fbpx

Dinheiro

Mercados globais recuam com nova cepa de coronavírus no Reino Unido

No Brasil, Ibovespa tem perda próxima a 2%; dólar recua após atingir R$ 5,22

Publicado

em

Bolsa retoma patamar de 100 mil pontos pela primeira vez desde março. Foto: Csaba Nagy/Pixabay

Bolsa de valores. Foto: Csaba Nagy/Pixabay

 

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Os mercados globais experimentam forte aversão ao risco nesta segunda-feira, após o Reino Unido ampliar as medidas de restrição diante da identificação de uma cepa ainda mais contagiosa do novo coronavírus. Mais que isso: diversos países decidiram suspender voos de origem britânica, amplificando os temores em relação aos impactos econômicos de tais medidas.

Nesse ambiente, as bolsas europeias experimentam forte queda, enquanto o petróleo, que já chegou a tombar cerca de 6%, recuava perto de 4% há pouco. Em Nova York, nem mesmo o acordo por um pacote de US$ 900 bilhões em estímulos, alcançado no fim de semana, impede o recuo dos principais índices acionários.

No Brasil, o Ibovespa chegou a perder mais de 3 mil pontos na mínima do dia. E ainda que o tamanho do tombo tenha diminuído, a forte baixa dos papéis ligados a commodities, como Petrobrás e Vale, além de aéreas, a Bolsa ainda cai perto de 2%, na casa de 115 mil pontos. O dólar abriu o dia com um salto de quase R$ 0,15 diante do real, em R$ 5,22, mas foi se acomodando, em meio a perspectivas de aumento da liquidez global com os estímulos fiscais nos EUA.

Assim, a moeda voltou, no início da tarde, para algo ao redor de R$ 5,14. Os juros futuros, bastante alinhados ao câmbio, abriram com alta expressiva, mas já no fim da manhã as taxas curtas rondavam a estabilidade, enquanto os longos ainda subiam cerca de 10 pontos, mas bem inferior à disparada de quase 20 pontos no começo do pregão.

Mercados internacionais

Autoridades de todo o mundo respondem ao novo risco sanitário, diante da mutação do vírus, intensificando medidas restritivas. Enquanto Londres teve o lockdown ampliado, mais de uma dezena de países suspenderam voos de origem britânica. Em um cenário clássico de aversão a risco, as bolsas de Nova York e da Europa caem em peso, acompanhadas por tombo do petróleo – por volta de 4% -, baixa dos juros longos dos Treasuries e avanço do dólar ante rivais. O índice Vix, considerado um termômetro do medo no mercado acionário, chegou a disparar mais de 35%. As perdas em Wall Street, contudo, são amenizadas pelo acordo entre governo e oposição para aprovar, ainda hoje, um novo pacote fiscal para os Estados Unidos.

De acordo com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a variante do coronavírus é 70% mais transmissível e, por isso, novas medidas de restrição se tornaram necessárias. “Temos que agir, porque o vírus está se espalhando muito rápido”, afirmou o premiê em coletiva de imprensa no último sábado. Johnson convocou uma reunião de emergência após a França decidir fechar a fronteira com o Reino Unido.

Na opinião do Rabobank, novos apertos na quarentena podem ser anunciados em breve e afetar a recuperação econômica global. “O fato da nova cepa também ter sido detectada em outros países, como a Holanda, traz a ameaça de que a resposta do Reino Unido seja replicada em outros lugares”, avalia. “Os investidores são forçados a enfrentar a intensificação do vírus muito antes de poderem precificar um retorno à normalidade com a vacina”, acrescenta. Importante salientar, contudo, que especialistas garantem que as vacinas experimentais têm capacidade de proteger contra a variante do novo coronavírus.

Seja como for, o susto com a nova cepa do Sars-Cov-2 induziu à realização de lucros nos mercados acionários globais, também em meio à agenda esvaziada. Às 12h21 de Brasília, em Nova York, o índice Dow Jones caía 1,35%, acompanhado pelo S&P 500 (-1,91%) e pelo Nasdaq (-1,79%). Sensíveis às restrições sanitárias, empresas aéreas caíam em peso, como American Airlines (-3.65%) e Delta Airlines (-3,37%). Na renda fixa americana, diante da maior demanda por ativos seguros, o juro da T-note de dez anos cedia a 0,921% e o do T-bond de 30 anos, a 1,667%. O retorno da T-note de dois anos, por outro lado, conseguia alguma recuperação, mas sem euforia, subindo a 0,125%.

Ainda que ofuscado pelo noticiário da covid-19, o esperado acordo por um novo pacote fiscal nos EUA consegue atenuar o mau humor em Wall Street. O projeto, que deve ser aprovado pelos parlamentares ainda nesta segunda-feira, ronda US$ 900 bilhões (4% do PIB americano) e prevê, entre outras coisas, US$ 300 bilhões em ajuda para pequenas empresas e US$ 300 para desempregados. De acordo com o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, os benefícios começam a ser distribuídos já na próxima semana.

