Dia a dia
Witzel libera cidades e abre nova possibilidade para isolamento
O governador Wilson Witzel avançou uma casa nesta terça-feira (7) na busca de um caminho alternativo entre os isolamento vertical e horizontal, novo tema da polarização total do país. Ele anunciou a liberação do comércio em 30 cidades do estado do Rio de Janeiro. Há um ponto em comum entre todas elas: não registraram nenhum caso de covid-19.
Witzel e sua equipe devem ter observado uma tendência da doença: a grande concentração em grandes centros urbanos. Não se está falando da inexistência de casos no interior (nesta terça-feira, dia 7, anunciou-se o primeiro caso em Nova Venécia, pequena cidade no interior do Espírito Santo, por exemplo), mas de sua enorme predominância nas capitais. Nova York registra 29% das mortes ocorridas nos Estados Unidos por conta da covid-19. Na Espanha, Madri, com 14% da população espanhola, concentra 39% das mortes. Por aqui, São Paulo lidera em casos e mortes. Na Coreia do Sul, 69% das mortes ocorreram em Daegu, ao sul de Seul.
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Os fatores para a proliferação do vírus acontecer de forma mais rápida vão desde a densidade populacional, altíssima em alguns casos, até o fluxo de visitantes logo no início da pandemia, quando as viagens ainda não haviam sido limitadas, ando pelas aglomerações no transporte público, parques e praias, como se viu na cidade do Rio de Janeiro há três semanas.
Witzel embarca numa linha intermediária entre o isolamento total e aquele estabelecido apenas para o grupo de risco. A linha seguida pelo governador, pelo menos na medida adotada para as 30 cidades nesta terça, defende, por exemplo, o fim do isolamento naqueles locais onde os leitos ocupados estejam abaixo de 50% da capacidade total. É como se fosse um isolamento geográfico e sanitário: ficariam livres das limitações de movimentação as cidades sem registro de covid-19
Assim como ocorre nos casos do isolamento total e do seletivo, há críticas à essa linha. A principal delas está relacionada ao fato de o surgimento de casos em determinado local poder ocorrer repentinamente. O vírus pode ser trazido por um turista ou visitante e se espalhar rapidamente. Neste caso, as medidas de isolamento, se adotadas, poderão ser tardias. Mas, de qualquer forma, é bom prestar atenção nessas medidas pontuais porque elas podem ser a opção do ministro Mandetta para não abrir mão totalmente de suas ideias e, ao mesmo tempo, distender um pouco a atribulada relação com jair Bolsonaro.
Em meio à entrevista coletiva desta segunda-feira (6), dominada pela tensão sobre a permanência ou não do ministro no cargo, ou quase despercebida a seguinte frase de Mandetta sobre um “plano de flexibilização” por ele apresentado, também na segunda, ao presidente: “É um começo de flexibilização para uma transição gradual, de onde está implementado um distanciamento social ampliado, como São Paulo e Distrito Federal — migrar gradualmente e com segurança, para o distanciamento social seletivo”.
Não deve ter sido coincidência o fato de Hamilton Mourão, fiador da presença de Mandetta no cargo, ter defendido um retorno à normalidade “lento, gradual e seguro”. A frase é uma referência direta à maneira como a ditadura militar anunciou a condução da anistia aos acusados de crimes políticos, em 1979. O caminho “do meio” não é uma garantia de anistia no confronto aberto por Bolsonaro contra seu ministro. Mas poderá ser um aceno de boa vontade para o presidente de ego ferido. Vai ser adotado? Vai dar certo? Não há certeza. Mas, convenhamos, qual certeza existe nesses nossos dias?
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