Coluna Vitor Vogas
Caso Armandinho: trama rocambolesca ganha camada extra de confusão
2º suplente do vereador pede cassação do 1º suplente, Chico Hosken. Denúncia foi lida ontem no plenário da Câmara de Vitória. Entenda este rolo bônus

Armandinho foi afastado do cargo de vereador de Vitória. Foto: Divulgação
O processo contra Armandinho Fontoura (Podemos) na Câmara de Vitória já parecia uma trama rocambolesca o bastante, mas alguns dos envolvidos discordaram, acharam que era pouco e resolveram acrescentar uma nova camada ao rocambole político e jurídico.
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Como se sabe, o empresário Sandro da Rocha, morador de Bairro República, protocolou em 23 de março uma denúncia contra Armandinho, pedindo a cassação do vereador preso e afastado do cargo. O processo disciplinar contra Armandinho foi instaurado e está tramitando na Corregedoria da Câmara. Mas agora a Corregedoria precisa lidar com outra representação, praticamente derivada da primeira.
Como num jogo de caixas chinesas (uma dentro da outra), o 2º suplente de Armandinho na Câmara, Ederson Silva Pereira, conhecido como Neno Bahia (Podemos), decidiu pedir a cassação do 1º suplente do vereador afastado, Chico Hosken (Podemos). Desde janeiro, Chico está exercendo o mandato no lugar de Armandinho, por determinação da Justiça.
No último dia 12, Neno Bahia, o 2º suplente, protocolou representação na Câmara contra Chico Hosken, o 1º suplente, por quebra de decoro parlamentar. A representação foi lida em plenário pela Mesa Diretora na sessão plenária desta quarta-feira (19) – pontapé inicial do processo.
Agora, a Mesa encaminhará a denúncia contra Chico ao corregedor-geral da Casa, Leonardo Monjardim (Patriota), que terá prazo de cinco dias para decidir se a representação é ou não issível. Se entender que sim, será sorteado um relator.
Neno acusa Chico, em outras palavras, de estar por trás de uma suposta armação para enganar Sandro da Rocha, o autor da denúncia contra Armandinho. Nos termos da denúncia do 2º suplente, um assessor de Chico, de nome Washington, teria abordado Sandro da Rocha e induzido o empresário a a representação contra Armandinho fazendo-o crer se tratar de outro tipo de documento: um requerimento para realização de uma audiência pública.
Para embasar sua acusação contra Chico, Neno cita material publicado por veículos da imprensa capixaba e se fundamenta principalmente nas declarações que o próprio Sandro da Rocha ou a dar a partir de um episódio crucial nesta trama rocambolesca: a aparição surpresa do empresário no plenário da Câmara de Vitória no último dia 5, durante a sessão da Corregedoria em que a denúncia contra Armandinho foi itida pelo corregedor-geral e o processo contra o vereador afastado foi deflagrado.
Até então, Sandro da Rocha só era “um nome”: o nome que, para todos os efeitos, assina a denúncia em face de Armandinho e que consta no documento, oficialmente, como denunciante. Contudo, no dia 5, Sandro apareceu em pessoa na reunião aberta da Corregedoria. Não pôde fazer uso da palavra em caráter oficial, mas entrou no plenário e afirmou para todos os presentes (vereadores, assessores e advogados) que tinha sido enganado, ando a negar a autoria da representação contra Armandinho.
À coluna, no dia seguinte, Sandro declarou que é vítima de “uma sacanagem” e que está sendo usado como “boi de piranha”. Mas não deu nome aos outros bois. Quer dizer, não acusou diretamente Chico Hosken de ser o mentor da alegada armação contra ele.
Washington, personagem capital
No entanto, Neno Bahia, o 2º suplente, pôs em destaque um nome citado por Sandro em falas feitas pelo empresário no dia 5, durante a sessão da Corregedoria, filmadas por terceiros e publicadas em redes sociais. Em um dos vídeos, de dentro do plenário da Câmara, Sandro diz aos membros da Corregedoria ter sido abordado por certo Washington:
“… Qual foi a intenção? Do vereador ou do munícipe Armandinho Fontoura, em cima daquele processo do STF… Era só isso! E que seria montada uma audiência pública. Foi isso que me foi falado. Peguei a documentação e entreguei. Quando fui perceber, falei ‘pô, Washington, isto aqui é uma brincadeira!’”
