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Coluna Vitor Vogas

Hartung continua sem partido e não será candidato a nada. Entenda

Ele decidiu não se filiar a nenhuma sigla dentro do prazo legal. Assim, está inabilitado a disputar qualquer cargo eletivo este ano. Mas não ficará só como espectador

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Paulo Hartung. Foto: Arquivo Secom-ES

Paulo Hartung. Foto: Arquivo Secom-ES

O ex-governador Paulo Hartung não se filiou a nenhum partido e, assim, está tecnicamente fora das eleições de 2022. De acordo com o calendário eleitoral deste ano, todos os postulantes a um mandato nas urnas em outubro deveriam estar filiados até o último sábado (2) – seis meses antes do 1º turno – ao partido pelo qual disputarão as eleições. Como Hartung não ingressou em nenhuma legenda, está automaticamente inabilitado e não poderá concorrer a nenhum dos mandatos eletivos em disputa este ano. Nem será candidato a senador nem poderá fazer parte de uma chapa na eleição presidencial. A decisão de Hartung é confirmada pela assessoria de imprensa do ex-governador.

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Mas a decisão de não se candidatar não significa, de modo algum, que ele pretende ficar alheio ao processo eleitoral. Muito pelo contrário. Hartung pretende participar intensamente da eleição presidencial, atuando na retaguarda, como um formulador de teses e conselheiro político posicionado no centro democrático do país e com trânsito livre entre os presidenciáveis que representam esse campo, dos progressistas de centro-esquerda aos liberais. Aliás, já tem atuado assim.

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O ex-governador está conversando com todos os pré-candidatos à Presidência situados nesse campo do “centro expandido”. Na noite dessa segunda-feira (4), ele conversou pessoalmente, em São Paulo, com a senadora Simone Tebet, pré-candidata à Presidência pelo MDB. O tema da conversa foi a tese que Hartung tem defendido, inclusive em entrevistas à imprensa: a de que é preciso construir uma convergência entre os muitos pré-candidatos do “centro expandido” para fazer frente a Lula (PT) e Bolsonaro (PL) e para elevar a qualidade do debate eleitoral sobre o futuro do país: “subir o sarrafo desse debate”.

Ciclo encerrado

Hartung está sem mandato desde que saiu do MDB, no fim de 2018. Entre outras possibilidades, o ex-governador era cotado para disputar a vaga no Senado pelo Espírito Santo, atualmente ocupada pela senadora Rose de Freitas (MDB). Mas, desde que encerrou seu último governo (2015-2018), ele mesmo vinha emitindo fortes sinais de ter “desencarnado” da política estadual e de estar com as atenções bem mais voltadas para o debate nacional.

Em entrevistas concedidas quando ainda ocupava a cadeira de governador, Hartung já vinha defendendo que o momento é de abrir espaço para a ascensão de novos líderes que contribuam para o necessário processo de renovação política em âmbito estadual e nacional. Após oito mandatos exercidos no Espírito Santo, ou como representante do Estado no Congresso Nacional, ele entende que está encerrado o seu ciclo de disputa e exercício de mandatos eletivos na política estadual. Para ele, isso é página virada.

O convite do PSD

No que se refere à eleição presidencial, chegou a ser fortemente especulada a possibilidade de Hartung se filiar ao PSD, dirigido nacionalmente pelo ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Pelo menos desde fevereiro, ele vinha mantendo conversas com Kassab, que até o momento repete que o partido terá candidatura própria à Presidência da República.

No início daquele mês, em entrevista ao programa “Em Foco”, da GloboNews, Kassab chegou a citar Hartung, ao lado de Rodrigo Pacheco e de Eduardo Leite, como possível candidato à Presidência pelo partido. O presidente do Senado preferiu não entrar nessa disputa. Quanto a Leite, recusou o convite de Kassab e decidiu continuar no PSDB – mas renunciou ao governo do Rio Grande do Sul para seguir tentando emplacar seu nome como candidato tucano ao Planalto, em detrimento de João Doria.

Com o fracasso do plano de Kassab de lançar Pacheco ou Leite, o nome de Hartung ou a ser visto como possível alternativa para o PSD: se o ex-governador se filiasse ao partido, poderia vir a ser o presidenciável lançado por Kassab. A interlocutores, o próprio Hartung manifestava que só se filiaria ao PSD (ou a qualquer outra sigla) para participar de um “projeto nacional”: traduzindo em termos práticos e eleitorais, somente para compor uma chapa majoritária, como candidato a presidente ou a vice-presidente. Concorrer de novo ao Senado pelo Espírito Santo já estava fora dos seus planos.

