Partido de Nelson Junior escolhe não esperar mais por Casagrande

Pastor Nelson Junior. Foto: Instagram

Para viabilizar a candidatura do pastor evangélico Nelson Junior ao Senado, o partido dele, Avante, acaba de se despedir do projeto eleitoral liderado pelo governador Renato Casagrande (PSB). Ou seja, não vai mais apoiar a reeleição do socialista.

Agora, o Avante se considera com o e livre no mercado político e se aproxima de outros pré-candidatos ao governo, opositores de Casagrande, que topem abrigar a candidatura de Nelson ao Senado, na qual o partido deposita todas as fichas. “O Avante está solto para dialogar e buscar seu protagonismo numa composição majoritária com Nelson Junior pré-candidato a senador”, confirma o presidente estadual da sigla, o empresário Marcel Carone.

Indagado por mim se o Avante tem algum compromisso em apoiar a reeleição de Casagrande, Carone é bem objetivo: “O Avante tem compromisso de estar compondo com o grupo que tenha a melhor sinergia com o Projeto ‘Nelson Junior Senador’ na disputa das eleições de 2022”. Para bom entendedor, na eleição ao Palácio Anchieta, o partido estará com quem se disp a acolher a candidatura do pastor ao Senado (a qual, a rigor, não depende de parceria com um candidato ao governo para ser registrada, mas é óbvio que isso pode ajudar muito, pois um puxa votos e recursos de campanha para o outro).

Inicialmente, a direção estadual do Avante se empenhou para que Nelson fosse candidato ao Senado pela coligação de Casagrande e com o apoio do governador. Ao menos essa era a aspiração manifestada por Carone. Em conversas informais comigo, mantidas nos últimos meses, o dirigente repetia que considerava Nelson Junior “a melhor opção para participar da chapa majoritária do governo” e que o pré-candidato não tinha “menos peso do que nenhuma outra opção dentro do bloco governista [Rose de Freitas, Da Vitória e Alexandre Ramalho], muito pelo contrário”.

Não houve, porém, nenhum sinal do Palácio Anchieta nesse sentido. Em entrevistas a mim e a colegas da imprensa de março para cá, quando instado a avaliar as cartas que tinha na mão como opções para o Senado, Casagrande nem sequer citava o nome de Nelson – que, além de pastor, é palestrante, influenciador digital e criador do movimento “Eu Escolhi Esperar”.

Há cerca de dez dias, o Avante e seu pré-candidato parecem ter escolhido parar de esperar… por um gesto do governador que jamais veio (nem viria). E começaram a flertar em público com oponentes de Casagrande, como o deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil) e, destacadamente, o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), que se declara opositor do atual governo. Na última quinta-feira (16), Nelson anunciou sua pré-candidatura para os seguidores em suas redes sociais e, desde então, apresenta-se como postulante à vaga de senador, em uma série de postagens e eventos públicos.

O presidente estadual do Avante afirma que, na verdade, as falas sobre possível participação de Nelson na chapa de Casagrande partiram dele e que o próprio aspirante ao Senado jamais assumiu compromisso de estar com o governador no processo eleitoral:

“Em relação ao empenho do Avante para que Nelson Junior fosse candidato ao Senado pela coligação de Casagrande e com o apoio do governador, digo que todas as falas entendidas nessa direção até aqui foram feitas por mim, presidente estadual do Avante. O Nelson Junior até então em nenhum momento tinha se pronunciado publicamente que era pré-candidato a senador e nenhum outro cargo eletivo e também nunca chegou a falar sobre qual candidato a governador estaria compondo na majoritária.”

Ele explica:

“Falei isso por várias vezes por entender que Nelson Junior era e continua sendo a melhor opção para participar da chapa majoritária do governo, por ele ser uma pessoa de enorme credibilidade, que contempla muitas qualidades e representações que agregam muito para qualquer projeto de majoritária.”

Exoneração

Num ato final que sacramenta, simbolicamente, o fim da parceria político-eleitoral do Avante com o governo Casagrande, Marcel Carone foi exonerado, na última segunda-feira (20), do cargo comissionado de “assessor especial” que ocupava na Secretaria da Casa Civil.

Assinada pelo secretário Davi Diniz, a portaria não contém o tradicional e elegante “a pedido” – o que também é bastante sintomático – e data do dia 15 de junho. Na mesma data, Nelson Junior esteve com Erick Musso em homenagem a pastores da Serra promovida na Assembleia Legislativa. Dois dias antes, os dois estiveram juntos em duas atividades e postaram fotos se abraçando e orando juntos.

