Coluna Vitor Vogas
Entrevista – Aridelmo Teixeira: “Teremos a menor carga tributária do Brasil”
Desfiando críticas ao governo Casagrande, pré-candidato a governador pelo Novo explica suas motivações

Aridelmo Teixeira. Foto: acervo pessoal
Nosso entrevistado deste domingo (17) é o professor, fundador e sócio proprietário da Fucape Business School, Aridelmo Teixeira. Depois de concorrer sem sucesso ao governo do Estado em 2018 pelo PTB, Aridelmo se lança novamente ao Palácio Anchieta, desta vez pelo Novo, em uma candidatura que diz ser “irreversível”.
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Na entrevista abaixo, ele explica suas motivações, as diferenças para aquele candidato de quatro anos atrás, os princípios e desafios do Novo e a estratégia do partido para se tornar mais popular e melhorar seu desempenho eleitoral (até hoje tímido) no Espírito Santo.
Aridelmo também avalia o governo Casagrande e diz o que fará de diferente se chegar ao cargo de governador, com destaque para duas promessas relacionadas à qualidade do ensino médio e à carga tributária estadual:
“O que o povo pode anotar para me cobrar? Nós vamos mudar a curva do aprendizado no ensino médio estadual. […] Outro compromisso nosso é que teremos a menor carga tributária do Brasil.”
Confira abaixo a entrevista completa do pré-candidato ao governo pelo Novo.
Por que o senhor é pré-candidato ao governo do Estado em 2022?
Sou pré-candidato porque penso que o Espírito Santo e o capixaba merecem muito mais. Nós temos as condições básicas para sermos um estado muito mais desenvolvido, sem extrema pobreza, com educação pública de qualidade, com mais segurança, com um ambiente de negócios extremamente favorável à geração de empregos e renda. E entendo que tenho as condições e a necessidade de fazer isso para o povo capixaba.
Essa é a segunda vez seguida que o senhor se lança ao Palácio Anchieta. Em 2018, foi candidato a governador pelo PTB. Qual é a principal diferença daquele candidato de quatro anos atrás para o Aridelmo que se candidata agora pelo Novo?
O Aridelmo de hoje é muito mais experiente. São quatro anos de trabalho. Naquela época eu participava exclusiva e ativamente da iniciativa privada. Desenvolvi grandes projetos. Realizei muita coisa. E tinha trabalhado até então dando apoio às políticas públicas. Nestes últimos quatro anos, tive a oportunidade de ser um executor de políticas públicas. Não só na formulação, mas também na implementação. E percebi o quão útil você pode ser à sociedade fazendo o certo. Dá trabalho, mas é possível. Além disso, hoje o Aridelmo é um candidato cuja candidatura ele mesmo construiu. Em 2018, não: foi uma circunstância que me botou candidato. Daí até o insucesso na época.
Vamos lembrar: qual circunstância?
Havia dois candidatos naturais: o [então governador] Paulo Hartung e o Renato [Casagrande]. E, faltando pouco tempo para se iniciar o processo eleitoral, o Paulo retirou a candidatura. E não tinha ninguém construído para ficar no lugar. Eu estava ali ajudando a construir uma alternativa. Acabei ficando sozinho. Vários candidatos correram para outro canto. E eu acabei sendo aquele que ficou para fazer a contraposição [a Casagrande]. Eu não fujo da raia e, estando num lugar, vou fazer o meu melhor, então resolvi fazê-lo. Mas hoje, não. Hoje estou muito mais preparado.
Aquela foi uma candidatura meio improvisada…
Muito improvisada.
Inclusive na escolha do partido. Até por falta de outra opção, o senhor acabou indo para o PTB, partido com o qual não tinha nenhuma identidade programática. Agora, pelo Novo, o senhor se considera mais à vontade para concorrer por um partido que de fato tem sua cara?
Exatamente. Hoje eu me sinto confortável. Lá eu estava desconfortável. E me sinto preparado, do jeito que gosto de fazer: com planejamento. O Novo é mais que um partido político. É uma plataforma de transformação. Quem tem voz no partido não é o cacique e sim o filiado. Não existe dono. Isso dá muito mais trabalho de construção, mas é uma construção em bases sólidas. Então hoje me sinto preparado e na plataforma correta para fazer a transformação que o Espírito Santo precisa.
O senhor foi secretário de Finanças de Vitória de janeiro de 2021 a 31 de março deste ano. Isso após uma vida inteiramente dedicada à iniciativa privada. Embora relativamente curta, em que medida essa experiência como gestor público contribui para sua candidatura agora?
