Coluna Vitor Vogas
PT bate o martelo e agora tem seu pré-candidato a prefeito de Vila Velha
Decisão foi tomada na noite de ontem (30), véspera do Dia do Trabalhador, e comunicada por volta das 22 horas no perfil do PT-ES no Instagram

PT decide lançar Babá (ao centro, ao lado de Jack Rocha) a prefeito de Vila Velha. Foto: Reprodução Instagram
Não foi premeditado, mas, em data com forte simbolismo, na véspera do Dia Internacional do Trabalhador – precisamente, a duas horas do feriado mundial celebrado neste 1º de maio –, o Partido dos Trabalhadores (PT) tomou sua decisão oficial e escolheu seu pré-candidato na eleição à Prefeitura de Vila Velha. O representante do partido na disputa será o odontólogo e ex-vereador João Batista Gagno Intra, conhecido por todos como Babá. A partir de hoje, ele a a ser tratado como o pré-candidato do partido em Vila Velha. No próximo dia 10, sua pré-candidatura será lançada em evento público.
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A decisão foi tomada na noite dessa terça-feira (30) e comunicada, por volta das 22 horas, no perfil do PT do Espírito Santo no Instagram. Também foi confirmada à coluna pelo próprio Babá e pelo economista Edinho Wilson, que até então concorria internamente com Babá pelo posto de pré-candidato a prefeito. O martelo foi batido em reunião entre os dois, a presidente estadual do PT, deputada federal Jack Rocha, e o presidente municipal, Fabrício de Santana. Como parte do acordo, Edinho topou concorrer a vereador de Vila Velha, reforçando a chapa da Federação Brasil da Esperança, também formada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e pelo Partido Verde (PV).
No Instagram, a direção estadual do PT fez um post intitulado “Vila Velha tem pré-candidato a prefeito!”, destacando que a decisão foi consensual:
“Em uma decisão de consenso e de união partidária, o PT Vila Velha terá como pré-candidato a prefeito João Batista (Babá). Nesta importante construção de fortalecimento do PT e da Federação Brasil da Esperança, o companheiro Edson Wilson (Edinho) se coloca como pré-candidato a vereador, reforçando a chapa proporcional.” De acordo com a publicação, Babá será lançado não apenas pelo PT, mas como o pré-candidato da Federação Brasil da Esperança em Vila Velha.
A “união partidária” é ressaltada porque Edinho e Babá pertencem a correntes diferentes (e, por vezes, antagônicas) dentro do PT. Edinho é membro da Construindo um Novo Brasil (CNB), corrente de Jack Rocha. É a mesma que tem predominância hoje na direção estadual do PT e também na Executiva de Vila Velha.
Babá, por sua vez, integra o campo Para Voltar a Sonhar, cuja principal referência no Estado é o deputado federal Helder Salomão. Esse campo é composto por correntes minoritárias como a Resistência Socialista (de Helder) e a Articulação de Esquerda (da deputada estadual Iriny Lopes e do ex-deputado estadual Cláudio Vereza).
No início do ano, em meados de janeiro para fevereiro, os dois disponibilizaram os seus nomes para as discussões internas. Babá já entrou nessa disputa com forte apoio de líderes como Helder e Vereza. Este, aposentado de disputas eleitorais, segue sendo a principal referência ética e política do PT em Vila Velha. Há dez anos sem exercer mandatos eletivos, o ex-deputado ou a atuar como uma espécie de guru da militância e, em discursos e cartas abertas, firmou-se como o maior entusiasta da tese de candidatura própria na cidade – algo que não ocorre desde 2012, quando o próprio Babá concorreu à sucessão de Neucimar Fraga.
Babá e Edinho, então, aram a concorrer internamente pelo posto. Em meados de fevereiro, ainda se ventilava no PT de Vila Velha até a possibilidade de apoio à reeleição de Arnaldinho Borgo (Podemos). Isso cessou no começo de março, quando o Diretório Municipal do PT aprovou em plenária a tese de lançamento de candidatura própria à prefeitura. Restava escolher o nome. Após dois meses de muitas reuniões, eles chegaram consensualmente ao nome de Babá, sem necessidade de realização de prévias.
