Coluna Vitor Vogas
Guerino Zanon: “Entre Lula e Bolsonaro, cravarei Bolsonaro”
Na segunda parte de nossa entrevista, ex-prefeito de Linhares conta que ele e outros cinco oponentes de Casagrande devem se unir contra governador no 2º turno, descarta composição com Contarato e afirma que trabalha para atrair partidos hoje inseridos na coligação governista ou mais próximos do governador (PP, PSDB, MDB)

Guerino Zanon quer se tornar governador do ES
Definindo-se como um político conservador de centro-direita, o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon, pré-candidato ao governo do Estado pelo PSD, afirma que não votará de jeito nenhum em Lula (PT) na eleição presidencial e que, se a disputa ao Palácio do Planalto ficar mesmo entre o petista e Jair Bolsonaro, ele não hesitará em votar no atual presidente.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
“Eu sei quem eu não vou apoiar e sei em quem eu não vou votar. Eu não voto no Lula. Isso é bem claro. Não sei se vou ganhar ou perder votos com isso, mas desse debate e dessa posição eu não vou fugir. […] Eu sempre escolho, se tiver dois, aquele que entendo que possa trabalhar melhor as políticas para o país. Então, se ficar Lula e Bolsonaro, com certeza cravarei Bolsonaro.”
A declaração foi dada por Guerino na entrevista que nos concedeu nesta quinta-feira (2), cuja segunda parte pode ser lida na íntegra abaixo (a primeira você lê aqui).
O ex-prefeito de Linhares revela já ter conversado com todos os outros postulantes ao cargo de governador, exceto o senador Fabiano Contarato, pré-candidato do PT. Na verdade, ele até já dialogou com representantes do PT, mas foi justamente para dizer que uma aliança entre eles está “fora de cogitação”. A ideia de uma composição entre Contarato e Guerino chegou a ser cogitada pela presidente estadual do PT, Jackeline Rocha.
“Falei para o meu amigo João Coser outro dia: ‘Coser, vamos estar em palanques diferentes, porque no candidato de vocês a presidente eu não voto’”, conta Guerino.
Se a porta está fechada para uma composição com Contarato e com o governador Renato Casagrande (PSB), o mesmo não vale para outros cinco concorrentes ao governo. Ao contrário: segundo Guerino, ele tem conversas abertas com Carlos Manato (PL), Audifax Barcelos (Rede), Felipe Rigoni (União Brasil), Erick Musso (Republicanos) e Aridelmo Teixeira (Novo). E é possível uma aliança com – ou até entre – todos eles, sobretudo numa perspectiva de segundo turno: “Não tenho nenhuma dúvida de que todos eles estarão juntos no segundo turno”.
Na avaliação do pré-candidato, desse grupo de seis desafiantes, quem quer que avance para o segundo turno – possivelmente, contra Casagrande – deve ter o apoio dos demais, numa união de forças contra o atual ocupante do cargo. O dele pelo menos está garantido: “Da minha parte, qualquer um que for, eu estarei lá junto”.
Desde o início do ano ado, Guerino tem conversado, por exemplo, com Manato e com Audifax. Mas suas possibilidades de alianças vão além de outros oponentes do atual governo.
Guerino já conta com o apoio dos nanicos Democracia Cristã (DC) e Brasil 35 (antigo Partido da Mulher Brasileira). E, de modo até certo ponto surpreendente, está apostando na atração de partidos de médio para grande porte hoje mais próximos da coligação de Casagrande ou até já inseridos nessa coligação governista, como o MDB, o PSDB e o PP. Ele já tem feito investidas para puxá-los da coalizão de Casagrande:
“Há partidos que sinalizam para um lado ou outro, mas ninguém fechou as portas para as conversas. Todos estão abertos. E qualquer portinha que estou achando aberta, eu estou entrando para conversar.”
A aposta de Guerino é na impossibilidade de Casagrande contemplar os pleitos de todos os seus parceiros e na inevitável insatisfação que recairá sobre quem acabar preterido. Exemplo prático: MDB, PSDB e PP querem ter o candidato ao Senado apoiado pelo governador (e ainda tem o Podemos, com Ramalho), mas provavelmente só um deles terá esse “privilégio”. Quem não for agraciado pode procurar compor com outro candidato a governador.
