País
Vídeo mostra advogado de acusado por estupro humilhando Mari Ferrer
O crime teria acontecido em dezembro de 2018 no Café de La Musique, um famoso beach club de Florianópolis

Mariana Ferrer e André de Camargo Aranha. Foto: Reprodução
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Desde maio de 2019, o Brasil acompanha o caso de Mariana Ferrer, catarinense que abriu um processo na Justiça contra o empresário paulista André de Camargo Aranha, a quem ela acusa de estupro. O crime teria acontecido em dezembro de 2018 no Café de La Musique, um famoso beach club de Florianópolis.
O Intercept Brasil divulgou nesta terça-feira (3) um vídeo que mostra o advogado do empresário André de Camargo Aranha, Cláudio Gastão da Rosa Filho, humilhando a vítima durante julgamento. O advogado mostrou várias fotos de Mariana durante a audiência e definiu as imagens como “ginecológicas”. Em momento algum foi questionado por membros do Tribunal de Justiça catarinense sobre a relação das fotos com o caso.
Em um momento o advogado de defesa diz que “graças a Deus” não tem uma filha do “nível” da modelo. “E também peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher como você”, continua. “A verdade é essa, não é? Não é seu ganha pão a desgraça dos outros. Manipular essa história de virgem”, diante de promotor e juiz calados e da protagonista em prantos.
Depois que Mariana começa a chorar, o advogado continua os ataques, falando que são “lágrimas de crocodilo”. Nesse momento, o juiz diz que pode suspender a audiência para que Mariana se recomponha. No entanto, ela responde que apenas gostaria de ser respeitada. “Excelentíssimo, eu tô implorando por respeito, nem os acusados de assassinato são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, disse Mariana Ferrer.
A OAB de Santa Catarina e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos solicitaram esclarecimentos ao advogado e ao TJ de Santa Catarina sobre a sua conduta durante o interrogatório.
Após a divulgação do vídeo da audiência, houve uma revolta muito grande nas redes sociais com o desfecho do caso e com a conduta do advogado de defesa. A #justicapormarierrer voltou aos trending topics do Twitter.
As cenas da audiência de Mariana Ferrer são estarrecedoras. O sistema de Justiça deve ser instrumento de acolhimento, jamais de tortura e humilhação. Os órgãos de correição devem apurar a responsabilidade dos agentes envolvidos, inclusive daqueles que se omitiram.
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) November 3, 2020
tá me dando nos nervos todo mundo falando o nome da vítima, mas ninguém falando o nome do estuprador (André de Camargo Aranha), do promotor que alegou estupro culposo (Thiago Carriço), do advogado que humilhou a vítima (Cláudio Gastão da Rosa Filho) e do juiz (Rudson Marcos).
— fleur. (@dzriaelin) November 3, 2020
Uma em cada três mulheres já sofreu violência física ou sexual
Você conhece VÁRIAS minas que já foram estupradas, vai na minha
E aí depois perguntam porque não denunciamos, não vamos atrás
A gente vai ficar revivendo tudo, ar nervoso e depois dar no que deu Mari Ferrer?
— Barbara Gutierrez (@bahgutierrez) November 3, 2020
O crime segue sendo ser pobre e preto, pq se você for rico você pode até ser inocentado de um estupro alegando um ESTUPRO CULPOSO, no qual não tem intenção de estuprar, sendo que isso nem existe, logo ele não paga por crime algum
Mais um dia horroroso pra ser mulher https://t.co/OvxBxek6Pz
— Dora Figueiredo (@dorafigueiredo) November 3, 2020
Estou muita indignada e revoltada. A violência contra a Mari Ferrer é uma violência contra todas as mulheres, e a postura do advogado é brutal e antiética. Ninguém tem o direito de julgar moralmente, ameaçar e debochar de uma vítima de estupro. Muito menos um advogado.
— Luciana Boiteux 50180 (@luboiteux) November 3, 2020
Entenda o caso
Mariana Ferrer, conhecida como Mari Ferrer, trabalhava na noite do dia 15 de dezembro de 2018 no interior do clube Café de La Musique, em Jurerê Internacional, como uma promotora digital da casa de eventos.
O acusado André Aranha, 43 anos, é filho do advogado que representou a TV Globo, Luiz de Camargo Aranha, e já foi fotografado ao lado de Gabriel Jesus, Ronaldo Nazário e Roberto Marinho Neto.
Ele foi indiciado pela Polícia Civil em 2019 por estupro de vulnerável e o processo segue em andamento. Os exames provaram que houve conjunção carnal, ou seja, introdução completa ou incompleta do pênis na vagina, ruptura do hímen de Mariana e ainda identificaram sêmen dele em sua calcinha – apesar de André ter afirmado que nunca teve contato físico com ela.
De acordo com o promotor responsável pelo caso, não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que Mari não estava em condições de consentir a relação, não existindo assim “intenção” de estuprar.
Sendo assim, o juiz aceitou a argumentação de que André cometeu um “estupro culposo”, um “crime” não previsto na lei brasileira. Porém, como ninguém pode ser condenado por um crime que não existe, o réu foi absolvido.
Nas redes sociais, os usuários contestaram a finalização do processo e colocam os termos “estupro culposo” e “Mariana Ferrer” como assuntos mais comentados do Twitter nesta terça-feira (03).
