Coluna Vitor Vogas
Prefeito diz que não disputa a reeleição e quer ser candidato a senador
Aliado de Casagrande, Enivaldo dos Anjos afirma estar entre PSB e MDB. Ricardo o convidou na última terça. Ele explica os motivos da atípica resolução

Enivaldo dos Anjos dá risada com Renato Casagrande, de quem é aliado. Crédito: Assessoria
Enivaldo dos Anjos (sem partido), a águia do noroeste, faz um anúncio surpreendente: mesmo podendo renovar o seu mandato como prefeito de Barra de São Francisco em 2024, decidiu não concorrer à reeleição.
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Mas engana-se quem pensa que ele pretende se aposentar da política e das disputas eleitorais. O veterano líder político, de 73 anos, tem no horizonte as eleições seguintes, dois anos depois: almeja candidatar-se a senador em 2026, como um dos representantes do grupo do governador Renato Casagrande (PSB), de quem é um combativo aliado – já foi inclusive seu líder na Assembleia Legislativa, em 2019.
“Eu já tomei a decisão. Tenho que submetê-la aos companheiros, mas a decisão, por mim, já está tomada”, afirma Enivaldo, ao seu estilo, sempre dispensando firulas.
Até 2026 há chão. Após o fim do mandato, em dezembro de 2024, Enivaldo não pretende ficar parado. Quer se dedicar intensamente à atividade partidária, na legenda em que escolher entrar.
Com quatro décadas de experiência política, sabe que concretizar uma candidatura majoritária estadual não depende só dele, mas de uma combinação de fatores. Em 2026, o Espírito Santo terá duas vagas no Senado em disputa. Pela ampla frente de aliados de Casagrande, deve haver dois ou mais postulantes. Um deles tende a ser o próprio governador.
“Não descarto nada. Mas a única candidatura que tenho vontade de disputar é a senador. Nem sempre você consegue, mas é a que eu gostaria de disputar”, reitera Enivaldo.
Em 2020, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCES) elegeu-se prefeito de sua cidade natal pelo Partido Social Democrático (PSD), então presidido no Estado pelo ex-deputado federal Neucimar Fraga.
Antes da campanha eleitoral do ano ado, o prefeito fez questão de se desfiliar do PSD em função do rumo tomado pelo partido na conjuntura estadual: tendo ado para as mãos de um grupo ligado ao ex-governador Paulo Hartung, o PSD lançou a candidatura do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon ao Palácio Anchieta, em oposição a Casagrande.
A desfiliação de Enivaldo foi mais uma prova de lealdade ao governador, em cuja campanha à reeleição empenhou-se intensamente. Foi puxador de votos de Casagrande na Região Noroeste.
Para onde vai?
Agora, o prefeito está entre dois convites muito quentes de filiação. O primeiro é ao PSB do próprio Casagrande, o que estreitaria ainda mais seu laço com ele – mas dificultaria o projeto de candidatura ao Senado em 2026. O segundo é ao MDB, agora sob nova direção, presidido no Espírito Santo pelo vice-governador Ricardo Ferraço.
Em evidência de que Ricardo não está brincando em serviço, Enivaldo conta ter sido convidado diretamente por ele, por telefone, na última terça-feira (17). Na véspera (16), Ricardo assinou ficha de filiação ao MDB e foi anunciado publicamente como novo presidente estadual. No dia seguinte (18), assumiu oficialmente o novo cargo na estrutura partidária.
Enivaldo é um antiquíssimo aliado do pai de Ricardo, o deputado estadual Theodorico Ferraço (PP). Na Assembleia, durante o último biênio do deputado cachoeirense na presidência da Mesa Diretora (2015-2016), os dois formaram uma dupla de ferro, com Enivaldo no cargo de 1º secretário da Mesa.
Ele diz ainda não ter se decidido, mas pondera não ver muita diferença, hoje, para ele, em entrar no PSB ou no MDB. Isso porque, com a consolidação de Ricardo na presidência estadual do MDB, as duas siglas estão inseridas num mesmo campo de forças no Espírito Santo. Seja qual for a sua escolha, o que ele quer, de fato, é participar da direção estadual da futura agremiação e poder exercer influência em suas decisões no Estado.
“Ainda estou pensando. Para mim não faz diferença, porque estou incorporado ao grupo deles. Vou para onde eles concluírem que sou mais útil, pois não pretendo só me filiar. Quero fazer atividade partidária. Não adianta só me filiar. Quero contribuir com a organização do partido e pretendo participar da Executiva Estadual, em qualquer posição.”
No âmbito local, PSB e MDB, segundo ele, apoiam sua istração em Barra de São Francisco, cidade de 42,5 mil habitantes, de acordo com o Censo 2022 do IBGE.
Por que não tentar se reeleger?
Aliás, voltando à istração municipal, se a meta de Enivaldo está em 2026, nada o impediria de concorrer à reeleição no ano que vem e, renovando o seu mandato, renunciar em abril de 2026 para disputar outro cargo eletivo, deixando a prefeitura aos cuidados do seu vice-prefeito.
Por que, então, antecipar para 2024 o encerramento de sua história como prefeito da cidade? Ele responde falando em renovação política e agem do bastão para outros companheiros.
“Acho que, em se tratando de grupo político, você tem que dar a oportunidade para outros companheiros, senão você simplesmente vai transferir o problema de agora para a outra eleição, quando não puder a reeleição. Então quero antecipar esse processo de mudança. A istração está bem, então tenho condições de apoiar um companheiro com sucesso.”
Esse companheiro a ser apoiado ainda não foi definido por Enivaldo, ou ele prefere ainda não o nominar. “Neste momento, ainda não tenho. É o que vamos tratar dentro do grupo a partir de agora. Tentei segurar ao máximo o processo sucessório para não interferir na istração, mas agora temos os prazos, temos que escolher o candidato, definir partido, montar chapa e alianças.”
Aspirantes não hão de faltar.
Trajetória circular
O currículo político de Enivaldo dos Anjos, tio do deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB), é um dos mais interessantes do Espírito Santo, em razão de sua “circularidade”.
De forma muito sumária – vou arredondar datas e suprimir detalhes –, Enivaldo foi prefeito de Barra de São Francisco nos idos dos anos 1980. Nos anos 1990, foi deputado estadual por mais de um mandato. Na década seguinte, foi conselheiro do TCES.
Em meados dos anos 2010, mesmo podendo permanecer no TCES até os 75 anos (a se completarem só em 2025), antecipou a aposentadoria para tornar à atividade político-partidária.
Voltou, então, a eleger-se deputado estadual, em 2014, renovando o mandato nas urnas em 2018. Dois anos depois, assim como lá nos anos 1980, virou de novo prefeito de Barra de São Francisco.
