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Coluna Vitor Vogas

As primeiras declarações de Weverson como o candidato de Sérgio Vidigal

“Não sou formado em Instagram nem pós-graduado em TikTok!” Com indiretas visando Muribeca e um aceno forte para Audifax, discípulo do prefeito da Serra entra para valer na disputa pela sucessão de Vidigal, que decidiu abdicar da reeleição

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Weverson Meireles discursa após ser apresentado pelo casal Vidigal como pré-candidato a prefeito da Serra. Foto: Samuel Chahoud

Comecemos pelo fim: “Missão dada é missão cumprida”. Foi assim, citando o lema do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio, imortalizado pelo filme “Tropa de Elite”, que Weverson Meireles encerrou neste sábado (16) o seu primeiro discurso do alto de sua nova condição. Minutos antes, ele havia sido apresentado ao público e à imprensa, pelo prefeito Sérgio Vidigal e a primeira-dama Sueli Vidigal, como o pré-candidato do PDT a prefeito da Serra, na concorrida convenção municipal do partido.

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Mesmo considerado competitivo e dizendo ter pesquisas que o provam, Sérgio Vidigal decidiu abrir mão de disputar a reeleição, transferindo a Weverson, seu pupilo político e auxiliar direto há 13 anos, a “missão” de representá-lo no pleito, defender seu legado e sucedê-lo na prefeitura.

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O principal motivo alegado por Vidigal foi de ordem pessoal e familiar: ele pretende dedicar muito mais tempo à família após o encerramento do atual mandato. Sua mulher, Sueli Vidigal, está lutando contra um câncer no rosto, detectado no ano ado. Já ou por duas cirurgias e está realizando sessões de quimioterapia. Diante da militância, os dois trataram abertamente do tema, até então reservado aos bastidores e só comentado sob muita reserva devido à delicadeza da situação.

Além disso, aos 66 anos, Vidigal não esconde o cansaço acumulado após 35 anos de vida pública, com mandatos praticamente ininterruptos dedicados à Serra, em profundo sacrifício da família. Desde que se elegeu pela primeira vez, a vereador, em 1988, ele só ficou sem mandato de 2013 a 2014, mas foi trabalhar no Ministério do Trabalho. Agora, ele quer ter uma participação maior na vida e no crescimento dos netos.

Prestes a completar 33 anos, Weverson tem a metade do tempo de Vidigal na Terra e idade para ser seu filho. Por sinal, a juventude foi preponderante na escolha feita pelo prefeito, assim como a proximidade e a lealdade devotada a ele por seu chefe de gabinete. Weverson não é filho biológico de Vidigal, mas é um filho político saído do seu berço e, agora, é a nova criação eleitoral gerada por ele – assim como o foi Audifax Barcelos (PP), à época no PDT, há precisamente 20 anos.

A filiação partidária e política de Weverson ao prefeito salta aos olhos. Na família pedetista, ele atingiu proeminência: há alguns anos, por designação de Vidigal, Weverson é o presidente do PDT no Espírito Santo e é quem fala em nome de Vidigal nas articulações políticas, graças à confiança acumulada por ele junto ao prefeito, com quem colabora desde os 20.

A relação é quase de paternidade mesmo. Textualmente, em seu discurso, Weverson afirmou ter em Vidigal “uma referência de pai”. Indo além, disse ter tido o privilégio, ao contrário da maioria das pessoas, de poder trabalhar por muitos anos ao lado do seu “ídolo” na adolescência. Exagerando um pouco nos epítetos, o agora pré-candidato a prefeito definiu o pai (ou padrinho) político como “o maior gestor do Brasil”, “o homem mais idolatrado no PDT e mais amado na Serra”…

O ato de lançamento de Weverson também serviu para expor, de forma cristalina, as linhas gerais da estratégia com que o candidato ungido por Vidigal entra nessa disputa, arquitetada pela renomada marqueteira Jane Mary Abreu – autora, por ironia, da vitoriosa campanha em que Audifax virou um jogo perdido contra Vidigal e o derrotou de maneira icônica na Serra em 2016.

A linha mestra da estratégia, antecipada aqui e evidenciada na entrevista e no discurso de Vidigal, é promover e “vender” a fusão da juventude do candidato, debutante em eleições, com a experiência e a “segurança” transmitida pelo prefeito.

Isso também sobressaiu das falas do agora pré-candidato no discurso para a militância e na entrevista que se seguiu.

Sem citar o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos) nem itir que era ele o alvo, Weverson fez algumas indiretas muito nitidamente endereçadas ao também pré-candidato a prefeito da Serra e opositor ferrenho de Vidigal. Além de associar Muribeca seguidamente à ideia de “retrocesso”, o agora pré-candidato do PDT contrapôs sua formação acadêmica e seu currículo na istração pública à atuação política do deputado, concentrada nas redes sociais.

