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Coluna Vitor Vogas

E agora, José Renato? Os maiores desafios do próximo governo Casagrande

Coluna desta segunda-feira (31) apresenta alguns dos principais problemas para os quais o governador reeleito terá que dar respostas e soluções nos próximos quatro anos

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Casagrande e governadores entregam carta para presidente dos EUA nesta terça. Foto: Helio Filho/Secom-ES

Casagrande e governadores entregam carta para presidente dos EUA nesta terça. Foto: Helio Filho/Secom-ES

“Ninguém me convidou para um banquete. Eu fui convidado pra carregar lata d’água, morro acima, em dia de chuva”, disse Casagrande em sua primeira entrevista após se eleger governador em 2018. De fato, teve de fazê-lo quase literalmente, nas chuvas que destruíram cidades capixabas inteiras no início de 2020. Também veio a maior pandemia que o mundo viveu em um século. Nos próximos quatro anos, água será pouco: Casagrande terá que empurrar pedra morro acima.

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Agora reeleito para seu terceiro mandato no Palácio Anchieta, após uma campanha em que pregou “novas ideias para novos desafios”, Casagrande terá que dar conta de alguns temas desafiadores que na verdade são bem antigos (com destaque para a segurança pública, a saúde e a mobilidade urbana), além de outros que voltam a nos assombrar (como o fantasma da pobreza e da fome).

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Abaixo, listamos e destacamos os principais desafios que esperam o socialista em sua próxima gestão e para os quais os cidadãos capixabas demandam respostas. E agora, José Renato? Como resolver estes problemas?

Segurança pública

Está no plano de governo de Casagrande e ele reiterou o compromisso em várias entrevistas na campanha: sua meta, no próximo governo, é deixar o Espírito Santo entre os cinco estados menos violentos do país. A sociedade capixaba não espera menos. Atualmente, entre as 27 unidades federativas, o ES é a 13ª mais violenta, em número de homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Em 2021, foram contabilizados 1.060 homicídios no Estado. Devemos ter algo em torno de 1 mil neste ano.

Só para se ter uma ideia do tamanho do desafio, se a promessa de Casagrande devesse ser cumprida imediatamente, seu governo teria que reduzir essa marca em pelo menos 300 homicídios por ano, para empatar com o 5º colocado no ano ado, o Rio Grande do Sul, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Outra questão que envergonha os capixabas é nossa posição, segundo o mesmo estudo, no ranking de homicídios de mulheres (a 9ª maior taxa do país em 2021) e de feminicídios (a 6ª maior taxa do país em 2021) – nos dois casos, a pior do Sudeste. É urgente a implementação de políticas específicas para combater a violência contra a mulher.

Pobreza e miséria

De 2020 para 2021, o percentual de capixabas vivendo abaixo da linha da pobreza saltou de 18,7% para 26,3% da população estadual, o equivalente a mais de um milhão de pessoas nessa condição. Cerca de 300 mil pessoas foram empurradas para baixo da linha da pobreza de um ano para o outro. No interior desse grupo, a faixa de capixabas vivendo abaixo da linha da miséria cresceu assustadoramente, de 3,8% para 6,7% da população do Estado, o que corresponde a 274,6 mil pessoas.

Se comparados esses números com os de outros estados, o Espírito Santo, nos dois casos, está um pouco melhor que a média nacional. Mas a informação mais preocupante é a seguinte: de 2020 para 2021, a pobreza e a miséria no ES subiram em uma velocidade acelerada, acima da média do país.

Durante a campanha, Casagrande destacou medidas de seu governo, como a ampliação do Bolsa Capixaba, programa de transferência direta de complementação de renda, para cerca de 40 mil famílias vulneráveis, bem como a aquisição pelo Estado de alimentos da agricultura familiar para ajudar os pequenos produtores do campo e fornecê-los a famílias de baixa renda. Pode ter ajudado, mas, como gritam os números, não foi o bastante.

O próximo governo Casagrande terá que ter um olhar especial voltado para esse problema e para esse segmento social que mais depende do Estado.

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Saúde

Um dos efeitos colaterais mais terríveis da pandemia foi o represamento de serviços não relacionados à Covid-19 no SUS. Na saúde, o maior e mais urgente desafio para o próximo governo é zerar a extensa fila de consultas com especialistas, exames e cirurgias na rede pública.