A senadora Rose de Freitas, pré-candidata à reeleição, já deu uma deixa com relação a isso: disse à coluna que, se Casagrande não acreditar nela, ela pode “ir pensar na vida”. É nisso que Guerino aposta. Ele diz já ter conversado muito com Rose (que é presidente estadual do MDB), com o deputado estadual Vandinho Leite (presidente do PSDB-ES) e com deputados do PP.
“Eles são afirmativos, falando que o compromisso primeiro deles, até o momento, é com o governador Renato Casagrande, nunca negaram isso, mas colocaram que eles têm condições a serem cumpridas. Se não forem cumpridas, estão abertos a avançar com outras conversas.”
Mas o próprio partido de Guerino já não tem pré-candidato ao Senado? Também recém-filiado ao PSD, o ex-vice-governador César Colnago tem dito, desde o início de maio, que pretende concorrer a esse cargo. Porém, de acordo com Guerino, Colnago não participará da eleição majoritária, liberando a vaga de candidato a senador para o PSD tentar atrair aliados. Em vez disso, o ex-vice-governador poderá concorrer a deputado estadual ou federal (o que Colnago já declarou mais de uma vez que não fará):
“O César entendeu perfeitamente que, numa eleição majoritária, os três cargos (Senado, governador e vice-governador) precisam ser distribuídos em três partidos diferentes. Ele compreendeu perfeitamente isso e tem nos ajudado nessa construção.”
Colnago não respondeu a nossas tentativas de contato. Ele foi substituído na presidência estadual do PSD por outro histórico aliado do ex-governador Paulo Hartung: Neivaldo Bragato.
Quanto ao filho mais velho de Guerino, o empresário Fausto Zanon, este continua como vice-presidente estadual do PSD, mas não será candidato a nada, segundo o pai.
Já no que diz respeito ao netinho de Guerino, o pequeno Leonardo – figurinha assídua em suas redes sociais –, o ex-prefeito de Linhares se ri: “Hahahaha! Será prefeito de Linhares!”
Abaixo, a segunda parte completa da nossa entrevista:
Nesta sua primeira fase da pré-campanha, no início de maio o senhor apareceu ao lado do senador Marcos do Val (Podemos) e agora, no fim do mês, ao lado de Evair de Melo (PP) em ato de campanha. São políticos associados ao campo do bolsonarismo, principalmente Evair. O senhor também se identifica com esse campo e se posiciona nele?
Eu sou um político de centro. Sempre fui. E conservador. Se me pedirem uma definição para isso, “o que é ser conservador?”, não é difícil responder. Vou usar um termo do Edmund Burke [considerado o pai do conservadorismo moderno], lá atrás: conservador é aquele que conserva o que de bom encontrou e, a partir dali, precisa mudar? Se precisa, vamos avançar. Então, podem me classificar como um conservador? Podem. Com todo o prazer. Eu sou um conservador. Sou de centro? Sou. Do centro para a direita? Sou.
Então, em termos ideológicos, o senhor se define como um homem conservador de centro-direita. É isso?
Meu campo de atuação é do centro para a direita. Sempre foi. Mas vamos lá, esse negócio de direita e esquerda é uma definição traçada lá na Revolução sa: quem se sentou à direita do rei*, fazendo discurso, era de direita, quem se sentou à esquerda do rei era de esquerda. O que eu quero saber e entender é o seguinte: quais são as boas políticas públicas, sejam de direita ou de esquerda, com as classificações que dão, que são as melhores neste país afora para a gente copiar e melhorar.
E quem o senhor vai apoiar na eleição a presidente da República?
Eu sei quem eu não vou apoiar e sei em quem eu não vou votar. Eu não voto no Lula. Isso é bem claro. Não sei se vou ganhar ou perder votos com isso, mas desse debate e dessa posição eu não vou fugir. Eu não voto num candidato chamado Luiz Inácio Lula da Silva.
Numa eleição que se vislumbra tão polarizada entre esse candidato e o atual presidente, podemos deduzir que sua tendência de voto será para Bolsonaro, a se manter essa disputa praticamente resumida aos dois?
