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Assim como ocorreu após outras crises, mundo terá de ser repactuado

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Caro leitor,

A partir de hoje vamos usar esse espaço para falar sobre política local, nacional, internacional, alguns temas mais curiosos, observações sobre o dia a dia… Enfim, vamos conversar com você sobre vários assuntos. Ao contrário do cenário atual, onde predomina a tentativa do pensamento hegemônico, as contestações e divergências serão muito bem aceitas.
Vamos lá?

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AS LIDERANÇAS

Em momentos extremos, os países e o mundo sempre contaram com o surgimento de líderes, talhados pelos fatos e pelas crises. As soluções encontradas por eles nem sempre foram as ideais, nem sempre atingiram seus objetivos. Mas havia um rumo a ser seguido, principalmente no sentido de alcançar uma repactuação no status até então estabelecidos.

No episódio de conflito mundial mais recente, Churchill, Stálin, De Gaulle e Roosevelt acabaram emergindo como líderes durante a Segunda Guerra. Cada um a seu modo, e com suas falhas ou desvios, acabaram delineando o destino do planeta após a hecatombe deflagrada pela sanha nazista de Hitler.

Churchill, Roosevelt e Stálin no encontro de Ialta. Foto: Arquivo

Churchill, Roosevelt e Stálin no encontro de Ialta. Foto: Arquivo

Foram vários encontros, vários tratados (Ialta, Potsdam etc.), decisões contestáveis, como a divisão da Alemanha. Mas tanto nesse episódio quanto em outros, como a criação da frágil Liga das Nações (semente da ONU) logo após a Primeira Guerra, houve uma espécie de repactuação das lideranças e dos países. Um ‘freio de arrumação’, uma forma de retomar o caminho da normalidade. Foi assim com o Plano Marshall, a injeção trilionária de dólares norte-americanos em países europeus nos anos pós-Segunda Guerra. Houve uma inversão da lógica ortodoxa: em vez de apostar em cortes, a opção foi investir pesado em investimentos e na criação de empresas, empregos e, em consequência, na ampliação do mercado de trabalho. A consequência mais visível foi a evolução da Europa quase-totalmente agrícola e rural para um continente formado por países modernos e de centros urbanos em crescimento.

Não por acaso, foi um período glorioso na economia mundial.

O mundo vai precisar de uma repactuação quando a pandemia ceder. Tratados terão de ser revistos, barreiras comerciais terão de ser levantadas. Mas para encontrar esse novo caminho, o planeta precisará de líderes. Aí mora o nosso maior perigo. A seu modo, e com seus erros, Churchill, Stálin, Roosevelt, De Gaulle ganharam estatura enorme, esculpida pelos duros tempos da guerra. Não temos figuras comparáveis atualmente. Vivemos hoje dias de desconfiança absoluta em relação a qualquer pessoa com algum resquício de celebridade. De Dráuzio Varella a Pyong Lee, de Sergio Meneguelli a Donald Trump, todos estão sujeitos ao tribunal inclemente das redes sociais. Não há confiança em instituições, não há confiança em regimes políticos e não há confiança em líderes.

Nem é o caso de discutir, aqui, o terço da população ainda apoiadora de Jair Bolsonaro. Mas pensar se Trump vai aceitar se sentar à mesa para discutir saídas para o planeta com Merkel, Putin, Xi Jinping, e tantos outros chefes de estado, tendo como base condições igualitárias para todas as nações. Talvez as condições extremas vividas pela situação econômica e social do planeta mudem corações e mentes, tanto desses representantes quanto da população, e saiamos desse episódio repactuados para um futuro, talvez, promissor. Mas se corações e mentes não forem tocados suficientemente, a hecatombe social posterior à pandemia poderá ser dramaticamente superior à tragédia humanitária provocada pela doença.

Antonio Carlos Leite

Antonio Carlos tem 32 anos de jornalismo. E um tempo bem maior no acompanhamento das notícias. Já viu muitos acontecimentos espantosos. Mas sempre se sente surpreendido por novos fatos, porque o inesperado é a maior qualidade das coberturas jornalísticas. E também da vida...

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