“Chegamos a esse entendimento justamente para não precisarmos continuar a disputa interna”, explica Babá. “Chegamos à conclusão de que, neste momento, meu nome unifica os dois campos e tenho todas as condições técnicas e políticas de levar as propostas de uma gestão democrática e participativa para uma cidade inteligente e sustentável e defender o legado do governo Lula. E, com esse entendimento, o Edson retirou a candidatura já apoiando meu nome nesse consenso. Meu nome será lançado num evento próximo e referendado oficialmente pelo Diretório.”
Quem é o pré-candidato
João Batista Gagno Intra, o Babá, tem 61 anos. Exerceu apenas um mandato eletivo, como vereador de Vila Velha, de 2009 a 2012. Nesse ano, como diz, “foi para o sacrifício”, trocando a tentativa de reeleição por uma candidatura a prefeito sem chances, para representar o PT na eleição vencida por Rodney Miranda (então no DEM).
Depois disso, nunca mais disputou eleições. Inclinou-se para a área acadêmica. Dentista com consultório próprio, ele hoje é professor e coordenador da Escola de Aperfeiçoamento Profissional (EAP) da Associação Brasileira de Odontologia. Sediada em Bairro de Fátima, na Serra, a escola oferece cursos de pós-graduação e especialização em diversas áreas da odontologia.
Os desafiantes de Arnaldinho
Agora, Babá engrossa a fila de desafiantes do prefeito Arnaldinho. No começo do ano, o atual ocupante do cargo literalmente não tinha nenhum oponente colocado de forma pública. Agora, tem quatro a rodeá-lo, da esquerda (PT) à extrema-direita (PL), com PSDB e PP entre eles.
No dia 20 de março, o ex-secretário de Segurança Pública Alexandre Ramalho filiou-se oficialmente ao PL e lançou sua pré-candidatura a prefeito de Vila Velha.
No finzinho daquele mês, o ex-vereador e ex-vice-prefeito Maurício Gorza assumiu a presidência municipal do PSDB, a partir de uma intervenção da direção nacional do partido em Vila Velha. Gorza foi nomeado à frente de uma Comissão Interventora. Aliadíssimo de Max Filho (PSDB) e representante do mesmo grupo, ele já chegou ao cargo declarando-se pré-candidato a prefeito, para, segundo ele, defender a história e o legado do ex-governante de Vila Velha.
Já no comecinho de abril, foi a vez de outro ex-prefeito, Neucimar Fraga, anunciar nova pré-candidatura ao mesmo cargo, pelo Progressistas (PP).
Agora, chega o pré-candidato do PT.
Candidatura sustentável? Os grandes desafios de Babá
A pré-candidatura de Babá nasce diante de alguns desafios muito grandes.
O primeiro deles diz respeito à Febrasil, federação da qual o PT faz parte. O post do PT diz que a opção por Babá foi fruto de consenso, mas consenso, bem entendido, entre as correntes do PT. A postagem também informa que Babá será lançado como o pré-candidato da federação, abafando de saída eventuais desconfianças quanto a possíveis discordâncias por parte de PV e PCdoB…
Mas a prudência nos manda manter um pezinho atrás, até porque tem havido alguns ruídos entre os cointegrantes da Febrasil em alguns importantes municípios. Quer um exemplo? Basta esticar um pouco o pescoço e olhar um pouquinho para o lado, na direção de Cariacica, possivelmente o caso mais notório do que estamos tratando de apontar.
Na cidade vizinha, o PT tem a pré-candidatura a prefeita da educadora Célia Tavares – vale enfatizar: também aprovada à unanimidade pelo Diretório Municipal –, mas o PV está esticando a corda e medindo forças com o PT. Presidido na cidade pelo vereador César Lucas, aliado e ex-líder do prefeito Euclério Sampaio (MDB), o PV insiste na manutenção da pré-candidatura do ex-presidente da Câmara de Cariacica Heliomar Costa Novais.
É bom, portanto, que esse lançamento de Babá esteja de fato muito bem amarrado e pacificado com os dois sócios do PT na federação… mesmo porque – e eu só disse isto para quem está me lendo – tem gente no entorno de Arnaldinho convencida de que Febrasil terá mesmo candidato em Vila Velha, mas que esse não virá do PT.