Primeiro que ela me dá a certeza de que meu ponto de vista de como deve ser a gestão pública é extremamente aplicável. Não é um sonho nem uma utopia. É possível ter uma gestão pública inspiradora e de qualidade. Uma gestão pública que trabalhe para 100% da população. Hoje temos cerca de 4 milhões de habitantes no Espírito Santo. Mas o orçamento é sequestrado por 60 mil, 70 mil pessoas. O restante fica lá na fila do hospital. É possível eliminarmos todas essas mazelas que ainda temos na sociedade. O que adianta você ter um Fundo Soberano para aplicar nas gerações futuras se na presente você não dá um exame de vista para a pessoa no hospital, se não tem o exame que ela precisa, se a escola está formando mal? Então, neste ano, percebi que é extremamente possível melhorar a qualidade de vida dos capixabas, com a gestão focada em resultados para as pessoas comuns.
Como o senhor avalia o atual governo Casagrande, principalmente nas áreas de istração pública e de política econômica, que são dois focos do Novo?
Na área econômica, todos os estados e municípios ganharam muito com a pandemia, enquanto o povo perdeu. Veio muito dinheiro federal que não deveria vir. O governo federal se endividou e jogou muito dinheiro para os estados e municípios. E os gastos se reduziram em função da paralisação dos processos. Todo mundo foi para casa, então você tem uma redução natural de custeio. Então, a parte financeira do Estado ficou muito boa. Ela já vinha boa, porque o Paulo Hartung entregou um governo muito bem organizado financeiramente. Na parte econômica, que é você desenvolver o Estado, ficamos para trás. O que é uma sociedade desenvolvida? É quando emprego e renda aumentam. Nisso, ficamos para trás. Então, a folga financeira não se traduziu em qualidade econômica para os cidadãos, muito pelo contrário.
Então os recursos existem, mas, na sua avaliação, não estão sendo bem aplicados?
Não adianta nada você virar um bom poupador se você não for um bom aplicador. Então, nesse caso, foi um desastre. Mais de 10 mil capixabas foram rebaixados à extrema pobreza, com base na Pnad. Como é que um estado acumula R$ 3 bilhões no caixa, sendo mais de R$ 2 bilhões livres, e deixa que aumente a população em extrema pobreza? O caixa do Estado enriqueceu, mas a extrema pobreza aumentou. Isso é inissível. Muitas famílias quebraram, se endividaram… Então o desempenho econômico foi um desastre. Quanto ao aspecto financeiro, acredito que isso já entrou no DNA do capixaba: o capixaba já entendeu que o Estado não pode gastar mais do que arrecada e não pode ficar se financiando exclusivamente com empréstimos. Agora precisamos de um outro lado, que é o desenvolvimento econômico, para gerar o desenvolvimento social.
Pedindo perdão pelo trocadilho, o que é que o Novo propõe de novo nessa eleição ao governo estadual e o que você fará de diferente se for eleito?
No campo eleitoral, vamos fazer uma forma de conversar com a sociedade diretamente com as pessoas. O que está acontecendo hoje? A tecnologia está eliminando o atravessador. Nós vamos utilizar a tecnologia para eliminar os atravessadores e conversar diretamente com o eleitor.
O que é o “atravessador” em um contexto eleitoral?
É o vereador, o prefeito… Nós estamos fazendo uma caminhada pelos 78 municípios. Quem estamos procurando são as pessoas que fazem acontecer a vida na cidade. Nosso plano de governo está sendo alimentado integralmente por pessoas comuns, que não são políticos tradicionais, mas têm uma intenção e conhecem a importância da política de qualidade. Você sabe o que o Novo estava fazendo na sexta-feira [1º] em que estava todo mundo trocando de partido? Pensando nas pessoas.
Mas, além das ferramentas digitais, você está percorrendo o Estado?
Sim! Comecei antes de assumir a Secretaria de Finanças de Vitória. Enquanto fui secretário, ei a fazer só nos fins de semana. E, desde que deixei o cargo, no dia 31 de março, já ei por nove municípios. Vamos ter uma plataforma com os 78 municípios representados, com pessoas que fazem a diferença nesses municípios e com as ideias que essas pessoas estão dando para incorporar ao programa.
E no governo? Se eleito, quais são as principais diferenças que o senhor pretende aplicar?
O que o povo pode anotar para me cobrar? Nós vamos mudar a curva do aprendizado. Escola pública: nós temos que ter aprendizado. Ou seja, o aluno tem que aprender. Segundo a avaliação do MEC, no 3º ano do ensino médio, que é o que compete ao Estado, nós só estamos entregando 19% dos alunos do ensino público alfabetizados na língua pátria e 11% alfabetizados em código matemático. Com isso, você está praticamente selando o desenvolvimento da nossa sociedade. Então temos que fazer aí uma inversão imediata, que é focar em duas coisas básicas que o aluno do ensino médio precisa ter, no mínimo: fluência no seu idioma, que é o português, e um entendimento básico em matemática. Hoje o mundo está com empregos de qualidade em que você nem precisa sair de casa. Mas você precisa conhecer códigos.
