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Coluna Vitor Vogas

Candidatura de Colnago ao governo já nasce com um problemão

Ex-tucano chega ao PSD querendo ser candidato a governador, mas o presidente do partido, Zé Carlinhos, diz que ali o candidato é um só: Guerino Zanon

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César Colnago pretende candidatar-se a governador do ES. Foto: Whatsapp de César Colnago

O agora ex-tucano César Colnago saiu do PSDB após 30 anos dedicados ao partido porque, se ali ficasse, simplesmente não teria legenda para se candidatar ao cargo que almeja: governador do Espírito Santo. Anunciou então, na última quarta-feira (30), sua filiação ao Partido Social Democrático (PSD), declarando-se pré-candidato ao governo pelo novo partido. Mas a candidatura de Colnago nasce ameaçada por um problemão: as pessoas que controlam o PSD no Espírito Santo também não querem dar legenda para ele tentar chegar ao Palácio Anchieta, mas sim para o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (ex-MDB).

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Traduzindo: Colnago saiu de um partido onde não tinha nem teria a legenda para entrar num partido que tampouco quer lhe dar a legenda. Abriu uma porta de saída e encontrou outra fechada.

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Assim como Colnago, Guerino juntou-se ao PSD na semana ada, perto do fim do prazo para filiação de todos os pretensos candidatos. Mas, diferentemente de Colnago, Guerino exercia mandato. E, para viabilizar a candidatura ao governo, renunciou à prefeitura na última quinta-feira (31). Em sua “carta de despedida” ao MDB, divulgada no dia seguinte, o ex-prefeito assumiu discurso de pré-candidato ao governo, inclusive criticando “a mesmice” da istração de Renato Casagrande (PSB).

Quer dizer, o PSD entra nessa parada com dois pré-candidatos ao governo. Ou não.

Em conversa com este colunista por volta das sete da noite deste domingo (3), a instantes do início da missa a que iria assistir (perdoe, padre!), José Carlos da Fonseca Júnior “sacramentou”: “O candidato do PSD ao governo do Estado é só Guerino, certamente. Renunciou em Linhares para concorrer ao governo, filiou-se e já foi o interlocutor principal do partido nestes dias de articulações intensas. Agora, é pensar na campanha!”

Um detalhe: o católico Zé Carlinhos, como é chamado no meio político, é hoje cardeal do PSD em terras capixabas. É nada menos que o presidente estadual do partido. Mas ele não é o único representante do comando central do PSD que afirma isso. Consultado ontem pela coluna, outro articulador do partido foi igualmente categórico: “O candidato do PSD a governador é Guerino Zanon”, encerrou.

Se assim é, que lugar estaria reservado para César Colnago no projeto eleitoral do partido? “Vamos todos conversar muito e ele vai decidir”, respondeu-me Zé Carlinhos. “O PSD ficou muito honrado com sua chegada, é quadro que tem envergadura política e experiência para ser uma liderança muito importante na caminhada eleitoral deste ano.”

Mas não foi bem isso o que disse César Colnago, na coletiva de imprensa em que anunciou a troca de partido. Segundo o ex-vice-governador, o candidato do partido ao Palácio Anchieta será escolhido mais para a frente, a partir da realização de prévias ou da comparação dos resultados dele mesmo e de Guerino em pesquisas quantitativas e qualitativas a serem encomendadas pelo PSD. Mais perto do registro das chapas, a vaga ficará com quem mostrar maior potencial de crescimento eleitoral.

Por essa perspectiva, Guerino e ele entrariam nessa “concorrência interna” em igualdade de condições, inclusive perante a direção partidária.

Ainda segundo Colnago, sua pré-candidatura a governador foi bastante discutida entre ele, Guerino e o próprio Zé Carlinhos nos dias que antecederam o seu anúncio.

Mas, evidentemente, os dois lados (que na verdade pertencem ao mesmo lado) não estão falando a mesma língua.

O “lado” em questão, por sinal, é o que reúne remanescentes do grupo político do ex-governador Paulo Hartung. Chefe da Casa Civil na istração ada, Zé Carlinhos é operador político de Hartung. Para muita gente, quando ele fala ou faz algum gesto, também é Hartung quem fala e gesticula – sem aparecer, contudo.

Também Colnago e Guerino são aliados históricos de Hartung. Todos agora aglomerados no PSD fazem parte de um mesmo núcleo de políticos, na casa dos 60 anos de idade, que têm em comum a liderança de PH e um vínculo muito profundo com o ex-governador. No contexto eleitoral do nosso Estado, o PSD virou assim a principal trincheira – mas possivelmente não a única – da batalha para derrotar e tirar do poder Casagrande e seu grupo político.

E, em termos de estratégia eleitoral, pode não ser nem um pouco interessante já entrar nessa campanha com o grupo dividido; inaugurar o novo QG já exibindo rachaduras internas. Isso pode levar o PSD a perder tempo com indefinições domésticas em vez de carimbar logo seu candidato e iniciar desde já a preparação da campanha em torno de um nome certo.

Até porque o PSD tem pela frente a duríssima missão de desafiar o candidato da situação, atual ocupante do cargo, com toda a força da máquina governamental jogando a seu favor. A coesão interna é o mínimo para que o grupo tenha alguma chance.

Por tudo isso, Colnago chega ao PSD querendo voar alto, mas com a direção do seu novo partido claramente disposta a podar as asas do ex-tucano. E talvez ele seja mesmo obrigado a abortar o voo dessa vez.

Colnago toca saxofone em roda musical em Santo Antônio. Foto: reprodução Facebook

Colnago faz sua parte

Enquanto isso, Colnago faz sua parte para começar a se viabilizar. Sua conta no Whatsapp é prova disso. Sua foto de perfil agora traz ao fundo as cores do Espírito Santo: retrato típico de candidato ao governo. E o próprio Colnago disparou para contatos, no último fim de semana, vídeos em que aparece como um “homem do povo” em diferentes rodas musicais formadas por pessoas comuns em Santo Antônio (Vitória) e Manguinhos (Serra). Ele é visto tocando instrumentos como um chocalho e seu inseparável sax.

No momento, também precisa soprar para longe as resistências que enfrenta dentro da própria nova sigla para realmente ter alguma condição de se viabilizar.

Para prestar atenção

Na resposta de Zé Carlinhos à coluna, chama a atenção o trecho em que ele diz que Guerino “já foi o interlocutor principal do partido nestes dias de articulações intensas”. Para bom entendedor, o ex-prefeito foi o maior responsável por conseguir levar pré-candidatos com ele para o PSD, de maneira que o partido consiga formar chapas também nas eleições proporcionais. Sempre recordando: a prioridade máxima dos caciques nacionais (no caso, Gilberto Kassab) é a eleição de deputados federais nas diversas unidades federativas. E aqui não é diferente.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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