Coluna Vitor Vogas
Guerino recebeu 320 vezes menos dinheiro do partido que Kalil para campanha
Candidato a governador pelo PSD praticamente não recebeu dinheiro do próprio partido para campanha, enquanto os outros 9 candidatos a governador da sigla obtiveram milhões

Guerino Zanon em atividade de campanha. Foto: Assessoria do candidato
Dois estados vizinhos. Dois candidatos a governador pelo mesmo partido, o PSD. Um já recebeu da direção partidária a incrível soma de R$ 16 milhões; o outro, a ridícula quantia de R$ 50 mil. O abonado é o ex-prefeito de Belo Horizonte Kalil, que tem chances de chegar ao 2º turno contra o atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); o desafortunado é o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon, um dos desafiantes de Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo.
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Os números eram estes até a manhã desta sexta-feira (23), quando a coluna fez o levantamento, com base nas prestações de contas dos candidatos ao TSE. A pouco mais de uma semana do 1º turno, o candidato do PSD ao Governo de Minas Gerais recebeu dos dirigentes do partido 320 vezes mais dinheiro do Fundo Eleitoral do que Guerino Zanon.
E essa disparidade não se verifica somente na comparação com Kalil, candidato que está lá na extremidade oposta. Nestas eleições gerais, o Partido Social Democrático (PSD), presidido nacionalmente pelo ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Gilberto Kassab, lançou candidatos a governador em 10 unidades federativas, nas cinco regiões do país.
Guerino é, de muito longe, o que recebeu menos recursos do partido para financiamento de campanha. O penúltimo da lista, Paulo Octávio Po, candidato ao Governo do Distrito Federal, já obteve R$ 800 mil da Direção Distrital do PSD. Os outros oito receberam milhões.
As conclusões do levantamento expõem de maneira inequívoca uma das grandes dificuldades da campanha de Guerino: basicamente, ele está sem dinheiro. A direção nacional parece tê-lo abandonado à própria sorte. E, a julgar pelo quadro financeiro, talvez outros já tivessem desistido da campanha a esta altura.
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A coluna já havia revelado a absoluta escassez de recursos da direção do PSD para seus candidatos a deputado federal no Espírito Santo. A situação se repete com relação a Guerino. Aparentemente, o Espírito Santo não existe nesta eleição para a Direção Nacional do PSD – ou, pelo menos, para Kassab.
Para cobrir as despesas e levar até o fim uma campanha que ganhou um quê de heroica, Guerino está precisando botar dinheiro do próprio bolso. Até agora, já investiu R$ 292 mil na própria campanha, em oito parcelas (a legislação permite o autofinanciamento, respeitando-se certos limites). É mais que os R$ 225 mil investidos na própria campanha por Aridelmo (Novo).
Também para efeito comparativo, o Psol, conhecido pelas campanhas modestas, já investiu R$ 297,5 mil na sua candidatura majoritária no Espírito Santo: a de Gilberto Campos com Ella Machado ao Senado.
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Não é por falta de grana
À parte o “auto-investimento”, Guerino só recebeu R$ 50 mil do Fundo Eleitoral, em uma só transferência, feita no já distante dia 6 de setembro. E atenção: o ree foi feito pela Direção Estadual do PSD, presidido no Espírito Santo por Neivaldo Bragato. Diretamente da Direção Nacional, Guerino até agora não recebeu um centavo.
E não é por falta de recursos para financiamento de campanha.
Com 35 deputados federais eleitos no país em 2018, número que saltou para 48 após a última janela partidária, o PSD é uma legenda de grande porte. Elegeu e continua tendo a 4ª maior bancada da Câmara Federal. Por conseguinte, tem direito a uma cota respeitável na divisão dos bilhões do Fundo Eleitoral (mecanismo criado pelo Congresso Nacional para garantir o financiamento público dos candidatos, após o STF proibir as doações empresariais que, até 2016, infestavam e corrompiam as eleições).
No entanto, quem define os critérios da partilha dos recursos entre os candidatos de cada partido são os respectivos caciques (no caso do PSD, repita-se, Kassab). E, pragmaticamente, os dirigentes costumam apostar, isto é, pôr mais dinheiro nos cavalos que têm mais chances de vencer seus páreos. Pelo jeito Kassab deu a legenda, mas não botou muita fé nas chances de crescimento eleitoral de Guerino, deixando-o à míngua.
A coligação de Guerino é humilíssima: na prática, só tem o PSD. As outras duas siglas são o DC e o PMB, que nada somam em termos de recursos e tempo de TV. Já na largada da campanha, o candidato estava quase isolado eleitoralmente, o que pode ter contribuído para a Direção Nacional decidir não investir na campanha. É uma possível explicação.
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Outra explicação é que Guerino tem se declarado “cristão e conservador”, mas, no PSD, é “cristão novo”. Entrou no partido no fim de março, após décadas no MDB, no limite do prazo para filiações de pré-candidatos. Por essa época, esteve uma vez em São Paulo com José Carlos da Fonseca Junior, para visitar Kassab e se apresentar a ele. Foi tudo feito meio no afogadilho.
Minas é maior, mas… não 320 vezes!
Pode-se argumentar que não se pode estabelecer uma comparação direta entre Minas Gerais (o 2º maior colégio eleitoral do país) e o Espírito Santo. É verdade. Mesmo assim, vou repetir o número: 320 vezes mais recursos do Fundão para Kalil do que para Guerino. A matemática pura e simples não explica tal desproporção.
Minas Gerais não tem 320 mais eleitores que o Espírito Santo. Precisamente, tem 5,5 vezes mais.
No estado vizinho, o limite de gastos de uma campanha a governador no 1º turno, estabelecido pelo TSE, é de R$ 17,7 milhões. Com seus R$ 16 milhões, Kalil já está beirando o teto.
O limite no Espírito Santo é de R$ 7,1 milhões. Pela regra das proporções, a campanha de Guerino já poderia estar beirando esse teto se o partido a tivesse abraçado como fez com a de Kalil, em vez de ficar na penúria dos R$ 50 mil.
Além disso, se a questão se resumisse ao tamanho do estado, como explicar que os candidatos do PSD em unidades como Acre, Alagoas, Amapá, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, com população menor que a capixaba, já tenham sido contemplados com milhões?
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Abaixo, veja a lista completa dos recursos reados pelo PSD aos seus 10 candidatos a governador até a manhã desta sexta-feira (somando rees da Direção Nacional e das estaduais):
1º. Kalil (MG): R$ 16 milhões
2º. Marquinhos Trad (MS): R$ 6,3 milhões
3º. Irajá (TO) e Edivaldo (MA): R$ 4,7 milhões
5º. Rui Palmeira (AL) e Jaime Nunes (AP): R$ 4,1 milhões
7º. Ratinho Junior (PR): R$ 4 milhões
8º. Petecão (AC): R$ 3 milhões
9º. Paulo Octavio Po (DF): R$ 800 mil
10º. Guerino Zanon: R$ 50 mil
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