Sandro então é questionado pelo vereador Luiz Emanuel (sem partido), membro da Corregedoria: “Você assinou, Sandro?”
“Comecei a e parei. Só que eu não representei contra ninguém!”
Neno Bahia conclui que, “a partir dessa assertiva, cabe a abertura de procedimento para verificar a ocorrência de falsidade ideológica ou documental dos atos praticados, conforme fala de Sandro Luiz”.
Na denúncia contra Chico Hosken, Neno afirma ainda que o Washington referido por Sandro seria o assessor Washington Gomes Bermudes, lotado no gabinete de Chico. O servidor, na versão de Neno, teria abordado Sandro e o induzido a erro agindo a mando do 1º suplente de Armandinho.
“Pesquisando no Portal da Transparência da PMV, é percebida a existência de um servidor de nome Washington Gomes Bermudes e que, coincidentemente, trabalha no gabinete do vereador Chico Hosken, suplente do vereador Armandinho Fontoura”, anota o 2º suplente, na denúncia contra o 1º.
Neno Bahia também juntou a sua denúncia um post feito por um cidadão chamado Alessandro Potiguara. O post contém um vídeo gravado no dia 5 no qual Sandro da Rocha, do lado de fora do plenário, afirma que não assinou nada contra Armandinho. Alessandro Potiguara foi arrolado por Neno, ao lado do próprio Sandro da Rocha, como testemunhas de acusação contra Chico.
Neno conclui que os indícios são suficientes para que a Corregedoria instaure processo por quebra de decoro contra Chico e apure melhor os fatos. Ao final, ele pede a cassação do 1º suplente de Armandinho, à frente dele próprio na fila da substituição.
“Dos fatos amplamente divulgados se observa que existem indícios da prática de atos que violam o decoro parlamentar supostamente praticados por assessores do vereador Chico Hosken e que indicam a necessidade da apuração dos fatos, haja vista que o mesmo é a pessoa beneficiada com a cassação do mandato do vereador Armandinho Fontoura, do partido Podemos.”
Ouvido pela coluna nesta quarta, Neno Bahia afirmou que suas provas são as declarações de Sandro da Rocha:
“Eu não estou acusando sem provas. Estou acusando pelo que aconteceu. Uma pessoa [Sandro] invade o plenário e afirma que foi obrigado a fazer uma denúncia contra o Armandinho por um assessor do Chico. Ele mesmo diz que foi abordado pelo Washington. É a versão do Sandro, que está lá nos autos.”
Chico Hosken: explicações em plenário na terça (25)
Também procurado pela coluna, Chico Hosken agradeceu pelo contato, afirmou que por enquanto prefere o silêncio, mas antecipou que, na sessão plenária da próxima terça-feira (25), dará todas as explicações para a sociedade e a imprensa da tribuna da Câmara:
“Não falamos nada até hoje. Ficamos só ouvindo, até porque estamos muito tranquilos. Resolvemos juntar tudo e falar tudo na terça-feira na Câmara. Todos serão convidados.”
Desnecessário dizer que, se Armandinho for cassado por decisão dos vereadores de Vitória, Chico Hosken assumirá o mandato em definitivo, independentemente da situação de Armandinho na Justiça. Por ora, Chico substitui o titular afastado por força de decisão judicial.
Desnecessário ainda dizer que, se Chico Hosken for cassado, Neno Bahia se torna o primeiro na linha de substituição de Armandinho, como 2º suplente do Podemos. Em tese, pode assumir o mandato de Armandinho no lugar de Chico.
Na próxima quarta-feira (26), às 14 horas, Sandro da Rocha prestará depoimento à Corregedoria para elucidar os fatos, por convocação do corregedor-geral, Leonardo Monjardim. No dia seguinte, Monjardim deve reunir os outros quatro membros do órgão disciplinar para começar a tratar da denúncia de Neno Bahia em face de Chico Hosken.
