Coluna Vitor Vogas
Karla Coser substitui Camila em julgamento de processo do Psol contra Gilvan
Ela foi escolhida para compor a Corregedoria da Câmara de Vitória na análise de representação do Psol por conta do episódio em que Gilvan mandou Camila “calar a boca”. Escolha da substituta se deu em sessão cheia de momentos de retorno à 5ª série

Karla Coser e Camila Valadão foram eleitas vereadoras de Vitória. Foto: Reprodução/Instagram
A vereadora Karla Coser (PT) vai participar do julgamento de um processo por quebra de decoro parlamentar movido pelo Psol contra o vereador Gilvan da Federal (PL) na Corregedoria da Câmara de Vitória. O processo, no qual o partido de Camila Valadão pede a suspensão das prerrogativas regimentais de Gilvan, foi movido por conta do episódio em que o vereador mandou a colega literalmente “calar a boca”, dentro do plenário, no dia 1º de dezembro do ano ado, além de tê-la chamado de “assassina de criança” e “satanista” (mais de 15 vezes).
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Camila é um dos cinco membros efetivos da Corregedoria. Mas, como parte diretamente interessada nesse processo, declarou-se impedida de participar do julgamento no órgão – responsável por analisar denúncias e eventuais punições em face dos próprios vereadores. Por isso, exclusivamente nesse processo, ela será substituída por Karla Coser. Esse foi o resultado do confuso e tumultuado procedimento de escolha da substituta de Camila no órgão. Mas, para chegar lá, caramba… o plenário da Câmara viveu momentos de 5ª série na manhã desta terça-feira (10).
Sabe aquela situação em que o sargento diz à tropa perfilada que quem quer fazer determinada coisa deve dar um o à frente, e então, diante do comando, todos dão ao mesmo tempo um o atrás? Foi mais ou menos o que ocorreu. Antes de se chegar ao nome de Karla, nada menos que cinco vereadores recusaram a “ingrata missão”, alegando, verbalmente, que são pré-candidatos a deputado. Nesta ordem: Denninho Silva (União Brasil), Aloísio Varejão (PSB), Armandinho Fontoura (Podemos), Leandro Piquet (Republicanos) e Dalto Neves (PDT).
A justificativa expressa foi a de que, como estarão em campanha, não terão tempo para se dedicar às diligências e reuniões relativas a esse processo na Corregedoria. Mas há, é óbvio, uma questão política de fundo: além de serem aliados de Gilvan, esses vereadores sabem que o teor do processo é muito polêmico e, qualquer que seja o seu desfecho, só pode lhes trazer ônus político num momento especialmente sensível para a imagem deles: em pleno período de campanha. Agora, mais que nunca, preferem evitar ao máximo envolver-se pessoalmente na contenda entre Gilvan e Camila.
A Corregedoria da Câmara é formada por cinco titulares: o presidente Anderson Goggi (PP), Duda Brasil (União Brasil), André Brandino (PSC), Maurício Leite (Cidadania) e Camila Valadão – que declarou o próprio impedimento neste caso.
Como explicou (exaustivamente) aos colegas o presidente da Câmara, Davi Esmael (PSD), que conduzia a sessão desta terça-feira, o substituto de Camila na Corregedoria, para participar especificamente da análise desse processo “Psol versus Gilvan”, deveria ser escolhido com base em um precedente regimental criado no ano ado, a partir de um caso omisso no Regimento Interno: em semelhantes casos, compete à presidência sortear o substituto e submeter o nome sorteado à aprovação do plenário.
Assim, diante de protestos e muita incompreensão dos colegas, lá foi a Mesa Diretora proceder ao sorteio do nome. Diante de todos, o 1º secretário da Mesa, Dalto Neves, colocou em uma urna de madeira – isso mesmo, à moda antiga, como num grêmio estudantil – papeizinhos com os nomes de todos os vereadores, exceto o de Davi Esmael (como presidente da Casa), o de Gilvan (alvo da representação), o de Camila (auto-impedida) e os dos outros quatro membros titulares da Corregedoria. Restaram oito.
De imediato veio o primeiro protesto, por parte de Luiz Emanuel Zouain (Cidadania). Ele alegou que um vereador não poderia ser obrigado a exercer função em um órgão da Câmara, por sorteio, contra a própria vontade. “O vereador será designado desde que aceite, não é, presidente?”, perguntou a Davi. Este respondeu que não, que não havia “aceitação”, mas que o plenário teria que aprovar por votação nominal o nome sorteado para recompor o quorum da Corregedoria nesse processo em particular.
