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Coluna Vitor Vogas

Luta desigual: caciques e candidatos com mandato recebem muito mais dinheiro de campanha

Quanto cada partido reou até agora para cada candidato a deputado federal? amos o pente fino na prestação de contas de todos e apresentamos os resultados. As conclusões são surpreendentes

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Foto: Hélio Filho

A desigualdade de armas e o desequilíbrio financeiro dão a tônica da divisão dos recursos dos partidos entre os candidatos a deputado federal no Espírito Santo. A coluna realizou um levantamento comparativo completo das receitas declaradas pelos cerca de 200 candidatos ao cargo no Estado até agora, com mais da metade do período de campanha para trás. Os resultados, discriminados por partido, são apresentados abaixo e comprovam a disparidade alegada por muitos candidatos.

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A primeira conclusão patente: com pouquíssimas exceções, a regra adotada pelos dirigentes partidários na distribuição das cotas do Fundo Eleitoral é o privilegiamento dos caciques que disputam as eleições (ou seja, deles mesmos) e/ou dos candidatos que exercem ou já exerceram mandato na Câmara Federal. São os chamados “puxadores de votos” das chapas.

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Em outras palavras, as direções partidárias dão muito mais dinheiro para os candidatos que elas mesmas consideram mais competitivos – os quais assim se tornam ainda mais competitivos, numa lógica perversa para quem está “correndo por fora” e tentando entrar no “sistema”. Para desespero e lamentação dos novatos, rostos pouco conhecidos pelo eleitor recebem quantias bem menores que as readas aos medalhões.

Nos bastidores, não faltam reclamações veladas por parte de candidatos que disputam uma eleição pela primeira vez ou que nunca exerceram mandato. Eles alegam que os critérios usados por quem controla os partidos dificulta a renovação política e são mantidos justamente para garantir a perpetuação de quem já está no poder.

Sob condição de anonimato, alguns já se dizem enganados por promessas de recursos abundantes e equidade na divisão do dinheiro do Fundão, feitas antes da campanha por determinados dirigentes, na fase de filiações dos então pré-candidatos.

Como se poderá verificar abaixo, em que pese a regra predominante, os critérios para a distribuição da verba variam um pouco de um partido para o outro.

Em alguns partidos, como o PL de Magno Malta, todos (ou quase todos) os candidatos a deputado federal receberam até agora rigorosamente a mesma quantia (mas há um asterisco bem importante no caso de Magno, relativo à eleição majoritária, conforme se detalhará abaixo).

Em outros casos, como o do PDT, quase todos os candidatos receberam a mesmíssima soma, à exceção de um, que se destaca dos demais pelo volume bem maior de recursos.

Há situações como a do PT, em que quase toda a cota do Fundão até agora foi destinada a um único concorrente, como a do PTB, em que quase todo o recurso coube a um par de candidatos, e como a do PSDB, em que três foram beneficiados, enquanto os demais estão quase à míngua.

E há, ainda, uma situação especialmente interessante, observada em partidos como o União Brasil, o Podemos, o Progressistas, o PSB e, em menor escala, o Republicanos. Nessas agremiações, a definição dos rees entre os 11 candidatos de cada chapa constitui uma típica “escadaria”: vai daqueles que até agora quase não viram a cor do dinheiro àqueles que, considerados puxadores de voto, já são donos de campanhas milionárias.

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Entre os dois extremos, há algumas gradações: cada candidato da mesma chapa recebeu um valor diferente – possivelmente definido em função das chances de êxito nas urnas, calculadas pelos dirigentes locais e nacionais.

Vale frisar que todas as informações abaixo dizem respeito ao Fundo Eleitoral (Fundão), criado pelo Congresso Nacional para promover o financiamento público das campanhas. Os dados foram extraídos das prestações de contas parciais dos candidatos no site do TSE, na última quinta-feira (8), e podem mudar até o fim da campanha. É o retrato do momento.

Confira o nosso detalhamento da chapa de cada partido ou federação, por ordem alfabética:

Democracia Cristã: só Jesus na causa!

