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Presidentes do Chile e Uruguai criticam apoio de Lula a governo de Maduro

O presidente havia dito que cabia à Venezuela mostrar sua narrativa para que as pessoas pudessem mudar de opinião sobre o país

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Lula abrindo cúpula de líderes sul-americanos com discurso. Foto: Palácio do Planalto/Reprodução

No dia seguinte à declaração do líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na qual ele se referiu às acusações sobre a situação política da Venezuela como “narrativas”, os presidentes do Uruguai e do Chile expressaram críticas a essa fala durante a terça-feira (30).

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Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai, manifestou surpresa em relação à declaração do líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, durante seu encontro com o ditador venezuelano, Nicolás Maduro.

“Esta reunião [de líderes sul-americanos] foi antecipada, não sei se de forma planejada, por uma bilateral entre Brasil e Venezuela”, disse o centro-direitista durante a cúpula organizada por Lula no Palácio do Itamaraty, em Brasília. “Fiquei surpreso quando foi dito que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Já sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo da Venezuela.”

O uruguaio disse que, em relação ao país caribenho, o pior a ser feito é “tapar o sol com a mão”. “Se há tantos grupos no mundo tentando mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que os direitos humanos sejam respeitados e não haja presos políticos, o pior a fazer é tapar o sol com a mão”.

Não é a primeira vez que Lacalle Pou tem uma postura diferenciada em relação a outros líderes da região, especialmente os mais alinhados à esquerda. Ele já afirmou que “não é necessário ser de esquerda para defender a democracia”, contrariando as declarações do presidente argentino, Alberto Fernández, e de Lula.

Isso ficou evidente durante a cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em janeiro, que contou com a participação do líder da ditadura cubana, Miguel Díaz-Canel. Na ocasião, Lacalle Pou destacou que nem todos os presentes respeitavam os valores democráticos e que transformar a Celac em um clube ideológico era perigoso.

O esquerdista Gabriel Boric, líder do Chile, que é um grande crítico da ditadura da Venezuela afirmou ter manifestado uma discrepância em relação à declaração de Lula. “Não é uma construção narrativa, é uma realidade. É [uma realidade] séria, e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vêm à nossa pátria e que exigem, também, uma posição firme e clara para que os direitos humanos sejam respeitados sempre”.

Ele condena os regimes autoritários tanto na Venezuela quanto na Nicarágua, liderada pelo ditador Daniel Ortega. Em uma entrevista à BBC em março do ano ado, ele afirmou que o chavismo foi uma experiência fracassada, e citou a diáspora de 6 milhões de venezuelanos como a principal demonstração desse fracasso.

Ao assumir a presidência do Chile, Boric não convidou Ortega, Maduro nem Díaz-Canel para a cerimônia de posse. Neste ano, seu governo concedeu a nacionalidade chilena a ex-presos políticos nicaraguenses exilados, e o Ministério das Relações Exteriores do país enfatizou que “a defesa da democracia e dos direitos humanos vai além das conjunturas políticas e faz parte dos pilares civilizacionais essenciais de uma sociedade”.

Em uma abordagem mais sutil, o governo argentino também expressou preocupações com a situação na Venezuela, sem mencionar especificamente as declarações de Lula, que é um aliado de longa data de Fernández.

Em comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores argentino sobre o encontro do presidente com Maduro, o governo peronista ressaltou o trabalho realizado pelo país em “apoio ao diálogo entre os venezuelanos para encontrar uma solução política que garanta a plena vigência da democracia e o respeito aos direitos humanos, contribuindo assim para a recuperação da economia e o bem-estar de sua população”.