Eu voto desde que completei 18 anos. Na época só podia aos 18. E nunca anulei ou votei em branco. Eu sempre escolho, se tiver dois, aquele que entendo que possa trabalhar melhor as políticas para o país. Então, se ficar Lula e Bolsonaro, com certeza cravarei Bolsonaro.
Com quais outros pré-candidatos a governador o senhor tem conversado?
Com todos, exceto Contarato.
E o atual governador, suponho…
Não. Antes do processo, eu fui convidado pelo governador para conversar. Como eu disse: conversei com todos, exceto o Contarato. Não é por nada não. É que nunca me encontrei com ele. Mas fui convidado a conversar com a direção do partido dele [o PT] e fui. Graças a Deus, nestes mais de 20 anos de vida pública, não tenho aresta com ninguém. Sempre deixei as portas abertas, eles também para mim. É claro que com alguns há diferenças. Falei para o meu amigo João Coser outro dia: Coser, vamos estar em palanques diferentes, porque no candidato de vocês a presidente eu não voto.
Nenhuma chance, então, de composição entre o senhor e o Contarato, até por coerência com esse seu posicionamento refratário ao Lula? Estou lhe perguntando isso porque a presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, disse que tentaria compor com o senhor…
Não, nenhuma chance. Eu conversei e converso bem com eles. Agora, participar de uma composição eleitoral para governador e para presidente da República, é fora de cogitação. Como também com o atual governador.
E, entre os outros pré-candidatos com quem o senhor conversou, com qual ou quais deles é possível uma aliança?
Com Manato, com Felipe Rigoni, com Erick Musso, com Audifax e com o meu amigo Aridelmo.
O senhor vê possibilidade de união de forças com todos eles?
Quero crer que todos vão disputar as eleições. E que vá para o segundo turno aquele que tiver a preferência do eleitorado capixaba. Mas também não tenho nenhuma dúvida de que todos eles estarão juntos no segundo turno.
Então quando o senhor fala em possíveis alianças, hoje isso está mais direcionado para o segundo turno?
Exatamente.
Desse grupo de seis, incluindo o senhor, quem quer que seja o candidato que avance ao segundo turno, possivelmente contra o atual governador, terá o apoio dos demais? A conversa é nesse sentido?
O meu terá. Vou falar por mim.
Audifax não está excluído desse rol, mesmo com a federação da Rede com o Psol?
Não, não, não. Com Audifax eu converso desde o início de 2021. Com ele e com Manato. Então falo por mim: vou trabalhar para ter a preferência de ir para o segundo turno. Mas volto a dizer: da minha parte, qualquer um que for, eu estarei lá junto.
Já no primeiro turno, prefeito, há alguma possibilidade de o senhor ser vice de algum deles? Ou, ao contrário, de algum deles ser seu vice?
Vou falar de novo por mim: renunciei ao mandato em 31 de março e me filiei ao PSD para ser candidato a governador.
E algum deles pode ser a seu vice, então?
Não posso falar por eles. Desculpe-me. Posso confirmar que todos nós conversamos muito.
Eleição proporcional: o PSD terá ou não terá chapa de deputados estaduais?
Com certeza! Temos 31 candidatos. Não só o PSD como o DC [Democracia Cristã], que está acordado na coligação conosco, com 31 candidatos, e o Brasil 35, antigo Partido da Mulher Brasileira. E estamos trabalhando para nos coligarmos com outros partidos. Isso já está acertado.
Então, na eleição ao governo, o PSD já não está sozinho? Já conta com essas outras duas siglas?
Temos conversado pouco [com a imprensa], mas agido bastante.
Voltando à proporcional: e chapa de deputados federais? O PSD terá?
Temos das chapas para federais, no P35 e no meu partido, o PSD. O DC vai apenas com a chapa de estaduais.
Quem será o puxador de votos do seu partido?
Não falo em puxador de votos.
Na presidência estadual do PSD, o César Colnago será substituído?
O presidente do partido é o Neivaldo Bragato, desde semana ada. O César tem possibilidade de sair como candidato a deputado. Tem possibilidade. Não estou falando que está acertado isso, não. E, se existe a possibilidade, não é bom ele estar na presidência do partido. Mas o César tem nos ajudado muito e será muito importante em toda essa caminhada.
