voz, resgatar o MDB do momento mais desastroso da história”.

O panfleto de Lelo. Crédito: Vitor Vogas
“União e paz” na faixa
O time Rose, por sua vez, decorou a mesa da convenção com uma faixa contendo a mensagem “União e Paz para o Desenvolvimento do ES”. “Pacificação”, “união”, “trégua”, “entendimento” e “apaziguamento” foram de fato palavras repetidas pela ex-senadora ao falar à militância e à imprensa presente.
As palavras de ordem no partido
Já o backdrop da mesa trazia uma série de mensagens que fazem parte da atual campanha nacional do MDB e que refletem alguns princípios que o partido deseja hastear, fortalecendo a própria imagem como representante moderado do centro democrático.
Alguns dos dizeres: “O compromisso do MDB é com a democracia”; “Respeito ao povo a defesa da liberdade”; “Contra extremos: razão e bom senso”; “Mais diálogo e menos radicalismo. Isso é MDB”. A hashtag é #pontodeequilibrio.
E bota “equilíbrio” nisso!
Involuntariamente, a hashtag acabou por expressar certa ironia, no contexto da convenção. Obviamente com outra conotação, o que se presenciou ali foi exatamente um “ponto de perfeito equilíbrio”, com o empate rigoroso entre a chapa de Rose e a de Lelo na disputa pela presidência estadual.
O nervosismo de Chico
Na maior parte do tempo, a atmosfera da convenção foi dominada por tensão geral. Mas, na medida do possível, tanto Rose como Lelo conseguiram manter a serenidade e controlar o nervosismo, expressando muito respeito um pelo outro e civilidade no tratamento mútuo.
Na verdade, os maiores desentendimentos de Rose foram com Chico Donato, histórico braço direito de Lelo e ex-secretário-geral do MDB capixaba. Sem esconder o nervosismo, Chico ficou o tempo inteiro a rondar a mesa, questionando a condução de Rose, contestando suas decisões e cobrando o cumprimento do horário.
“Estamos a 40 minutos do encerramento do prazo de votação e ainda estamos discutindo o discurso dos anjos!”, reclamou ele, a certa altura.
Em dado momento, Rose reagiu: “Tô trabalhando toda hora pra pacificar! Chico, você toda hora vem aqui levantar o dedo!”
“Modelo único de convenção”
“Esse modelo de convenção é único. Seus cabelos brancos nunca viram isso”, desabafou Chico Donato a um jornalista mais idoso que este, com um riso de escárnio no canto da boca.
Beijinho entre eles
Apesar de todo esse clima tenso, a convenção também foi pontuada por momentos mais leves, divertidos e até alguns momentos de carinho de Rose para com Lelo (alguns deles com uma nota de sarcasmo).
Rose chegou a dar um beijinho na bochecha esquerda de Lelo e até enxugou a têmpora suada do adversário.

Rose de Freitas beija Lelo Coimbra
“Eu gosto de você!”
Em sua fala final para a militância após a proclamação do empate, disse Rose ao concorrente, arrancando risadas da plateia: “Lelo pode não gostar de mim. Eu gosto de você. Eu aprendi na vida a gostar das pessoas”.
“Qual dos Lelos é o melhor?”
Outro não filiado ao MDB que compareceu à convenção foi o presidente da Câmara de Cariacica, Lelo Couto (União Brasil). O outro Lelo, mais famoso, apresentou o xará à assistência, chamando a atenção para o idêntico apelido.
Rose pegou a deixa no ar: “Depois eu vou dizer pra vocês qual é o melhor”, disse à plateia, com uma risadinha marota e uma cotoveladinha amistosa em Lelo (Coimbra).
“Me dá um voto aí!”
No início do processo de votação, ao explicar à assistência como seria o procedimento de votação, Rose pediu aos assessores “um voto” para mostrar ao público. Na verdade, ela queria dizer “uma cédula de votação”. Corrigida, não perdeu o chiste: “Preciso de muitos votos [risos]! Mas agora preciso de uma cédula”.
“É tudo de frente para as pessoas!”
Rose, aliás, exigiu a presença na mesa dos dois advogados – o do MDB estadual, Rodrigo Barcellos, e o da chapa de Lelo, Sirlei Almeida –, “para que todos os procedimentos sejam feitos de frente para a plateia”.
A coluna captou uma fala mais enérgica dela à dupla de juristas, ante certa resistência inicial: “Então sentem! É aqui! Vou outra vez falar: é tudo de frente para as pessoas! Vão o registro aqui na mesa!”. E bateu na mesa.

Da esquerda para a direita, os advogados Sirlei Almeida e Rodrigo Barcelos e a secretária Marlene. Crédito: Vitor Vogas
“Sem pegadinha”
Rose de fato demonstrou grande preocupação em fazer tudo de maneira transparente: “Em toda convenção se intitulou que tem que ter uma quebra de asa, uma pegadinha. Não queremos isso”, explicou ao público.
A faz-tudo do MDB-ES
Além dos dois advogados, a mesa foi composta por Marlene, secretária do MDB estadual há muitos anos e monumento vivo do partido no Espírito Santo. “Marlene é obrigatória. Coitada da Marlene. Tudo é ela…”, brincou Rose.

Marlene, a “faz-tudo”, auxiliando os trabalhos da mesa durante a votação. Crédito: Vitor Vogas
A dona da chave
Para provar o “poder” da secretária, ela guardou a chave da urna no bolso – como Marlene Mattos costumava fazer com a chave dos quartos de hotel em que a Xuxa ficava trancada. E ela, apenas ela, a secretária, foi quem conseguiu abrir o cadeado da urna com as cédulas.
Rá-ré-ri-ró-Rose…
Como não poderia deixar de ser, não faltou o infalível grito por parte da claque da ex-senadora.

João Coser, convencional do MDB e homônimo do deputado estadual. Crédito: Vitor Vogas
João Coser? Presente!
Teve Marcelino Fraga, teve Luzia Toledo, teve Aridelmo Teixeira, teve Lelo Couto… e teve também, quem diria, João Coser! Mas não foi o deputado estadual do PT e sim o emedebista João Luiz Coser, suplente de delegado por Nova Venécia (o titular foi Clio Venturin).
E há parentesco entre os homônimos? Sim! O João Coser de Nova Venécia contou ser primo de 2º grau do deputado petista (natural de Santa Teresa).