E o que fazer para mudar isso?
Vamos levar um hub de inovação para cada cidade, para conectar o jovem com a realidade do mundo. Hoje ele não precisa mais sair da cidade dele para ter grandes empregos, porque ele pode fazer isso de casa. Mas para isso ele precisa ter uma formação muito diferente.
Então a bandeira principal do candidato Aridelmo será a melhoria da qualidade do ensino estadual?
Esse é o meio. O fim é aumentar a renda e a qualidade de vida das famílias capixabas. Renda e emprego por meio da qualificação. O objetivo final é eliminar a extrema pobreza. Não podemos, num estado rico como o nosso, ainda ter extrema pobreza e falar em gerações futuras. Para isso você também precisa ter o quê? Ambiente de negócios. Então outro compromisso nosso é que teremos a menor carga tributária do Brasil. Isso melhora o ambiente de negócios. Melhorando o ambiente de negócios, você traz novas empresas. E, preparando o jovem para ocupar empregos de qualidade, você já tem a mão de obra para ocupar as vagas geradas por essas novas empresas. Vamos dar reduzir alíquotas por igual para todos. Se você cobra 35%, vem uma empresa. Se cobra 20%, vêm seis ou sete. A conta fecha e sobra. Não estou falando de isenções fiscais, que é um negócio que, quando mal feito, até piora a situação, privilegiando os amigos.
Até hoje, no Espírito Santo, o Novo é um partido mal votado. Na eleição municipal de 2020, o coronel Nylton Rodrigues foi bem pouco votado em Vitória, assim como o Dalton Morais em Vila Velha. No Brasil, salvo exceções importantes como o case do Zema em Minas Gerais, o partido até hoje também não conseguiu obter votações expressivas para o Executivo, de modo geral. O que fazer para elevar expressivamente a votação do Novo nesta eleição a governador e o que lhe dá essa convicção de que vocês vão conseguir ar de um dígito para mais de 50% dos votos válidos?
O partido tem seis anos de existência. Poderíamos ter crescido mais nesse período e ter um monte de votos? Sim. Poderíamos ter atraído um montão de gente que é campeã de votos? Sim. Fomos procurados? Sim. Só que esse é um caminho fácil, é o caminho que todos já percorreram até aqui e é uma desgraça que é a política brasileira. Nós queremos pegar o caminho certo. Eu aprendi outro dia algo com o Bernardinho, que é filiado ao Novo. Ele diz o seguinte: “Por que é que eu ganho? Porque eu nunca começo o jogo abrindo a porta errada”. O que é isso? Selecionando quem eu estou convocando. Você abrir a porta errada, igual tem gente aí posando de honesto, mas está comprando qualquer candidato que tenha votos para botar no partido dele, porque aí ele tem grandes chances de ganhar a governador. Então o Novo é pouco votado? Não, ele é muito votado para um partido que só tem seis anos, não usa o Fundo Partidário, já elegeu um governador, o prefeito de Blumenau*, já tem oito deputados federais… Ou seja, estamos fazendo o caminho certo. E, geralmente, aos olhos de quem está de fora, parece que é lento. O certo é mais difícil fazer. Por isso, só alguns fazem o certo. A maioria busca atalhos para fazer. Então, o nosso crescimento é exponencial. Saímos de quatro vereadores apenas em 2016. Hoje já temos o governo do Estado de Minas, que é um dos maiores colégios eleitorais do país, Blumenau… E o mais importante: Zema, em Minas, que é muito parecido com o Aridelmo. Se elegeu com o estado quebrado, folha de pagamento atrasada, aposentados e funcionários sem receber, todo negativado no comércio, porque o estado, além de não pagar, retinha os empréstimos consignados e não ava, destruiu a vida de todo mundo. Ele ganhou a eleição e o que aconteceu? Botou os salários em dia, pagou as contas. Minas foi o estado brasileiro que mais recebeu investimentos nos últimos anos. E, na história de Minas, foi o mandato que mais recebeu investimentos externos.
O senhor considera o governo Zema em Minas uma experiência bem-sucedida e uma inspiração?
Sim. Dá a certeza de que é possível fazer. Não é só uma teoria. E o que é mais interessante: pega a avaliação do governo Zema lá e a do governo Casagrande aqui. Hoje, o Zema lidera as pesquisas eleitorais. Lá em Blumenau, onde ganhamos com o Adriano*, a satisfação dos habitantes com a istração municipal está altíssima. Isso por causa da nossa nova forma de fazer política. Então, olhando estes seis anos, o nosso crescimento é estrondoso.