“Este parece ser o último grande pacote fiscal focado na covid-19, supondo que o presidente eleito, Joe Biden, enfrente um Congresso dividido no próximo ano”, diz o Goldman Sachs. “Isso provavelmente mudaria se os democratas ganhassem as duas vagas da Geórgia para o Senado, em 5 de janeiro, e chegassem a 50 cadeiras na casa. Nesse cenário, esperaríamos pelo menos mais algumas centenas de bilhões em medidas fiscais adicionais, incluindo ajuda aos estados”, completa o banco americano.

Sem um novo pacote, as bolsas da Europa caem com mais força. No horário acima, o índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, cedia 2,35%, enquanto o Dax, de Frankfurt, recuava 3,43% e o CAC 40, de Paris, 3,21%. Sem grande impacto no mercado, por lá ainda repercutiu a recomendação, pela agência reguladora de medicamentos europeia (EMA, na sigla em inglês), pela autorização de uso emergencial da vacina contra a covid-19 desenvolvida pelas farmacêuticas BioNTech e Pfizer na União Europeia. A Comissão Europeia, órgão executivo do bloco, deve se pronunciar sobre o assunto ainda hoje.

Entre as commodities, o barril de petróleo WTI para fevereiro tombava 3,76%, a US$ 47,40, e o de Brent para o mesmo mês marcava baixa de 3,67%, a US$ 50,34. Já o índice de volatilidade Vix saltava 30,37%, a 28,12 pontos.

No câmbio, o Dollar Index (DXY) se fortalecia 0,41%, a 90,388 pontos, com o dólar subindo a 103,567 ienes, o euro caindo a US$ 1,2217 e a libra esterlina cedendo a US$ 1,3303. A divisa britânica também é penalizada pela falta de acordo entre Reino Unido e União Europeia para o chamado pós-Brexit, a 10 dias do fim do período de transição.

Bolsa

O receio diante da nova cepa do coronavírus atingiu fortemente o Índice Bovespa, que logo nos primeiros minutos de pregão chegou a registrar perda superior a 3 mil pontos, chegando a flertar com o patamar dos 114 mil pontos.

Profissionais de renda variável ouvidos pelo Broadcas justificaram o movimento brusco também em função de um aumento da cautela devido aos feriados dos próximos dias. No início da tarde, a pressão vendedora perdeu um pouco de tração e o Ibovespa ficou no patamar dos 115 mil pontos, em queda próxima de 2%.

“A notícia da mutação do vírus piora um pouco a situação, no momento em que ainda se discute a velocidade de produção das vacinas. E em uma época de festas de final de ano, sem que se saiba o que vai acontecer, é normal um movimento de realização de lucros”, disse Vítor Miziara, sócio da Criteria Investimentos.

Para ele, também pesou nos negócios de hoje a falta de acordo para o Brexit. Ontem, em meio a um fim de semana crucial de negociações, o gabinete do primeiro-ministro Boris Johnson afirmou a UE “continua a fazer demandas que são incompatíveis com a nossa independência”. “Nós não podemos aceitar um acordo que não nos deixa em controle de nossas próprias leis ou águas”, disse.

A aprovação do pacote econômico de US$ 900 bilhões nos Estados Unidos, segundo Miziara, não foi ignorado. Em sua avaliação, a concretização do fato acabou sendo outro gatilho para a realização de lucros, uma vez que as bolsas americanas teriam antecipado o acordo na semana ada.

Entre as ações que fazem parte da carteira do Ibovespa, as maiores quedas ficaram com papéis do setor aéreo e de turismo, com Gol e Azul à frente na maior parte do tempo. Na análise por índices setoriais, o pior desempenho ficou com o IMOB, índice que reúne ações do setor imobiliário, com perda superior a 3%. Nem mesmo setores conservadores escaparam da onda vendedora os índices de Utilities (UTIL) e de Energia Elétrica (IEEX) contabilizaram perdas acima de 2%.

Na contramão estiveram poucos papéis. Foi o caso de CSN ON, que registrou ganhos leves, tendo como referência a alta superior a 7% dos preços do minério de ferro na China. Os papéis de Magazine Luiza inverteram a queda no final da manhã e aram a subir mais de 1%, após anunciar a compra de 100% da instituição de pagamentos Hub Prepaid Participações por R$ 290 milhões.

Para Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença Corretora, o mercado ainda tenta entender se um aumento da transmissibilidade da nova cepa do coronavírus levará de fato a um aumento de mortalidade e se o início da vacinação em massa na Europa será suficiente para barrar um aumento de infecções. “A notícia é negativa, mas pode estar superestimada, porque ainda não se tem como mensurar exatamente o que ela significa”, afirma.

Estadão Conteúdo