O outro grande desafio para a manutenção da candidatura de Babá é de ordem “geopolítica” e financeira. Para se manter de pé até o fim, uma candidatura majoritária em uma cidade com cerca de 500 mil habitantes, a segunda mais populosa do Espírito Santo, requer não só bases populares de apoio, mas também alianças políticas e recursos financeiros.
No limite, é claro que o PT pode ir em Vila Velha para uma campanha barata, enxutíssima, sem coligação e no isolamento político total, confiando tudo no voto ideológico da militância e no quinhão do eleitorado mais sensível ao seu ideário.
Em todo caso, os dois últimos itens – alianças políticas e recursos financeiros – ficarão seriamente limitados para Babá, para não dizer inviabilizados, se mantido o quadro atual, no qual o PT do Espírito Santo apresenta simultaneamente pré-candidaturas majoritárias nos quatro maiores colégios eleitorais do Estado: o deputado estadual João Coser, cujo retorno à Prefeitura de Vitória é prioridade absoluta para o partido de Lula; a já citada Célia Tavares em Cariacica; e o ex-deputado estadual Roberto Carlos na Serra.
Ora, reza um velho ditado que “quem tudo quer, nada tem”, ou, no caso, pode ter muito pouco. Em termos práticos, a direção do PT pode até decidir dividir em muitos cestos os ovos de ouro do partido, isto é, os recursos do Fundo Eleitoral destinados às candidaturas majoritárias no Espírito Santo pela cúpula nacional… Mas, nesse caso, sobrará na certa muito pouco para Babá. Sua cota há de ser modesta.
Além disso, essa multiplicidade de candidaturas ao Executivo dos maiores municípios limita grandemente a margem para composições eleitorais com outros partidos no campo da esquerda, pois essas, via de regra, são condicionadas a contrapartidas em duas ou mais cidades. Pela lei da reciprocidade, eu te apoio aqui se você apoiar o meu candidato acolá. Um exemplo simples: o PDT acaso topará se coligar com o PT em Vila Velha se o PT está lançando candidato próprio na Serra, município prioritário para o PDT, em vez de apoiar o candidato do prefeito Sérgio Vidigal?
Por isso, para que a candidatura de Babá possa se manter de pé, é importante (quiçá necessário) que alguma outra dessas pré-candidaturas seja sacrificada (Cariacica ou, notadamente, Serra). Também pode ocorrer, é claro, o contrário: pelas mesmas razões expostas, justamente a pré-candidatura em Vila Velha acabar sacrificada em favor das demais.
Esse é o raciocínio pragmático.
A menos, é claro, que o PT desta vez esteja mesmo determinado a ir com tudo em Vila Velha para uma campanha pé na rua e vibrante, sem recursos e conscientemente sem chances de vitória, contando tão somente com as ideias e com a força da militância, para marcar posição ideológica, defender o governo Lula e começar a ressuscitar num município tão importante onde o partido a bem da verdade vegeta há cerca de uma década.
Se for assim, a participação de um candidato do PT, por si só, será muito importante, no sentido de ter o poder de aumentar as chances de uma decisão em 2º turno: se o candidato petista, na pior hipótese para a sigla, ficar entre 5% e 10% dos votos válidos, essa fração já poderá mudar radicalmente o cenário do jogo.
Palavra final com a Nacional
Em tempo: por resolução nacional, todas as definições relativas a candidaturas majoritárias nesta eleição, em municípios com mais de 100 mil eleitores, serão tomadas em última instância pela direção nacional do PT.
Pelo calendário interno do partido, todas as Executivas Municipais tiveram até o dia de ontem (30 de abril) para registrar suas pré-candidaturas no sistema interno do PT – por isso a tomada da decisão em prol de Babá: já não havia tempo para adiar. Depois, até o dia 10 de junho, as Executivas Estaduais deverão homologar as candidaturas em cidades com até 100 mil eleitores. Nas com mais de 100 mil eleitores, é a Executiva Nacional quem homologará as candidaturas até a mesma data.
Portanto, a palavra final não está nem em Vila Velha nem na Executiva Estadual comandada por Jack Rocha. Caberá a Gleisi Hoffmann e companhia… o que também vale para Serra e Cariacica.
(Para Vitória também, mas a candidatura de Coser não corre risco algum)