O grande desafio do Novo, tanto nacionalmente como no contexto local, é se popularizar e chegar mais ao conhecimento das pessoas. Pesa contra o partido a pecha de ser elitista, além de ser conhecido por um grupo muito e exclusivo de pessoas, pertencentes aos estratos mais ricos da população.
Sim.
Como vocês pretendem popularizar o Novo e levá-lo ao conhecimento da dona de casa e da empregada doméstica?
Temos que fazer o diálogo direto com a população. O Novo tem uma estratégia chamada “Novo na Rua”. Todo domingo tem uma barraquinha do Novo. A gente vai para uma comunidade, para uma feira, e conversa com as pessoas. É o boca a boca. Volto a falar: não tem atalho. Vou pessoalmente, e é muita gostoso. Perguntamos: “Você já ouviu falar do Novo?” E a primeira pergunta é: “O que é isso?” Boa parte não sabe nem que isso é um partido. Aí a gente conversa, explica: “Todo mundo aqui trabalha”. Você entra lá no Novo, ninguém é profissional da política. São pessoas que entendem a importância da política na construção de uma sociedade mais desenvolvida e mais igual. Temos que melhorar a política e não demonizá-la. Ah, a política está ruim? Por quê? Porque os bons se afastaram. Nós temos que trazer os bons de volta. E é sacrifício. Política é uma doação, e não o contrário. Hoje a maioria dos políticos enriquece na política, o que é um contrassenso. Você quer enriquecer? Vai trabalhar na iniciativa privada, não no governo. Então, quando a gente para e olha o nosso crescimento, a gente tem a certeza de que está no caminho certo. É lógico que, para quem é político e tem que se eleger de qualquer maneira, o Novo não é o melhor caminho, porque não vai dar resultado imediato. Como diria, de novo, o Bernardinho, tudo o que dá resultado imediato gera um dano colateral muito maior.
O ex-governador Paulo Hartung o incentivou em algum momento a lançar essa candidatura?
Eu converso muito com o Paulo. Não conversar com ele também seria uma estupidez. É um excelente gestor. Botou o Espírito Santo nos trilhos de novo. Mas não tem nenhum compromisso de apoio. Eu tenho certeza que, quando a gente concluir o plano de governo, que às vezes até converso com ele sobre alguns aspectos do plano que estamos construindo, ele vai olhar e falar assim: “Esse é o melhor plano de governo para o Espírito Santo”. E então com certeza fará coro na divulgação do plano e tal. Mas não tem nenhum compromisso de apoio, como não teve em 2018.
E quanto à política de alianças? O senhor tem conversado com outros pré-candidatos que também se situam no campo de oposição ao atual governador, que também se posicionam no espectro de centro-direita e que também têm boa relação com Paulo Hartung? Refiro-me principalmente a Guerino Zanon, Erick Musso e Audifax. Existe alguma possibilidade de aliança já no 1º turno e fusão dessas candidaturas?
Uma das coisas que o Novo amadureceu nestes seis anos é que, realmente, nós tínhamos uma ilusão inicial de que nós íamos fazer política sozinhos. Isso não existe. Então, conversar eu tenho conversado. Com base em quê? Princípios, valores e projetos. Já conversei com todos eles. Tinha o Eugênio [Ricas]. Diziam: “Talvez fulano será candidato”. Eu ia lá e conversava com ele. Falei com Manato, Rigoni, Erick, Guerino, Audifax… Só não conversei com dois nomes: Renato [Casagrande] e [Fabiano] Contarato.
E para o segundo turno? Se não chegar lá, o senhor pretende apoiar um desses candidatos de oposição que mencionamos agora?
Sim, desde que o plano que ele esteja defendendo para o Estado esteja alinhado com o nosso plano. Então, não será feito apoio em função de nomes e sim do plano. Se ele não tiver plano, não terá o nosso apoio. Se o plano for só ganhar a eleição e depois “a gente vê o que faz”, não terá o nosso apoio.
E dá para vocês se juntarem já no primeiro turno? Ou pelo menos com um ou dois deles?
Pode ser. Mas qual é o padrão de negociação? É o projeto. Não é a pessoa. Suponhamos que A resolva desistir. Se quiser apoiar o nosso plano, é bem-vindo.
Mas o senhor se mantém?
A minha candidatura é irreversível. É um compromisso com o partido, e nós temos que defender o nosso espaço.
* Na verdade, o prefeito Adriano Silva, do Novo, foi eleito em 2020 na cidade de ville, também em Santa Catarina.
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