“Sou formado em istração pela Ufes. Eu não sou formado em Instagram e pós-graduado em TikTok. Tenho no meu currículo experiências de gestão. Eu não tenho no meu currículo uma ficha corrida.”

Como parte da mesma estratégia, tanto Weverson como Vidigal fizeram um aceno fortíssimo e até inesperado ao ex-prefeito Audifax Barcelos, outro adversário eleitoral, em mais uma evidência de que o grupo do atual prefeito está hoje mais muito mais preocupado com Muribeca e pretende fazer um embate polarizado com ele.

“Não podemos permitir retrocesso na cidade. A Serra representa muito para nós, serranos, mas representa muito para o estado do Espírito Santo. Brincar com o futuro da Serra é brincar com o futuro do nosso Estado. […] Por isso, não está descartado dialogar com o Audifax, porque ele fez, sim, uma boa gestão, independentemente dos posicionamentos políticos, até porque o Audifax saiu da mesma escola pela qual estou sendo apresentado agora.”

Apresentamos a seguir os principais pontos do discurso e da entrevista de Weverson, com as suas primeiras declarações na condição de pré-candidato a prefeito:

As razões de Vidigal

No discurso, falando em parte ao casal Vidigal, em parte à militância pedetista, Weverson comprometeu-se a lutar para defender o legado do atual prefeito, a quem tratou sempre com grande deferência, como “o senhor” e “Doutor Sérgio”. E conclamou os militantes a fazerem o mesmo:

“Compreendemos essa escolha e estaremos do lado do senhor e da senhora [Sueli] defendendo, indo às ruas, dialogando com todo esse exército. […] Vamos sem dúvida alguma defender o legado de Sérgio Vidigal. Vamos para as ruas defender o planejamento de desenvolvimento desta cidade. Não nos faltará força, com todo este exército reunido, com toda a forças desses homens e mulheres de bem que aqui estão.”

Weverson disse entender que Vidigal queira “abdicar de toda essa luta para estar ao lado da família”. Para a plateia, na qual muitas pessoas choravam, ele relatou o dia em que o prefeito chegou todo emocionado ao gabinete pelo simples fato de ter conseguido levar o netinho, no seu carro, para cortar o cabelo.

Na entrevista, Weverson completou: “Meu sentimento é o mesmo da militância do PDT: é um misto de sentimentos. Assim como a população, nós temos no Sérgio Vidigal uma referência de gestor, de pai, de pessoa que olha com carinho para a cidade. Então, é a nossa obrigação entender o posicionamento pessoal dele, o amor que ele tem pela esposa e pela família. O sentimento da militância do PDT agora é de compreensão da decisão do nosso prefeito e é o sentimento de força, de ir para a rua para defender a continuação desse projeto de desenvolvimento que muda a Serra desde 1996”.

Ele está pronto?

Perguntamos a Weverson se ele se considera pronto para ser candidato a prefeito agora (sem nunca ter disputado uma eleição) e para governar a maior cidade do Estado (aos 33 anos). Vidigal tinha perto de 40 quando se elegeu prefeito pela primeira vez.

“Estou pronto para debater com a cidade da Serra qual é o melhor caminho para esta cidade. Tenho a segurança de falar que a minha experiência, ao lado do prefeito Sérgio Vidigal, é uma experiência adequada para tocar a cidade. Se a população entender que esse é o melhor caminho, nós vamos tocá-lo.”

Indiretas a Muribeca

“Sou formado em istração pela Ufes. Eu não sou formado em Instagram e pós-graduado em TikTok”, disparou Weverson. “Tenho no meu currículo experiências de gestão. Eu não tenho no meu currículo uma ficha corrida”, completou.

Em entrevistas, inclusive a este espaço, não é de hoje que Vidigal vem expressando incômodo com o novo estilo de fazer política que dá muito retorno eleitoral hoje em dia, baseado em farto uso das redes sociais, por vezes com muito estardalhaço, muito “engajamento” das pessoas, mas pouquíssimo conteúdo de fato.

No discurso, Weverson ainda disse:

“Nós vamos para a rua de cabeça erguida, sabendo que estamos defendendo o que tem de melhor para a nossa cidade, a continuação de um projeto vitorioso que mudou a história do maior município do estado do Espírito Santo, sabendo que os desafios são inúmeros, mas as vitórias são incontáveis, as conquistas possíveis pelas mãos desse homem que dedicou uma vida a esta cidade. E é em nome da vida dessa família, desse casal, que iremos às ruas.”

Renovação com experiência e com segurança”

Ante a pergunta de uma colega, Weverson respondeu não haver contradição entre apresentar-se como possibilidade de “renovação” e, ao mesmo tempo, arrogar a “experiência” de Vidigal e arvorar-se em defensor do legado e em “continuidade” da atual gestão.

Ele aproveitou para valorizar parceiros políticos da mesma faixa etária, como o deputado estadual Alexandre Xambinho, presidente municipal do Podemos, e o presidente da Câmara da Serra, Saulinho da Academia (PDT). Também acenou para o deputado estadual e presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite, que hoje não é aliado de Vidigal. Os dois primeiros estavam na primeira fila. Vandinho não compareceu.

