Coluna Vitor Vogas
Camila Valadão: “Vitória deve ter a 1ª prefeita em 2024”
Com a pré-candidatura aprovada pelo PSol, ela lista suas prioridades, incluindo a segurança: “Não deixaremos o debate na mão do delegado e do capitão”

Camila Valadão. Crédito: Ales
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
“Estou preparada. Vitória deve ter a primeira prefeita em 2024.” É assim, esbanjando confiança, que a deputada estadual Camila Valadão (PSol) se mostra determinada a concorrer à Prefeitura de Vitória no ano que vem, possibilidade muito mais presente desde o último sábado (16).
Na oportunidade, em congresso estadual preparatório para o VIII Congresso Nacional do PSol, os delegados do partido, eleitos em plenárias municipais, aprovaram por unanimidade a pré-candidatura de Camila a prefeita de Vitória. Agora, a deputada estadual é mais pré-candidata que nunca. Segundo ela, a direção do partido no município e no Estado tem autonomia para decidir sobre o assunto, e a resolução não precisa ser homologada ou ratificada pela instância nacional.
A confirmação da candidatura só dependerá da decisão final a ser tomada na convenção do PSol em Vitória, dentro do prazo previsto no calendário eleitoral (de julho para agosto do ano que vem). “Mas já é uma importante sinalização de que há um consenso de todos os campos que compõem nosso partido em torno desta pré-candidatura. Com isso comunicamos, inclusive para a direção nacional, que o PSol terá candidatura própria em Vitória”, destaca ela mesma.
Na mesma resolução, aprovada no último sábado, o PSol também decidiu seguir dialogando sobre tática eleitoral com os partidos mais próximos do ponto de vista ideológico, e a própria Camila não exclui, ainda, a hipótese de vir a desistir da candidatura até o período de campanha, em prol de uma composição estratégica no campo progressista. Mas isso, sublinha ela, somente em “uma conjuntura extrema”.
O que seria, contudo, uma “conjuntura extrema”? E sua candidatura, concorrendo com a provável de João Coser (PT), não pode levar a esquerda a morrer abraçada, em benefício do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos)? Sem nunca ter sido a pública e precisamente uma década após ter concorrido ao Governo Estado – em sua única experiência como postulante a cargo no Executivo –, Camila está mesmo pronta para esse próximo o?
Essas e outras perguntas foram feitas pela coluna e respondidas por ela na entrevista a seguir, na qual a deputada também elenca as prioridades de sua campanha. Spoiler: preste atenção à primazia que ela planeja dar ao tema da segurança pública em sua plataforma. “Não vamos deixar esse debate na mão do delegado e do capitão”, afirma a pré-candidata, em alusão, respectivamente, a Pazolini e ao deputado estadual Capitão Assumção, pré-candidato do PL ao mesmo cargo.
A esta altura do processo eleitoral, a pouco menos de um ano do 1º turno, há três tipos de pré-candidatos: o que não tem a menor intenção real de concorrer e só quer se valorizar nas negociações; o que pode até ser de verdade, mas já entra predisposto a fazer uma composição lá na frente; e o que já entra determinado a ser candidato de qualquer maneira. Em qual categoria a senhora se encaixa?
Essa decisão do PSol é para valer, para disputar um processo para a cidade, tanto que é uma decisão tomada em congresso estadual, a nossa principal instância decisória. É óbvio que, em uma conjuntura extrema, vou usar esta expressão, o PSol pode dialogar para fazer uma composição, mas não é esse o nosso entendimento hoje. Queremos colocar essa candidatura logo para debate. Não é só para o ano que vem. Não queremos só aparecer em resultado de pesquisa. Queremos fazer esse debate político na cidade o quanto antes.
O que a senhora chama de “conjuntura extrema”?
Acho que a eleição em Vitória será pulverizada, com várias candidaturas no 1º turno. Mas pode ser que essa seja uma análise precipitada e que, no ano que vem, haja uma maior concentração de candidaturas. Para nós, é um cenário muito complicado, por exemplo, se tivermos Pazolini em 1º lugar e Assumção em 2º em pesquisas perto da campanha. Eu acho que esse cenário não ocorrerá, mas…
Mas, se ele se concretizar, não fará sentido uma divisão das forças de esquerda.
