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Coluna Vitor Vogas

Lelo fica no MDB e não será candidato a nada

Decisão foi anunciada na tarde desta segunda-feira (4), num momento em que o partido vive dias de “terra arrasada”

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Lelo Coimbra. Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Aliado histórico do ex-governador Paulo Hartung, o ex-deputado federal Lelo Coimbra não mudou de partido. Ficou no MDB e decidiu não disputar as eleições deste ano. A decisão foi anunciada por ele nesta segunda-feira (4).

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Lelo presidiu o MDB no Espírito Santo por muitos anos. No ano ado, a senadora Rose de Freitas tornou-se a presidente da Comissão Executiva Provisória no Estado, após praticamente três anos em que o partido esteve mergulhado em uma guerra política e jurídica pelo comando local, travada entre o grupo de Lelo e o do ex-deputado federal Marcelino Fraga (expulso pela Executiva Nacional em março de 2021).

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Para as eleições deste ano, as perspectivas do MDB no Espírito Santo não são nada animadoras. Nas últimas semanas, marcadas pela janela partidária e pela temporada de filiação de pré-candidatos, o partido sofreu uma debandada de quadros importantes. Nos últimos dias, o clima interno era de “o último a sair apague a luz”.

Desolada, a ex-deputada Luzia Toledo, amiga íntima de Rose, trocou o MDB pelo Republicanos para tentar retornar à Assembleia Legislativa.

Guerino Zanon era o único prefeito do MDB em um município capixaba com mais de 100 mil habitantes. Renunciou à Prefeitura de Linhares e trocou o MDB pelo PSD, para poder se lançar na disputa a governador.

A porta de saída também foi atravessada pelo deputado estadual Hércules Silveira (que era o único remanescente de uma bancada que chegou a ter incríveis sete membros na Assembleia, durante parte do último governo Paulo Hartung).

Para piorar, enquanto sofria esse volume de baixas, o MDB não conseguiu filiar absolutamente nenhum político com densidade eleitoral significativa no Espírito Santo. Simplesmente nenhum.

Resumindo, nestes dias tão decisivos, o partido só perdeu: viu emedebistas importantes partirem para outra legenda e não filiou ninguém para compensar essas perdas.

Lelo era cotado como pré-candidato a deputado federal. A perspectiva de o MDB nem sequer conseguir registrar chapas proporcionais pode ter pesado em sua decisão de não se candidatar a nada neste ano. Mas há outro elemento mais importante. Se estivesse obstinado a ser candidato, Lelo poderia simplesmente ter trocado o MDB por outra sigla, como tantos fizeram.

Mas a prioridade estratégica de Lelo parece ser outra e pode ser depreendida da nota em que ele comunica a sua decisão: o ex-deputado fica no MDB, mas permanece “na trincheira para construir um projeto alternativo para o Governo do ES”.

Em outras palavras, Lelo indica que continuará travando, dentro do MDB, a luta política para levar o partido a não apoiar a provável candidatura do governador Renato Casagrande (PSB). Se depender de Rose, candidata à reeleição e aliada de Casagrande, é exatamente o que tende a fazer o MDB. A senadora trabalha para ser a candidata ao Senado na chapa majoritária liderada pelo governador, levando o partido a se coligar com o PSB.

Lelo, por sua vez, é aliado antigo e leal ao ex-governador Paulo Hartung. O núcleo de hartunguistas mais antigos (Guerino, César Colnago, José Carlos da Fonseca Júnior) está se concentrando no PSD. A hipótese de Lelo também migrar para o PSD para compor a chapa à Câmara Federal chegou a ser especulada.

Porém, guardando posição no MDB, Lelo cumpre, para si e em nome do grupo, um papel estratégico mais importante: o de continuar marcando posição e resistindo para impedir que o MDB seja entregue de bandeja nas mãos de Casagrande. E, na medida do possível, embicar o MDB, ou pelo menos setores do partido, na direção da candidatura de Guerino Zanon.

Vale lembrar que Lelo tem assento na Comissão Executiva Provisória Estadual do MDB. E seu histórico braço direito, Chico Donato, participa da Executiva Nacional (assim como o próprio Lelo, ambos como suplentes).

Do jeito que o MDB-ES está instável nos últimos anos, vai que ocorre nova virada de mesa e o grupo de Lelo volta ao topo do comando estadual…

Nesse caso, Hartung e companhia recuperariam o controle sobre um partido hoje decadente, mas ainda importante no contexto político-eleitoral do Estado.

É preciso prestar muita atenção para o prazo em que termina o mandato de Rose de Freitas à frente da Comissão Provisória.

Leia abaixo, na íntegra, a nota em que Lelo comunica a sua resolução:

Comunicado

Comunico aos capixabas que, fruto de uma profunda reflexão nos últimos três meses, decidi não disputar eleição este ano.

Com a inviabilização para montagem de chapas no MDB, tanto para o Governo, quanto para os cargos no Legislativo Estadual e Federal, não me faltaram bons convites de outras legendas. Foram sete legendas no total. Contudo, predominou minha decisão, amadurecida, de não participar desse pleito.

Permaneço no MDB e na trincheira para construir um projeto alternativo para o Governo do ES.

Vitória, 04 de Abril de 2022

Lelo Coimbra

Aposta sobre Paulo Hartung

A decisão de Lelo reforça a aposta deste colunista (só aposta, ok?) de que Paulo Hartung, sem partido desde o fim de 2018, também não se filiou a nenhuma sigla e, neste caso, até por impedimento legal, não será candidato a nada nas eleições 2022.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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