Dia a dia
Desastre no rio Doce: metais impactam mais na água salgada
Segundo pesquisadores, os organismos marinhos e do estuário são mais sensíveis à contaminação. Tartarugas, por exemplo, têm apresentado inflamação na mucosa dos olhos nessa temporada

À medida que metal se movimenta, PH da água é alterado. Foto: Chico Guedes
Os metais que atingiram a bacia do rio Doce depois do rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), há quase quatro anos, são mais tóxicos em água salgada do que na água doce, apontam pesquisadores. Assim, os organismos marinhos e do estuário são mais sensíveis à contaminação.
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“À medida que o metal se movimenta em direção ao meio marinho, o PH da água e a temperatura vão sendo alterados. E cresce também a concentração de elementos como sódio, cloro, potássio e magnésio”, explica o pesquisador Adauto Bianchini, da Furg e integrante da Rede Rio Doce Mar, que reúne 530 pesquisares de 27 instituições de ensino que analisam os impactos da agem da lama no rio e mar.
Os primeiros resultados do trabalho apontaram que os altos índices de metais se mantém no mar, principalmente na água e nos sedimentos, chegando a ter índices superiores ao período pós-rompimento da barragem, devido à movimentação do mar e da calha do rio em períodos de chuva, o que faz com que materiais da barragem se desloquem. Os principais metais encontrados são ferro, manganês, cromo e cádmio, sendo o último o de maior perigo, pelo risco de causar danos renais e na comunicação do sistema nervoso.
“Nessas épocas percebemos um aumento dos indivíduos na base da cadeia alimentar no mar, como microalgas e zooplanctons, o que acaba provocando um desequilíbrio. A cadeia alimentar mudou e não voltou às condições de antes. Também não apresenta tendência de melhorar”, disse o pesquisador da Ufes Alex Bastos.
A pesquisa também avalia impactos no restante da cadeia alimentar, como peixes e animais maiores, como tartarugas, baleias e golfinhos, mas para mensurar os danos nessas espécies é preciso mais tempo.
As tartarugas, por exemplo, têm apresentado inflamação na mucosa dos olhos nessa temporada, como já foi observado pelo Projeto Tamar, em Regência.
A Fundação Renova informa que os estudos contratados e realizados em parceria com a Rede Rio Doce Mar são parte integral do processo de reparação, por serem diagnósticos contínuos previstos para aprimoramentos das ações em andamento na bacia do rio Doce. Trata-se de um dos maiores programas de pesquisa em curso no país, com 27 universidades e R$ 120 milhões investidos no primeiro ano.