Não queremos tomar a pecha de que estamos dividindo as forças da esquerda, de jeito nenhum. Mas hoje entendemos que haverá várias candidaturas em Vitória, até para contemplar a diversidade do eleitorado da Capital. Resumir em poucas candidaturas significa fortalecer a lógica da polarização da conjuntura nacional.
Na sua avaliação, um cenário de poucas candidaturas tende a favorecer o atual prefeito?
Sim. Nesse cenário, quem sai mais fortalecido é quem está na máquina. E espero que um cenário com mais opções proporcione uma campanha mais qualificada do que foi a de 2020.
Mas, do ponto de vista estratégico, essa divisão da esquerda em duas candidaturas, a sua e a de João Coser (PT), não pode na verdade ser ruim para a própria esquerda? Vocês não avaliam que isso pode favorecer o adversário em comum, na medida em que a senhora e o candidato do PT podem dividir os mesmos votos, fazendo com que nenhum dos dois chegue ao 2º turno?
Acho que não. É claro que vamos seguir dialogando sobre isso ao longo desse período. Mas eu e João tivemos excelentes votações em Vitória no ano ado para a Assembleia Legislativa, separados. Temos perfis de eleitorados muito diferentes. Em Vitória você tem um eleitorado, que é onde minha candidatura entra mais, que não necessariamente é um eleitorado partidário. É um eleitorado mais jovem. Então a nossa campanha acaba dialogando muito com um público com o qual a do João não dialoga. Outra questão são os perfis programáticos e políticos de cada um. Tenho excelente relação com o João. É um dos principais parceiros e aliados que tenho na Assembleia. Mas temos perfis de mandato diferentes também. Então não acho que a gente divida votos.
Quais as principais diferenças?
Acho que o próprio perfil diz muito. Sou uma mulher jovem e negra. Tem a ver com isso, em primeiro lugar. Acabo dialogando mais com o público que quer votar em alguém com esse perfil. E tem as pautas políticas mesmo. Tenho uma vida pautada na defesa dos direitos humanos, de maneira muito nítida e intransigente, com pautas políticas sempre muito afirmativas em defesa de setores minoritários. E o João é um defensor de direitos humanos também. Mas sua trajetória de vida e política talvez não tenha perado muito por essa linha. Ele sempre fez muito os debates relacionados ao mundo do trabalho, porque sempre dialogou muito com o setor sindical, o debate da agricultura, o debate econômico… E acho que a gente acaba indo por outro viés.
E quanto à Rede Sustentabilidade, federada com o PSol? Onde é que ela entra, no momento, nesse processo decisório do PSol? A Rede também tomou parte nessa decisão sobre sua pré-candidatura ou foi apenas comunicada?
Eles não participaram da direção diretamente, mas eles têm ciência, e a gente vem dialogando. Vimos sempre trocando impressões eleitorais com a direção da Rede sobre Vitória e os outros municípios.
Mas a Rede está de acordo com essa pré-candidatura pela federação?
Sim.
E no 2º turno? Se a senhora ou outro candidato de esquerda ar, vocês estarão juntos necessariamente?
Sim, necessariamente. No 2º turno, a gente se posiciona logo após encerrada a apuração para apoiar o João, se ele estiver no 2º turno, ou alguma outra candidatura que derrote o projeto expresso pela istração Pazolini.
Até que ponto exatamente vocês estão abertos a discutir política de alianças? Isso sempre foi um “tema” no PSol…
Pois é. Para nós, o arco de alianças sempre foi muito e assim continuará. Principalmente nesse cenário de Vitória, não temos muita pretensão de ampliar as alianças. Faremos uma conversa com o PCB [Partido Comunista Brasileiro], que está em processo de regularização aqui. É um partido pequeno, mas sempre teve o nosso total respeito. A Rede já está conosco na federação. E, por ora, o movimento é esse. Tem outras pré-candidaturas, como a do PSB. Não sabemos se se manterá, mas, a princípio, sim: o Tyago [Hoffmann] é candidato e, pelo que ele diz, é para valer também.
A senhora já definiu quais serão as prioridades da sua campanha e do seu mandato, caso eleita?
