Dia a dia
Vacina contra covid-19 surgiu há seis meses? Médico explica como ela foi criada
O médico infectologista Paulo Peçanha relembra o histórico do coronavírus ele permitiu a agilidade no processo de produção da vacina
Em entrevista à BandNews FM Espírito Santo nesta quinta-feira (17), o médico infectologista e professor universitário Paulo Peçanha contou o histórico do vírus causador da covid-19 e explicou como estudos de mutações anteriores do vírus permitiram agilizar o processo de produção das vacinas para a variação que enfrentamos neste ano, além da possibilidade de reações alérgicas.
As vacinas de maneira geral, inclusive as utilizadas hoje no Programa Nacional de Imunização, podem provocar reações alérgicas. “Os ouvintes vão lembrar das campanhas de gripe que alertavam para a possibilidade de alergia ao ovo, ou de alergia a outros componentes da vacina, e isso os enfermeiros e profissionais da saúde perguntam na aplicação. Sempre existiram recomendações sobre isso na medicina”, lembrou.
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Histórico do SarsCov
“Na verdade existem tipos de coronavírus que foram descobertos há mais ou menos 50 anos e fazem parte dos vírus que provoca o resfriado até hoje”, disse o médico. Paulo explicou que o coronavírus é inédito como pandemia de síndrome respiratória aguda ou grave, mas o mundo enfrentou duas epidemias prévias do SarsCov, da mesma “familia” do coronavírus. Em 2002 no sudeste asiático, a primeira versão da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), ocasionada pelo SarsCov, se esgotou rapidamente antes que pudesse se espalhar pelo mundo. Mas sua letalidade era bem alta: 10%. “Naquela época os laboratórios já começaram a trabalhar em uma vacina, fizeram estudos e algumas dessas tecnologias que vemos hoje começaram a ser produzidas ali mesmo”, ressalta o infectologista.
Novamente em 2012 foi registrada uma segunda epidemia pelo Sars, dessa vez no Oriente Médio, apelidada de Mars (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Essa infecção foi ainda mais grave, com uma mortalidade de 35%, 16 vezes mais letal que a Covid no Espírito Santo.
“Como nós enfrentamos naquela região do mundo a Sars em 2002 e a Mars em 2012, a comunidade científica e os pesquisadores infectologistas já tinham entendido que essas doenças por coronavírus eram problemas muito graves. Quando elas começaramm a se repetir de forma pandêmica acabaram ligando um alerta nos órgãos de acompanhamento da saúde no mundo, como a OMS e as universidades de pesquisas.”
Por esse motivo, a vacina para o coronavírus grave já estava sendo buscada há muitos anos. Não para o coronavírus atual (daí a expressão “novo coronavírus”), mas para os coronavírus anteriores, parentes “mais velhos” do covid-19, causadores das epidemias de 2002 e 2012. Os laboratórios aproveitaram o desenvolvimento daquelas pesquisa e acrescentaram conhecimentos atuais para avançarem na produção das vacinas que temos hoje. “Não começou tudo agora. Essas pesquisas ocorrem há pelo menos 20 anos. Foi assim que tivemos a possibilidade de um desenvolvimento rápido.” lembrou Paulo.
Atualmente, a Coronavac, vacina já em estado de produção pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, é feita utilizando a mesma tecnologia na criação das vacinas contra os vírus da gripe e hepatite A, ambas já estabelecidas no Plano de Imunização Nacional. “Eu acho que a melhor notícia que nós infectologistas tivemos, foi que as vacinas estão sendo aplicadas e que podemos começar uma campanha de vacinação,” ressaltou.
“Fomos surpreendidos por uma nova onda de casos, todos os hospitais voltaram a ficar cheios. Isso só reforça que as pessoas precisam obedecer e se comprometer com o uso de máscara e com o distanciamento e precisam entender que quem adoece tem uma gama limitada de medicamentos para o tratamento. Tome a vacina, levem os seus filhos, levem os seus parentes, pois essa é a única maneira eficaz de enfrentar a pandemia do coronavírus.”
