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Ministro da Saúde olha para o futuro, mas esquece o presente
As pessoas podem até desconhecer, mas sua relação com o jornalismo se dá a partir de uma regra básica a ser perseguida pelas Redações: “Conte-me uma novidade!” Quem consome uma informação deseja algo novo, não sabido, se possível, surpreendente. A notícia só é notícia “boa” se atender a esse critério. Daí a dificuldade evidente dos editores em encontrar “notícia” na entrevista dada nessa quarta-feira (22) pelo novo ministro da Saúde. Nelson Teich repetiu, em grande parte da sua primeira entrevista coletiva, as palavras ditas no seu discurso de posse. Falou em “estudos”, na necessidade de ter informação, como é preciso cuidar também de outros doentes… Os destaques ficaram por conta de suas contas (duvidosas) sobre a evolução da doença no Brasil; além da elaboração de um plano para estados e municípios saírem do isolamento, e o anúncio de um militar para ser uma espécie de vice-ministro da Saúde.
Não há como contestar as ideias de Teich sobre a necessidade de termos mais informações a respeito da doença. Mas isso só vai se efetivar em uma, duas ou três semanas. E as pessoas estão morrendo sem atendimento hoje. Em Manaus e Fortaleza já estão sendo enterradas em valas comuns. E o ministro praticamente não tratou da situação desesperadora vivida nessas capitais, assim como não disse nada digno de nota em relação ao quadro em São Paulo e no Rio, centros urbanos enormes prestes a viver o esgotamento da capacidade de atendimento na rede pública de saúde. Numa possível ânsia de querer agradar o presidente Jair Bolsonaro, Teich direcionou boa parte de suas palavras para tratar do relaxamento do isolamento. a ser executado dentro de algum tempo. A questão não respondida é: quais atitudes o Ministério da Saúde está tomando para tentar diminuir o drama de quem está entre a vida e a morte em grandes cidades do país? O ministro, enfim, coloca foco no amanhã, mas o Brasil perdeu mais 165 pessoas para o vírus ontem, e esse número deverá, no mínimo, se repetir hoje. Teich precisa corrigir esse ritmo, acertar esse o entre necessidade de planejamento e enfrentamento da realidade. Ou quando receber todas as informações por ele desejadas poderá ter, como principal dado, o descontrole absoluto da situação e do número de mortos. E essa é uma informação, uma “notícia nova”, que os jornalistas não gostariam de publicar e os leitores não gostariam de ler.
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A escalação do general do Exército Eduardo Pazuello para ser o “vice-ministro” da Saúde e o anúncio de um plano de recuperação econômica pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, sem a presença de nenhum integrante do Ministério da Economia na coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, mostra um avanço do setor militar no sentido de influenciar decisivamente nas decisões e nos caminhos da Saúde e da Economia. Resta saber qual o caminho será seguido…
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