Quero destacar a saúde pública municipal. Vitória sempre foi uma cidade referência até nacional do ponto de vista da saúde, e vimos a istração de Pazolini sucateando e terceirizando muito essa política, então a qualidade da saúde pública de Vitória caiu muito, e pretendemos retomar o protagonismo. Outra política que destaco e em que Vitória também sempre teve destaque é a educação municipal. Na nossa avaliação, Vitória perdeu muito com a istração de Pazolini. É uma lógica de educação que visa privatizar mesmo a escola pública de Vitória, que sempre foi referência no Estado. Tem muitas famílias reclamando da redução do número de professores, de acompanhantes, ou mudanças da cabeça da gestão sem diálogo com a comunidade escolar, que sempre foi um dos eixos da política educacional em Vitória. Destaco também a cultura. A cidade nunca teve um projeto cultural e tem potência para ser um polo muito forte de fomento à cultura. Destaco políticas voltadas para os setores minoritários. Vitória não investiu absolutamente nada no que diz respeito à população negra, pensando em políticas que vão afetar as comunidades mais periféricas, que é essencialmente negra, além de mulheres, população LGBTQIA+, a primeira infância… As crianças aqui não têm prioridade, embora o prefeito esteja inaugurando um monte de parquinhos, mas são parquinhos pasteurizados, que não consideram a diversidade. Se você quiser levar seu filho para um parquinho diferente em Vitória, não tem. Tirando a Praça da Ciência, é tudo igual! Que pensamento de infância é esse? E outra discussão importantíssima que queremos fazer é a da segurança pública. Não vamos deixar esse debate na mão do delegado e do capitão. Temos elementos para fazer esse debate. Queremos uma segurança e uma Guarda fortalecida e com a identidade de Guarda Municipal.
Vocês defendem uma Guarda que não atue de maneira armada e diretamente em operações de repressão?
De maneira armada, é o que já se consolidou por todo o país. O debate não pera o armamento ou não armamento e sim a missão da Guarda. Na nossa avaliação, a Guarda precisa ser, por isso o nome, comunitária, de proximidade, valorizada, com remuneração e com projetos voltados para a cidade. A segurança em Vitória merece mais. Isso é público. Vitória já teve projetos importantes na área de segurança que podem ser aperfeiçoados. Podemos retomar um processo de segurança que valorize a participação popular, os conselhos de segurança, que existem, mas podem ser mais valorizados.
Uma crítica comum que se faz à esquerda, às vezes até uma autocrítica por parte de representantes desse campo, é que, nas últimas décadas, a esquerda negligenciou essa pauta da segurança pública e deixou a direita se apropriar completamente dela. Outra crítica, mais extrema, é que a esquerda tende a ser condescendente com o crime, não agir com a firmeza e a contundência necessárias para combatê-los. A senhora está disposta a encarar esse debate?
Totalmente. Quero fazer o debate sobre segurança pública e entendo que toda a sociedade precisa fazê-lo. Não é só o capitão e o delegado. Então me considero, sim, alguém com capacidade e condições de debater qual é o modelo de segurança que nós queremos. Isso precisa estar em nossa plataforma política e é, de fato, um tema que a esquerda precisa enfrentar. Na Assembleia, por exemplo, temos feito esse debate no âmbito da Comissão de Direitos Humanos. Fui, por exemplo, uma defensora firme do uso de câmeras no fardamento dos policiais. Dentro do debate da segurança, outra discussão que temos feito é sobre a saúde mental dos policiais militares. Fizemos essa discussão na comissão. Já recebemos aqui a Associação de Cabos e Soldados. Teremos um conjunto de ações, e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia vem atendendo a violações de direitos contra policiais militares.
Por formação, a senhora é assistente social. Politicamente, exerceu dois anos de mandato na Câmara de Vitória e está no primeiro ano de mandato na Assembleia. A senhora se considera pronta para exercer um mandato no Poder Executivo?
Totalmente pronta. A minha primeira e única disputa foi no pleito ao Governo do Estado em 2014, há dez anos. Entendo que é um cargo que requer muito diálogo para que se possa fazer uma boa gestão. Mas acho que tenho muitas qualidades, superiores inclusive às de muitos candidatos. Sou assistente social por formação. Como vereadora, tive a oportunidade de conhecer muito bem as carências da cidade de Vitória. Para além disso, sou uma estudiosa do tema das políticas sociais. Sou doutora em Política Social. Estou preparada. Vitória deve ter a primeira prefeita em 2024.