Mas a conversa com Kassab não evoluiu.

Na última segunda-feira (28), após a notícia sobre a decisão de Leite de continuar no PSDB, Kassab manteve o discurso de que o PSD terá candidato à Presidência, mas não citou o nome de Hartung (nem o de ninguém, aliás). Na quarta-feira (30), o jornal O Globo publicou reportagem segundo a qual Hartung havia recusado o convite de Kassab. Na reportagem, o próprio Kassab declarou: “Deixei o Hartung muito confortável após meu convite. Mantemos o projeto da candidatura própria, mas agora vamos ter que conversar internamente para definir um nome”.

Já na quinta-feira (31), em entrevista publicada pelo Estadão, Hartung afirmou que, na verdade, não disse a Kassab nem que sim nem que não, pois, de acordo com ele, nunca foi nem sequer convidado:

“Kassab convidou o [Rodrigo] Pacheco e convidou o Eduardo [Leite], não me convidou. Eu não disse não, nem sim, não disse nada. E também não quero ser convidado porque não acho que cabem mais pré-candidatos nesse campo.”

Enxugar é preciso

Na mesma entrevista, o ex-governador capixaba defendeu a tese de que as mais de cinco pré-candidaturas que hoje representam o “centro expandido” da política brasileira (não confundir com Centrão) deveriam se organizar e se fundir em uma ou, no máximo, duas candidaturas. Preconizou a união de forças para furar a polarização entre Lula e Bolsonaro. E argumentou que essa pulverização do centro favorece os dois extremos e não contribui para o debate eleitoral.

Em coerência com a própria premissa, não se apresentou como pretenso candidato à Presidência (nem a nada), pois, segundo ele, o desafio do centro no momento é o de reduzir a quantidade de pré-candidaturas, em vez aumentar esse número.

“A minha proposta é reduzir. […] Não é colocar mais uma candidatura, é, na verdade, fundir essas candidaturas para que esse pensamento político, que é muito importante, mas é desorganizado, e a ter relevância.”

Hartung se apresentou como alguém disposto a colaborar nesse debate e no esforço de aglutinação das forças do centro político. Como escrevi no início, ele “está tecnicamente fora das eleições de 2022”, mas no sentido estrito de não poder ser candidato a nenhum cargo eletivo. Mas ainda pode participar nos bastidores, como colaborador de algum presidenciável. Como é notório, ele tem se aproximado politicamente de Eduardo Leite.

Os dois e o apresentador Luciano Huck se encontraram em Porto Alegre em 23 de março e, nos dias seguintes, trocaram afagos públicos. Em coletiva de imprensa na última segunda-feira (28), Leite afirmou que ele e Hartung estarão juntos. Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada na quarta-feira (30), elogiou o capixaba: “Hartung tem sua trajetória como político, como senador, como governador, uma referência em gestão e na capacidade política”.

Por seu turno, na entrevista do dia 31 ao Estadão, Hartung elogiou a decisão de Leite de renunciar ao governo do Rio Grande do Sul: “É um bom gesto nesse contexto, um jovem que mostra uma enorme maturidade e disposição de ajudar para que o Brasil encontre o seu caminho”.

Presidencialismo debilitado

Em artigo publicado na manhã desta terça-feira (5) no Estadão, intitulado “O presidencialismo debilitado”, Hartung defendeu mudanças na forma como o sistema presidencialista é de fato praticado no Brasil – tarefa, segundo ele, inescapável para o próximo governante no próximo ciclo da Presidência (2023-2026):

“É impositivo que, com a conquista de respaldo sociopolítico nos mais diversos âmbitos da sociedade e no estrito limite dos ditames constitucionais, o próximo presidente atue para reequilibrar a relação com o Congresso Nacional, consagrando decisivos protocolos de governabilidade”, defende.

“Não é tarefa simples, mas plenamente possível, se guiada por propósitos de grandeza política”, conclui o ex-governador.

Ocupações

Hartung seguirá atuando no setor privado. Atualmente, é presidente-executivo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e membro do Conselho do movimento Todos pela Educação. Também é conselheiro do RenovaBR, movimento cofundado por Luciano Huck que visa à formação de novos líderes na política nacional (no Espírito Santo, por exemplo, o deputado federal Felipe Rigoni, pré-candidato ao governo estadual pelo União Brasil, ou pela formação do movimento, na turma de 2018).

Nessa segunda-feira (4), PH também foi empossado como membro do Conselho Superior de Economia Criativa (Conec), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em seu Twitter, postou foto do momento da posse, com Luciano Huck sentado ao lado dele. Huck foi empossado como novo presidente do Conec.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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