Recusa atrás de recusa
Dalto, então, tirou o primeiro papelzinho. E o nome sorteado foi o de Denninho Silva. O vereador, porém, nem se encontrava em plenário. Davi lhe deu uma chance: perguntou a um assessor de Denninho, presente no plenário, se ele gostaria de contatar o vereador. Armandinho ainda brincou: “Notícia boa nunca vem no sorteio…”
Chamado às pressas por sua assessoria e avisado de que fora sorteado, Denninho entrou no plenário correndo, esbaforido, com cara de perplexidade e de quem não estava entendendo nada… O presidente da Corregedoria, Anderson Goggi, explicou-lhe então que ele deveria atuar apenas em um dos processos em tramitação no órgão.
“Qual processo que é?”, quis saber Denninho.
“É o do Gilvan”, respondeu-lhe Davi.
“Nossa Senhora!”, reagiu Denninho, provocando risadas gerais.
Denninho, então, esquivou-se, pedindo aos pares para rejeitarem a sua designação: “Todos sabem da minha caminhada este ano. Não preciso falar para vocês que sou pré-candidato a deputado estadual…”
Luiz Emanuel retorquiu: “Vários aqui são”.
“Ok, Luiz. Mas quem puder votar contra… Já aviso antecipadamente que não vou poder estar nessa Corregedoria. […] Preciso de um carinho de vocês.”
Atendendo ao apelo de Denninho, a maioria dos vereadores votou contra a designação.
Luiz Emanuel advertiu: “Esse precedente tem que ser respeitado para todos”. E, por antecipação, declarou que, se fosse sorteado, não aceitaria o encargo: “Se meu nome aparecer e for sorteado, eu vou contestá-lo e não vou participar. Eu sou algum idiota?” – questionou, ante a insistência de Davi Esmael de que aquele era o rito regimental e burocrático que precisava ser seguido para a definição do substituto de Camila.
Outros, como Armandinho, seguiram o exemplo de Luiz Emanuel: “Se meu nome for aprovado, não assumo a função”.
A sessão seguiu aos trancos e barrancos, sob grande confusão e algumas broncas de Davi Esmael nos colegas, que mais lembraram um professor do ensino básico a oestar seus alunos. A dada altura, ele chegou de fato a reclamar: “Isso está parecendo ensino fundamental!” Estava mesmo.
Escolinha do Professor Davi
Seguiu-se novo sorteio, realizado por Dalto Neves. Foi a vez de Aloísio Varejão (PSB) ser agraciado pela urna. “Também estou pré-candidato a deputado. Não vou ter tempo. Também não gostaria de participar dessa Corregedoria”, declinou, tendo o nome também recusado pelo voto da maioria dos colegas.
Como o tumulto não cessasse, Davi ameaçou mais de uma vez dar a sessão por encerrada, continuou puxando a orelha dos colegas (“Vocês têm que aprender a usar o microfone!”), e sobrou até para o líder do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos):
“Vereador Duda, ou põe ordem na sua base ou a sessão vai acabar”, alertou o presidente, lembrando que havia projeto importante da prefeitura na pauta de votação.
E, mais uma vez como um maestro, lamentou, literalmente, o “mau comportamento de vereadores no ambiente do plenário”.
Enquanto isso, os sorteios se sucederam, acompanhados das manifestações de recusa e nomes derrubados pelo plenário: Armandinho, Leandro Piquet e o próprio Dalto Neves: “Peço aos colegas que votem não, por favor”.
Até que, finalmente, saiu o nome de Karla Coser: “Sem objeções”, disse ela. Por sete votos a três, o nome da petista foi aceito pelo plenário.
Os vereadores André Brandino e Armandinho ainda justificaram o voto contra Karla para o lugar de Camila. De acordo com o segundo, como Karla também é autora de processos na Corregedoria contra Gilvan, seria tão suspeita quanto Camila para participar do julgamento no órgão do processo movido pelo partido da vereadora psolista. Armandinho queixou-se, ainda, do “procedimento arcaico” que acabara de ser seguido em plenário.
Karla subiu à tribuna para se defender. Lembrou que vários colegas antes dela simplesmente não aceitaram a função, logo como poderiam contestá-la por ter aceitado?
“Estou muito tranquila de participar. Isso não foi nenhum tipo de jogo político, até porque vocês são muito mais próximos do posicionamento político do Gilvan do que do meu, inclusive os que não aceitaram estar na Corregedoria. E eu me comprometo com a cidade de Vitória, com o vereador Gilvan e com qualquer pessoa desta cidade a ser sempre ética. Acredito que posso ocupar esse espaço como qualquer um de vocês, na minha opinião, deveria ocupar também.”
Conclusão 1
Em meio a risadas, brincadeiras e um tumulto sem par, a falta de seriedade com que tema tão sério foi tratado dá a exata medida do atual estado de coisas na Câmara Municipal de Vitória. E Gilvan nem estava presente à sessão nesta terça-feira…
Conclusão 2
Se os vereadores não conseguem se entender, em plenário, nem sobre um procedimento tão simples – a escolha de quem vai substituir uma colega em UM processo na Corregedoria –, é sinal de que as coisas por ali andam mesmo complicadas ultimamente…
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