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Coluna Vitor Vogas

Declaração de Casagrande sobre possível voto em Lula tranquiliza PT

Entrevista à coluna soou dentro do PT como um forte “sinal público” de apoio, diz João Coser. Entenda o que pode levar o governador a aceitar o abraço em Lula

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A presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, e o vice-presidente, João Coser

A declaração do governador Renato Casagrande (PSB) de que pode, sim, votar em Lula este ano para presidente da República soou como música para os ouvidos de dirigentes e militantes do PT no Espírito Santo. Música daquelas relaxantes, reconfortantes, indicadas para se estudar ou dormir. A fala de Casagrande, feita à coluna e publicada aqui na última segunda-feira (14), tranquiliza os petistas – e pode ser interpretada como um gesto público feito por Casagrande exatamente com o intuito de aplacar os ânimos e reparar a relação, até então estremecida, com os potenciais aliados eleitorais no campo da centro-esquerda.

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O vice-presidente estadual do PT, João Coser, define as palavras de Casagrande como um sinal público inequívoco, o primeiro até então neste sentido, de que ele está predisposto a declarar apoio a Lula durante a campanha eleitoral, quando o jogo for para valer.

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“Para nós, foi a primeira declaração do governador nesse sentido. Recebemos com muita felicidade. Ele expressa respeito ao presidente Lula e diz não ter dificuldade em votar nele. Significa que considera uma boa candidatura, pois ele não diria isso para qualquer candidato. É um gesto que agrada ao partido. A fala dele expressa mais do que um convite para tomar um café ou uma conversa de gabinete. É um sinal público, sim.”

Coser também retribui o afago público: “A gente tem muita simpatia e muito respeito pelo Renato. Isso é muito forte no PT”. A “simpatia”, contudo, não impediu o PT de elevar a pressão sobre Casagrande.

No fim de fevereiro, o PT estadual lançou a candidatura do senador Fabiano Contarato ao governo (ameaça de concorrência interna para Casagrande junto ao eleitorado de centro-esquerda). Coser ite, porém, assim como o próprio Contarato, que essa candidatura pode ser removida mediante algumas condições.

A primeira delas é a resolução que virá de cima, da cúpula nacional do PT. O PSB pretende apoiar Lula e se coligar com o PT na eleição presidencial. Para isso, contudo, deve exigir algumas retribuições. Entre elas, o apoio do PT aos candidatos pessebistas em alguns estados, como a Casagrande no Espírito Santo. Nesse caso, endossa Coser, a ordem superior será cumprida sem hesitação.

“O PT é um partido é nacional. Tem uma centralidade na disputa nacional. Chegamos à Presidência da República por quatro mandatos e estamos novamente colocando como central o projeto da eleição nacional. Esse é o centro de todo o nosso debate. Tudo o que pudermos e tivermos que fazer para fortalecer a candidatura do Lula, nós faremos. Não que as candidaturas aos governos estaduais não sejam importantes, mas elas estão subordinadas à eleição nacional. E é lógico que a nossa candidatura aqui com o Contarato também está subordinada a essa lógica. Então, o que vai decidir tudo isso é uma orientação da direção partidária nacional.”

A guerra de nervos do PT com Casagrande

O ex-prefeito de Vitória reconhece o quanto o apoio nacional do PSB a Lula é vital para os planos do partido: “A aliança é muito importante porque responde a essa necessidade de uma candidatura nacional de porte”. Sobre a reprodução dessa coligação na disputa a governador do Espírito Santo, o dirigente do PT afirma que isso “depende muito do PSB e do próprio governador.”

O PT espera que Casagrande assuma o ex-presidente como seu candidato, declare e defenda voto em Lula durante a campanha e mobilize a militância do PSB capixaba na campanha de Lula, para, em troca, poder contar com a adesão e com o empenho total da militância petista na sua muito provável campanha à reeleição para o governo do Estado.

A direção nacional do PSB sabe que tem cacife para exigir do PT o apoio à reeleição de Casagrande. Ao mesmo tempo, a direção do PT sabe (e sabe que Casagrande o sabe) que a presença de Contarato nesse páreo pode atrapalhar muito os planos do governador, na medida em que tende a fragmentar a centro-esquerda e a dividir os votos dentro do mesmo estrato do eleitorado. Assim, no momento, Contarato é o trunfo com que joga o PT, e os dois partidos protagonizam uma pequena guerra de nervos.

