Coluna Vitor Vogas
Análise: quem mais ganha com Ricardo Ferraço na presidência do MDB-ES?
Não por acaso, o movimento que culmina com esse retorno triunfal de Ricardo ao partido tem todas as impressões digitais do governador

Ricardo Ferraço e Renato Casagrande. Foto: Divulgação (Governo)
Por decisão da direção nacional da sigla, o MDB será presidido no Espírito Santo pelo vice-governador Ricardo Ferraço (PSDB), que voltará em breve às fileiras do partido. A assunção de Ricardo à presidência marcará o início de uma nova fase para o MDB estadual, pondo fim – espera-se – a um período imensamente turbulento.
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Ricardo deve ser nomeado pela Executiva Nacional do MDB para comandar uma Comissão Estadual Provisória, também formada, entre outros membros, pela ex-senadora Rose de Freitas e pelo ex-deputado federal Lelo Coimbra. O órgão deve preencher o vácuo aberto no dia 22 de setembro. Desde essa data, o partido está sem representação formal no Espírito Santo.
Em primeira análise, um dos maiores vencedores com esse desfecho para a crise no MDB-ES, se não o maior vencedor, é Renato Casagrande (PSB). Não por acaso, o movimento que culmina com esse retorno triunfal de Ricardo ao partido tem todas as impressões digitais do governador. Ele participou pessoalmente das articulações com Ricardo e com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi.
Com seu vice-governador e homem de confiança ocupando o cargo estratégico, Casagrande garante que seu grupo político permanecerá no comando do MDB, partido extremamente importante, com o olhar nas eleições municipais do ano que vem.
Em que pese o momento ruim e o péssimo resultado colhido nas urnas em 2022, o MDB ainda é um partido forte e muito enraizado de norte a sul do Espírito Santo, com altíssimo número de filiados, bom tempo de TV e volume de recursos partidários. Será um partido mais que estratégico visando à construção de alianças eleitorais em 2024.
Sem falar que, justamente por atravessar um momento tão ruim, mas conservar enorme potencial de recuperação, o MDB era a mina mais cobiçada pelos agentes políticos capixabas nos últimos meses. Como analisei aqui em mais de uma ocasião, quem assumisse o MDB neste momento teria tudo nas mãos para reerguer e remodelar esse grande partido, à sua feição, dando a ele a sua própria identidade e filiando aliados em peso. Esse alguém será Ricardo Ferraço.
E também será Renato Casagrande.
Indiretamente, por intermédio de Ricardo, o governador também é quem influirá nos rumos do MDB no Espírito Santo.
De quebra, ao ajudar a evitar o retorno de Lelo à presidência estadual do MDB, Casagrande ajuda a afastar o fantasma do ex-governador Paulo Hartung – mais especificamente, o de um possível retorno de Hartung à cena política pelo MDB –, o qual, como todos nós sabemos, dá mais calafrios na espinha do governador que o fantasma de José de Anchieta no palácio em que ele dá expediente.
Ricardo: give peace a chance
Outra leitura possível é que, para Casagrande, convém muito mais ter Ricardo nesse posto-chave do que ter Rose de Freitas. Não tanto por uma questão de proximidade – Rose segue sendo grande aliada dele e prestigiada por ele –, mas, principalmente, de perfil: Ricardo tem muito mais que Rose um perfil de “gestor de partido”.
Construir um partido exige método, organização, meticulosidade… reconstruir, então, mais ainda. Ricardo parece mais talhado para essa tarefa que se impõe no momento, de reconstrução do MDB.
Parece um nome mais talhado, também, para a maior de todas as missões: a de pacificação de um partido que, como a própria Rose itiu no dia 21 de setembro, saiu literalmente dividido ao meio da convenção realizada nessa data, marcada pelo inacreditável empate entre ela e Lelo na eleição para a presidência estadual (27 a 27). De fato, se isso não é prova inconteste do racha que se apoderou do MDB-ES, não sabemos mais o que é…
Desde o fim da era Paulo Hartung, com a desfiliação do então governador no fim de 2018, o MDB viveu dois anos de agonia e indefinições, tomado pela guerra entre o grupo de Lelo e o de Marcelino Fraga pela presidência estadual. Sucederam-se os meses de intervenção nacional, seguidos pela nomeação de Rose para a presidência provisória, inaugurada em março de 2021.
Mas também Rose não teve sucesso em pacificar o MDB capixaba. O partido, repito, saiu-se muito mal aqui nas eleições gerais de 2022. E este ano de 2023 foi marcado pela luta interna entre o grupo da ex-senadora e o de Lelo.
Ao nomear Ricardo para a presidência estadual, a direção nacional da sigla dá “uma nova chance para a paz” no Espírito Santo, em uma composição na qual o vice-governador deve ter Rose de um lado e Lelo do outro. É uma solução que busca a harmonização e na qual ninguém sai perdendo totalmente.
Com Rose, a relação de Lelo (que nunca foi das melhores) chegou ao limite do desgaste após a fatídica convenção de 21 de setembro. Com Ricardo, Lelo mantém melhor diálogo, embora ambos não sejam mais do mesmo grupo político.
