Dia a dia
Profissionais da saúde relatam faltam de sedativos em hospitais do ES
Sem a medicação, as equipes se desdobram procurando alternativas, muitas vezes recorrem a remédios mais antigos e com mais efeitos colaterais

UTIs. Foto: Pixabay
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A escassez de medicamentos e sedativos para intubação de pacientes com a covid-19 — que atinge várias cidades do país — está afetando hospitais públicos e particulares do Espírito Santo. A situação já é dramática em algumas unidades de saúde do estado. Sem a medicação, as equipes se desdobram procurando alternativas, muitas vezes recorrem a remédios mais antigos e com mais efeitos colaterais.
O médico cardiologista e intensivista Marlus Thompson relata o cenário das unidades que coordena no Sul do Espírito Santo. No Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim as dificuldades não se resumem à UTIs exclusivas para a covid-19.
“Nosso estoque de sedativos (propofol, midazolan) está zerado. Nosso estoque de analgésicos opióides está zerado (Fentanil e Remifentanil). Nosso estoque de bloqueador neuromuscular de uso contínuo (cisatracurio e atracuroo) está zerado. Estamos nas últimas doses de cetamina e de sufentanil, esse último usado para anestesia geral e requisitado para UTI covid-19”, escreveu o médico.
O dr. Marlus Thompson contou que, na última terça-feira (13), o Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim precisou fechar as portas para novas internações. Ele frisou que as unidades de saúde da região não tem onde comprar medicação e solicitou intervenção do governo federal para adquirir estoque dos fabricantes. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a unidade não chegou a receber remédios por ser filantrópica e não pública.
“Realizamos várias traqueostomias para tentar necessitar usar o mínimo possível dessas drogas, mas já estamos tendo dificuldades de manejar a ventilação mecânica de alguns pacientes. Sinceramente, nunca vi nada sequer parecido e quando penso estar no pior momento, sou surpreendido por algo ainda muito pior. E saber que muito dinheiro público foi gasto com remédios inúteis é revoltante”, desabafou o Thompson.
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O presidente da Associação Médica do Espírito Santo, Leonardo Lessa, confirma que os estoques dos medicamentos usados na sedação de pacientes estão se esgotando. “Com a falta dos remédios, os profissionais acabam substituindo por outros que têm o efeito parecido, mas não são específicos para esse uso. Até esta terça-feira, eu não sei dizer quais unidades estão sem as medicações, mas muitas estão com estoque baixo e já precisam fazer essas substituições”, disse.
Porém, a Secretaria de Estado da Saúde disse que no momento não há desabastecimento de medicamentos para intubação na rede estadual de saúde e que todos os esforços estão sendo empenhados para garantir a assistência dos pacientes também nas redes privadas e filantrópicas.
Ainda segundo a secretaria, em relação ao “kit intubação”, o mesmo é composto por medicamentos analgésicos, bloqueadores neuromusculares e sedativos, utilizados quando há necessidade de entubar o paciente. Durante a pandemia do novo coronavírus estão sendo utilizados em larga escala nos hospitais, UPA’s e PA’s.
Ocupação de leitos
O Espírito Santo registrou nesta terça-feira (13) um total de 1.693 pacientes internados em decorrência da covid-19. Das 1.016 UTIs existentes, 953 estão em uso. A ocupação dos leitos de UTIs no estado exclusivos para o novo coronavírus é de 93,80%.
Na Justiça
No último domingo (11), a PGE-ES (Procuradoria Geral do Estado) obteve oito liminares na Justiça do Espírito Santo contra as empresas que não realizaram a entrega de medicamentos do “kit intubação”, ou seja, sedativos, analgésicos e relaxantes musculares usados em pacientes com covid-19 internados em UTIs. As decisões são da 3ª Vara da Fazenda, em Vitória.
As empresas que serão notificadas são União Química, Onco, Golden Farm Distribuidora, Hospidrogas, Sinergia Farmacêutica, Hospitalares Distribuidoras, NSA Distribuidora e Hospfarma. Agora, elas têm 24 horas a partir da notificação para viabilizar os insumos sob pena de pagar multas que variam de R$ 100 mil a R$ 1 milhão.
Ao todo, foram 13 ações, uma para cada fornecedor que descumpriu o prazo de entrega. O resultado das outras cinco ações deve sair durante a semana.
Segundo o órgão, os fornecedores alegaram que houve atraso porque o Ministério da Saúde teria requisitado os medicamentos, zerando os estoques. No entanto, não foram apresentaram provas.
Segue relação dos medicamentos padronizados pelo Ministério da Saúde que compõe o “kit intubação”: Atracúrio, Belisato 10mg/ml (amp. 2,5ml); Atracúrio, Belisato 10mg/ml (amp. 5ml); Atropina, Sulfato 0,25mg/ml (amp. 1ml); Cetamina, Cloridrato 50mg/ml (amp. 10ml); Cisatracúrio, Besilato 2mg/ml (amp. 5ml); Cisatracúrio, Besilato 2mg/ml (amp. 10ml); Dexmedetomidina, Cloridato 100mcg/ml (amp. 2ml); Dextrocetamina, Cloridrato 50mg/ml (10ml); Diazepam 5mg/ml (amp. 2ml); Epinefrina 1mg/ml (amp. 1ml); Etomidato 2mg/ml (framp. 10ml); Fentanila, Citrato 0,05mg/ml (framp. 10ml); Haloperidol 5mg/ml (amp. 1ml); Lidocaína 20mg/ml (2%) sem vasoconstrictor (framp. 20ml); Midazolam 5mg/ml (framp. 10ml); Morfina, Sulafato 10mg/ml (amp. 1ml); Naloxona, Cloridrato 0,4mg/ml (amp. 1ml); Norepinefrina, Hemitartarato 2mg/ml (amp. 4ml); Propofol 10mg/ml (framp. 20ml); Propofol 10mg/ml (fr. 100ml); Rocurônio, Brometo 10mg/ml (amp. 5ml); Suxametônio, Cloreto 100mg framp.