O minúsculo partido lançou uma chapa com só seis candidatos (de 11 possíveis), um com menos chances que o outro. Curiosamente, um deles (e apenas ele) chegou a receber uma módica quantia da direção estadual da sigla: o corretor de imóveis João Costela, com R$ 7,9 mil. Os outros cinco, nem isso.

 

Federação PSDB/Cidadania: Três com muito; Majeski com pouco

A ex-vereadora de Vitória Neuzinha de Oliveira (R$ 1,1 milhão), o ex-prefeito de Vila Velha e ex-deputado federal Max Filho (R$ 980 mil) e o presidente da Câmara da Serra Rodrigo Caldeira (R$ 940 mil) receberam, nesta ordem, os maiores rees da direção nacional. Quanto aos outros oito candidatos, três não viram um centavo do Fundo Eleitoral até agora. Já os outros cinco receberam de R$ 150 mil a R$ 380 mil.

O mais intrigante é que esse “pelotão de trás” inclui o deputado estadual Sergio Majeski. Apontado por muitos como um dos possíveis campeões de voto para a Câmara dos Deputados, ele até o momento só obteve R$ 292,5 mil do partido – e ainda reou R$ 10 mil da própria cota para um colega de chapa à míngua, Anderson Salvador. No Espírito Santo, o PSDB é presidido pelo deputado estadual Vandinho Leite, candidato à reeleição.

 

Federação Rede/Psol: uma vereadora com bem mais

A chapa tem 11 candidatos, sendo oito da Rede e três do Psol. Tirando um candidato que chegou depois (substituindo um renunciante), todos receberam rees que vão de R$ 42,5 mil a R$ 110 mil, com uma exceção importante: a vereadora da Serra Raphaela Moraes (Rede) recebeu R$ 332 mil da direção estadual da sua sigla, controlada por Audifax Barcelos, ex-prefeito da cidade e candidato a governador.

 

Federação Brasil da Esperança (PT/PCdoB/PV): toda a esperança em Helder

A federação tem chapa completa, com 11 candidatos (sete do PT, dois do PCdoB e dois do PV). Mas, na divisão do bolo, o que se destaca é como Helder Salomão, candidato à reeleição e principal aposta da chapa, praticamente monopoliza os recursos. Até aqui, o ex-prefeito de Cariacica recebeu R$ 1,5 milhão da direção nacional. Depois dele vem um fosso.

Geiza, do PCdoB, recebeu R$ 330 mil, enquanto a presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, tem R$ 300 mil. Quanto aos outros oito, cinco não receberam nada (incluindo o petista Perly Cipriano). Uma prova da discrepância é a prestação de contas da professora Ana Cláudia (PT): somando as doações de 10 pessoas físicas, ela tem menos de R$ 2 mil para fazer a campanha.

 

Patriota: dinheiro pingando devagar e Estéfane de boas

O partido até lançou chapa completa. Mas, até agora, dos 11 candidatos, só quatro receberam rees da nacional, que vão dos R$ 95 mil para Vânia Berger aos R$ 475 mil enviados para a vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane. Quanto aos outros sete, até agora nada, incluindo o deputado estadual e presidente da agremiação no Estado, Rafael Favatto. Alguns estão colocando dinheiro na própria campanha. O próprio Favatto já investiu R$ 120 mil na dele.

 

PDT: Sueli com bem mais que os demais

Chapa completa. Uma candidata recebeu R$ 50 mil e outros oito receberam exatamente a mesma quantia: R$ 100 mil da direção estadual ou da nacional. Parece muito equânime, não fosse por um detalhezinho e um detalhezão: o jornalista Philipe Lemos obteve R$ 150 mil da direção nacional do partido.

Já a ex-deputada federal e atual primeira-dama da Serra, Sueli Vidigal, foi abonada com R$ 600 mil da direção nacional, além de R$ 5,2 mil da direção do PDT da Serra.

 

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PL: Magno foi salomônico… ou não foi?

Na campanha para deputado federal, a equidade reina no partido dirigido por Magno Malta no Estado. Dos 11 membros da chapa completa, dez receberam rigorosamente os mesmos R$ 100 mil da direção nacional. Somente o vereador de Vila Velha Devacir Rabello ainda não recebeu um centavo do partido.