“Não é contraditório. A renovação precisa ser feita em dado momento do processo eleitoral. E Sérgio Vidigal, como estadista que é, mostrando mais uma vez sua grandiosidade e o amor que tem pela família dele, faz isso para permitir uma nova geração na cidade. Neste momento, quem representa essa nova geração dentro do PDT sou eu. Mas temos aliados importantes como o Xambinho e o Saulinho. O Vandinho Leite neste momento não é nosso aliado, mas temos condições de conversar com ele. Não é novo no ambiente político da Serra, mas nunca foi prefeito. Então temos condições de discutir essa renovação com segurança. Quando damos à cidade a certeza de que é uma renovação ao lado da experiência desse que continua sendo um grande gestor, é a segurança de ter a experiência ao lado da juventude tocando a maior cidade do Espírito Santo.”

Elogio e aceno a Audifax

Mas o maior aceno foi mesmo dirigido a Audifax:

“Estamos abertos a fazer todo e qualquer tipo de diálogo que seja de defesa da continuidade do desenvolvimento da cidade. Não só da continuidade das ações e da gestão do nosso prefeito, mas para que possamos continuar a desenvolver a cidade. Não podemos permitir retrocesso na cidade. A Serra representa muito para nós, serranos, mas representa muito para o estado do Espírito Santo. Brincar com o futuro da Serra é brincar com o futuro do nosso Estado. […] Por isso, não está descartado dialogar com o Audifax, porque ele fez, sim, uma boa gestão, independentemente dos posicionamentos políticos, até porque o Audifax saiu da mesma escola pela qual estou sendo apresentado agora. Audifax, lá em 2004, foi apresentado por esse mesmo gestor. Então tenho certeza de que ele também adquiriu muita experiência aqui e levou adiante. Então por que não conversar com o Audifax?”

Retrocesso”

Perguntamos a Weverson quem seria o representante do tão falado “retrocesso”. “A sociedade vai avaliar o que é retrocesso e o que é capacidade de gestão”, tergiversou. “Precisamos ter cuidado na escolha dos nossos gestores. Não podemos escolher de maneira errada.”

Candidatura não é definitiva

Ainda em seu discurso, para não afugentar nem desanimar aliados e potenciais aliados, Weverson fez questão de enfatizar que seu lançamento não significa que ele será necessariamente o candidato do grupo político e que o PDT está aberto a discutir outras composições:

“Nada está sacramentado. O que estamos fazendo é apresentando o projeto do PDT. Mas esse projeto, lá na frente, pode tanto se consolidar como podemos também olhar para outros cenários de renovação, e estarmos ao lado da renovação desta cidade, mas uma renovação segura, uma renovação experiente, uma renovação com a sabedoria de tocarmos a gestão do maior gestor do Brasil, Sérgio Vidigal.”

A história familiar e a idolatria declarada a Vidigal

Weverson relatou que seu pai, um brizolista e pedetista roxo, mudou-se com a família para o bairro Serra Dourada em meados de 1985. A família foi uma das 600 que ficaram desabrigadas com a tragédia no Morro do Macaco, onde morava. Em janeiro daquele ano, uma pedra de 150 toneladas rolou no morro situado no bairro Tabuazeiro, em Vitória, deixando 40 mortos e 150 feridos, além dos desabrigados. Weverson nem era nascido. Ele é de 18 de março de 1991 e fará 33 anos na próxima segunda-feira (18).

O agora pré-candidato lembrou ainda do episódio, marcante para ele, em que conheceu pessoalmente Vidigal, aos 13 anos, levado pelo pai a uma convenção do PDT (como a deste sábado). Recebeu do prefeito, então no auge da popularidade, um abraço que levaria para o resto da vida. O primeiro abraço a gente nunca esquece…

Weverson começou a militar no PDT como o pai e, poucos anos depois, ou a colaborar diretamente com Vidigal, tratado por ele como um ídolo: “Quis Deus que eu tivesse o privilégio de trabalhar ao lado do meu ídolo. Não sei se todo ser humano teve esse privilégio, mas eu tive esse privilégio”.

Entre 2013 e 2014, com pouco mais de 20 anos, Weverson foi chefe de gabinete de Vidigal quando este foi secretário de Políticas Públicas e Emprego no Ministério do Trabalho (governo Dilma). Depois foi subsecretário estadual de Esportes (por indicação de Vidigal), chefe de gabinete dele na Prefeitura da Serra, secretário estadual de Turismo em 2023 e, desde dezembro ado, novamente chefe de gabinete de Vidigal. Coordena o planejamento estratégico Serra 24-44.

Pai e filho

O pai era fã de Leonel Brizola; o filho, de Sérgio Vidigal. Para a família Meireles, é Brizola no céu e Vidigal na Terra.