Coluna Vitor Vogas
A nova posição de Audifax no jogo eleitoral na Serra, com um pé no PP
Por que o destino natural do ex-prefeito é o PP e por que ele prefere não entrar no PL, mas quer o apoio do partido na eleição a prefeito da Serra

Audifax Barcelos. Foto: Facebook
No Jogo da Vida Política, Audifax Barcelos vinha numa crescente desde 2004, quando se elegeu prefeito da Serra pela primeira vez. Após três mandatos na prefeitura e um pela metade na Câmara dos Deputados, Audifax tateou o topo, tentando chegar ao Governo do Estado pela Rede em 2022. Sofreu um forte revés, conseguindo só 6,5% dos votos válidos no 1º turno e perdendo de maneira dolorosa a sua invencibilidade nas urnas. Foi jogado alguns degraus para baixo, muitas casas para trás no tabuleiro. Agora, aos 59 anos, Audifax não está aposentado politicamente – nem pretende se aposentar tão cedo. Mas, para voltar ao jogo, enfrenta o desafio de se reposicionar.
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Para isso, o primeiro o é assumir a próxima candidatura em 2024. Segundo aliados do ex-prefeito, Audifax não será candidato a todo custo. Mas está nos seus planos, sim, voltar a pleitear o cargo de prefeito da Serra.
O segundo o é definir seu novo partido. E esse, no que depender de Audifax, está muito bem encaminhado: sua intenção é migrar para o Progressistas (PP). Ele não precisa se decidir nem se filiar até o comecinho de abril. Mas, mediante algumas condições, segundo auxiliares do ex-prefeito, ele topa a ficha de filiação no PP o quanto antes.
Quais condições são essas?
Segundo um interlocutor do ex-prefeito, Audifax quer receber plenas garantias de recursos de campanha – algo que a direção nacional da Rede sempre cumpriu com ele. Quer ouvir tais garantias dos dirigentes estaduais e nacionais do PP.
Audifax espera ser levado pelo presidente estadual, Josias da Vitória, ao encontro de Ciro Nogueira, e obter do cacique nacional o compromisso de que sua candidatura pelo PP na Serra será tratada como prioridade do partido, traduzida na injeção de um bom volume de recursos financeiros do Fundo Eleitoral.
Por que o PP?
Para os audifistas, sua eventual candidatura pelo PP é um ótimo arranjo para as duas partes. Encontro da fome com a vontade de comer.
O raciocínio a por um fator que faz muito sentido: hoje, mapeando-se os maiores municípios do Espírito Santo, na Grande Vitória e no interior, quem é o candidato altamente competitivo que o PP tem para lançar em qualquer um deles? De bate-pronto, não ocorre nenhum nome.
O partido de Da Vitória e Evair tem grandes planos de expansão e, logicamente, pode filiar candidatos imponentes até abril (como prefeitos com mandato). Mas o fato é que, neste momento, o PP carece de nomes realmente competitivos que possam dar sustentação a esse projeto de crescimento mirando em 2026. Na Grande Vitória mesmo, o partido não tem hoje nenhum porto para se ancorar.
Para alicerçar esse projeto de expansão, o que pode ser melhor que chegar ao Executivo da cidade mais populosa e uma das economicamente mais pujantes do Espírito Santo e ali instalar a sua base para disputar o Governo do Estado Santo em 2026? Tanto Da Vitória (mais reservadamente) como Evair (abertamente) aspiram à sucessão de Casagrande. A Prefeitura da Serra, com Audifax, pode representar para eles justamente aquela âncora que hoje lhes falta.
Bom também para Audifax
Para Audifax, entrar no PP também é negócio precisamente por conta dessa falta de candidaturas competitivas do partido, hoje, nos maiores municípios capixabas. Sem concorrência, digamos, interna, a candidatura do ex-prefeito tende a ser tratada mesmo como prioritária pelos dirigentes da sigla, concentrando o maior volume de recursos na partilha do Fundo Eleitoral do PP.
Também a atração de aliados para a coligação de Audifax fica teoricamente mais fácil. Sem grandes candidaturas próprias em outros dos maiores municípios, o PP pode oferecer apoio a candidatos de outras siglas nessas outras cidades em troca do apoio a Audifax na Serra.
A guinada à direita
A opção pelo PP também responde a um fator ideológico.
Escolhas feitas pelo próprio Audifax no 2º turno da eleição estadual o fizeram atravessar uma importante linha divisória no mapa ideológico brasileiro. Após uma vida dedicada à militância em partidos de esquerda ou centro-esquerda (nesta ordem: PT, PDT, PSB e Rede), o ex-prefeito deu um cavalo de pau, anunciou a desfiliação da Rede, declarou apoio a Manato, subiu no palanque com o candidato do PL ao Palácio Anchieta e se deixou fotografar ao lado de ícones da extrema direita capixaba, como o deputado estadual Capitão Assumção (PL).
Ao fazer isso, por livre e espontânea vontade, Audifax fechou atrás de si as portas de todo o campo da esquerda no Espírito Santo.