Questionado sobre seu desligamento, Carone sustenta que não houve rompimento e que segue respeitando muito Casagrande, mas que seus projetos eleitorais são diferentes neste momento:

“Eu solicitei minha exoneração, mas não se trata de rompimento! Não só na política, mas na vida precisamos ter sabedoria e maturidade para viver e conviver bem, de forma pacífica e com diálogo permanente, mesmo se não estivermos juntos naquele projeto ou naquele momento. Tenho grande respeito, carinho e iração pelo governador Renato Casagrande, mas [saí] como líder de um partido, onde temos um pré-candidato a senador, que é totalmente viável e competitivo para disputar o pleito de senador da República.”

Segundo Carone, Nelson foi convidado por vários líderes partidários para se filiar às respectivas siglas e por quase todos os pré-candidatos a governador para se lançar ao Senado. Ainda de acordo com o dirigente, o pastor e palestrante está “ganhando muita força nas ruas de todas as cidades do Estado” e tem encontrado uma “receptividade extraordinária”.

Carone está convencido de que, agora que entrou para valer no processo, Nelson pode atrair em peso “o eleitorado cristão e conservador”. Por isso, o Avante concluiu que precisava estar inteiramente “liberado” neste momento (crucial para a definição de candidaturas e alianças):

“Nelson Junior pode atrair o eleitorado cristão e conservador de forma imediata, a partir do momento que tomarem conhecimento da sua pré-candidatura. Hoje, vários grupos continuam chamando Nelson Junior para conversar sobre a possibilidade de ele compor sua chapa majoritária. Por tudo isso tive certeza, como presidente do Avante no Espírito Santo, que tínhamos que estar com o ‘todo’ totalmente liberado para que o ‘Projeto Nelson Junior’ possa ter a liberdade de definir onde irá compor a majoritária, que acontecerá no grupo que tenha a melhor sinergia para a disputa das eleições de 2022.”

Entusiasmo com a pré-candidatura, Carone salienta “a representatividade de Nelson dentro do mundo cristão e conservador” e o classifica como “um fenômeno de público, não só nos eventos presenciais, mas também na internet, com mais de 7,7 milhões de seguidores juntando suas mídias sociais”.

“Registro que Nelson Junior vem muito forte! Será o nome que surpreenderá o Espírito Santo e o Brasil! Acredito que o Nelson Junior é um nome capaz de compor excepcionalmente qualquer chapa majoritária!”

Balaio de gatos, mas com limites

Se o pré-candidato terá toda essa força também eleitoralmente, só os próximos meses dirão. Mas uma coisa é certa: se tivesse ficado agarrado ao projeto eleitoral de Casagrande, o pastor e digital influencer jamais teria a candidatura ao Senado abraçada pelo governador – como era óbvio desde o início e como, aliás, nós mesmos já tínhamos advertido aqui.

Para não irmos muito longe, fiquemos no fato de que Nelson nutre grande simpatia por pautas da “agenda comportamental” do governo Bolsonaro e, presumivelmente, pelo próprio governo Bolsonaro, além de ser um crítico da esquerda e do PT – isso com base no que indicam as suas muitas publicações no Instagram. Ou seja: é o oposto de Casagrande.

Sim, no balaio de gatos costurado por ele mesmo, o governador tem muitos aliados bolsonaristas, é verdade… Mas daí a apoiar para o Senado um candidato com esse perfil vai uma grande distância.

Desprendendo-se e libertando-se da órbita de Casagrande, o Avante e o próprio Nelson ficam muito mais à vontade para buscar construir essa candidatura em parceria com algum candidato ao governo que tenha mesmo interesse em abraçá-la. E mais “sinergia”, como repetiu Carone, inclusive no campo ideológico.

Nelson fora do governo pode ajudar… o governo

Não pode se perder de vista que a manutenção da candidatura de Nelson Junior ao Senado, mas fora do movimento do governo, pode ser interessante para Casagrande e seu grupo.

Em primeira análise, o pastor evangélico tem potencial para amealhar votos do candidato ao Senado que mais pode tirar o sono dos “moradores” do Palácio Anchieta: o ex-senador Magno Malta (PL). Em tese, Nelson pode dividir com Magno uma parte do eleitorado cristão conservador, principalmente no segmento dos jovens evangélicos, entre os quais tem grande visibilidade como influenciador digital.

Quem o viu, quem o vê…

No período das predefinições das chapas de deputados, o Avante de Nelson e Carone estava fechadíssimo com o governo Casagrande. Para exemplificar, foi a pedido do governador que o jornalista Philipe Lemos, pré-candidato a deputado federal, trocou o Avante pelo PDT na última hora do dia 2 de abril, último dia do prazo para as filiações de pré-candidatos.

Ex-mentor de Do Val

Além de Carone, o articulador político da campanha de Nelson Junior é Aldeci Carvalho. Em 2018, ele cumpriu o mesmo papel na campanha de Marcos do Val, então filiado ao Cidadania e candidato ao Senado pela coligação de Casagrande. Em 2018, deu certo…

Para não perder a gag

Partido: Avante!

Eu Escolhi Esperar: Não avance!