À primeira vista, na campanha para a Câmara, Magno fez como ensina o rei Salomão na Bíblia: repartiu por igual. Vou frisar: na campanha para a Câmara. Já na eleição majoritária, esse critério não foi observado.

Da direção nacional, junto à qual tem influência direta, Magno já recebeu R$ 2 milhões para custear sua campanha ao Senado. É 20 vezes mais que os R$ 100 mil reados até agora por Valdemar Costa Neto e companhia a Carlos Manato, o candidato do PL a governador do Estado.

Como se pode atestar por esta lista, há muitos candidatos a deputado federal com bem mais dinheiro do Fundão do que a campanha de Manato a governador. A mulher do ex-deputado, Soraya Manato, tem dez vezes mais que ele (ver PTB).

 

Podemos: três campanhas ricas e uma escada

O ex-secretário estadual de Segurança Coronel Ramalho, o vice-prefeito de Vila Velha Victor Linhalis e o ex-prefeito de Viana Gilson Daniel (presidente estadual da legenda): as três principais apostas do Podemos receberam R$ 1,4 milhão cada um da direção nacional.

Longe, bem longe deles, vem o segundo pelotão: com R$ 500 mil cada um, Jones Cavaglieri e Gedson Merizio iniciam a escadinha, seguidos por Bras Zagotto (R$ 400 mil), Tia Nilma Guêz (R$ 330 mil), Sabrina Leonel (R$ 300 mil), Letícia Peterli (R$ 200 mil), Andrea Souza (R$ 100 mil) e Marquinhos Assad (nada).

 

Progressistas (PP): Cinco medalhões e outra escada

Da Vitória, Evair de Melo, Neucimar Fraga e Norma Ayub (todos deputados com mandato que disputam a reeleição), mais o presidente estadual da sigla, Marcus Vicente, que tenta retornar à Câmara. Cada um dos cinco recebeu R$ 1,7 milhão da direção nacional.

Atrás vem o deputado estadual e empresário Marcos Garcia, com ree de R$ 1,2 milhão. E, depois, vem um fosso: os outros cinco candidatos, incluindo três mulheres, levaram de R$ 325 mil a R$ 500 mil cada um.

 

PSB: Foletto campeão disparado e outros quatro com muito

O partido do governador Renato Casagrande foi outro que deu somas maiores para os candidatos que os dirigentes consideram ter mais chances de sucesso nas urnas. Há um “campeão” disparado: o atual deputado Paulo Foletto recebeu R$ 2,5 milhões da direção nacional para bancar sua campanha à reeleição. No ranking geral de campanhas mais endinheiradas, ele só fica atrás de Lauriete (PSC).

Num segundo e bem provido pelotão, despontam outros quatro candidatos: a vice-governadora Jacqueline Moraes levou R$ 1,5 milhão da direção nacional. Já o comando estadual transferiu precisamente a mesma quantia (R$ 1 milhão) para os ex-deputados federais Ted Conti e Givaldo Vieira e para o deputado estadual Freitas.

Num terceiro pelotão, cinco candidatos (incluindo as outras três mulheres da chapa) receberam R$ 300 mil da direção nacional ou da estadual. Esta também deu R$ 100 mil para o deputado estadual Luciano Machado, lanterna da lista.

 

PSC: Lauriete abençoada; Renzo também não pode reclamar

Recordista nos quesitos campanha mais cara e maior ree do Fundão, a candidata à reeleição e cantora gospel Lauriete foi agraciada com R$ 2,6 milhões pela direção nacional do partido. Em segundo vem o deputado estadual Renzo Vasconcelos, com ree de metade desse valor (R$ 1,3 milhão), o que, convenhamos, também é muito dinheiro.

Aí vem a escada de quase sempre, aberta pelo ex-vereador de Vitória Wanderson Marinho (R$ 700 mil), seguido pelo ex-deputado estadual Jamir Malini (R$ 500 mil), Dr. Louzada (R$ 300 mil) e Soldado Hinte (R$ 200 mil). Os outros quatro membros da chapa, incluindo as outras três mulheres, receberam só R$ 100 mil cada um.