As escolhas do próprio Audifax são um fator, mas há outro igualmente relevante. Hoje, no Espírito Santo, praticamente todas as forças do centro para a esquerda estão sob total e incontornável influência do governador Renato Casagrande (PSB); giram na órbita do mesmo centro de poder.
Então, sim, o próprio Audifax pode ter fechado para si mesmo as portas da esquerda, mas, somado a isso, Casagrande e seu grupo também tratarão de assegurar que nenhuma porta nesse campo se reabra para ele, sobretudo após o enfrentamento muito duro de Audifax ao governador em debates no 1º turno.
A conclusão é inevitável: o ex-prefeito, hoje, só cabe politicamente no outro lado da Força, em alguma sigla de direita, de preferência à margem do campo gravitacional do Palácio Anchieta. Mas o PP é essa sigla?
O governismo de coalizão armado por Casagrande é tão abrangente que também existem partidos de direita sob seu raio de influência. Um deles é precisamente o PP. Segundo audifistas, porém, o ex-prefeito aposta no movimento já ensaiado por Da Vitória e Evair para desgarrem o PP da órbita do atual governador.
Noves fora, as duas únicas opções realmente viáveis para Audifax hoje são… o PL e o PP. Mas o favoritismo do segundo é imenso.
Por que não o PL?
Dando uma resposta bem direta: porque é demais para Audifax.
O ex-prefeito não tem história na direita. Por força das circunstâncias e das próprias escolhas, hoje ele se encontra na direita. Pontualmente, até pode ter apoiado o candidato do PL e subido no palanque do PL para tentar ajudar a derrotar Casagrande em 2022. Isso é uma coisa. Outra coisa é ele mesmo se filiar ao PL e se candidatar pelo partido de Jair Bolsonaro.
Aí seria atravessar uma segunda linha: a que separa a direita moderada da mais radical e extremista. Essa linha o próprio prefeito traçou no chão e não pretende cruzá-la. Primeiro porque ele mesmo não ficaria à vontade, por sua história, a ser rotulado como o candidato da extrema direita na Serra.
Segundo porque esse desconforto pode ser uma via de mão dupla: os apoiadores incondicionais de Bolsonaro, aqueles que votam no PL porque é o partido do ex-presidente, representantes daquele voto mais ideológico do PL, também podem estranhar a candidatura de Audifax pela sigla bolsonarista e se sentir muito pouco à vontade em votar nele. Não vai colar.
Assim, se vier pelo PL, num pleito em que critérios ideológicos ainda devem jogar um papel nem um pouco desprezível, Audifax pode perder duplamente: periga despertar a antipatia de eleitores do centro para a esquerda que gostam dele, mas não votam no PL; e, ao mesmo tempo, despertar a rejeição de eleitores que votam no PL, mas que não o identificam com o discurso e os valores do partido.
Há ainda outro fator de ordem bem pragmática. A entourage de Audifax entende ser benéfica para ele uma eleição com muitos candidatos no páreo e votos pulverizados. Nessa perspectiva, quanto mais candidatos, melhor. Uma cédula que se resuma a ele, o prefeito Sérgio Vidigal (PDT) e o deputado estadual Pablo Muribeca (provavelmente pelo Republicanos) pode não ser muito favorável nem para ele nem para Vidigal.
Nesse caso, vindo com discurso de aposta no “novo” e na quebra do revezamento, Muribeca pode se beneficiar. Independentemente de forma e conteúdo, pode absorver em massa os votos dos eleitores que anseiam por uma novidade política (qualquer uma) que ponha fim à alternância de 28 anos entre Vidigal e Audifax na Prefeitura da Serra – caso único em cidades com mais de 500 mil habitantes no país.
Em semelhante cenário, Vidigal e Audifax podem tirar votos um do outro, enquanto Muribeca lhes dirá muito obrigado e poderá ascender como um foguete através da coluna do meio, como alternativa a prefeito e ex-prefeito.
Por isso, Audifax está fazendo a sua parte para incentivar a entrada de outras pré-candidaturas no jogo. Uma delas é a do vice-prefeito Thiago Carreiro (União Brasil). Outra, potencialmente, é a do vereador Igor Elson, pelo próprio PL, presidido pelo parlamentar na Serra.
Desse modo, não entrando no PL, Audifax também deixa o caminho livre para que o partido de Magno Malta lance seu próprio candidato na Serra, embolando mais o jogo – e podendo tirar votos de Muribeca à direita.
Diálogo com outros partidos
Buscando uma boa coligação, Audifax tem mantido conversas com o Podemos, presidido no Estado pelo deputado federal Gilson Daniel e também apoiador do governo Casagrande; com o PSDB, liderado no Estado pelo deputado estadual Vandinho Leite e igualmente sócio do governo Casagrande; com os dirigentes do Patriota (Rafael Favatto) e do PTB (informalmente, Manato e Tenente Assis), siglas que estão em vias de se fundirem; do Agir e do Novo, além do PP e do PL, totalizando sete partidos.
A intenção do ex-prefeito é ajudar os respectivos dirigentes a montar suas chapas de candidatos a vereador. Coligações não são permitidas na eleição para a Câmara Municipal.
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