Coluna Vitor Vogas
Vereador de Vitória ameaça expulsar vice-prefeita do partido
Incomodado com o que considera “aproximação da Capitã Estéfane com partidos de esquerda”, presidente municipal do Patriota, Leonardo Monjardim, deu a ela prazo de 15 dias para explicar seu posicionamento ideológico e responder se deseja ou não permanecer na legenda

Leonardo Monjardim e Capitã Estéfane
Contrariado com o que considera aproximação da Capitã Estéfane com partidos de esquerda, o vereador Leonardo Monjardim, presidente do Patriota em Vitória, ameaça abrir um processo disciplinar contra a vice-prefeita no Conselho de Ética do partido no âmbito municipal e até expulsá-la do Patriota ao fim do processo.
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Em ofício datado desta sexta-feira (17), Monjardim intimou a vice-prefeita a explicar oficialmente o seu posicionamento político, justificar sua “proximidade com partidos ideologicamente de esquerda” e informar se tem interesse ou não em permanecer no Patriota. Ela tem prazo de 15 dias para responder.
Segundo o vereador, dependendo do teor ou da ausência das respostas da vice-prefeita, a Executiva Municipal do Patriota pode instaurar contra ela um procedimento disciplinar que pode culminar com a sua expulsão do partido.
A Executiva Municipal tem autonomia para decidir sobre eventuais sanções internas à vice-prefeita, afirma Monjardim. Se for punida, ela pode recorrer a alguma instância partidária superior. Mas, ainda de acordo com o vereador, “o entendimento do partido é exatamente esse em todas as instâncias”.
Não consegui contato com a própria Capitã Estéfane nem ela respondeu a minhas mensagens nesta sexta-feira.
Evangélica, Estéfane elegeu-se vice-prefeita ao lado de Lorenzo Pazolini em 2020 pelo mesmo partido do prefeito, o Republicanos, sigla de direita e bastante conservadora nos costumes. Entrou no Patriota, agremiação do mesmo campo ideológico, para concorrer a uma cadeira de deputada federal pelo Espírito Santo na eleição do ano ado, porém não conseguiu se eleger.
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No 1º turno da eleição ao Governo do Estado, a vice-prefeita apoiou o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD), direitista e bolsonarista. O Patriota não apoiou ninguém.
Já no 2º turno, Estéfane declarou apoio ao governador Renato Casagrande (PSB) e subiu em seu palanque em alguns comícios – num deles, ao lado do ex-prefeito João Coser (PT). Além de ser um líder de centro-esquerda, Casagrande apoiou Lula (PT) para a Presidência e contou com a Federação Brasil da Esperança (PT/PV/PCdoB) em sua coligação.
O alinhamento de Estéfane a Casagrande se chocou com o do próprio partido, já que o Patriota, presidido no Espírito Santo pelo ex-deputado estadual Rafael Favatto, apoiou oficialmente Manato (PL) no 2º turno.
Em novembro, como rescaldo da eleição estadual, o prefeito Lorenzo Pazolini desentendeu-se publicamente com Estéfane. Em evento num centro de convivência em Jardim Camburi, chegou a lhe tomar das mãos o microfone para impedir que ela discursasse.
Embora não tenha declarado apoio a ninguém na eleição ao governo estadual e agora esteja buscando se reaproximar de Casagrande, o prefeito foi opositor do governo em seus dois anos na Assembleia Legislativa (2019-2020) e notório desafeto político do governador em seus dois primeiros anos na prefeitura (2021-2022).
Estéfane deu entrevistas, inclusive a este espaço, acusando Pazolini de cercear a sua atividade política e praticar violência política de gênero contra ela.
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Agora, cogitando sair do Patriota para disputar a próxima eleição municipal, a vice-prefeita viria conversando com outros partidos, inclusive no campo da esquerda. Pelo menos é o que alega Monjardim como o principal motivo de sua confrontação a ela.
Curiosamente, o próprio vereador também já ou por governos e partidos de esquerda. Advogado, professor, escritor e empresário, ele foi subsecretário de Cultura de Vitória na istração de João Coser (PT), além de dirigente municipal e candidato a vereador pelo PDT em 2016.
Entretanto, guinou ao bolsonarismo e, desde que assumiu seu primeiro mandato na Câmara em dezembro de 2022, está bem estabelecido como um dos principais representantes da direita conservadora no Legislativo municipal. Para Monjardim, a vice-prefeita tem se distanciado dessa linha político-ideológica (movimento contrário ao que ele mesmo fez):
“Estamos acompanhando a movimentação dela nos últimos dias. Ela tem conversado com partidos que são de esquerda, bem como demonstrado simpatia às pautas defendidas por esses partidos. Essa atitude está causando conflitos internos no Patriota.”
Os posicionamentos de Estéfane, na visão do presidente municipal da sigla, vão contra o ideário do Patriota:
“Isso nos evidencia, provavelmente, o descompromisso da vice-prefeita com nosso partido e com as nossas diretrizes conservadoras de direita, além do desrespeito dela aos nossos filiados, uma vez que ocupa um importante cargo no Poder Executivo Municipal. Ela tem um prazo de 15 dias para demonstrar o seu interesse em permanecer no partido, sendo o silêncio entendido como o desinteresse na permanência no Patriota”, arremata Monjardim.