Desculpe, por que o César foi substituído?
Porque ele tem a possibilidade de disputar a eleição proporcional, ou a deputado federal ou a estadual. E aí a direção entendeu que era melhor ele deixar a presidência.
Hoje ele está tendendo mais a qual disputa?
Deixa César se posicionar primeiro, para ele falar.
Mas disputa majoritária para ele está excluída? Candidatura ao Senado não é mais uma opção?
O César entendeu perfeitamente que, numa eleição majoritária, os três cargos (Senado, governador e vice-governador) precisam ser distribuídos em três partidos diferentes. Ele compreendeu perfeitamente isso e tem nos ajudado nessa construção.
Eu ia lhe perguntar se César era seu candidato a senador, mas risquei da lista… Como não é, o senhor tem preferência por alguém?
Não, preferência não. Nós temos que olhar o cenário que está colocado aí. Temos partidos ainda livres aí, sem bater martelo. Partidos que sinalizam para um lado ou outro, mas ninguém fechou as portas para as conversas. E qualquer portinha que estou achando aberta, eu estou entrando para conversar.
Por exemplo?
Nós temos o PSDB que tem uma indefinição ainda, até porque ainda está tentando entender na conjuntura nacional. PSDB e Cidadania na federação. Tem o MDB conversando. Tem até o União Brasil conversando com esse grupo. Tem o PSD do Kassab, o meu partido, conversando com esse grupo. Então nada está fechado. O PP é outro partido. O PP ainda não anunciou: “Estamos com o pré-candidato tal”. Eles falaram: “O governador tem um compromisso com nós” [sic].
Aqui no Espírito Santo? O senhor acredita que o PP pode se desligar do bloco governista em torno de Casagrande e ficar “solto” no mercado?
Não vou dizer que eles possam ficar soltos. Mas o que eles estão falando para a sociedade, e todos eles falam a mesma linguagem, é que o governador tem compromisso com eles. Então, para a coligação ser efetivada, têm que ser cumpridos os compromissos. Vamos aguardar.
Deixe-me ver se entendi corretamente o seu raciocínio. Na pré-coligação construída em torno de Casagrande, tem “muita gente para poucas vagas”, isto é, muitos partidos pleiteando a mesma vaga, principalmente de candidato ao Senado, numa aliança majoritária com ele: o PP de Marcus Vicente, o PSDB de Ricardo Ferraço, o MDB de Rose de Freitas. Na sua avaliação, fatalmente um ou dois desses partidos vão “espirrar” e, na hora das definições, ficarão descontentes por não terem sido contemplados. Nesse caso, esse espólio pode vir para a sua coligação?
Eu diria que, de todos os partidos, só tem um que não terá vontade própria da condução local: o PT. Eles estão sendo bem claros: o importante para eles é a política nacional. Os outros estão todos abertos a conversas.
Incluindo o MDB, o PSDB e até o PP. É isso?
Todos. Todos estão com portas abertos. E eu tenho entrado por elas. Tenho conversado.
O senhor já falou, por exemplo, com Rose (MDB), Vandinho Leite (PSDB), Ricardo Ferraço (PSDB), Marcos Delmaestro (PP)?
Já conversei com Vandinho. Já conversei muito com Rose lá atrás. Já conversei com os deputados do PP. Conversei com Marcus Vicente, Da Vitória, Theodorico Ferraço e Evair. Eles são afirmativos, falando que o compromisso primeiro deles, até o momento, é com o governador Renato Casagrande, nunca negaram isso, mas colocaram que eles têm condições a serem cumpridas. Se não forem cumpridas, estão abertos a avançar com outras conversas.
Seu filho Fausto será candidato a deputado?
Não.
Ele continua como vice-presidente do PSD?
Sim. Ele sempre me ajudou. Desde a primeira eleição, ele ainda era novinho, ele já estava lá nos bairros de Linhares pedindo votos para o pai dele, e continua fazendo isso até hoje.
E quanto a seu neto, Leozinho, garotinho assíduo em suas redes sociais? Entrará para a política (risos)?
Hahahaha! Leozinho será prefeito de Linhares! A gente sai para ear de bicicleta, e digo a ele para já ir pedindo votos às pessoas.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
