Dinheiro
Transição energética é “demasiado lenta”, alerta agência
Relatório da Agência Internacional de Energia lembra que petróleo, gás e carvão representam ainda 80% do consumo final e defende investimentos em energia limpa

Instituição defende investimentos rápidos em energia limpa. Foto: Divulgação/Ari Versiani/PAC
A Agência Internacional de Energia (AIE) considerou hoje (13) que o mundo vai sofrer com o aquecimento global, mas também com “turbulências” no abastecimento energético, se não investir mais rapidamente em energias limpas.
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No relatório anual, publicado duas semanas antes da abertura da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26), em novembro, em Glasgow, na Escócia, a agência emitiu “avisos sérios sobre a direção que o mundo está tomando”.
Afirmando que surge nova economia no mercado da energia, a agência lamentou que o progresso seja contrariado pela “resistência do status quo e dos combustíveis fósseis”, com o petróleo, gás e carvão representando ainda 80% do consumo final de energia, responsáveis por três quartos das alterações climáticas.
Atualmente, os compromissos climáticos dos governos, se cumpridos, só permitirão atingir 20% das reduções de emissões de gases de efeito estufa, necessárias para manter o aquecimento global sob controle até 2030.
“Os investimentos em projetos de energia descarbonizada terão de triplicar nos próximos dez anos para se conseguir a neutralidade de carbono até 2050”, apontou o diretor da AIE, Fatih Birol.
“Se conseguirmos atingir a neutralidade de carbono até 2050, 2,2 milhões de mortes prematuras por poluição atmosférica poderão ser evitadas até 2030, 40% menos do que atualmente. Em outros cenários, irão aumentar”, adverte o documento.
A AIE, que faz parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresentou três cenários para o futuro: o das atuais políticas de redução de emissões efetivamente implementadas pelos governos; o dos compromissos de redução assumidos; e o que permite atingir a neutralidade de carbono em 2050, já tornado público pela AIE em maio.
No primeiro cenário – o mais pessimista – a temperatura global aumentará 2,6 graus Celsius em 2100, em comparação com a era pré-industrial; no segundo, 2,1 graus; e apenas no terceiro será limitada a 1,5 grau.
O terceiro cenário, atingindo a neutralidade de carbono até 2050, “exigirá grandes esforços, mas oferece benefícios consideráveis, tanto para a saúde quanto para o desenvolvimento econômico”, afirma a AIE.
A agência acredita que é necessário um aumento do investimento de cerca de US$ 4 bilhões por ano até 2030 em projetos e infraestruturas de energia limpa para atingir o objetivo da neutralidade de carbono até 2050.
O financiamento adicional necessário para esse objetivo “é menos oneroso do que parece”, acrescentou. Segundo a AIE, 40% das reduções das emissões “pagam-se”, por meio da eficiência energética, da luta contra as fugas de metano ou de parques solares ou eólicos.
A AIE disse ainda que o atual déficit de investimento afeta não só o clima, mas também os preços e a oferta, garantindo “turbulências” como as que o mundo sofre atualmente, com as tensões sobre os combustíveis fósseis.
Nos últimos anos, a depreciação dos preços do petróleo e do gás limitaram o investimento no setor, mas a transição para a energia limpa é demasiado lenta para satisfazer a procura, considerou a agência
“Há um risco de turbulência crescente nos mercados globais de energia”, disse Birol. “Não estamos investindo o suficiente para satisfazer necessidades futuras, e essas incertezas estão nos preparando para um período volátil”, disse.
“A forma de responder é clara: investir de forma rápida e maciça em energia limpa” para satisfazer as necessidades, tanto a curto quanto a longo prazo, acrescentou.
Caso contrário, “o risco de volatilidade desestabilizadora tenderá a aumentar”, afirma o relatório, que destaca a importância de uma transição “ível a todos os cidadãos”.
“Está surgindo uma nova economia energética, com potencial para criar milhões de empregos”, disse Fatih Birol, que apelou aos líderes que participarão da COP26 para “fazer a sua parte, transformando a década de 2020 na de implantação maciça da energia descarbonizada”.
