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Olhar 360º

“O mais difícil é manter-se limpo. Limpo de tudo”, diz morador de rua

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“O mais difícil na rua é manter-se limpo. Limpo de tudo. De corpo, alma, drogas e vícios. Na rua você está sempre sujo, sempre marcado”. O depoimento veio depois de um pausa e reflexão. Em um bate-papo rápido, o morador de rua Bruno Dias Novaes de Figueiredo, 36 anos, não tinha uma resposta pronta para a pergunta da reportagem. Mas em um piscar de olhos, os últimos 10 anos pesaram em seu subconsciente, transformando em palavras seus sentimentos e experiências.

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“Eu vivia na casa da minha mãe. Mas conheci e me apaixonei por Cristiane, que já era moradora de rua. Foi então que decidi morar junto com ela. Começamos nossa vida nas ruas atrás do Vila Velha Hospital, no bairro Divino Espírito Santo, e ficamos ali por cinco anos. Foi então que Cristiane engravidou e decidimos voltar para a casa da minha mãe”.

O casal conta que permaneceu na casa dos familiares apenas durante a gestação. Após o nascimento do filho, eles retornaram para as ruas em um barraco improvisado às margens da alça da Terceira Ponte, na Praia da Costa. É ali, entre entulhos e lixo descartado irregularmente pelos moradores, que eles am a maior parte do tempo nos últimos cinco anos.

Bruno a os dias em busca de material reciclável para revender e conseguir dinheiro. Foto: Vinicius Arruda

Bruno a os dias em busca de material reciclável para revender e conseguir dinheiro. Foto: Vinicius Arruda

“Depois de 10 anos nas ruas, hoje eu volto para a casa da minha mãe a cada três ou quatro dias. Quando estamos lá, ficamos de boa, apenas comendo, bebendo e dormindo. Mas cabeça vazia é a casa do satanás. Daí acabo voltando para as ruas. Aqui não preciso pagar nada, não devo nada para ninguém, recebemos água e comida. Dá para sobreviver, entende?”.

Sua rotina, no entanto, não é fácil. Apesar de não haver horários ou obrigações, Bruno conta que o trabalho de reciclagem é fundamental para garantir sua sobrevivência. “Muito lixo bom é jogado fora. Juntamos latas, metais, plástico e papel que são descartados por todo o município. Às vezes encontramos camas seminovas, armários e sofás. Reaproveitamos tudo para revender”.

No entanto, o trabalho duro, sem as ferramentas adequadas para o ofício, associado à falta de conforto, de higiene básica e de segurança começam a pesar e Bruno reconhece que está próximo do limite. Ainda assim, ele defende o serviço que presta à comunidade e chama a atenção das pessoas contra o preconceito sofrido pelo morador de rua.

“Tem gente que ainda nos trata com indiferença. Mas todos querem mudar de vida. Qual ser humano não quer crescer e mudar? Eu sonho em um dia ter a minha carteira assinada. Mas até lá, eu gostaria de ser tratado com respeito pelo reciclador e pelo serviço que de, certa forma, ajuda a cidade”, diz Bruno.