Por que Casagrande pode engolir o “sapo barbudo”?

Ao dizer que pode votar em Lula, Casagrande deu um primeiro sinal de que pode ceder e “engolir” a candidatura do “sapo barbudo” – como chamou-o Leonel Brizola em 1989. O verbo entre aspas se explica porque, nos bastidores, sabe-se que o petista não é nem nunca foi o candidato ideal para Casagrande.

Pessoalmente, embora não verbalizada, a preferência do governador sempre foi pela consolidação de um candidato da “terceira via”, que rompesse com a polarização entre Lula e Bolsonaro. Daí a resistência dele em adotar um posicionamento pró-Lula.

Bom lembrar que, em 2018, ele foi um dos grandes entusiastas da filiação ao PSB de Joaquim Barbosa e da ideia de o lançar à Presidência – mas o ex-ministro do STF acabou refugando. No 1º turno, Casagrande ficou com Ciro Gomes (PDT). No segundo, já eleito governador, não declarou voto em Fernando Haddad (PT).

Na entrevista à coluna, inclusive, Casagrande chegou a dizer que espera que não se reproduza aqui este ano, na disputa ao governo, a “polarização superficial” que tem marcado a pré-campanha presidencial.

Da entrevista à coluna, extrai-se outro forte indício de que a posição oficial do PSB não coincide com a preferência pessoal de Casagrande. Perguntamos se ele defende uma coligação entre PT e PSB na corrida presidencial. “Não é que eu defenda. O PSB fará uma aliança com o PT e o presidente Lula, em termos de coligação”, respondeu o governador, sugerindo que a decisão nacional já está tomada, ainda que ele próprio preferisse outro caminho.

Por outro lado, ainda na entrevista à coluna, Casagrande emitiu outros sinais de que está aberto a fazer, lá na frente, o que o PT espera dele. Um deles foi o uso do advérbio “ainda” neste trecho: “Ainda não estou declarando o voto nem posição pessoal com relação a esse tema. A gente tem a indicação do presidente nacional do PSB de que a tendência é essa, e nós acabaremos de fechar essa posição no mês de abril”.

O outro ponto que pode acender a esperança dos petistas é o perfil partidário do governador. Desde que chegou ao PSB, após breve agem pelo PCdoB e pelo PMDB nos anos 1980, Casagrande se caracteriza como um pessebista dos mais disciplinados.

E não custa lembrar que ele é nada menos que secretário-geral do PSB nacional (o nº 2 na hierarquia interna). Aliás, ele mesmo fez questão de lembrar esse fato na entrevista. Faz parte, portanto, da cúpula nacional de seu partido. Assim, mesmo que tenha sido voto vencido na tomada da decisão de cúpula, tende a respeitar e acompanhar a resolução da direção nacional do PSB, até por uma questão de coerência e de disciplina partidária.

Resta saber o grau de efusividade e de publicidade com que ele fará isso: confiará seu apoio a Lula só à urna ou dividirá palanque com o petista no ES?

No momento, fica a sensação de que Lula pode até não ser o candidato dos sonhos de Casagrande, mas… conforme a eleição se aproxima, ele começa a cantar a música que o PT quer ouvir dele na campanha.

Rápida: reunião com Contarato

Cúpula estadual do PT se reúne para discutir estratégias de campanha de Contarato. Foto: Vitor Vogas

Cúpula estadual do PT se reúne para discutir estratégias de campanha de Contarato. Foto: Vitor Vogas

Enquanto “tudo isso” não se define, o PT local faz sua parte e começa a estruturar a candidatura de Contarato. Na manhã desta quarta-feira (16), a Executiva Estadual se reuniu com o senador para tratar da estratégia da pré-campanha. João Coser explica:

“Seguimos fazendo a nossa parte: organizando a nossa pré-campanha como se tivéssemos candidato ao governo. Ruim é chegar lá a dois dias do registro das candidaturas e não ter candidato. Como a decisão é nacional, temos que estar preparados. Então, neste momento, não estamos gastando energia para discutir retirada de candidatura, mas sobre como ter uma candidatura.”

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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