Coluna Vitor Vogas
Ricas fora: caminho livre para Guerino disputar o governo… ou não
Com desistência do superintendente da PF, prefeito de Linhares não tem mais concorrente no PSD para ser candidato ao governo do ES. Quer dizer… não tinha

Eugênio Ricas e Guerino Zanon. Foto: Reprodução
A decisão do superintendente da Polícia Federal, Eugênio Ricas, de desistir de concorrer ao Palácio Anchieta, foi um presente com fita de veludo entregue em bandeja de prata ao prefeito de Linhares, Guerino Zanon (ainda no MDB). Como argumentamos aqui no último sábado (26), após cinco eleições ao cargo de prefeito de Linhares e mais de 17 anos no Executivo municipal, Guerino não tem nada a perder se quiser ser candidato ao governo do Espírito Santo neste ano (e ele quer). A refugada do delegado deixa o caminho quase desobstruído para ele materializar tal ambição. Vamos sublinhar o “quase”.
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Para começar a concretizar a candidatura, Guerino tomou nesta quinta-feira (31), oficialmente, a primeira providência necessária, de modo a cumprir o que exige a legislação eleitoral: com pompa, circunstância e direito a uma “carta aos linharenses”, renunciou ao seu quinto mandato de prefeito, em pronunciamento solene na Câmara Municipal.
Não deve ter-lhe doído tanto. Uma coisa é um jovem e ascendente prefeito renunciar ao seu primeiro mandato para arriscar voo político maior; outra bem diferente é um prefeito sexagenário, com seus cabelos grisalhos e bigodes tingidos, abandonar seu quinto mandato e ainda assim poder contar aos netos que governou a maior cidade do Norte do Estado por “apenas” 17 anos. Nada mau, né?
Resolvido esse “detalhe”, o segundo o do prefeito será, necessariamente, trocar de partido político, o que há de se consumar entre hoje e amanhã. Por que trocar de partido? Porque, ora, o grande obstáculo do prefeito para concretizar a sonhada candidatura ao Palácio é nada menos que seu próprio partido.
Filiado há muitos anos ao MDB, Guerino não tem o menor espaço para realizar esse projeto pela sigla, já que o partido no Estado está nas mãos da senadora Rose de Freitas. Esta, por sua vez, é aliada de Renato Casagrande (PSB) e deve levar o MDB a apoiar a reeleição do governador – se possível, disputando ela mesma a reeleição ao Senado na chapa majoritária de Casagrande. Se ficar no MDB, Guerino não terá legenda e estará fora do jogo antes do apito inicial. Simples assim.
Vai daí que, para emplacar sua candidatura ao Palácio Anchieta, Guerino precisa trocar, até 2 de abril (amanhã), o MDB por um partido que lhe dê legenda para concorrer. Hoje, a alternativa mais viável para o prefeito é o PSD. Aliás, vamos carimbar aqui: o prefeito irá para o PSD.
Sua candidatura ali tornou-se ainda mais factível a partir da “autorremoção” de um obstáculo: a saída de Neucimar Fraga, que até então exercia a presidência estadual do PSD, mas voluntariamente deixou o cargo e o partido no último dia 23, para entrar no PP.
Com isso, a presidência estadual do PSD ou para o até então vice-presidente, José Carlos da Fonseca Junior, o Zé Carlinhos. Em outras palavras, voou automaticamente, sem escalas, para as mãos do grupo político do ex-governador Paulo Hartung, do qual Guerino faz parte. Os hartunguistas aram a controlar do PSD no Espírito Santo. Mais que isso: o partido virou uma espécie de “refúgio político”, ou QG, onde hoje se concentram quase todas as forças políticas remanescentes do hartunguismo no Estado. E Hartung, por evidente, é o maior incentivador da pré-candidatura de Guerino.
Tivesse Ricas ingressado no PSD, o agora ex-prefeito de Linhares ainda teria pela frente um obstáculo muito duro a enfrentar, pois, após renunciar ao mandato na prefeitura, ainda teria que se lançar em uma disputa interna com o policial federal pela legenda do partido – afinal, só um dos dois pré-candidatos poderia ocupar a cabeça da chapa majoritária do PSD. Nessas circunstâncias, a renúncia ao cargo de prefeito representaria algum risco para ele, pois, mesmo abdicando do mandato, ele não teria 100% assegurada a legenda do seu futuro partido.
Mas o “companheiro de equipe” fez a Guerino o favor de recolher o carro para os boxes antes mesmo da largada. E, com a desistência de Ricas, o retão ficou todo aberto para Guerino no PSD, certo?
Não, muita calma nesta hora.
O homem surpresa: Colnago
Comecei a rascunhar na cabeça esta coluna na terça, ainda sob o impacto da decisão anunciada por Ricas. Mas tive que reescrevê-la a partir do “fato novo” surgido no dia seguinte, dentro do próprio PSD: a surpreendente decisão do ex-vice-governador César Colnago de se desfiliar do PSDB, após 30 anos de militância, para se filiar ao… isto mesmo: ao PSD.
Até aí “tudo bem” para Guerino, não fosse por outro “detalhe”: Colnago também chega ao PSD declarando-se pré-candidato ao governo do Estado. Novamente, alguém terá que ceder.
A boa notícia para Guerino é que Colnago não é Eugênio Ricas. Do alto de seus cerca de 15 mandatos somados, os dois cultivam uma longa e excelente relação política.
E, sim, por um lado é verdade que Colnago chega ao PSD dizendo-se determinado a pleitear a legenda. Por outro, ele não chega inflexível: na coletiva de imprensa em que anunciou a sua mudança de partido, o agora ex-tucano opinou que um dos dois deve ser escolhido para a cabeça da chapa a partir de uma prévia ou da análise de potencial eleitoral indicado por pesquisas “quali” e “quanti”.
Ao mesmo tempo, deu margem a concessões: o plano prioritário de Colnago é concorrer ao Palácio Anchieta, mas ele manifesta-se disposto a uma candidatura a senador. O que refuta de plano é outra candidatura a deputado, após duas eleições para a Assembleia e um mandato na Câmara Federal.
Com Ricas fora, enfim, quem disse “muito obrigado” foi ele, Guerino Zanon.
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