Durante a campanha, Casagrande sempre disse que, devido à pandemia, precisou adiar o início do programa de “regionalização da saúde” – iniciado, segundo ele, neste ano. Precisa acelerar essa questão.

Educação

Também muito maltratada pela pandemia, a educação pública brasileira, que já ia mal, piorou. No Espírito Santo não foi diferente, de acordo com as notas do último Ideb, referente a 2021. Pioramos em termos absolutos e relativos: na comparação com outros estados, o ensino médio público do Espírito Santo caiu para a 3ª posição.

No ensino fundamental – responsabilidade dos municípios compartilhada com o Estado –, os resultados das escolas capixabas preocupam: nos anos finais do ensino fundamental, a nota do Espírito Santo fica abaixo da média nacional e da Região Sudeste, tanto na rede pública como no geral (incluídas as escolas privadas).

Sistema prisional

Longe da atenção e até do conhecimento da população, o sistema prisional capixaba é uma bomba-relógio cuja explosão o atual governo conseguiu adiar, mas não foi desarmada. O déficit de vagas no sistema é alarmante: hoje, somando todos os presídios estaduais, há cerca de 24 mil detentos onde só caberiam cerca de 14 mil.

Em parceria com a Justiça (audiências de custódia, penas alternativas, tornozeleiras eletrônicas), o governo conseguiu cessar o crescimento da massa carcerária, política que deve ser mantida… Mas o próximo governo, infelizmente, precisará construir mais presídios.

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Mobilidade urbana

Em 2018, Casagrande se elegeu prometendo reativar o sistema de transporte aquaviário e iniciar a implantação do BRT na Grande Vitória. As duas promessas, até agora, não saíram do papel. O governador tem anunciado a retomada da operação do aquaviário para o fim deste ano. Sobre o BRT, nem ideia… Será preciso dar soluções concretas e rápidas para os gargalos da mobilidade na Região Metropolitana.

Gargalos logísticos

Falando em gargalos, para acelerar o crescimento da economia capixaba, é preciso fomentar um melhor ambiente de negócios. Para isso, é fundamental desamarrar os nós logísticos que compõem aquela pauta amarelada do Espírito Santo: duplicação da BR 262, o imbróglio da concessão da BR 101, portos, ferrovias e aeroportos regionais. Casagrande terá que mostrar capacidade de articulação com o próximo governo federal.

Focos de corrupção

Ao longo de toda a campanha, sempre que indagado sobre o tema, Casagrande respondia que o Espírito Santo é o estado mais transparente do Brasil, de acordo com o ranking da Transparência Internacional, que seu governo investiga malfeitos por dentro e que ele mesmo, pessoalmente, “não tem compromisso com o erro”.

Nessa matéria, os cidadãos capixabas também não têm tolerância com o erro, principalmente quando esse significa possível desvio de dinheiro público. E Casagrande cometeu alguns, indicando para postos-chave pessoas do seu grupo político que acabaram envolvidas em investigações do Ministério Público e da Polícia Federal. Entre eles, o ex-presidente do Banestes Vasco Cunha Gonçalves, o ex-secretário da Fazenda Rogélio Pegoretti e o ex-subsecretário de Agricultura Rodrigo Vaccari.

Casagrande não pode mais se permitir esse tipo de equívoco na composição da equipe.

Política

Casagrande ou a campanha inteira repetindo que sabe conviver com as diferenças, que não discrimina ninguém e que “nunca desequilibrou” em suas relações políticas e istrativas. Na política, seus maiores desafios serão três.

Em primeiro lugar, garantir sua governabilidade na Assembleia Legislativa – de preferência, aproveitando o capital político com que sai das urnas, emplacando dessa vez um aliado na presidência da Casa, em fevereiro de 2023. Com Erick Musso, ele não teve sua agenda de governo travada, mas experimentou algumas crises e sobressaltos políticos.

Em segundo lugar, manter uma boa relação política com o governo federal, do qual dependerá bastante. O fato de Lula (PT), um aliado, ter sido eleito obviamente facilita bastante a tarefa.

Finalmente, nos próximos meses, montar uma equipe de governo que respeite critérios mais técnicos, conciliando os interesses políticos dos 11 partidos de diversas cores ideológicas representados em sua coligação, que vão querer se acomodar na máquina e disputar os nacos de poder mais privilegiados. Casagrande terá trabalho para conter (ou satisfazer) a voracidade de tantos aliados.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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