 

PTB: muita grana para Soraya e mais ainda para Assis

De plano, chama a atenção o fato de que o Tenente Assis recebeu até o momento mais dinheiro que a candidata à reeleição Soraya Manato. Com ree de R$ 1,5 milhão da direção nacional do partido, ele tem a campanha mais rica do partido. Na segunda posição, a mulher de Carlos Manato recebeu “só” R$ 1 milhão.

O terceiro, Torino Marques, vem bem atrás: a direção estadual transferiu R$ 250 mil para o deputado estadual. Outros seis candidatos receberam entre R$ 50 mil e R$ 163 mil do comando estadual, enquanto dois estão a ver navios.

 

Republicanos: Amaro com bem mais que os demais

Embora em menores quantidades, a divisão dos recursos entre os candidatos do partido emergente no Espírito Santo segue a mesma lógica “escadinha” de quase todos: mais dinheiro para ao puxador de votos e bem menos distribuído aos demais, em volumes variados, definidos em função das chances de triunfo atribuídas pelos dirigentes a cada um.

Recordista de votos para o cargo na eleição ada (2018) e em todos os tempos no Espírito Santo, o candidato à reeleição Amaro Neto recebeu “só” R$ 833,6 mil da direção nacional. A cifra não é tão grande se comparada às dos campeões de outras grandes siglas e dá a Amaro “só” a 25ª posição no ranking geral… Mas é bem maior que as readas pela nacional aos seus companheiros de chapa, a saber:

Messias Donato e Devanir Ferreira (R$ 300 mil cada um); Bruna Olly e Dr. Jorge Silva (R$ 267,6 mil cada um); Coronel Bombeiro Wagner (R$ 176,6 mil); Dr. Leonardo Lessa e Diego Libardi (R$ 133,3 mil cada um); e Geovana Quinta (R$ 100 mil).

 

Solidariedade: quem diria! Mariazinha…

O pequeníssimo partido lançou, sabe-se lá por quê, uma chapa sem a mínima chance, com só cinco candidatos a federal. Desses, só uma recebeu um ree, de R$ 35 mil, da direção nacional: a secretária de escritório Mariazinha.

 

União Brasil: Thiago Carreiro e Rigoni com bem mais

Somando todas as fontes de receita, o candidato à reeleição Felipe Rigoni é quem tem mais recursos de campanha (R$ 1,721 milhão), mas, desse total, “só” R$ 700 mil vieram da direção estadual do partido, presidido por ele mesmo no Espírito Santo. Mais de R$ 1 milhão corresponde a doações de pessoas físicas (incluindo empresários e economistas da escola liberal, seguida por Rigoni).

Na verdade, considerando apenas recursos do Fundão, quem recebeu até agora o maior ree foi o vice-prefeito da Serra, Thiago Carreiro, com R$ 1,185 milhão da cúpula nacional.

Nesse quesito, ele é separado dos demais por um abismo e mais uma escadaria decrescente: Maria Helena (R$ 600 mil), Dr. Gustavo Peixoto (R$ 500 mil), Patrícia Orletti (R$ 400 mil), Enfermeira Fernanda Gandini (R$ 325 mil), Cláudia Lemos (300 mil), Wesley Sathler (300 mil), Wanderley Moraes (R$ 250 mil), Helder Carnielli (R$ 100 mil) e Josué Batista (R$ 70 mil).

 

Partidos dos sem grana: alerta para o PSD de Guerino

Agir (três candidatos), Avante (10 candidatos), Novo (uma candidata), PRTB (chapa completa), PSD (cinco candidatos), Pros (um candidato) e PMB (seis candidatos).

Essas sete agremiações também lançaram chapa à Câmara Federal, mas nenhum dos seus candidatos até agora viu um centavo do Fundão. O Novo não o faz por opção: recusa-se a utilizar mecanismos de financiamento público de campanha. Os demais, possivelmente, porque não têm.

O alerta deve ser aceso no PSD, partido que abriga a candidatura de Guerino Zanon ao governo estadual. O partido de Gilberto Kassab na verdade é de médio porte e tem recursos do Fundão, porém até agora não mandou nada para suas campanhas no Espírito Santo. Mesmo a de Guerino até aqui não recebeu nem um centavo.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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