Personagens
Nadador paratleta capixaba conta sua história de superação
Oliver Beat, portador de artrogripose congênita múltipla, aprendeu a enfrentar desafios e seguir em frente

Nadador paratleta Oliver Beat. Foto: Reprodução/Instagram
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Superar limites e vencer barreiras. Este tem sido o lema do nadador paratleta Leandro Souza de Oliveira – conhecido como Oliver Beat, 25 anos. Portador de artrogripose congênita múltipla – limitação congênita dos movimentos das articulações e desenvolvimento de músculos -, ele aprendeu a enfrentar os desafios e seguir em frente. E foi no esporte que ele descobriu sua fonte de motivação.
Oliver Beat nasceu em Ibatiba, no Sul do Espírito Santo. Sua batalha começou já nos primeiros meses de vida. A mãe percorreu médicos do estado para entender a doença do filho e buscar tratamento. Com o dinheiro suado da colheita do café, se mudou para o Rio de Janeiro. Foi em um hospital de São Gonçalo teve início do tratamento do menino.
O nadador conta que, nos quatro primeiros anos de vida, foram realizadas 24 cirurgias. “Vivemos momentos muito difíceis no Rio de Janeiro. Minha mãe e eu fomos para lá quando eu tinha 8 meses. Depois meu pai se mudou para lá com meus irmãos. Voltamos para Ibatiba quando eu já tinha 4 anos”, conta Oliver.
Para Oliver, mesmo com todas as dificuldades impostas pela vida, as lembranças da infância são muito boas. Como não andava, para se locomover, aos 7 anos aprendeu a rolar e assim brincava com os irmãos e amigos. Nada era empecilho para o menino que dava seu jeito para brincar até de pique na rua.
Aos 7 anos, Oliver começou a frequentar a escola pública, mas todos os dias, quando sua mãe saía de casa para trabalhar, ele rolava até a escola particular que ficava na esquina da rua em que morava para fazer amizades e brincar com a criançada.
“Todos os dias eu ia lá. Eles me achavam diferente e lá fiz muitos amigos. O diretor da escola me via indo lá todos os dias e resolveu me dar uma bolsa. Minha mãe não tinha como pagar pelo material, então eles ofereceram também seis meses de material. Foi muito bom para mim. Lá eu aprendi a ler, escrever e conheci os esportes”, lembra Oliver.

Nadador paratleta Oliver Beat. Foto: Reprodução/Instagram
O amor pelo esporte surgiu ainda quando criança. Em uma de suas idas à praça com os irmãos, ele arriscou a primeira volta de skate. “Eu vi cara andando de skate e perguntei o que era aquilo. Aí ele respondeu e eu pedi para tentar. Ele me perguntou como eu daria uma volta. Eu saí da cadeira, subi no skate, deitei e dei minhas primeiras remadas”, comenta.
E ele não parou por aí. Dos 14 aos 17 anos, Oliver fez trabalhos como modelo fotográfico. Jovem e sem muitos trabalhos, ele se viu na necessidade de se mudar para a região metropolitana. Com a mãe, foi morar em Jacaraípe, pertinho do mar, que virou sua paixão. Morar perto da praia aproximou ele ainda mais do esporte: o surf.
“Eu sempre fui muito ativo e amava praticar esportes. Dos 18 aos 21 anos eu dei uma parada. Quando eu tinha 21 anos, meu filho nasceu. Sofri um acidente em um ônibus com ele no meu colo que me fez refletir sobre meu futuro e do meu filho. Naquele momento eu vi que precisava voltar para o esporte e ser uma pessoa melhor por ele”, desabafou.
Determinado a voltar com tudo para o esporte, entrou em contato com o surfista Renan Lobo. Os treinos começaram e logo ele caiu no mar. Oliver conta que estar lá no fundo e sentir as ondas quebrando foi uma sensação que ele não sentia há anos e ali ele teve a certeza que estava no caminho certo.

Oliver Beat saltou de paraquedas em Guarapari. Foto: Reprodução/Instagram
Desde então, Renan e Oliver aram a gravar uma sequência de vídeos para o canal Nossa Guerra. Dessa parceria surgiu um dos maiores desafios abraçado pelo atleta. E a recompensa: saltar de paraquedas.
“Renan entrou em contato com a empresa Skydive de Guarapari. Eu contei minha história e eles me desafiaram a nadar 1.200 metros: ‘Conquistou Um Sonho’. No final eu ganharia o salto de paraquedas. Eu treinei muito. Eu acordava às 5 horas, saía de ônibus de Jacaraípe para treinar no CT Viva Melhor, em Vila Velha. Fizemos diversas travessias, queria me preparar para dar meu melhor”, disse o atleta.
O desafio foi realizado no lagoa do Batista, em Marilândia. A meta de nadar 1.200 metros foi superada com sucesso. Em meio às piranhas e com todas as dificuldades da lagoa, Oliver cravou 2.500 metros a nado. E, claro, o prêmio veio: a realização do sonho de saltar de paraquedas.
Ele quis muito mais. Enviou uma mensagem para o técnico da seleção capixaba de natação, Leonardo Miglinas, pedindo uma vaga na equipe. E conseguiu. Ainda em 2019, em sua primeira competição estadual, conquistou 4 medalhas e se tornou nadador paratleta na categoria S1. Foi classificado para a vaga no campeonato brasileiro.
A pandemia do novo coronavírus paralisou o esporte e Oliver espera e se prepara para a disputa do nacional. Enquanto isso, já coleciona medalhas da travessia João Moreno e da Lagoa Juparanã.
Recentemente, amigos se juntaram, e realizaram uma vaquinha online para ajudá-lo a comprar um kit livre off road e uma adaptação que faz a cadeira dele virar um triciclo elétrico para ele poder ter maior liberdade para se locomover. Ele conseguiu arrecadar os R$ 25 mil e o kit já chegou.
Hoje, Oliver mora em Cocal, Vila Velha, e continua treinando e dando seu melhor. “Se tem uma coisa que faz eu me sentir bem é treinar, e sentir meu corpo vivo. Eu amo essa adrenalina. Atualmente eu busco um patrocínio. Eu sei que sou capaz de representar uma marca, me sinto confiante para isso”, frisou o atleta.
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